SOBRE A IMPORTÂNCIA DE ESTAR BEM COM O CORPO




(trechos do El silêncio interno (livro púrpura) - CC - 1ª Edição)


Algumas pessoas, cada vez menos, me perguntam como começar nesta senda de conhecimento que é o donjuanismo, especialidade peculiar do naturalismo, e sinto ter encontrado algumas respostas, ou pelo menos indicativos de respostas no Livro Púrpura, em seus capítulos iniciais, quanto é introduzido a CC, pelo velho nagual Don Juan, a ideia da importância do bem estar físico.

Na primeira parte do livro Don Juan explica a Carlos o que são os "Leitores do Infinito", termo que adjetiva pessoas que atingiram certa condição perceptiva no xamanismo, adaptado a condição cognitiva e predileções do Zeiitgest de Castaneda (época de cognição dada proeminentemente pela escrita).

Explicou, o velho Nagual, que aqueles que conseguem se tornar "leitores do infinito" são chamados de "expectadores do infinito", que é uma forma de "ver" desde uma cor granada (púrpura) que explodia em visões, como um filme.

Para Don Juan, pela predileção de Carlos, a forma apropriada que o "ver" viria a ele seria como palavras desencadeadas que formulariam o que quer que ele devesse saber, tornando-o um "leitor do infinito".


(aqui conjecturo que, no Zeitgest de nosso tempo, seríamos expectadores novamente, que manifestaria o ver como predileção sendo algo como uma tela de TikTok surgindo a nossa frente, como era antes, palavras são avessas à maioria das pessoas hoje em dia).


Pois bem, como se manifesta a voz do ver.



Para Don Juan, desde os antigos feiticeiros a voz do ver, ou a película do ver, ou as palavras do ver para os "leitores do infinito) (predileção de Castaneda), se manifesta a partir do momento que se atingia o conhecimento silencioso, que era obtido, por sua vez, com o logro do "silêncio interior", sendo esse logro "a condição essencial do xamanismo", para Don Juan.

Mas e o começo da conversa, o que isso tem a ver com o título?

 

Calmem jovens, já chegaremos lá, essa parte acima foi a introdutória, o ponto de chegada, agora vamos ao ponto de partida.

 

Don Juan introduziu o assunto do "ver", da predileção de Castaneda e da necessidade do "silêncio interior" para falar do necessário, como pressuposto, para atingir tal estado e o conhecimento em si mesmo.

 

" - Aventurar-se no mundo dos feiticeiros, ressalto, não é como aprender a dirigir. Um precisa de manuais e instruções, sem os quais não se consegue guiar um carro, já o silêncio interior só necessita de uma coisa: intentá-lo." 

 

Sabemos a grande pergunta e a aporia de DJ como resposta a Castaneda, que obviamente questionou o Nagual sobre como intentar, sendo respondido, de forma prática e se circunlóquio que:

 

 - A única maneira que se pode intentar é intentando!"

Lembremos que, nesta mesma conversa, Don Juan explicou a Castaneda que os feiticeiros são navegantes em um mar desconhecido, e que navegar é um exercício prático, demanda mover-se entre mundos sem perder a sobriedade, a força, e para essa tarefa não existem procedimentos passo-a-passo, mas tão somente um ato abstrato que circunda a tudo. Esse Abstrato, o Espírito, a Totalidade que deve ser buscado por meio do reforço da força chamada Intento.

 

(Aqui faço uma digressão, entender que o Espírito somos nós também, que o Absoluto é a soma de tudo que há, e que o intento do Absoluto é o autoconhecimento absoluto, leva-nos ao entendimento que intentar algo que leve ao conhecimento individual é intentar que o Absoluto aprimore seu autoconhecimento, portanto é alinhar a vontade com a Totalidade, essa é uma chave essencial)

 

Mas voltemos, não chegamos no necessário cultivo do corpo ainda, mas agora começamos.

"Se existe algo que os seres humanos precisam para alcançar o conhecimento silencioso é reforçar o seu bem-estar, sua clareza, sua determinação. Para poder Intentar, A PESSOA DEVE TER DESTREZA FÍSICA E MENTAL, E UM ESPÍRITO CLARO.”

