O cerne de meu caminho - Entrando nos trilhos da liberdade






Olhei hoje para o passado e sondei os passos que galguei em minha caminhada. Vi o quanto fiquei estagnado por anos a fio em buscas sem sentido, buscas sem coração, buscas da sociedade, de nossa realidade e coesão. Não havia entendido o sentido das buscas que eu deveria realmente fazer, das buscas que estava guardadas nas profundezas de meu coração. Eu como qualquer outro ser vivente de nossa raça pensava a todo instante, ora mais ora menos, no sentido de nossa existência. Neófito e sem conhecimento eu apenas intuia a existência de um sentido maior para nossa passagem, para a nossa vida que não as buscas pessoais e egomaníacas da normalidade que vivemos. Sonhava em voar como heróis, mas dizia sonhar com o poder e o dinheiro, isso agradava os mais velhos, os amigos, isso parecia ser motivo de orgulho para os meus iguais, e ainda parece ser até hoje.

Então que comecei a pensar na leitura para a descoberta de um caminho, ler os livros e comentá-los como críticos literários é de fato muito raso, eu mesmo vivi dessa forma por anos a fio, tendo as histórias como histórias, possíveis, mas longe de minha realidade, conjecturando como seria se encontrar com o nagual, como seria, vários "se"s e nenhuma ação. Obviamente que me frustrei com a leitura e a discussão dos livros, pois parecia a discussão em sala de obras de Machado de Assis, o que deveria ser fato se tornavam histórias, estórias, e cada vez ficavam mais distantes. Um dia, eu me recordo que morava em São Caetano, estudante de engenharia, vivia lendo e fingindo seguir os passos mostrados nos livros, sonhando na oportunidade de me encontrar com o Nagual Carlos, então que o mundo de historinha ruiu. Passando na banca de jornal, em um dia de uma ressaca homérica, o corpo em frangalhos, vi a notícia, em um canto de página do Estado de São Paulo dizendo: "Morreu Carlos Castaneda, o ícone da contracultura hippie da década de 70" (não lembro se foi isso que estava escrito no jornal, mas assim está escrito em minha memória). Lembro-me de ter sentado na soleira da porta daquela banca, senti meu estômago enjoar, o mundo rodar, a ressaca, o gosto amargo de um cigarro compunham a melancolia da cena. Pensei: "pôrra, o filha da puta morreu e eu nunca o encontrei!" percebem o egoísmo da cena? A única coisa que não estava nem perto de mim era o caminho do guerreiro, então fiz o inevitável: abandonei os livros, releguei ao esquecimento os conceitos que retornavam vez ou outra quando pensava naquele mundo mágico que me atraía sem mesmo eu entrar de vez nele.

Foi depois de muito tempo que reunido nos frangalhos de uma doença que me sacudiu as bases da minha realidade que fui chacoalhado pelo espírito e jogado na prática do mundo do Novo Nagual. Entendi que os seus livros eram apenas a mensagem que fica na porta dizendo "Bem vindo" e que essa mensagem por si não era suficiente para eu saber o que havia no interior do templo de conhecimento erguido por ele. Na reclusão de meu ser descobri o mestre infinito, o espírito, vi aflorar muito mais que existia nos livros do Novo Nagual, vi crescer a energia dentro de mim.

Com o crescimento da energia descobri cada dia mais, um passo depois do outro, o desabrochar das faculdades mágicas que nós temos. Os livros e o conhecimento permaneciam mas eram preenchidas as lacunas, uma a uma, com o conhecimento silencioso, com a disciplina, com o desejo cada dia maior pela liberdade.

Em cada passo que dei, isso durante os últimos 2 anos, vi a minha energia crescer e meu vínculo com o mundo perecer. Larguei o tabaco, as bebidas, a pornografia, as noitadas, a televisão, a gula, o sexo despropositado, a incessante busca pelo dinheiro, e me senti feliz, pleno, realizado.

