Questões energéticas no caminho de um guerreiro
Das primeiras questões que me veio a escrever foram as que de fato mudariam a vida de um homem rumo ao desfiladeiro da ilusão sem fim. Todos que caminham cegamente seguindo os desígnios do sistema que se impõe a vontade do homem são assim, como um rebanho tangenciado a seguir um destino que o leva a sua destruição energética sem nada do universo ter conhecido, se não as designações do abstrato sistema em que ele está inserido. Imaginei o renascimento que acontece em milhares de pessoas, em que a vida por algum motivo chega a sair dos trilhos da continuidade esperada, pela morte de entes amados, pela perda da estabilidade financeira, por uma doença que venha a assolar a pessoa. São sinais de que o Espírito gritou para o despertar dessa pessoa. Fatos como esse acontecem, vez em quando exatamente para mostrar ao homem, em exemplos que o cercam, de que a natureza da nossa realidade, de nossa existência de nossa vida pode e é muito maior do que ela se mostra aos nossos sentidos.
Senti então essa transformação, uma energia me invadia e eu parecia me tornar maior do que meu próprio corpo, eu crescia a sentia uma chama me invadir internamente. Senti meu corpo energético brotar para uma consciência superior, minha pele parecia se adormecer em uma sensação que eu já havia sentido vezes antes. Ouvi então a familiar voz que me falava e comecei um diálogo existencial breve com ela:
- Mas em todos os anos de minha existência, tentando realmente decifrar o sentido de minha existência e do homem na Terra, será que consegui caminhar um pouco que seja?
Não haveria caminhado se não fizesse essa pergunta, de uma forma já acredita na voz que agora te fala. De outra forma tem ainda a humildade, apesar dos pequenos avanços, de saber que pouco caminhou no sentido do seu despertar. Vários fatores ajudaram no despertar, primeiro o homem deve ter ou o ímpeto de buscar e de conhecer, ou a companhia da morte ao seu lado para despertar aos assuntos que o levarão ao conhecimento. Em alguns casos são preciso mais de dois métodos. Existiu em seu caso a presença da conselheira para transformar conhecimentos apenas conjeturais em um estado constante de prática e caminhada, a única forma de atingir o conhecimento puro.
- Como posso saber de que forma evoluí se ainda sou mesquinho, burro, egocêntrico e ainda carrego toda a infinidade de apegos humanos em mim?
Talvez a evolução que tenha passado seja a primeira que todos devem passar, a de assumir a sua pequenez frente a todo o mistério que o cerca, e assumir a sua imperfeição. Os escudos que o guardam, o seu eu, a sua descrição de você e do mundo ainda estão presentes em grande parte de sua vida, apenas nos momentos de silêncio você consegue desligar esse sistema auto imposto a sua vida. Contudo, a medida que o caminho e seguido, que a prática continua, há de acontecerem mudanças mais profundas, o silêncio começará a tomar o lugar do conhecimento, a própria visão de mundo começará a desvanecer e então que um grande desafio se postará a sua frente, pois essa realidade que vive não pode ser abandonada antes do amadurecimento total da energia que existe dentro de seu ovo luminoso. A vida com as pessoas próximas é o exercício diário do caminho impecável que deve levar o guerreiro, a única forma de suportar o peso infinito do desconhecido, até a hora em que sua energia esteja preparada para eclodir de dentro de seu ovo de luz. O guerreiro então escolhe sim a sua hora de ser assaltado pela morte, pois necessita dessa energia para romper as suas amarras e partir rumo ao infinito.
Aceitar a dificuldade dos outros, não como forma de piedade, como forma de complacência, mas como forma de exercício pessoal, de paciência, de firmeza e de espreita. Essa é uma das formas de engrandecimento de nossa energia. Se pensarmos como uma engrenagem que somos em um sistema social, quanto mais conflito nos dispusermos a ter mais energia geraremos, mais gastos, contudo, se formos resilientes, adaptáveis, espreitando as diferenças e tornando-as igualdades, facilitamos a nossa interação social, passando despercebidos, sem atritos, gerando pouca atenção e aprendendo as diversas facetas que podemos adquirir com a espreita pessoal e das pessoas que nos cercam.
Não nos adianta apontar os erros nas pessoas, tentar doutriná-las e modificá-las de acordo com as nossas expectativas pessoais, mesmo que essas sejam abstratas, não adianta empenharmos a nossa pouca energia disponível na vã tentativa de explicar o caminho que seguimos a quem realmente não queira, pois essa pessoa está, intuitivamente munida de um intento pessoal, e seria necessário um ato sobrenatural de energia e intento para modificar a visão que a pessoa tem de si mesma e do caminho que segue. O natural é seguir o nosso caminho, sem interferir no de ninguém que não o queira, e nas pessoas que queiram, que sejam apontadas para a nossa direção pelo espírito, servir como voz e canal do próprio espírito para o despertar da pessoa, não com o intuito de doutriná-la com uma visão pessoal, pois essa é sempre dotada de grande parte, a parte que não pode ser descrita, do nosso ego, do nosso inventário, limitada e torpe, pois emana de nossa imperfeita mente, ou pelo menos passa por ela antes de ser descrita em sua simples natureza.
