A melodia da existência

E o que deve motivar o ser humano em sua
caminhada. Existe uma busca original, deve existir uma busca original,
primordial na caminhada de todos que acalenta este ciclo constante de
renascimento de nossa raça humana ao longo de tantas gerações. Quando entendemos
o mundo como regido por uma força maior, uma somatória de todas as consciências
de todos os tempos, temos que entender que tudo que existe o existe por uma
motivação muito maior, um algo como um destino do universo, não um experimento
ao acaso, pois o acaso é a síntese do não entendimento do tempo e do fluir
eterno de todas as coisas. Mas o universo, sei dentre tantas as coisas que não
sei, é regido por uma força que sabe exatamente onde deve ir e porque deve ir.
Quando se pensa assim começa a se entender um
fato de extrema relevância para a vida, aliás, reformo a frase e digo que
quando se sente isso, se internaliza isso essa compreensão começa a surgir.
Cada um de todos que estão aqui são extremamente especiais e relevantes para o
universo, pois ele não é feito do acaso e sim de uma necessidade ulterior para
uma evolução, para uma caminhada não experimental e sim deliberada em torno de
um objetivo. Existe, pois uma força que é ciente de uma forma que não podemos compreender
acerca do objetivo de cada coisa que surge ou que desaparece no universo, e nós
mesmos, sendo ignorantes ou sábios, sendo cientes ou não, temos que ter este
nível de pensamento e de entendimento, de que todos somos, de alguma forma ou
medida, essenciais ao quebra-cabeças cósmico da existência, aliás, de todas as
existências.
Nada é um acaso, em nossa singela ignorância
pensamos que regemos a nossa própria caminhada e que ela é feita de tropeços,
erros e acertos. Mas e se tudo foi milimetricamente pensado, regido por um
grande maestro que não é um ser mas a soma de todas as experiências de bilhões
e bilhões de anos de existência de infinitos seres de todos os tipos. Não vamos
ser reducionistas, não pensemos apenas em nosso planeta, pensemos nas infinitas
possibilidades de mundos, orgânicos, inorgânicos dos infinitos planos de todas
as possíveis existências em todos os tempos e ausência de tempo. É um complexo,
um conglomerado cósmico que se autorrege por todas as partes, então neste
sentido chegamos ao que realmente quero falar: a tirania da existência.
A tirania da existência não significa algo
ruim, como a nossa mente maniqueísta quer pensar, mas algo incrivelmente belo e
complexo. A tirania da existência que falo é a tirania de pensarmos que já
temos cada linha de nossa caminhada traçada muito antes, talvez bilhões de anos
antes de sermos gerados. Olhem só e sintam isso, se conseguimos prever ao jogar
um objeto para cima que ele irá cair em tal e determinado lugar e postar as
nossas mãos para catá-lo antes que caia ao chão, em nossa singela consciência,
pensem nisso amplificado infinitas vezes em infinitas experiências de diversos
tempos e espaços, e como essa consciência que autogere este organismo macroestrutural
que chamamos de universo poderia prever toda e qualquer reação de todos os
seres compostos e criados por este universo.
Todos somos gerados milimetricamente de forma
especial, e a isso damos diversos nomes, alguns sugerem que existem missões
mais e menos importantes, que existem caminhos mais e menos belos, mas isso é
tudo fruto de nossa mente maniqueísta e linear, cartesiana que sabe apenas
pensar em termos reduzidíssimos de uma matemática que a cada século se
contradiz a si mesma em uma formulação de uma nova teoria que tenta explicar o
inexplicável. Somos seres criados por uma programação exata de fatores e destinados
também, percebo, energeticamente para um determinado fim. Por certo toda folha
que cai no universo tem um propósito que parece indefinido quando olhamos com
este olhar de parte, mas quando sentido como o todo se percebe como algo
perfeitamente previsto e necessário para gerar uma onda infinita de
acontecimentos que seguem como uma onda em um lago alterando toda a realidade
que nos cerca.
Este texto que escrevo, em cada linha, fora
previsto por tempos e tempos antes de eu estar aqui, todos que leem também já
estavam previstos que o leriam, quem compreenderá também já estava previsto.
Esta mão que lança as palavras que de alguma forma falará dentro de cada um de
vocês já estava prevista muito tempo antes, e as ondas que gerará esta pedra
neste lago também, e todas as coisas que se moverão com isso da mesma forma.