“De acordo com don Juan, os feiticeiros do México antigo colocavam uma grande ênfase na destreza física e no bem-estar mental, sendo que a mesma ênfase se estendeu ao longo de gerações até os feiticeiros hodiernos. Fui capaz de corroborar a verdade de suas premissas ao observar don Juan e seus quinze companheiros feiticeiros. Seu magnífico estado de performance física e mental eram as características mais obvias que via no grupo.”


Eis que aqui, no donjuanismo, há uma cisão com muitas doutrinas espirituais, enfatiza-se o corpo físico, o veículo que carrega a nossa individualidade e mais densamente pode ser visto e sentido.

 

“ – Os feiticeiros não são nada espirituais, afirmo, são seres absolutamente práticos. Talvez por essa característica que os bruxos, como são conhecidos, são considerados excêntricos ou mesmo loucos.”

 

Quer loucura maior ao mundo social do que pessoas que se dizem espiritualizadas que são “normais”? Que cuidam do bem estar físico, detém porte atlético, são capazes de fazer maratonas, não acumulam gordura no corpo e cultivam-se como se esportistas fosse? Pensem comigo, uma imagem assim não lhe trará a mente um mestre espiritualizado.

 

“Don Juan começou comentando sobre a capacidade física dos antigos xamãs. Ele enfatizava incessantemente a necessidade de um corpo flexível e ágil, sendo enfático ao dizer que a elasticidade e força, o seu bom condicionamento físico era o caminho mais seguro para chegar a sua maior conquista: o conhecimento silencioso.”

 

E aqui vem mais um reforço dessa chave negligenciada por seres “espiritualizados”. Peço que foquem nessas palavras do velho nagual don Juan, que nada dizia sem propósito claro, sem determinação do Espírito que ele já tinha reivindicado, por viver já em unidade.

 

“-O bom senso e a capacidade física foram as duas coisas mais importantes na vida daqueles homens e mulheres - reiterou certa vez -. Sobriedade e pragmatismo são os únicos dois requisitos essenciais para alcançar o conhecimento silencioso – para entrar em outros domínios de percepção. Navegar genuinamente no desconhecido requer uma atitude de ousadia, mas não de descuido. Para estabelecer um equilíbrio entre ousadia e descuido, um xamã deve ser extremamente sóbrio, cauteloso, habilidoso E ESTAR EM EXCELENTE CONDIÇÃO FÍSICA.”

 

Entendam, há muito a se caminhar, e volto agora ao começo do argumento, respondendo à pergunta que guiou esse texto. Se alguém quer começar nesse caminho, ou se nele já está e quer aperfeiçoar, vá do mais simples, parta do aprimoramento daquilo que está sob seu domínio: o seu corpo físico.

 

Você deve estar em uma excelente condição física, como um atleta, atingir ao seu máximo, pois veja, se não consegue sequer aprimorar aquilo de mais denso que tem, qual chance terá de manejar aquilo que está oculto? Questione-se com sinceridade, se não mentem o seu corpo físico na melhor qualidade possível, não será capaz de manejar seu corpo de sonhar, seu intento, seu elo com o Espírito, absolutamente nada, serão apenas devaneios distantes de alguém que sequer começou a caminhar.

 

E ai chegamos ao cinco temas essenciais, para don Juan, para atingir a busca de um guerreiro: o conhecimento silencioso:

1 – Estar em perfeita forma física (ele ressaltava que os passos mágicos ajudariam a exercitar-se, alongando, movimentando, etc);

2 – Limpar o centro para decisões (livrar-se de ações automáticas do dia-a-dia, dos condicionamentos, ter consciência e tudo que se faz, desde a menor até a maior decisão);

3 – Livrar-se das amarras pessoais e da história pessoal (por meio da recapitulação)

4 – Ter o controle do sonhar (com as práticas de ensonho)

5 – Adentrar no conhecimento silencioso (cultivando o silêncio interior)

 

Vejam, são passos complexos, mas começam do simples, e se o simples não for atingido, o complexo tampouco o será.

E agora, há desculpas de não saber por onde começar? Olhe para si, veja os pontos do corpo que estão acumulando energia (gordura), veja os locais onde sente dor e alongue, lembre há quanto tempo não consegue tocar a ponta dos pés com as mãos, se alongando. Estale as costas, as juntas, caminhe, corra, faça o possível, mas cultive o primeiro passo, se quiser ter a chance mínima de ter os demais passos, eis a chance, única, pois só se vive uma vez.

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