O deserto das ilusões e o caminho da libertação
De nossa
jornada na vida que temos, que é apenas uma, vários desafios se postam em nossa
caminhada. Temos uma meta abstrata na vida, muito ulterior à formação de nossa
mente intelectiva, de nossa mente racional, é um fim ao qual todos os seres,
todas as energias devem chegar. Poderíamos citar este objetivo, este destino
como evolução, mas o termo seria insuficiente par descrever a completude do que
deveria representar. É a meta fim de todo o universo que está manifesto dentro
de nós em nossa jornada, é o retorno ao mundo infinito depois de passar pelas
provações do finito tempo em que estamos aqui.
Todos os
grandes iluminados de nosso passado passaram por estas provações, que são
descritas em metáforas diferentes para cada um. A metáfora de Dom Juan, sobre
os inimigos, talvez seja a mais favorável para hoje descrevermos inicialmente
esta jornada.
Tudo começa com
o medo do grande explorador da consciência, o grande observador do universo que
somos nós mesmos. Nesta etapa da jornada começamos a temer o desconhecido, o
que estará para além de nosso conforto cotidiano. A morte do ego é a primeira
etapa da caminhada, etapa que muitos, talvez a grande totalidade de nossa
humanidade esteja presa. O ego é o ser finito dentro de cada um de nós, o ser
mortal que deverá ser dissolvido antes de nossa partida, e que nunca existiu
antes de nossa chegada. É o aspecto que ao mesmo tempo nos cria e se apossa de
nosso conteúdo mágico, fomentado pela incessante razão que edifica a
necessidade de se apartar as partes do todo para uma identificação. O dar nomes
é o início do processo, que se repete durante toda a vida. O bebê antes de
nascer recebe um nome, depois quando nasce começa a aprender a dar nome às
coisas todas, e nominando passa a sua vida. O nome é a cerca abstrata das
coisas todas, quando nominada uma coisa toma o campo do conhecido, e se
apropria o que deu nome ao antes abstrato do ser. O medo é entrar no campo do
inominado, o que não pode ser descrito. Para além do conforto que estão todos
os Homens, insones, está o medo de enfrentar o desconhecido, pois para enfrenta-lo,
preciso e essencial é que se dispa de nomes, que se desfaça o ego, e que se
entre sem forma na jornada do desconhecido. Este é o medo da metáfora de Dom
Juan que todos que se dispõem a esta caminhada precisam enfrentar.
O ego é o ser
mortal, que sabe irracionalmente e racionalmente que deverá partir ao fim. Em
torno deste medo brotaram árvores que aparentemente frondosas são ocas em sua
essência. São as árvores dos falsos ensinamentos, que deturpa caminho, e forma
uma floresta de não saber em volta do insone zumbi dos campos da vida. Não
seguirá após a morte este ser, não se pode falar em continuidade do ego, pois
ele existe apenas no tênue limite desta existência finita, física, entre as
portas da imortalidade na mortalidade efêmera do que somos todos hoje. Temendo
a sua morte se criam ilusões por cima de ilusões, escondendo o nagual, o
imortal que reside dentro de cada um de nós, e também fora – pois somos um -,
em um cobertor de confortáveis teorias de continuidade do ego. Religações que
desligam a todos, chamas de falso despertar que não ascendem o fogo, mas o
apagam para aquém de brasas quentes, são as doutrinas que falam que no outro
mundo permanecerá o ser que aqui vive, o ego continuará, continuará o ser que
aqui fala, que aqui vive, e que aqui mantém a finita realidade. As
reencarnações não são mais do que ilusões de um falso ciclo do ego, que
inclusive, segundo predizem, pode recordar do que já viveu em outras vidas. Por
engraçado que pareça estas recordações são apenas de reis, rainhas, líderes
máximos e toda a sorte de fortunas de um passado – mas este passado nunca
existiu. São doutrinas do falso ego que quer manter-se vivo, mas teme a morte
por saber ser ali seu fim irresoluto. Nas falsas doutrinas também, das mais
poderosas que podemos ver, o medo levou o ser a lugares inimagináveis, a estender
seu fio de vida efêmera por muitos e muitos ciclos, fugindo da porta que deverá
passar para libertação do imortal. Feiticeiros antigos assim seguiram, e ainda
seguem, guardiões insones do próprio ego, fugindo da morte, e cada dia mais
distante da liberdade. Dentro de si o imortal jaze adormecido, já que não se
importa com o tempo, espera o tempo e sua libertação com as chaves da consorte
morte.