Existe uma diferença profunda entre o que transmitimos a partir de nosso silêncio e o que transmitimos através de nossa mente, mesmo que nela tenha sido guardado um fragmento de experiência por um pequeno espaço de tempo. A forma correta de transmitir, de escrever o que vemos, é imediatamente depois que temos a experiência, quanto antes melhor, para não dar tempo de nossa mente trazê-la para uma interpretação condizente com o mundo cotidiano. Ontem falei com a tempestade e o vento, bem me lembro disso, mas os detalhes foram fantasiados por minha mente a medida que o tempo passou, mesmo sendo um dia a diferença, hoje não tenho firmeza no que recordo, e por outro ponto não consigo retornar a minha visão para o que realmente aconteceu. O conhecimento não está perdido, está dentro de mim em algum ponto que algum dia poderei retornar, mas se o tentar passar hoje estarei corrompendo um conhecimento puro para um conhecimento cotidiano.
Fui levado então para algum lugar para o oeste, para o poente. Havia algo como um mantra sendo cantado das profundezas da terra. Vi a silhueta de uma terra árida, com algumas árvores que estavam desfolhadas. Havia a sombra de um homem ali, eu sabia ser um ser qualquer, mas não um de nossa raça. O sol estava se pondo no local, mas era um mundo diferente do nosso, um mundo alaranjado, avermelhado, como a cor de um sol poente, mas uma cor que invadia todo o lugar. Eu via apenas sombras por ali. Eu sabia que estava sonhando pois meu corpo estava adormecido, apesar de que eu podia ouvir os sons do ambiente em que meu corpo estava. Eu então era levado a ver o mundo um pouco mias amplo e via que ele estava relacionado com algum lugar que eu sonhava de meu passado, e que ali eu deveria procurar o guia que me mostraria esse mundo por inteiro. Então um sentimento de solidão me invadiu, recordei de alguns lugares que eu havia ido em sonhos, em todos eles eu estava sozinho, em todos eles eu sentia essa solidão, como se ela fosse parte de mim, mas nada que me consumia, pelo contrário me dava forças para explorar esses mundos. Lembrei de um cemitério, alguém me mostrava as lápides e eu entendia aquelas pessoas haviam morrido e eram apenas a descrição de suas lápides, vi várias que diziam várias coisas, como “homem honesto e bom pai, viveu pela sua família”, “Mulher dedicada ao ofício da salvação, que Deus tenha piedade de sua alma.”, senti a frieza do local, pessoas passavam por ali para lembrar das que já foram, mesmo sem saber elas estavam mantendo o mundo, o seu pequeno mundo tão rígido e sem essência quanto aquelas lápides ali. Então por ali perto eu via uma casa em uma colina. Ao seu redor haviam várias árvores, sentia a alegria daquele lugar e via a vida brotando da Terra. Lembrei então que era um sonho em que eu me sentia completo pelas árvores, ali vivia eu e elas. Vários ensinamentos eram passados, elas sentiam realmente o que era a Terra em que viviam, o que era o seu campo de luz, o que era o universo em sua infinita essência, presas a terra, eu pensava, mas infinitamente mais cientes do universo que nós mesmos. Então elas me falavam, não tão presas quanto os de sua raça, cientes de nossa prisão nossa consciência pode visitar os recôncavos mais distantes do universo.
Voltei então a visão do mundo avermelhado, ali as sombras eram três, estavam me esperando eu sabia. Sabia que apenas sozinho eu chegaria ali, eram aliados, queriam me mostrar algo, mas eu não conseguia manter a visão, o mundo então se desfez com a campainha da minha casa tocando
E então eu vi uma forma energética que parecia uma bola, mas saiam espinhos de luz de sua forma redonda, estava bem longe e eu intentava vê-la de perto, essa forma chegava de certa forma mais perto mas eu não podia entender a sua forma, até que eu compreendi a agressividade nela e foi que levei um choque que me fez acordar e tremer, como um soco em alguma coisa fora de meu corpo.
E então fui levado a saber que o envelhecimento, o enrijecimento de nosso ovo luminoso é uma conseqüência e uma necessidade para nós, para a nossa libertação. A morte que sempre nos acompanha então chegará uma hora que conseguirá com um só golpe quebrara a rigidez de nosso mundo, quebrando a tela em que se projeta a nossa realidade. Nessa hora, para quem tiver tido a capacidade de ter uma crosta límpida e clara a única coisa que mudará é que estaremos livres para seguir em nosso jornada que até então era limitada, teremos uma visão completa do todo pois estaremos livres de nossos limites.
