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Mostrando postagens de agosto, 2023

A morte em vida

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  Há, pois, a necessária descrição de minha morte em vida. Não o faço, contudo, como forma de justificação alguma a quem quer que seja, o faço, no entanto, como compromisso que detenho ainda com o abstrato, mantido pela parte mais íntima de meu ser, aquela intangível parte imaterial, que determina o que sou, hoje, mais do que determina a carne, as vestes, as rugas – meras descrições fugazes que se apagam, dia pós dia, na marcha inevitável do tempo. Meu compromisso é com o perene, e o perene enquanto sei, por não saber do amanhã se também o será. Perenidade é, pois, manifestação do otimismo do ser que acredita no porvir.   Este espaço no qual escrevo é também o que sou. Essencial se faz que eu aponte tais questões, em sendo aqui o que transborda de minha vida, o que desejo que se revele a estranhos que aqui visitam, que muito certamente nunca verei, vi ou saberei, mas sabem de parte tão essencial a mim. É importante ainda que eu pontue, dado as apresentações, que tudo que se revela de

A imortalidade da alma

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  “O homem pode por fim à sua vida, mas não à sua imortalidade” (Milan Kundera) Como poderia me esquecer de um diálogo dos tantos que tive na prisão, com aquele que tão pouco deixou e que, com eu, teve destino igual de prisão, ainda que em seu fim, guiado pela cicuta, foi guiado até o mundo de Hades. O diálogo quem me permitiu foi Platão, ao contar a história de seu mestre Sócrates, no Fédon, que é o diálogo sobre a imortalidade da alma, mas também, e a mim mais me cabe esta parte, sobre a prisão do ser imortal. Antes disso, por um dos acasos de pensamento que me permite o tempo, de ter todo tempo e muito pouco poder fazer, me vieram reflexões sobre a alma imortal, a fagulha divina que anima a carne, e a carne mortal como veste, por consequência, ser a sua prisão. Depois, guiado por lembranças, percebi ter sido esta a mesma conclusão que chegou Sócrates, também em uma prisão, mas separado de mim por mais de 2.500 anos de distância. E aqui, em meu cárcere pensei: “O corpo nã o é

VIVER EM TRÊS ATOS

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 - I -  Tu ainda vives, caminhas pelo acidentado caminho, e tudo ainda importas a ti, impulso mágico do existir,  ardente calor do ser, vontade de pertencer. Resplandecente desejo, fecundo porvir: viver. As areias do tempo fluem entre teus dedos esparsos. Sentes o súbito desejo homérico? Vá, navegues em mar desconhecido! E a sua própria Ítaca um dia voltarás. Presente que tu sentes, doce página que te preenches, Prenhe pensamento, canção do existente. Gleba preciosa que te espera, usurpada pelo passado. Ânsia por mais um passo, egoísta amor em permanecer. Trilhando as mesmas ruas do porvir prometido: viver é crer no amanhã já perdido, banhado em lágrimas do passado ido. Vês, ainda têm consciência! A parte de ti que fala, analisa, Por pensar digo: existas! Partícula invisível que diz de todas as partes, Indizível parte que não sabes onde habita. Ou sabe se habitará,  quando em carne não mais existires.  - II - No fim nada importará, nem a consciência, E o fim será tua única e verdadeira