O medo não nos
pertence, pertence a parte que sabe que em breve morrerá. Assim percebeu e
assim lutou o mestre Buda, assim lutou o mestre Jesus, assim lutou o mestre Arjuna.
Os exércitos do ego lutou, em todas estas histórias dos cíclicos de nossa
humanidade, da mais variadas formas para se manter. Exércitos de miríades
contra buda, lançando flechas, exércitos de cada lado na grande batalha de Arjuna.
Em Jesus a grande luta não descrita e suprimida em sua beleza intensa dos ditos
bíblicos dos dias daquele deserto.
Nós estamos no
deserto. Todos nós que nos propomos a lutar contra o sono da humanidade estamos
no mesmo deserto. Nada difere abaixo de nossos pés, ali está a mesma areia,
amarelada, ora quente, ora fria sob os pés descalços. Sobre a nossa cabeça está
o sol escaldante, ora a noite escura sem lua, ora o céu estrelado, ora as
estrelas em infinitos pontos no céu. Em nosso rosto roça o vento, quente,
banhado em areia, ora frio, cortante e gélido, ora esperançoso. As vezes nos
banhamos com a chuva. Mas somos todos iguais.
A aparência das
diferenças se faz nas miragens que vemos neste deserto que atravessamos, todos
nós que nos propusemos a nele entrar. Esse deserto é o caminho do conhecimento,
é a nossa jornada à Glória, à libertação definitiva. Podemos ver ao olhar para
os lados que no caminho existirão pessoas que pararam nos oásis que neste
deserto existem. Existirão cadáveres no chão, e estarão todos sorrindo, pois
estes tentaram em seu máximo, estes representarão a beleza de tentar. Nos
oásis, olhem, e verão velhos e velhas cansados, tristes por abandonar a
caminhada tendo chegado tão longe, mas quem seremos nós para contestar qualquer
escolha neste deserto em que estamos. Somos aqui sozinhos, estamos por nós
mesmos.
Vez ou outra
encontraremos grupos de caminhantes, estaremos ombro a ombro durante um tempo,
mas o deserto é cruel, e cada miragem é diferente para cada pessoa. As miragens
refletirão o ego dentro de nós. O ego neste deserto em que estamos tem um poder
de nos testar a cada momento. É pois o nosso maior aliado, pois nos faz fortes,
e nos testa para a grande jornada em que estamos empreendendo. O ego nos
testará a cada momento, com desafios diferentes e por isso temos que aceitar
com humildade cada pequeno desafio que se posta ao nosso caminho. Haverá
miragens de toda a sorte em nosso caminho.
Quando pensamos
que estamos diante da chegada, mal teremos saído em nossa jornada. O sol nos
ajudará a reconhecer as miragens, e a humildade nos fará chegar perto de cada
uma, testar a todas, fazendo com que, de perto, reconheçamos o que é real e o
que é apenas a areia que temos diante de nossos pés. O brilho neste momento da
clareza nos cegará também, fará criar paisagens maravilhosas que poderão ser o
nosso fim.
Nesta jornada
virão mercadores de todos os tipos, e quanto mais poder o viajante tiver,
quanto mais próximo de seu destino, maiores serão os desafios, pois o ego
tentará de tudo que puder para lhe desviar. A forma humana estará serpenteando
debaixo de seus pés e a soberba de um iniciado será como o sol que ao mesmo
tempo que ilumina traz ilusões em contraste com os elementos do deserto da
vida. Neste momento a espreita será a praça forte do guerreiro, a espreita do
verdadeiro caçador. Rememorando os passos de toda uma vida, perceber-se á e
desnudar-se-á o ego pelos eventos do passado. A recapitulação será a espreita
especializada que levará ao conhecimento de si, e a descoberta de todos os
fantasmas que se postarão no caminho do andarilho errante do deserto. Assim
cada miragem será facilmente reconhecida, cada armadilha, e poderá então o
caminhante separar os fantasmas dos verdadeiros irmãos que estarão nesta mesma
procissão pela liberdade.
