Da mágica do tempo e da linguagem

 






Há de nos debruçarmos, insisto, nas duas modalidades essenciais e basilares de toda a nossa existência, dentre as quais destaco o tempo e a linguagem, por sendo, um fundamento e outro veículo de nosso existir.

Quanto ao tempo, já o disse. Tanto nas meditações filosóficas clássicas quanto nas interações energéticas de DJ e CC, o tempo é medida de existência, por óbvio, mas detém outra natureza singularmente humana, porquanto apenas sobre o humano podemos falar. Para os animais, o tempo não existe, por sendo suas rotinas meras repetições instintivas de anos e anos e anos. O gato de hoje, já disseram, detém as mesmas ações do gato de outrora, do Egito antigo, e quiçá de muito aquém. Para o homem o tempo é uma representação mais complexa. Para o homem comum, aquele que relega ao esquecimento o quinhão energético, o tempo é uma soma de memórias que crescem com expectativas que decrescem, mediados por um presente intangível. Para DJ tempo é medida relativa, mais que a relatividade de Einsten, tempo é medido pela consciência que se está, portanto mediado pelo ser energético. Consciência intensificada gera uma fixação mais ampliada no presente, que para a maioria das pessoas passa em um instante despercebido. O guerreiro consegue inserir-se de forma mais contundente no presente, oras vezes, dada a consciência intensificada, desligando-se do passado e das expectativas do futuro, sendo pura ação, mas não como os animais, é uma pura ação conectada com um fluxo para além do tempo. Portanto, um minuto na consciência intensificada pode gerar o acumulo de oras de lembranças passadas, sendo o tempo de imersão no passado do guerreiro (recapitulação), igualmente diferente da pessoa comum. Para o guerreiro o passado é campo aberto no qual, mediante práticas de feitiçaria, ele faz a ponte com o presente. Não é lembrar, para o guerreiro, o ato de permutar moeda de vida presente com devaneios mentais, é sim o ato de (re)viver, transmutar o passado no presente, criando uma ponte no absurdo, no impossível para a condição humana comum. Também o faz, o guerreiro, quando perscruta o futuro. O guerreiro não projeta, não prevê, não espera, ele guia o futuro. O perfeitamente afiado guerreiro, em sua condição energética plena, consegue manusear o Intento e cria a condição de futuro, mais uma vez ele projeta o presente sobre o futuro, cria uma ponte.

Percebe-se que, para o guerreiro, o presente se estende, mediante pontes (feitiçaria), entre o passado e o futuro, unindo-os dentro de um propósito, com a cola energética da disponibilidade gerada pelo acúmulo de energia, e pela conexão do ser com modalidades atemporais de energia. Sinergia do ser energético (efêmero e encapsulado) com o todo perene. Quanto mais o ser energético, guerreiro, está conectado para além dos limites que o restringem da bolha de energia, mas ele consegue a distensão do presente, ampliando a modalidade do tempo inatingível as pessoas comuns para além da concepção humana.

É dizer, o guerreiro (re)modela o seu passado, de quando ainda guerreiro não era, de quando ainda consciência total não tinha, não apenas o ressignificando como nas teorias psicanalíticas, mas o alterando magicamente na (re)vivência da recapitulação, ele altera o passado no presente, e os conecta, ajustando o passado ao presente consciente. O futuro, da mesma forma, é remodelado em uma conexão com o porvir, tornando o ser que é fac-símile do ser do porvir. Em potência infinita de poder ser, por meio do intento certo, quando a consciência plena se define, torna-se o guerreiro o ser-perene, dedilhando as cordas energéticas do infinito para o destino que sabe ser.

Não há nada que não seja alcançado pelo intento do guerreiro presente, consciente, seja futuro, seja passado, pois para ele há apenas um tempo, e só, estendendo-se infinitamente em todas as direções.

Podemos dizer que o mito do guerreiro é, pois, algo próximo aquilo que está entre a perfeição energética e a superação humana natural da bestialidade da inconsciência de todas as outras formas viventes e biológicas em nosso mundo. É uma evolução em vida, não nos termos da evolução darwiniana, mas nos termos de uma revolução energética invisível, que torna o ser-guerreiro um salto além do ser-humano, entre o biológico preso na capsula, e algo para além da ponderação humana, um ser perene que pode, facilmente, aos olhos de um ser humano comum, ser considerado um anjo ou santo ou demônio.

O tempo é, pois, uma das barreiras a superação humana, enfrentado e superado com as ferramentas técnicas da consciência, vontade, intento, espreita e recapitulação.

A linguagem, como segunda modalidade, é veículo. O salto mortal do pensamento deve, por pressuposto, ser pensado. O conhecimento mágico que aqui chegou, inevitavelmente, ainda que seja eminentemente prático, se fez por meio de palavras, da linguagem. A primeira atenção é pura linguagem, a segunda atenção, por sua vez, é tudo que não é linguagem usual e, por negação, é também uma nova linguagem (nova sintaxe). Recapitular, como dito, é instrumento mágico que se faz por intermédio da linguagem como veículo, que depois é abandonado. O Intento é também linguagem (o brado do guerreiro é ferramenta forte). A linguagem é, também, mágica, a magia compartilhada por todo o humano, e subjugada no contexto social a sua parte mais pobre. Linguagem na poesia, em diversas passagens de DJ, é catalisadora mágica de sentimentos, permite o deslocamento do PA, é ferramenta da mais portentosa, ainda que possa, eventualmente ser abandonada, no conhecimento silencioso, após é retomada, para reorganização do mundo, para evitar a desfragmentação do guerreiro, que pode ser, sem direcionamento, catastrófica.

Eis pelo que é possível a reflexão do conhecimento, mesmo aqui, senão por meio da utilização de uma faixa de tempo adornada com a linguagem, e se isso não é das mais puras feitiçarias humanas, quase inata.

A linguagem perdida, em algum momento do caminho, chama-se esquecimento, e ela deve ser, também, enfrentada pelo guerreiro em determinado momento, eis que a mágica é entender, também, a importância da linguagem como mediadora do conhecimento.

“Devemos sim caminhar em busca de conhecer os diversos mundos, de testar os diversos pontos, saberá que o caminho dos guerreiros é marcado por alguns cernes especiais, para bem além daqueles que já conhece, este cerne em especial que contesta é a bruma do esquecimento. O guerreiro que tinha entrado no edifício do conhecimento, e sabendo de sua missão, engajado e conectado com o espírito, tinha construído um mapa próprio para aquele edifício, sabia de cada cômodo e conseguia até dele sair. E quando saiu viu ao longe o horizonte já não tão distante, perto estava e ali quase chegava. Caminhando, unido ao espírito, semblante calmo, como se alcançado a sua meta estivesse foi surpreendido por um relâmpago de dúvidas, e na dúvida consumiu a sua chama, apagou-se o seu fogo. Caído no chão aquele guerreiro esqueceu-se que estava em frente ao edifício do conhecimento, lembrou vagamente que ali já estivera mas esqueceu-se os porquês e as viagens que fez. Olhando ao redor não enxergou o outrora próximo horizonte. Uma bruma, uma névoa caiu sobre a terra, era frio e o guerreiro caminhou. Encontrou outras casas, construções, seu coração estava triste. Ele não sabia mas a ele, no meio do caminho do meio que percorria, TINHA LHE SIDO DADA A DÁDIVA DO ESQUECIMENTO.”

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