Uma jornada ao inferno

 
 
Ontem fiz uma jornada ao inferno, uma longa e grandiosa jornada da qual me orgulho, pois foi um algo que muito me ensinou.
 
Não tive medo, em nenhum momento, mas tudo começou a ficar claro naquela jornada mágica que fiz.
 
Muitos tem medo do que encontrarão no inferno, mas o medo não veste mais esta pele de seu Hermano guerreiro.
 
Ali eu vi o que realmente deveria preocupar os homens, ali estão os vestígios da consciência que sobram das pessoas quando morrem, ali estão pessoas perdidas em seus passados, em lembranças, em ciclos que atormentam o resto da energia depois que o corpo físico morreu, e demoram a desaparecer.
 
Pessoas gritam na escuridão, e ainda acreditam estar em suas antigas vidas, perdidos em expectativas do futuro, em lembranças do passado, querem mudar o imudável, não perdoam e não se livram do que foram, e isso as prende em um mundo eterno de tormenta, o mundo das lembranças.
 
Triste são os que estão ali, tristes pois não se livram de sua velha veste. Perderam a chance de se libertar em vida, de crescer, desenvolver, de transcender a forma e virarem pura luz.
 
Agora ali estão todos, como avarentos senhores abraçados do que acham ser tesouros.
Ficam relembrando momentos, e chorando erros, e vangloriando-se de acertos.
 
Na sua frente ficam na expectativa de algo que nunca virá.
 
Se concentrassem-se no presente por um instante veriam que nada mais são, que a chance se foi, e como último gesto nobre, talvez único na vida dissolver-se-iam por completo, largando para trás o sofrimento.
 
Mas eles ficam ali, alguns estão há tempos sem fim. 
 
Eles estão no entre mundo, um lugar que daqui de nosso mundo podemos ouvir os lamentos.
 
Eles se entregaram a parte obscura da mente, são o refugo do cadáver que está depositado nesta terra, subproduto da dominação dos voladores, que sorriem daquele mundo, que ali ficam apenas divertindo-se com aquele mundo.
 
Não são demônios que ali estão, são voladores a sorrir da miséria da alma reduzida a vestígios de um nada, a lama do passado e do futuro.
 
Essa energia demoníaca invade a mente de muitos homens, e das lembranças que nunca modificar-se-ão, e dos sonhos que nunca realizar-se-ão, os voladores tiram o produto que inserem nos homens vivos, o medo, a dor, a esperança sem ação, o remorso sem perdão.
 
São demônios que usam do último desespero humano para criar a dor e a desolação que levam o homem ainda vivo a inconsciência.
 
Eles querem o inferno na Terra, o inferno da inconsciência, do remorso sem perdão, da esperança sem ação, pois disto vem o ódio sem limites, o mal da destruição que leva o homem a toda a ganância que o faz ser como erva daninha que mata a tudo que toca.
 
E os seres ocultos nas sombras riem-se e deleitam-se neste mundo criado pela própria dor de não estar e de não ser.
 
O porteiro do inferno, que olhava aquela cena desolada, em que mundos em mundos de sonhos e lembranças se sobrepões sobre as consciências opacas do não ser, me falou apontando uma porta:
 
 - Ela está aberta, pode seguir, você não pertence a isso aqui.
 
Eu vi uma porta gigantesca, e ao largo dela era escuridão, mas a sua frente havia luz, a única luz de um lúmen que mostrava a verdade. Caminhei para ali, e caminhando acordei.
 
Mas não antes um ser, que parecia um demônio de mim me disse:
 
 - Eu sou parte de ti. A parte inconsciente, a parte que tem como baliza o medo e por isso usa contra tudo e todos a arma da violência. Não tenha medo, eu durmo quando acorda a consciência, eu fujo quando desaparece o medo, eu não resido no receptáculo que existe luz e clareza. Quando o deserto do sonhar adquire cor, quando as ilusões tornam-se doces como mel, quando elas o dominarem, serás tal qual eu sou: o não desperto, o caído, o dominado pelo julgo da ilusão. Quando isso acontecer estará no inferno, e aceitando o medo como parte de ti terá como armas a dor, a violência e o mal.
 
Então acordei, e deixei na escuridão do corredor que levava à luz, o demônio que eu sou.
Mas para mantê-lo lá, e preciso a consciência constante, a presença, o velar eterno do ser que sempre está.

Comentários

  1. Buenos dias Hermano
    falastes muito bem Hermano Vento pessoas perdidas na lama do passado e do futuro. Temos de alcançar o estado de aqui-e-agora em vida. No centrarmos. Somente nos centrando, conseguimos observar a nos mesmos, este é o estado tão almejado de de estar em si,onde surge nosso verdadeiro eu.
    Kawak 06;41 11/11/2013

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