Um encontro entre amigos





Ontem estive em um destes encontros mágicos comigo mesmo, propiciados por uma substância mágica descoberta pela alquimia antiga dos índios deste solo sul-americano. Foi uma jornada especial como todas já foram na presença da grande amiga Oaska.
Como sempre, toda jornada é feita de uma pequena morte e um pequeno renascimento, uma descoberta, um enfrentamento, um morrer para brotar e assim também foi, com uma tonalidade diferente, uma matiz especial como são todos os eventos mágicos. Só o que é repetitivo é a artificialidade humana, as produções de nossa mente social, todo o produzido pelo nagual é novo e mágico, inteiramente mágico. E assim o foi.
Logo após trazer a amiga para dentro de mim, quase que imediatamente comecei a sentir o meu ponto de aglutinação mudando, deslocando-se, senti perfeitamente quando comecei a ver, quase que instantaneamente as emanações da águia logo à minha frente, todas belas, cada uma com sua ordem, e ouvi a voz do ver. Outrora sempre acreditava que as vozes que ouvia era de seres ou pessoas, sem saber que na maioria das vezes é apenas a voz do ver. Senti-me tragado por uma faixa de emanação especial e ali senti a presença plena do que um dia já chamei de Santa, de mãe, mas hoje sei ser uma energia especial que pode ser descrita com diversos nomes, não sendo este o ponto que realmente importa. Eu senti aquela presença e sorri internamente, a minha energia sabia o que viria, a plenitude de belos ensinamentos e visões. Não pedi nada, este dia foi completamente especial, eu não queria nada, estava despido de quereres, de desejos, apenas estava e contemplava tudo, com resignação e admiração, especialmente concentrado em manter a minha consciência.
Imediatamente percebi que a atenção que eu usava naquele ritual era a atenção exatamente idêntica às experiências de sonhar durante os intervalos do almoço, onde eu conseguia plenamente vagar por imagens, locais, explorar detalhes de visões com uma riqueza incrível de detalhes, sentindo, ainda assim, toda a consciência de estar sonhando. Explorei a consciência e percebi que o chá oaska me ajudava a ter mais atenção, a focar mais ainda a minha visão e mantê-la por mais tempo, e ainda ouvir de forma mais clara a voz de ver, que para mim estava manifestando-se por meio da sonoridade e de imagens que se achegavam.
Percebi então que a visão não era o que importava em si mesmo, ela não era nada, olhei ao redor no salão e vi que muitas pessoas também estavam tendo visões de mundos, de lugares, ouvindo, talvez a voz do ver, isso era comum a todos e proporcionado pela oaska e seu poder. Contudo algo especial era mostrado, em uma visão de uma energia como a de um cristal, que manifestou-se diante de mim percebi que para além de toda a visão era necessário outro algo. A voz do ver me mostrou claramente, na conexão que eu fazia com aquela cristalina energia, que todos podem ter a luz de uma visão, ou mesmo a força de manter essa visão, e que plantas de poder podem também fornecer estes dois elementos a todos, mas o que é exigido de cada pessoa, e ai está o diferencial evolutivo, é o entendimento e a memória. O primeiro diz respeito à capacidade de refinar as visões a algo claro, que possa ser compreendido e utilizado de forma pragmática para a evolução da pessoa, a visão mais intensa e maravilhosa não serve de nada, se não for compreensível. O poder de uma pessoa então se mede, inicialmente, pela capacidade que o seu ver tem de ser facilmente interpretado. O segundo ponto é a memória, a capacidade que a pessoa tem de manter aquela memória energética e acessá-la após o efeito da visão passar. Neste segundo ponto a voz me mostrou claramente que as pessoas tem sonhos que as conectam com os confins do universo e consigo mesmo a todos os dias, que esta é uma porta presente em todos, indistintamente. Contudo uma parcela muito pequena da sociedade tem poder pessoal suficiente para interpretar as suas visões, e uma muito menor de recordar as suas visões. Os efeitos disto é que o esforço pessoal é definitivo para se separar um feiticeiro de um homem comum. Um homem comum pode usar todas as plantas de poder por toda a vida, este terá visões magistrais, se encantará a todo momento, mas logo esquecerá e estará de volta a mesma miséria de sua vida, então a planta de poder servirá não de libertação, mas de vício para esconder a realidade mais ainda, uma ilusão ao quadrado.
