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Mostrando postagens de 2023

MORTE E RENASCIMENTO

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Era dezembro de 2008, eu estava no Acre, no meio da floresta, já imerso nos efeitos da mestra ayahuasca. Eu via as pessoas ali, cantando, rodando, testemunhando aquele mundo mágico que eu também experimentava. Contudo, tudo isso representava apenas uma fina barreira que tínhamos ultrapassado.   Pedi à mestra que me mostrasse mais, eu queria ir além, ultrapassar as fronteiras do homem e talvez até mais. Assim, iniciei uma jornada intensa. Sentia o que todos sentiam ali, tornava-me parte do todo, de cada indivíduo, e percebia o mundo de maneiras diversas. Minha filha era pequena e dormia com minha esposa em algum lugar próximo. Minha esposa estava chateada, não gostava, assim como não gostava de nada espiritual. Então, percebi o mundo sob a ótica dela. Era caótico, sentia o medo e via tudo sem sentido, como ela via. Entendi sua razão e o motivo de não apreciar o mundo espiritual, sob a perspectiva dela; nada ali fazia sentido.   Eram pontos de vista, cada um com seu punhado, e somados fo

OS DESEJOS PARA O GUERREIRO

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  "Resolver o conflito das duas mentes é uma questão de intentá-lo", disse ele. "Os feiticeiros evocam o intento pronunciando a palavra 'intentar' em voz alta e clara. O intento é uma força que existe no universo. Quando os feiticeiros a evocam, ela vem até eles e traça o caminho para a obtenção do que desejam, o que significa que os feiticeiros sempre conseguem realizar o que se propõem."   "Você quer dizer, Don Juan, que os feiticeiros conseguem tudo o que quiserem, mesmo as coisas mesquinhas e arbitrárias?" perguntei.   "Não, não quis dizer isso. O intento pode ser chamado, é claro, para qualquer coisa", replicou ele, "mas os feiticeiros descobriram, com grande esforço, que o intento só vem até eles para  realizar algo que seja abstrato . Essa é a válvula de segurança para os feiticeiros; não fosse assim, eles seriam insuportáveis. No seu caso, evocar o intento para resolver o conflito de suas duas mentes, ou para ouvir a voz de s

O fluxo livre de viver deixando que todos vivam

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Esses dias comentei aqui, brevemente, de acordo com a energia que tinha disponível, sobre os sinais de consonância e dissonância do universo, sobre como podemos saber se estamos harmônicos, em nossa caminhada, com a organização tida pela acomodação de todas as energias contemporâneas a nós mesmos.   Agora vamos falar de energia pessoal.   A energia pessoal é a quantidade de energia que temos livre, e por livre podemos definir como aquela energia não empregada na sobrevivência cotidiana. Gastos enormes de energia são utilizadas para as maiores futilidades possíveis, desde a manutenção da autoimagem para a realização de papéis sociais até o simples ato de ganhar dinheiro para sobreviver. A medida que a pessoa consegue a economia de energia, por meio do seu uso aprimorado, ela detém mais energia livre, e mais energia livre permite maior consciência de tudo. Sim, a consciência demanda energia, logo, para saber se nossa caminhada é consonante ou dissonante com o universo, precisamos de ener

Reflexões sobre o livre arbítrio

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Há, nesta nossa breve passagem, vivendo nesta mesma jornada, incontáveis seres. Apenas para efeito argumentativo peço que foquemos naqueles, e apenas naqueles que compartilham a existência e que, concretamente, temos ciência da existência. Daqueles que detém o mesmo molde, os humanos, somos mais de 7,9 bilhões. De outros animais, só em relação a espécie são cerca de 8,7 milhões, dentro de cada uma delas milhões. Representamos, seres cientes, apenas 0,01% da vida na Terra, quase nada, mas ocupamos e transitamos em todos os cantos. Quero dizer que, de alguma forma, e por algum motivo, nossa linha, como indivíduo, é contemporânea com a de incontáveis outros seres, que cruzam conosco, de alguma forma, nesta pequena jornada. Desde os fungos que compartilham a nossa pele, os vírus que bagunçam o nosso corpo, as bactérias que convivem em nosso ecossistema chamado corpo e aqueles que, externamente, nos servem de alimento, de companhia, de vida apreciada, rejeitada, temida, negada, etc. Há anda