Nada é um acaso, mas o acaso é a falta de entendimento da parte de algo que já
era previsto pelo todo. Se olhar dentro de si saberá que tudo é um dejà vou pois tudo já estava escrito de
alguma forma: maktub! Sim, expressão
sábia de alguém que por um instante entendeu a verdade por detrás disso tudo.
O destino não é mais e menos grandioso de
cada um, mas somos todos especiais, estamos no tempo e espaço que deveríamos
estar, somos o alinhamento perfeito de consciências prevista muito tempo atrás,
que seria necessário para o ajustamento de outras consciências que virão e mais
outras. Não existe erro e não existe acerto, apenas uma linha em que andamos e
que somos inconscientes, não somos aviões em uma via livre mas trens em um
trilho bem definido e lógico que permite que não hajam erros, enganos, falhas.
O destino é a tirania desta consciência cósmica, mas não há como culpá-la pois
somos também parte desta consciência e também de alguma forma, mesmo
internamente, entendemos essa necessidade.
Não adianta tentar remar contra o fluxo,
contra a maré, temos que entrar na corrente, e isso não significa de forma
alguma que podemos remar contra o fluxo: quando o fazemos já estava previsto de
forma que é um argumento inconsistente falar que podemos. Nosso destino, nossa
programação original nos guia, então não temos carma ou qualquer outra coisa
que podemos levar para outro mundo, e me pregarão em uma cruz, mas já era
previsto, pois falarão: mas e o livre arbítrio do ser humano? Mas e a autonomia
da vontade? Ela não existe!
Não existe tal autonomia mas isso é apenas
uma aparência de liberdade que temos, pois somos regidos por essa tirania, nada
é feito sem que tenha sido previsto, mas ai chega a antinomia aparente, a
contradição que não é de fato real. Tudo está previsto, a nossa autonomia está
prevista, então fazemos tudo como se fosse a maior liberdade mas mesmo esta
liberdade estava estritamente prevista em nossa programação, os erros eram
previstos, as mudanças de rotas, tudo era previsto e é possível identificar
isso, todos já o fizeram, com premonições, sonhos e vidências de um futuro.
Entrar no fluxo é começar a entender que não
existe liberdade da mesma forma que ela existem plenamente. Somos livres para
escolher tudo e tudo que escolhemos já era previsto, fomos programados para escolher
tudo que escolheremos e ai entra a questão de observar os sinais e presságios, daí
entra o sexto sentido, a premonição, os sonhos do futuro, os profetas de novos
tempos. Tudo isso é apenas a conexão do ser parte com a totalidade dos seres,
com a consciência cósmica, com a programação universal que tudo sabe, e tudo
pode identificar, hoje, amanhã, daqui a bilhões de anos, pois não há falha
possível nesta programação, nenhuma, não há fissura de tempo ou modificação que
possa alterar nada, tudo está perfeitamente previsto, seu nascimento, sua
morte, suas escolhas, seus aparentes erros e maravilhosos acertos. Tudo pode
ser tocado, mas só quem compreenderá é quem se abrir, e quem se abrirá já
estava escrito que o faria, e as consequências de saber o futuro não o
alterarão, pois já estava previsto que quem tiver este conhecimento o teria e
também o acesso ao futuro, de modo que as escolhas que aparentariam alteradas
já seriam as previamente acertadas. Essa tirania é o fluxo cósmico.
Quem entra na corrente e consegue ver com
essa profundidade, consegue saber de toda a sua linha “o guerreiro sabe o que
espera, e espera” porque ele só pode esperar e seguir o que deve seguir. “Aquele
que atravessou à outra margem já não deseja” pois apenas quem não sabe que tudo
está escrito deseja algo, quem sabe que o está segue o fluxo e tudo acontecerá.
O guerreiro pode estar um passo a frente, se o quiser, sabendo como as coisas
acontecerão. Quem lê este lago eterno sabe as ondas que se fazem e onde elas chegarão,
sabem o que será alterado por cada decisão que terá que tomar e sabe de antemão
que decisão tomará, ele não deseja mais nada pois isso não adianta, e desejará
o que sabe que será necessário, e todo o sofrimento assim cessa: sabendo que
tudo está escrito, que todo erro e acerto são apenas a única coisa possível,
saberá não sofrer, pois tudo está em seu devido lugar, em seu devido tempo, e
tudo, exatamente tudo é especial da mesma forma para composição desta melodia.
