A dádiva de poder morrer

É certo que me chega a hora final, e é algo que sempre foi certo, desde a aurora distante de meus primeiros dias. Sempre lá, sempre ela, sempre a morte se avizinha, e me faz lembrar, dia após dia, a dádiva de alegria que me dá, e ando me diz: é teu mais um dia. Não há o que me impila mais a viver que vê-la, todo dia, desde que aprendi a reconhecê-la. Antes não sabia, e vivia, dia após dia, perdido sem saber de mim, de ser mortal, e da importância de cada dia. Se não fosse o ímpeto da morte, se não fossem as finitude a da vida, para que prazer viveria, se tudo poderia amanhã, e todo o gozo da vida se perderia. Imortal aquele triste ser, que por eterno viver, não sabe a beleza de um poema sintetizar, de um pôr do sol apreciar, de um beijo gozar. Nada, se não impelido pela própria morte, teria o gosto do prazer de se viver. E saber ser o caminho, de pequenos pingos, gotas de alegria em cada passo, isso sim o necessário, me livra da dor de buscar sentido ...