A clareza me dá força para seguir, para continuar mesmo sendo arriscado por ela me cegar.

Lembro-me que ainda tive o medo, eu era dependente de alguns remédios, e sempre pensava: "Como vou viajar, como vou desbravar os mistérios do mundo, correr, lutar, e se meu remédio acabar, e se eu morrer?" Durante esse ano, dia após dia de práticas esqueci a cada dia meu remédio, e a cada dia me sentia mais forte e feliz. Um dia, olhei para trás e vi que o medo que eu tinha nada mais era que a amarra perceptiva, o grilhão aprisionante da realidade do medo, e olhei longe no meu passado percebendo que havia deixado esse medo para trás, perdido no tempo, longe da minha luz. Olhei esse tempo sem saudades, sorrindo. Vi que ao longo dos anos tenros de minha mais ávida juventude, como muitos, como a maioria fui guiado a incessante perda de poder, declínio de consciência, debilitação da saúde, sexo desenfreado, drogas, bebidas, noites em claro, brigas, rinhas, todas amarras do sistema que na fase de nossa mais forte energia desabrochante nos prende a aspectos da aprisionante ilusão social. Hoje me sinto forte, vivo, consciente, mais do que nunca fui, no auge de meu poder, de minhas realizações e não falo de finanças, poder, status social, pois isso é tudo uma grande merda no meio de tão sublimes conquistas que estou tendo e não trocaria isso por nenhuma conquista no mundo ilusório, mesmo porque o pouco que eu tenho me basta e me sobra para a vida social que preciso enfrentar e todo o resto é conseqüência que vem junto ao meu aprimoramento do espírito, aprimoramento do conhecimento, aprimoramento do corpo e quando a busca  do que é desse mundo passa de objetivo para conseqüência ela se torna mágica.

Nunca fui tão completo em minha vida caros amigos, nunca fui tão feliz e pleno, nunca compreendi com tanta clareza o caminho do Nagual Castaneda, o caminho que tanto prego da liberdade, o pesar e a tristeza pela morte dele hoje é exultação pela liberdade deixada por ele no caminho que sigo e o que escrevo hoje, nada mais é que a expressão máxima de minha gratidão por esse caminho que trilho no caminho da libertação.

E o que conto de minha história amigos, só conto pois foram laços desamarrados de minha energia pela recapitulação, nada que ainda me prenda, nada que ainda seja meu, pois tudo que resta é a história desbotada de um caminho distante, que a cada dia se perde frete ao destino futuro que contemplo.

No intento da liberdade a todos!

Comentários

  1. Eu só não estou completo pq falta para mim segurança financeira e meu mestrado ou doutorado!

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  2. Então está muito longe de estar completo, pois nada disso completa ninguém, não leva ninguém a iluminação, a realização a felicidade. Quando o conhecimento acadêmico vem como consequência da impecabilidade do caminho, da retidão do espírito, como parte do jogo de libertação não tem problema, mas como objetivo de vida é incompletude. Conheço vários professores mestres e doutores incompletos, tristes, pois donos do conhecimento do mundo ainda não explicam a si a existência que levam, são infelizes tendo tudo na vida e nada no espírito.

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  3. Estar completo é estar consciente e feliz e pleno com o que tem, o que quer que seja a coisa ou quantidade que você tiver, incompletude é viver desejando ter mais, ou desejando ter diferente, só na plenitude do agora conseguimos caminhar para o futuro.

    Intento Cabeça

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  4. Isso é o mais incrível no caminho do conhecimento...o guerreiro não tem absolutamente. "Nada" se olhado pelos olhos dessa "realidade" aprisionadora, e no entanto, é completo. Faço das suas palavras as minhas, nunca fui tão completo na minha vida, sendo que em sentido material, tenho apenas o necessário, e instrução, apenas o básico. A única coisa que um guerreiro tem é sua impecabilidade...e ela não pode ser ameaçada.
    Namastê!

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