Quando então
chegará o vento interior que varrerá o ego para mais distante. Quase se terá
desfeito os desafios menores, quando surgirá o grande demônio. Como o montanhês
que vê os da planície, o andarilho já terá o corpo firme, a mente clara, o
espírito afiado. Então se achará mais do que todos. Sem medo poderá correr pela
noite e ver os irmãos menores, mais iniciantes na caminhada temerem o vento, o
sol, as nuvens. Verá as ilusões devorando os outros e quererá pensar-se maior.
Quererá professar boas venturas, quererá achar que sentou-se sobre a
mortalidade e o medo do ego. Neste ponto a derradeira armadilha será armada. O
andarilho dominando a sua totalidade, esqueceu-se que dentro de si ainda tinha
uma pequena semente de seu ego, e dela brotou forte relva que o dominou. Com o
poder extremo ele dominou o ser, e aliando-se ao ego, que fingiu-se mercador,
utilizará deste poder para fugir da morte, desviando seu rumo das montanhas da
glória em que já morava, esquecendo-se de que seu derradeiro passo estava para
chegar.
Caminhando de
volta, sairá do deserto, e arrebanhará fiéis de toda sorte. Desenhará o teu
caminho por todos os cantos, fará a alquimia da vida, e transformará o chumbo
em ouro. O deserto será a história contada por onde ele edificará teus tesouros
em vida. Não temerá, não terá a visão turva, não sucumbirá a ninguém, mas terá
a morte como inimiga, e terá que se preparar para fugir dela. Viverá este em
mundos sem fim, por tempos sem fim. Será o cavalo onde o ego cavalgará por
incontáveis tempos, terá sucumbido, pois terá virado o cavalo que deveria
domar. Terá lhe tomado o arreio o bode que deveria ser o último sacrifício de
sua vida, para a libertação do imortal.
Mas o paciente
imortal terá calma, e um dia se libertará, mas não será aquele que deveria ser.
Voltará a fonte, pois não atingiu seu ápice e não consolidou-se como ser não
nascido do outro lado. Será o tudo, mas não consolidar-se-á como ser do nada,
não atingirá o além das planícies do deserto, mas voltará a ser e a ter, para
um dia tentar.
No caminho de
volta, o poderoso que sucumbiu nas planícies, verá um velho arquejante tentando
subir aquelas últimas montanhas para onde não quis ir. Sorrirá do infortúnio
daquele que se recluiu, mas terá a visão
turvada e não verá que dentro do velho arqueado estará o verdadeiro imortal. De
brilho pleno dentro de si, lutando com os últimos desafios que são as
limitações de seu corpo, o velho atingirá a glória, e verá no ápice da montanha
além do deserto o sol nascendo. Não será a luz do astro rei, será a luz da
morte ao se aproximar daquele homem.
No topo da
montanha, reunindo as últimas energias, o velho estará dançando, e a cada passo
de sua dança de poder, entoando seu cântico de vitória, despir-se-á de sua
velha camada. A morte o iluminará com o brilho das palmas do infinito, e o
encherá de sua beleza, revelará a ele que é irmã e face outra da própria vida,
e o lembrará que lhe trouxe quando nascera. E o velho dirá:
- Era tu irmã morte, a própria vida que me
carregastes no primeiro instante? Era tu que me destes o beijo que me selou o
início da caminhada, antes dos nomes, antes do esquecimento, antes de eu me
deitar na rede da ilusão?
A morte sorrirá
para ele, e este sorriso será o brilho áureo que permitirá ao velho despir-se
em pelos da crosta que o protegia. Maduro brotará o imortal, fumegando no fogo
interior, e caminhará rumo ao horizonte. Olhando os filamentos de luz pelo
horizonte, saberá que a sua caminhada iniciou-se, agradecerá ao ego pelos
desafios, e o ego consumir-se-á pela própria Terra que o alimentou. O imortal
beijará a própria Terra e esta o impulsionará para os campos em que escolher
aglutinar em sua jornada que apenas estará começando.
Não haverá
sentimentos, tão pouco haverá frieza. Será a completude intensa. Como um jato
ele voará e transpassará o sol, as estrelas o infinito, ele então é tudo e é
um, e então cessarão as palavras que aqui poderão ser contadas....
Intento guerreiros,
este é o nosso
destino!
Hermanos Guerreiros Buenos dias
ResponderExcluirVento, que sincornicidade incrivel vinha para o trabalho andando e em silencio interior vendo justamente essa parte da partida do Guerreiro com todos os passos sendo executados a minha frente na visão.
