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A dádiva de poder morrer

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  É certo que me chega a hora final, e é algo que sempre foi certo, desde a aurora distante de meus primeiros dias. Sempre lá, sempre ela, sempre a morte se avizinha, e me faz lembrar, dia após dia, a dádiva de alegria que me dá, e ando me diz: é teu mais um dia.   Não há o que me impila mais a viver que vê-la, todo dia, desde que aprendi a reconhecê-la. Antes não sabia, e vivia, dia após dia, perdido sem saber de mim, de ser mortal, e da importância de cada dia.   Se não fosse o ímpeto da morte, se não fossem as finitude a da vida, para que prazer viveria, se tudo poderia amanhã, e todo o gozo da vida se perderia.   Imortal aquele triste ser, que por eterno viver, não sabe a beleza de um poema sintetizar, de um pôr do sol apreciar, de um beijo gozar. Nada, se não impelido pela própria morte, teria o gosto do prazer de se viver.   E saber ser o caminho, de pequenos pingos, gotas de alegria em cada passo, isso sim o necessário, me livra da dor de buscar sentido ...

Retornando ao começo reconhece-se o fim

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  O caminho do retorno é o caminho da recapitulação, mas é importante refletir sobre a direção do retorno. Voltar pelos caminhos já trilhados, recuperando os fragmentos deixados no passado, e devolvendo o que não é nosso, é o objetivo da caminhada, o objetivo aparente apenas, no entanto, e não o objetivo central. Devemos, pois, caminhar em direção ao abismo do ser, o abismo que nos abre, o abismo que nos reflete, o abismo vazio e infinito de onde começamos a nossa caminhada, antes de todos os nomes, antes de toda definição, antes da confortável roupa primeira, desnudando-nos por completo. O retorno é tão somente uma jornada de desvelamento de todos os eventos que precederam o estar, e demanda, pois, um estar completo, uma presença consciente firmada como ponto de partida, e sempre mutável a cada jornada realizada. Ao mirar o passado vemos apenas um único caminho, e um fim que sabemos precisar, o fim da caminhada de retorno é o começo da caminhada que nos trouxe ao presente, o ponto...

O SER É O NADA QUE É TUDO

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                                De alguma forma, nós fomos lançados ao mundo — jogados, por assim dizer — sem que estivéssemos previamente preparados. Como seres humanos, chegamos ao mundo absolutamente vazios de qualquer coisa que se possa chamar “natureza” e que se permita definir, em essência. Somos, externamente, obviamente definidos, biologicamente marcados com características próprias. Internamente, como o ser, não somos definição alguma. Vou tentar iniciar essa reflexão com uma analogia a outros seres. Quando um cão nasce, ele já traz consigo seus instintos primários. Logo nos primeiros meses, ele já se comporta como um cão em sua integralidade. O cão não é apenas definido externamente em suas características próprias, mas também internamente. Do cão tudo se sabe o que poderá ser. O ser humano, por outro lado, não. Se aparentemente, no âmbito externo, é igual ao cão, e muito se sabe pel...

ABERTURA E ESTRANHAMENTO: ENSAIO SOBRE O ENTE, A CONSCIÊNCIA E A POTÊNCIA DE SER

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             “O ser é e o não-ser não é.” — Parmênides   Como abertura, aquela pessoa que pensa como o existencialista não crê no bem e mal, não a priori, pois não há conceitos morais ou divinos que são universalizáveis a quem é pura abertura, ou então isso se tornaria fechamento e restrição. Abertura é ausência de pressupostos quaisquer, ainda que eles possam se consolidar pela experimentação da própria pessoa, não por imposição, não por repetição, mas por escolha, que pressupõe o saber, o conhecer. O que são os valores de bem e mal? Lembro-me de antigos desenhos animados, e talvez os atuais andem em igual sentido. Havia um, He-Man, ele era a representação do bem, tendo como antagonista Esqueleto, o representante do mal. E pergunto, qual deles é bom, qual deles é o mal? Impossível saber. Sei que ambos são acorrentados aquilo que se lhes impuseram. He-Man, o herói, é acorrentado por um senso de dever que o impede de viver para si, devendo sempre s...

RECONSTRUINDO O PASSADO

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  O passado, quando dolorido, quer ser esquecido. Dor, lembrança que se quer fazer ausente, como anestesiado a uma vida que foi, e que não mais se sente. Assim são os traumas, que se quer sepultar, em lapides que os possa ocultar. Mas ao olhar para trás, aquele, que és por ser parte de cada coisa que foi, sente a ausência. Das cicatrizes, ao olhar no espelho, a memória não existe, sepultada no outrora não lembrado. A parte mais forte, da luta da qual sobreviveu, aparece oculta, e tudo o que não se revela é aquilo que te faz fortaleza, e que te fez ser o que é, juntando a dor a todos os temperos de gozos e prazer de teu ser. Na dor oculta que te distingue de todos que a dor não puderam sentir, forjou-se teu ser, não que fosse necessária a dor, mas existindo, de fez provar-se como forte, te fez entender cada momento como passagem, te fez crescer sabendo poder resistir, pois viver não é nada que não seja resistir, enquanto o presente é dado pelo futuro inescapável que ainda não ch...

AS CORDAS QUE UNEM O UNI AO VERSO

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  Um certo dia, em um cato desses do Universo, uma pessoa dizia sobre os sinais, e que aquilo poderia obcecar alguém, caso buscasse em tudo alguma indicação de algo. Pus-me a refletir, e meditar, ao longo de alguns dias, pois aquela afirmação me fisgara de alguma forma, no começo incompreensível para mim. Pensei em mim, como objeto inicial de minha própria investigação, e em todo o resto, dentro da visão apartada que temos ordinariamente. Eu e o resto de tudo que há, e parti a meditar. Ocorre que eu e o resto, no principiar de uma meditação mais profunda, começam a se unir, e não há eu, e não a o resto. De alguma forma as coisas se unem, se tornam indissolúveis. Penso, vejo, sinto, tenho consciência, e pela consciência, aliás, é a própria consciência o fio que me une a tudo sobre o que pretendo meditar, e que cria, ao princípio, ser o resto. Percebi, então, que não há fio, não há conexão, há lembrança. A consciência é a lembrança sobre o fio que une tudo que há, e percebi-me ...

A PREMISSA PARA O CAMINHO DO CORAÇÃO

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                          O primeiro passo trata-se de conhecer-se, entender de fato o que se é, pois há, dentro do conjunto de fibras que compõe cada individualidade, preferências energéticas, dada a composição única de cada um, que influenciarão a própria caminhada nesta individualidade vivida. No nagualismo a recapitulação é o caminho para se encontrar, para se descobrir. Em níveis já tratados, a recapitulação inicia-se com a revisitação, a um nível profundo, de toda a vida pós nascimento, no desvirtuamento que ocorre ao ser humano após nascido, com a socialização, que é o serviço engendrado pelos voladores na vida de todas as pessoas. Os passos sequenciais é a recapitulação de eventos intrauterinos, depois a recapitulação das atividades de segunda atenção no retorno dos ensonhos desde o nascimento, tópico de especial dificuldade. Lewis Carroll, em seu livro “Alice no país das maravilhas”, narra parte dessa jornada...