Sabendo disso o guerreiro se prepara, ele
sabe, ele olha à frente e entende todas as coisas, o momento do início e do
fim, e quando o faz, estando olhando tudo pela sua conexão com o tudo, cessa-se
a forma humana, a forma do desespero e da desconfiança, a forma de pensar que
algo é mal ou bom – tudo é simplesmente necessário, tudo é o que deve ser da
forma que deve ser, milimetricamente acertado. Para quê sofrer pelo que
aconteceu se andamos em uma linha da qual não se pode fugir???
E tudo que podemos fazer nesta caminhada é
manter a consciência plena do que fazemos, exercitar essa consciência. Passamos
e passaremos da mesma forma como estamos passando tudo que está escrito, apenas
o que diferencia um ser de outro é a forma como isso é compreendido. A forma
humana aprisiona a sensação de que tudo é o que deve ser, sem lamentações,
apegos em um passado e sem ansiedade pelo que virá, sabendo que tudo é o que
deveria ser tudo se passa então no momento de agora em uma tarefa das mais
simples e complexas ao mesmo tempo: o ato de atenção plena e consciência. A
atenção plena em tudo que se faz, e a consciência de que estamos em uma jornada
pelo todo, pela expansão de algo neste universo.
Talvez isso soe um tanto quanto fatalista e
reducionista, mas saberão em seus íntimos que estou certo. Todos vocês foram
escolhidos para ler este texto e para buscar este entendimento que não está
propriamente nestas palavras que aqui estão sendo escritas, mas dentro de cada
um de vocês. Sim, existe este conhecimento dentro de cada pessoa que já sentiu
uma premonição sobre algo, que previu um evento, que sentiu algo que
aconteceria, que viu o seu futuro de relance, se é possível que veja o seu
futuro é porque ele estava escrito. A reforma do livre arbítrio é uma forma de
se agir sem sofrer, pois toda forma de agir é a forma de um integrante de uma
orquestra, que apenas pode dar o melhor de si, tocar em sua plenitude, mas
nunca poderá mudar a sinfonia regida pelo maestro, nem mesmo o maestro pode
fazê-lo, pois a música escrita nas partituras é a bela música desta misteriosa
existência que nos escolheu, cada um de nós, como o compositor o fez com suas
notas, para ser a mais bela melodia que já existiu....
"Não há como fugir de seu destino..."
"Não há como fugir de seu destino..."
Hermano forte texto. Sem palavras.
ResponderExcluirDarion
A atenção plena em tudo que se faz, e a consciência de que estamos em uma jornada pelo todo, pela expansão de algo neste universo. Ma! ra! vi! lho! so! Só assim podemos ouvir os...sussurros inefáveis do Espírito!
ResponderExcluirLi, li outra vez... bem, se já estava designado que eu iria discordar, que seja assim. Também deve estar escrito: alguns nascem para não vislumbrar a luz. Raiugaf - 24/07/2015, 11:25
ResponderExcluirIncrível texto, lançou luz em minha crise existencial ushsauhauhs
ResponderExcluir"mas e o livre arbítrio do ser humano? Mas e a autonomia da vontade? Ela não existe!"
"Entrar no fluxo é começar a entender que não existe liberdade da mesma forma que ela existem plenamente. Somos livres para escolher tudo e tudo que escolhemos já era previsto, fomos programados para escolher tudo que escolheremos"
Brilhante, somos prisioneiros da nossa "liberdade". Podemos criar, contudo já está tudo criado. Podemos fazer, mas já está tudo pronto. A melodia tirânica do Absoluto, onde ele próprio se compõe, e manifesta-se em si próprio com tanta harmonia, que cada nota percebe a si e as outras, e ainda assim todas são nenhuma e continuam compondo a melodia. Somos as notas, somos a melodia, nos percebemos e ecoamos como nos agrada mas isso só é assim porque foi designado pelo maestro, e pelo ouvinte principal(aquele que compreende a obra em todo seu contexto). Ambos um só, e nenhum finalmente.
Esta guia estava a dias aberta e eu hibernando o pc, agora que vim ler parece ser o momento exato, e é! Que mais poderia ser?
Gratidão pelo texto Vento, uma catarse quântica!