As dúvidas na caminhada: entre ser tudo e não ser nada



Toda essa caminhada a qual damos o nome de vida é, ao final de tudo, uma grande incógnita de nosso próprio existir. Passamos grande parte desta jornada a tentar encontrar um sentido para ela, responder as transcendentais “quês” e “porquês”. Nem sequer sabemos de quê somos formados, e nem do porquê que estamos aqui. Na ausência visceral de sentido nasceram as ciências, tentando submeter ao exame de nossa limitada racionalidade os mistérios cósmicos da existência. Ao final de tudo queremos apenas acreditar sermos transcendentais, especiais, ser mais do que acidentes biológicos como pessoas, e um acidente evolutivo como humanidade. Olhamos ao redor na busca destes sentidos todos, sentidos que impelem a caminhar em uma direção para além da fruição do gozo individualista que nos faria meros escravos de nossos desejos carnais e íntimos. Afinal, se tão somente nos reconhecermos como acidentes, o que mais nos resta que a busca incessante pelo prazer frugal dos sentidos? Mas se assim o for no resta muito pouco. Ainda que um acidente, assumir a possibilidade de que eu mesmo manifeste em palavras o meu sentir, que tenho por certo reflete o sentir de muitos, acena para uma possibilidade para além do imprevisto, para além de ser eu tão somente, como todos nós igualmente, imprevistos, seres tão somente biológicos na existência em que compartilhamos, por determinação de uma inteligência cósmica que nos transcende, ou por mero e puro acaso. 
Quando falo, é de um eu emaranhado ao mundo ao meu redor, é como trânsito em um mundo em mudanças falo de um eu em eterna transformação, como o eu de Montaigne, quase embriagado, contraditório, sim, pois em constante mutação. Não sei, portanto se há algo fixo e constante que possa dizer eu, e se o tiver ainda não o descobri, como ser alheio a tudo que nos cerca? Se assim formos como dizer que não há manifestação da vida, do eu em tudo e do tudo em mim? Devo, pois, mergulhar em tudo que há, e deixar meu corpo sentir o que é seu e o que não é, por exclusão e até por identificação, quiçá, lá pelo fim da caminhada saberei o que sou, se não, conhecerei ao menos parte do mundo, acumulando as experiências do ser em ti, ou seja, do sentir!
Talvez seja essa a nossa sina, o nosso destino, seja por acaso ou necessidade, nos dado como humanos que somos, o de questionar. Nos é possibilitado, para além de sermos testemunhas deste agora que compartilhamos, deixarmos os rastros do que vimos, para que essa roda infinita da descoberta permaneça a girar. Mergulhar em tudo que há: experiências, mundos, convergências e divergências, o gozo, a fruição, o desejo, a desilusão -, partes da experiência de vir e ver: viver. Para isso estamos, para sermos testemunhas, nunca imparciais, sempre parciais, pois o que é o mundo senão uma soma de nós com tudo que há, nós entre nós, a serem desatados aos poucos em busca de respostas, miríades de respostas por entre perguntas como ramas de uma árvore que nunca deixa de crescer, até ao fim certo fenecer.
Mas talvez isso tudo seja tão somente iludir-se na caminhada.
Já escrevi há um tempo sobre o que dizem ser a humanidade, esta correlação dos atributos: finitude, imperfeição e instabilidade.
Identificar a forma humana em si é saber ter que deparar-se com esses três atributos, algo natural em nossa caminhada. Contudo, entender a nossa centra divina é perceber que, ao aperfeiçoar-se é possível transcender a estes atributos todos e se transformar em algo mais, um ser transcendente.
Em decorrência disso, em superando-se os inimigos nesta caminhada, que não estão fora mais dentro de nós, é possível fazer despertar em si o ser imortal!
Ao encontrá-lo, por debaixo de toda veste humana, eis que se identifica Nele os atributos da transcendência: infinitude (o fogo que nunca se apaga da energia que reside em nos), perfeição (ou que se chama impecabilidade) e estabilidade (que se chama intento inflexível). Reconhecendo e encontrando, não como teoria mas como vida, estes atributos em si, o ser é capaz de transcender em um novo ser!

Seria esse pensamento um purismo? Uma tentativa de afetar a verdade? Deveríamos pensar como Hugo Friedrich, aceitar a nossa condição humana e não apenas conhecer-se a si mesmo, mas além disso aceitar-se como somos?

Talvez assim chegaríamos ao fim dos delírios presunçosos, ao que Friedrich chamava de "fim do desespero, fim da nostalgia da salvação, da suspeita de que nossa existência contingente poderia ser a crisálida de uma nova forma de ser superior a que poderíamos nos elevar neste mundo ou em outro"

Comentários

  1. "Ao encontrá-lo, por debaixo de toda veste humana, eis que se identifica Nele os atributos da transcendência: INFINITUDE (o fogo que nunca se apaga da energia que reside em nos), PERFEIÇÃO (ou que se chama impecabilidade) e ESTABILIDADE (que se chama intento inflexível). Reconhecendo e encontrando, não como teoria mas como vida, estes atributos em si, o ser é capaz de transcender em um NOVO SER!" Gratidão, intento a todos!

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  2. Parece que quanto mais se busca menos se encontra. Resta-nos aceitar que tudo é um mistério insondável e fluir seguindo o ritmo do Universo.

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  3. Ola meus amigos.se alguns dos senhores tiverem os videos dos passos magicos e possam compartilhar comigo eu agradeço
    Meu email: brennolima21@gmail.com

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