Kawak
08:03 25/08/2014
Sacudida necessária! Gracias Hermano Vento!! Gaivota
ResponderExcluirBeleza de prodígio. Obrigado! Folha verde
ResponderExcluirSalve!! Temos um Hermano novo por aqui!! Seja bem vindo Folha Verde! Gaivota
ResponderExcluirSalve Hermanos!! Obrigado Gaivota
ExcluirA interagência com o passar do tempo se transporta no sentido de ser, sentir e viver! Este espaço sagrado é mágico , gratidão Hermano Vento pela oportunidade! Gaivota
ResponderExcluirGaivota, Kawak e outros que aqui vem.
ExcluirEste espaço foi criado respeitando a um desígnio do espírito e portanto sagrado. Todos que aqui chegaram, se foram ou permanecem por aqui de alguma forma, fizeram uma ponte do mundo comum a este mundo de feitiçaria em que vivemos, o mundo em que o guerreiro age assim para chegar a ser um Homem de Conhecimento.
Como sabemos de nossa pequenez frente ao incomensurável universo, trocamos experiências, práticas e conhecimentos no sentido de nos ajudar criando uma teia de intento para aquele infinito impessoal lá fora.
Se o mundo é predador, nós entendemos isso e aqui criamos um entreposto seguro onde nos ajudamos, cada qual com seu quinhão de possibilidade, neste mar que é a vida. Esse espaço é sagrado sim, não pelo que eu escrevo, não pelo que as pessoas que aqui passam escrevem, mas porque sempre nos permitimos ser tocados pelo espírito ao deixar algo aqui. Pode ser que este espaço suma um dia, mas as palavras estão ressoando no infinito, e assim chamando ao Espírito a atenção para que nos permita uma abertura cada vez maior aos infinitos mistérios da vida.
Somos construtores de conhecimento, e caminhantes nesta ponte que construímos rumo à liberdade. Não temos garantias de sucesso, mas lutamos cada dia em busca da evolução pessoal, na busca da integridade do ser total, com toda a nossa impecabilidade.
Se existe alguém grato aqui sou eu, por ter sido permitido essa interação. Sei que muitos aqui passam e apenas observam, outros arriscam-se a falar, mas tudo é ditado por uma força maior, um regente desta sinfonia de interação energética. Não tem como não sermos, ao fim e ao cabo, todos gratos pela teia de conhecimento e energia que aqui se forma. Dividir as vitórias e os fardos nesta caminhada por entre fantasmas é por demais gratificante a cada um de nós.
Sou grato aos mais de 200 mil acessos que já tivemos, e as milhares de pessoas, de diversos cantos do globo que aqui passaram, seja para deixar algo, seja para levar algo.
Assim flui o conhecimento, como um rio que nunca para de andar.
Intento a todos!
Hermano Buenos dias
ResponderExcluiro grupo Remolino Alba está promovendo um seminário com Juan Yoliiltlzi (Eddie Martinelli) um dos discipulos do Nagual, em São Paulo que acontecerá no dia 07/09. Quem puder ir...
Kawak
08:37 02/09/2014
Saudações guerreiros
ResponderExcluirViemos com muita satisfação informar a todos que nosso estimado irmão Juan Yoliliztli estará no Brasil na próxima semana. Nos reuniremos na grande São Paulo e estaremos recebendo a todos os interessados com muito carinho no dia 06 de setembro HORÁRIO A CONFIRMAR!
endereço
Rua Fabrício Vampré 148 - Vila MAriana
Fica a 2 minutos da Estação Ana Rosa
São Paulo SP
contato 55 3026-1004
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55 8107-0102 Tim
títulos em outros idiomas podem ser encomendados para serem trazidos do México somente até o dia 30 de agosto.
Obs.: é um encontro informal, sem investimentos, traga somente seu conhecimento e boa vontade para compartilhar conosco.
Gratidão a todos pelo carinho e apoio de sempre
INTENTO!
Kawak
Linda imagem da caminhada, do deserto, dos mercadores ...
ResponderExcluireu sempre passo por aqui ,irmão, mas quase nunca comento.
desta vez deixo um trecho de uma obra prima da sétima arte que ilustra bem a imagem que vc usou: http://www.youtube.com/watch?v=TEbH5AwGWIE
em frente...
paz pra seguir caminhando !
Irmão, obrigado pela linda mensagem. Como sei que todos tem sede nesta caminhada, compartilhei das gotas que provestes neste fragmento desta magnífica obra.
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