Então olhei ao redor e a planta de poder me permitiu ver mais coisas ainda. Em meu segundo ver presenciei as buscas de cada um. Todos ali buscavam encontrar algo, todos queriam algo e estavam ali como pedintes, queriam que a providência divina lhes desse algo, lhes mostrasse o que deveriam ser, o que deveriam buscar, entendi que estavam ali cheios de visões mas cegos, pedindo, implorando que alguém lhes pegasse pelos braços, como seus pais faziam na sua infância, e lhes dissesse o que deveriam fazer. Então percebi que isso decorria das pessoas não acreditarem em si mesmas, de não saberem decidir, de não se reconhecerem dentro desta verdade única e suprema que se chama vida. Nesta chance única simplesmente somos, criados fomos com uma forma que aglutinou milhares de possibilidades neste corpo físico e além dele no nosso corpo energético, e não precisamos ser nada além de nós mesmos. Aquela historinha de autoajuda de lenda pessoal, exatamente isso, a lenda pessoal é ser você mesmo, andar com as próprias pernas, amar a si mesmo e acreditar em sua jornada, não importa se sua jornada seja um passo ou quilômetros de caminhada, basta acreditar e ser, e não esperar ser guiado para se tornar. Nos tornamos quando fomos gerados, não reconhecer isso é entregar-se ao retrocesso, é desfazer-se no mar de ser em que estamos insertos, somos e temos que acreditar nisso, e acreditando a sua lenda pessoal foi atingida. Ouvia as pessoas querendo ser isso, aquilo, aquele outro, confundindo papéis pessoais com o ser efetivo. Quando a pessoa se encontra nesta verdade, quando sabe que é, e sendo pode se tornar socialmente qualquer coisa, tudo mais se torna simples e belo, assumir-se como responsável e como existência única é amar-se infinitamente, e amando-se infinitamente é possível se abrir para amar tudo que há.
Vi então que não precisamos pedir nada. Não pedi e ainda assim ganhei tudo, pois tinha tudo em mim. Olhei para dentro de mim e vi tudo borbulhando, infinitas possibilidades, infinitos caminhos possíveis, vi que todo presente que alguém poderia ter no mundo está dentro de nós mesmos – nós ganhamos a vida, ganhamos este momento, ganhamos um presente que se estende maravilhosamente permitindo-nos contemplar a própria eternidade. Diante deste presente que é o nascer nada mais é tão importante nesta vida a não ser o morrer. São as forças antagônicas que criam o jorro energético que nos guia a um objetivo – o de conhecer na plenitude este presente vivo que somos e que temos a nossa inteira disposição. Não adianta querer explorar as miríades exteriores, querer ganhar o poder infinito, a eternidade, se a própria efemeridade de nossa existência não for em si aproveitada. Reconhecer-se em cada pedaço e contentar-se em ser é o princípio de tudo, explorar este presente maravilhoso que ganhamos é a verdadeira mágica da vida. Don Juan certa vez falou que uma vez visto o molde humano poderíamos pedir um presente, e agora entendo isso perfeitamente, vi o molde, vi antes do molde a minha energia se formar e vejo hoje ela aqui, o presente que ver o molde nos proporciona é o presente de valorizar a nossa existência, de valorizar este complexo conglomerado de possibilidades que temos aqui, ao abrir os braços, nos cercando por todos os lados. Um ponto mínimo de aglutinação deste ser total já nos permite ver este mundo maravilhoso e complexo, imagine agora a expansão deste ponto, imagine os infinitos lugares que este ponto pode estar dentro de ti, e verá que a cada dia procurando lá fora o presente, estará apenas gastando tudo que lhe foi dado que é você!

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