Fui então levado mais uma vez para as terras além das planícies, para o local onde ponho um parêntese a narrar a minha primeira experiência em um resumido trecho de uma vivência, na verdade várias visões que se resumem mais ou menos assim:
A mais portentosa visão que tive, na qual voltei por duas vezes, eu era guiado por uma planície amarelada, onde o céu se confundia com o chão, era um local sem vida. Depois eu chegava a uma floresta densa em que não haviam habitantes que não as plantas. A floresta desembocava em um desfiladeiro, de lá eu podia ver uma cidade branca, com todos os prédios emanando um brilho próprio e de diversos tamanhos e formas diferentes. No céu eu via dois sóis, ou eram planetas, não sei bem explicar, mas eram gigantescos. Dois rios circundavam a cidade, passando por um vale de plantas. Quando eu olhava fixamente a cidade podia aproximar a minha visão para ela, e via pessoas ali, mas não eram pessoas comuns, eram como bolhas de luz de diversas formas, mas todas com um intenso brilho. De onde eu estava uma mulher me falava que ali era o local de ancoragem antes da viagem definitiva, que ali estavam pessoas de gerações sem fim da minha raça, que muitos os viam como anjos, deuses, avatares, seres mágicos de toda a sorte, mas que na verdade ali era o local em que descansavam os viajantes do infinito. Entendi, vi então que ali era o local para onde seguia o duplo, o corpo energético, onde nos preparamos para a jornada rumo ao infinito.
Fiquei intrigado com a minha descrição depois que assisti ao filme Nosso Lar. Não acredito em grande parte daquela narrativa, e entendo que o que acredito serem falhas advém da parte humana de quem escreveu a história, mas sem entrar no mérito de acreditar ou não, sou compelido a levar a minha visão em consideração, pois assemelha-se sobremaneira daquela que é descrita no filme. Só para critério de entendimento, nunca havia lido o livro e nunca havia sequer ouvido menção sobre o mesmo, não sei o que falar sobre a visão e a semelhança que tem com a cidade descrita no filme, mas considero ainda como um adágio do poder, algo que deve ser buscado por mim outras vezes para o entendimento. Nas primeiras vezes que tive essa visão, já há mais de um ano, eu imaginava que seria o local onde Castaneda narrara em seus livros como sendo o Domo do poder, ou a Cúpula dos Naguais, mas não sei o que pensar agora, acredito que ainda não tenha poder suficiente para compreender por completo a visão que tive.
(Visão narrada em meados de 2009)
Ali vi que o homem usava aquela cidade branca, naquele lugar, cercado por um jardim, onde as ruas e construções emanam um brilho próprio, como um local de ancoragem no caminho para o infinito, talvez o último lugar onde a presença de semelhantes vai existir, e essa presença de outros que como nós conseguiram o amadurecimento de seu ser interior, de seu duplo, é necessária para a coesão daquele conglomerado energético que é aquele mundo. O velho nagual chamou o local de cúpula dos naguais, eu chamo de cidade branca, de ancoradouro para o infinito. Fui até o local algumas vezes, o vejo então não apenas como uma história de poder, mas como algo que pude ver, um local onde mantenho a visão, pois é para onde devo ir quando for liberto desse ovo pela conselheira.
Ali, além das planícies a coesão faz com que certos aspectos que nos lembrem esse mundo ainda sejam presentes. Isso se faz necessário para acostumarmos o nosso recém liberto corpo de luz acostumar-se com a grande viajem que fará, sendo que a ida até aquele mundo se configura já como uma grande viajem. Ali ainda teremos a companhia de outros, mas depois dali não mais, pois a simples união de dois de nossa raça é suficiente para criar-se um círculo de poder, uma visão coesa da realidade energética, o que nos prejudica na absorção e percepção pura do mundo. Assim se desfaz o antagonismo da solidão, extremamente necessária aos de nossa raça no caminho ao infinito. Ali, sem ansiarmos a presença de outro ao nosso lado, viraremos percepção pura, pois a nossa energia estará liberta, coesa e pronta para a nossa jornada definitiva. Entendo agora parte de minhas visões do local, o porque dos aspectos similares de nosso mundo ali naquela cidade branca, pois ela é feita pelo intento de milhares que ali estão, que ali passaram e que ali ainda chegarão, possivelmente,quando a tingirmos a massa crítica ali será o próximo ponto de ancoragem de nossa civilização, a um passo de nosso destino mágico, um destino individual depois dali, e para toda a eternidade.
Grande homem vc escreve muito bem!
ResponderExcluirPo isso é meu amigo!
ass:José Cabeça...
Grande cabeça, agradeço a sua visita e o comentário, mas a escrita só reflete a experiência vivida, sou nesse caso só instrumento do poder que me guia, mesmo sendo esse poder o meu poder pessoal.
ResponderExcluirIntento cabeça.
Agradeço pela história colega.
ResponderExcluirNos faz lembrar de nosso Grande Compromisso. Saúdo nossa boa sorte. Que desafios nos aguardam!