Um caminho sem memórias





Hoje estou retornando de uma extensa viagem, de muitos dias em que rodei por mais de 6 mil km no Nordeste, desde a Bahia até a Paraíba, fui reiniciar o meu sistema e realinhar as minhas energias, e estou de volta, no início, do princípio de tudo, quando nada sabia, há agora pairando em mim a certeza da ignorância, esta é a única certeza na qual podemos nos apoiar sem a chance de nos afogar.

Agora sou assim, reiniciarei a leitura dos livros e as meditações e a caminhada por esta senda de conhecimento como se nada soubesse, este blog será até para mim uma fonte de conhecimento de um outro eu, e o testemunho desta nova jornada maravilhosa que se abre à minha frente.

Pensemos que até os magistrais guerreiros da linhagem antiga assim fizeram, esqueceram-se de tudo e depois reiniciaram a sua jornada, sinto que o ano passado foi para mim este limbo, este nada entre algo e alguma coisa, uma loucura total em que temos que nos reiniciar para realmente traçar os passos e testar as ferramentas e barreiras que se ergueram ao nosso redor.

Sinto que mudei, sou novamente um eu ignorante, e peço que todos também reiniciem o que esperam de mim – não esperem por nada, pois nada sou, pois agora sou um "infant terrible" em busca do conhecimento, avido mais uma vez por ele, traçando novos planos e metas que conciliem a jornada do guerreiro a este mundo maravilhoso que temos.
Ofereci o meu passado ao mar, e em troca recebi a ignorância, a dádiva de uma página em branco para escrever uma história, com a tranquilidade agora de saber que uma história pode ser apagada ou esquecida a qualquer tempo, sem culpa, remorsos ou dor. Um livro em branco é mais leve, e cobra menos de quem o escreve.

Sinto já uma energia nova neste novo tempo, pode ser apenas a alegria e a leveza de ter um livro de páginas brancas em minhas mãos, sim, pois é leve um livro no qual não temos história, um passado a manter ou mesmo um futuro pressagioso a escrever. É liberto ser apenas um caminhante no início da jornada, sem metas, sem planos, sem desejos ou castelos a defender. Assim somos como uma brisa leve de verão, sem compromisso algum, nem mesmo o de refrescar os que estão por onde ela passa.

Sendo novo sou todo regozijo de um aprendizado, livre de dogmas ou defesas, apenas olhando admirado um mundo de beleza e feiura que nos cerca, contradições que se desfazem no não saber de nada. Se tudo que somos é cognição, ausentes de história pessoal não somos nada, apenas um ponto que observa o infinito de todas as coisas. Liberto da âncora do ponto de vista, da história e do conhecimento, somos um barco livre e com velas içadas pronto a navegar, e navegar é nossa meta maior, navegar sem compromissos e amarras. As amarras são mesmo prisões, e temos que nos livrar das prisões.

Hoje nada sei e nem sei se quero saber. Quero apenas navegar, aproveitar os dias, as percepções, somos assim, seres de percepções todas, infinitas, vivemos para perceber e mais nada, e quanto mais percebemos menos precisamos saber. A certeza e as memórias, o conhecimento e a lembrança nos afasta da percepção em si. Aquele que conhece o sabor fala sobre ele sem mais experimentar, alimentado apenas pela lembrança, e não pelo sentir. Eu quero sentir, e logo me esquecer para poder novamente me regozijar de um novo sentir.

Temos que sentir, e para sentir temos que jogar todo conhecer fora, esse é o silêncio interior que temos que conquistar, o entender que não sabemos nada se navegamos apenas pelas memórias, mas que sabemos tudo apenas sentindo...


Comentários

  1. E te sinto expansão. E como um vaso já cheio de nada mais pode se preencher, o esvaziar-se é um reinício.

    Relembrando Herman Hesse,(Demian) me lembrei daqui.

    "Queria apenas tentar viver aquilo que brotava espontaneamente de mim. Por que isso me era tão difícil?

    [...]

    "A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo;destruir no sentido de romper com o passado e as tradições já mortas, desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a conseqüente dolorosa busca da própria razão do existir: SER é OUSAR SER."