Eu e a gata

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  “O primeiro homem que, havendo cercado um pedaço de terra, disse “isso é meu”, e encontrou pessoas tolas o suficiente para acreditarem nas suas palavras, este homem foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras e assassínios, de quantos horrores e misérias não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando os marcos, ou tapando os buracos, tivesse gritado aos seus semelhantes: Livrem-se de escutar esse impostor; pois estarão perdidos se esquecerem que os frutos são de todos, e a terra de ninguém!” (Jean Jacques Rousseau) Olho, sentado, para o campo aberto, um horizonte que se abre a meus sentidos. Ao meu lado, a gata observa a mesma cena. Como Descartes, penso que penso, sinto que existo: única premissa verdadeira, será? Mas e o gato ao meu lado, se pensa, de alguma forma, existe, mas de certo não pensa como eu.  Mistura-se ao que miro, no horizonte, pensamentos, alguns brotam de forma racional - neles conjecturo sobre os prédios, céu, nuvens, e

No grande rio de um mundo esquecido

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  Estava em uma cascata, sendo banhado por águas claras, então um pensamento me veio, tão breve como as bolhas de espuma que se formavam na água e seguiam pouco a pouco.   O mundo da existência era somente um rio, um grande rio que parecia infindo. Nasceu ali, na fonte que brotava, rebento de nova vida, como Hucleberry, em uma jangada. Mas era sem margens, sem nada, pura água para todos os lados que olhava. De pequeno sua mãe e pai lhe disseram ser aquilo o mundo, somente aquilo, e ele creu. Praguejava quando as tempestades o assolavam, mas aos poucos viu que de nada adiantava. Alegrava-se com os dias de sol pujante, onde regozijava-se com a luz ofuscante. Admirava-se nos dias de pesca abundante, quando seu pai e mãe faziam banquete elegante. Entristecia-se com os dias de fome, que também eram presentes. Seus pais diziam, sempre falavam, que vieram da fonte de tudo, onde brota a águe e a vida. Diziam ser originados da grande cachoeira perdida, e que um dia ao mar

Meditações sobre a alma

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  Se um corpo é uma somatória de átomos, e substâncias, de tal forma que a sua composição permita a vida, digo, esta argumentação ainda não é suficiente a mim para explicar sobre a consciência. Poderiam me dizer que a consciência é uma composição única também decorrente do corpo cerebral, mas ainda assim me seria insuficiente, e explico. Busco um pouco do argumento de Sócrates no diálogo platônico Fédon em que refuta que uma lira só produz som em razão da sua composição, a mistura única de objetos, e tomo como base este instrumento para a minha argumentação. Tomemos então o corpo como um instrumento que produz consciência, dada a sua composição única de fatores que nos tornam humanos (células, órgãos, máquina cerebral, ossos, em sua composição mínima para tanto). Antes, como comparação, tomemos uma lira, em sua composição única (cordas, arco, retesamento, etc). A lira, ainda que tenha a composição perfeita, irá sempre produzir música? A resposta, certamente é não. Existe, na verd

Da mágica do tempo e da linguagem

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  Há de nos debruçarmos, insisto, nas duas modalidades essenciais e basilares de toda a nossa existência, dentre as quais destaco o tempo e a linguagem, por sendo, um fundamento e outro veículo de nosso existir. Quanto ao tempo, já o disse. Tanto nas meditações filosóficas clássicas quanto nas interações energéticas de DJ e CC, o tempo é medida de existência, por óbvio, mas detém outra natureza singularmente humana, porquanto apenas sobre o humano podemos falar. Para os animais, o tempo não existe, por sendo suas rotinas meras repetições instintivas de anos e anos e anos. O gato de hoje, já disseram, detém as mesmas ações do gato de outrora, do Egito antigo, e quiçá de muito aquém. Para o homem o tempo é uma representação mais complexa. Para o homem comum, aquele que relega ao esquecimento o quinhão energético, o tempo é uma soma de memórias que crescem com expectativas que decrescem, mediados por um presente intangível. Para DJ tempo é medida relativa, mais que a relatividade de Ein