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Mostrando postagens de abril, 2025

A dádiva de poder morrer

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  É certo que me chega a hora final, e é algo que sempre foi certo, desde a aurora distante de meus primeiros dias. Sempre lá, sempre ela, sempre a morte se avizinha, e me faz lembrar, dia após dia, a dádiva de alegria que me dá, e ando me diz: é teu mais um dia.   Não há o que me impila mais a viver que vê-la, todo dia, desde que aprendi a reconhecê-la. Antes não sabia, e vivia, dia após dia, perdido sem saber de mim, de ser mortal, e da importância de cada dia.   Se não fosse o ímpeto da morte, se não fossem as finitude a da vida, para que prazer viveria, se tudo poderia amanhã, e todo o gozo da vida se perderia.   Imortal aquele triste ser, que por eterno viver, não sabe a beleza de um poema sintetizar, de um pôr do sol apreciar, de um beijo gozar. Nada, se não impelido pela própria morte, teria o gosto do prazer de se viver.   E saber ser o caminho, de pequenos pingos, gotas de alegria em cada passo, isso sim o necessário, me livra da dor de buscar sentido ...

Retornando ao começo reconhece-se o fim

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  O caminho do retorno é o caminho da recapitulação, mas é importante refletir sobre a direção do retorno. Voltar pelos caminhos já trilhados, recuperando os fragmentos deixados no passado, e devolvendo o que não é nosso, é o objetivo da caminhada, o objetivo aparente apenas, no entanto, e não o objetivo central. Devemos, pois, caminhar em direção ao abismo do ser, o abismo que nos abre, o abismo que nos reflete, o abismo vazio e infinito de onde começamos a nossa caminhada, antes de todos os nomes, antes de toda definição, antes da confortável roupa primeira, desnudando-nos por completo. O retorno é tão somente uma jornada de desvelamento de todos os eventos que precederam o estar, e demanda, pois, um estar completo, uma presença consciente firmada como ponto de partida, e sempre mutável a cada jornada realizada. Ao mirar o passado vemos apenas um único caminho, e um fim que sabemos precisar, o fim da caminhada de retorno é o começo da caminhada que nos trouxe ao presente, o ponto...

O SER É O NADA QUE É TUDO

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                                De alguma forma, nós fomos lançados ao mundo — jogados, por assim dizer — sem que estivéssemos previamente preparados. Como seres humanos, chegamos ao mundo absolutamente vazios de qualquer coisa que se possa chamar “natureza” e que se permita definir, em essência. Somos, externamente, obviamente definidos, biologicamente marcados com características próprias. Internamente, como o ser, não somos definição alguma. Vou tentar iniciar essa reflexão com uma analogia a outros seres. Quando um cão nasce, ele já traz consigo seus instintos primários. Logo nos primeiros meses, ele já se comporta como um cão em sua integralidade. O cão não é apenas definido externamente em suas características próprias, mas também internamente. Do cão tudo se sabe o que poderá ser. O ser humano, por outro lado, não. Se aparentemente, no âmbito externo, é igual ao cão, e muito se sabe pel...