    ResponderExcluir
  2. Cada ser tem em sua caminhada um ritmo especifico, uma ondulação que, se bem observado, pode nos garantir grande entendimento. Se um dia achamos que seria, a partir do momento brusco de ruptura, uma linha reta em direção a liberdade, hoje sabemos que estávamos mais do que enganados. oscilamos, flutuamos, cada um em seu ritmo, em seu tempo, obedecendo o compasso de uma força para além do nosso entendimento.
    Eu tive a sorte, se é que podemos falar nesses termos, de ter tido um bom tempo de afastamento social: uma espécie de retiro forçado, que me possibilitou mergulhar de cabeça no nagual, no silencio. Em compensação era incapaz de concluir as tarefas mais básicas do mundo social, como me relacionar com alguém, ou mesmo cultivar amizades (salvo as do mundo virtual).
    Há um tempo - ano passado incluso, fato que me liga de certa forma ao blogueiro aqui em questão - venho experimentando um reordenamento social, uma volta por cima no mundo das pessoas, do trabalho, da família.
    O momento em que devo utilizar tudo que aprendi em termos de espreita, desprendimento, paciência, controle, em suma,usar os atributos do guerreiro, para alcançar os objetivo inexoráveis do mundo social, como, por exemplo, ter um emprego estável, uma boa renda, quem sabe uma família.
    É claro que esse movimento, inevitavelmente, nos afasta da Força, da magia, de certa forma do silencio - apesar de nunca mais sermos de fato o mesmo, nem que queiramos ser. Don Juan disse algo assim: depois de um tempo ou o aprendiz se torna um guerreiro ou cai na loucura, vira um palhaço, um niilista cínico.
    A porta sempre estara aberta, essa abertura nimguem nos tira; talvez o tempo não seja tão generoso conosco, talvez tudo esteja caminhando em seu tempo, vai saber, Deus que sabe.

    Abraço a todos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Complexos que somos, acho que inevitável as mudanças e ressignificações da caminhada, consequentemente de nós mesmos! Elis.

      Excluir
  3. Que bom e esperado retorno.
    2016 é o ano do Sol e se inicia em março. Um novo tonal dos tempos. Isso marca o inicio de um novo ciclo para nós, Toltecas. Esse é o verdadeiro primeiro ano depois de 2012 em que empreenderemos tarefas para revelar o desconhecido. Os anos anteriores foram de aterramento, calibração, harmonização e sintonização das emanações que passamos receber desde 2012.
    Darion. 01/02/2016 11:45

    ResponderExcluir
  4. Hermanos vejam só a similaridade dos ensinamentos de DJ com os hindus,
    no Segundo ciruculo do Pode, la Gorda fala que DJ quando partiu deixou sua luminosidade com os aprendizes, através do TOQUE, e veja,m o que abaixo o que encontrei:
    Shaktipat ou Shaktinipata é um termo em Sânscrito que se refere a um ato de um guru ou professor espiritual conferida por um forma de poder espiritual ou despertamento sobre um discípulo/estudante. "Shakti" se traduz como energia e "pat" como toque. Shaktipat pode ser feita por um mestre iluminado ou pela transmissão da palavra sagrada ou mantra, um olhar, um pensamento ou pelo toque. O toque é normalmente feito no ajna chakra ou terceiro olho do discípulo.

    ResponderExcluir
  5. Certa vez tive a grande 'Baraka' de conhecer uma figura única, inestimável. Ele gostava de cantar uma canção que dizia assim ''crises existencias/pra quê?/se o meu liquidificador não funciona/ e o meu refrigerador está quebrado?'' hahaha Valeu, obrigado pela maravilhosa ''transmissão''! (velho) novo nagual.

    ResponderExcluir
  6. Se essa figura aí é ou não um nagual isso eu não sei, se é que isso aqui importa (embora ser ou não um nagual não tenha nada de grandeza espiritual, ou grandeza de qualquer natureza, uma vez que isso tenha a ver com a condição da configuração energética- que não se escolhe, mas com ela se nasce) mas uma coisa é certa, a profundidade que aqui se encontra é bastante única.
    Uma coisa é preciso reconhecer, a profundidade da compreensão desse caminho não se encontra em qualquer escrito. Crises, quem não teria, afinal de carne, osso e sangue é feito o ser humano, inclusive o guerreiro. Aliás, para os poucos entendidos é bom que se lembrem, neste caminho não existem deuses, mas somente humanos mesmo, na sua mais cruel condição, com a sua mais completa ou incompleta totalidade, assim como na sua mais completa imperfeição, que buscam através desse caminho, serem nada mais que somente humanos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Crise existencial... eis aí uma oportunidade imperdível para praticar um “não fazer” dos bons: espreitar nossa existência em crise como quem assiste a uma comédia burlesca e terminar morrendo de rir de nós mesmos. O velho sabia das coisas!

      Raiugaf: (04/03/2016; 20:35)

      Excluir
    2. E como sabia...! ;)

      Excluir

Postar um comentário

Obrigado por partilhar do intento da transformação global

As mais lidas (se gostas de multidão)

A mariposa, a morte, e o espírito

O fim da linhagem de Don juan, a prisão de Castaneda e o legado das bruxas

As dúvidas na caminhada: entre ser tudo e não ser nada