Sobre a breve jornada




Muitos dos que nos precederam, e tantos outros anônimos que caminham sobre esta Terra, bem como muitos dos que virão tiveram vislumbres de um fator da eternidade que mudou toda a sua forma de lidar com o mundo.

Eu que escrevo, você que lê, Jesus, Budha, Gandhi, Maomé, Sebastião, João, Pedro, Castaneda, Don Juan, todos viram um aspecto de algo tão intenso e grandioso que poderia levar cada um destes citados, incluindo-se nós que aqui estabelecemos essa troca de energia, a pensar que somos titulares de uma sabedoria que o outro não tem. Isso decorre da individualidade que é inerente à nossa breve jornada neste mundo, que nos faz pensar que um ponto de vista é o único entre todos, mas na verdade o que existe é que um ponto de vista é único.

Percebem a diferença? Um "é o único" e o outro "é único". As tuas visões e compreensões sobre a vida são únicas, são um ponto de vista todo especial e teu, tal e qual as minhas visões são igualmente únicas, e especiais para mim. Na verdade se tivéssemos um debate entre todos que citei, todos os iluminados que nos precederam e ganharam notoriedade histórica,  a maioria se engalfinharia brigando e dizendo: olha, a minha visão é a melhor (provavelmente Don Juan sorriria litros disso tudo). De tudo talvez ele tenha dito o mais certo, que este mundo é um infinito mistério do qual nunca extrairemos toda a compreensão.

Somo muito pequenos em meio a todo este mistério, e isto não é se ver pequeno, mas sim ter a humildade de reconhecer o nosso papel neste universo, que não é exatamente de compreender tudo, mas sim de ter uma visão especial, própria, única, mas sabendo que não é a única sobre tudo.

Quanto as atenções as pessoas tem algumas visões afetadas sobre isso, e elas dizem respeito exatamente ao que diz o nome, atenções, percepções, amplitude de percepção.

Vejamos que a primeira atenção é uma visão de mundo restrita, onde conseguimos perceber as coisas cotidianas, coisas que a maioria das pessoas percebem, mas que não estão muito atentas. É tudo que conseguimos captar quando despertos, até mesmo os nossos pensamentos, é isso que você está lendo, e o mundo ao seu redor. É uma visão prática que permite sobreviver, permite socializar-se com os outros, permite uma vida pequena nesta brevidade, sem tantas compreensões mas sem tanto fardo a se carregar.

Quanto a segunda atenção é apenas a percepção de coisas que não são sintonizadas ordinariamente, além da utilização de sensores e antenas especiais de atenção que temos e que em regra estão adormecidas na maior parte da humanidade. Então a segunda atenção é um estado de percepção que podemos alcançar, não apenas dormindo, que nos mostra que temos algo além dos seis sentidos ordinários (visão, audição, tato, paladar, olfato, mente). No sonhar há uma alteração destas antenas e receptores, podemos usar mais de nossa totalidade, sendo que podemos ter todos os sentidos ordinários ampliados e somados a outros sentidos, como as sensações do corpo energético. A segunda atenção é então um campo de treinamento para possibilidades não ordinárias do ser humano, possibilidades perceptivas que foram apagadas ao longo do tempo pelas escolhas da sociedade. Escolhas geram rotinas, e rotinas enfatizam certas capacidades e apagam outras tantas. A rotina tem ligação direta com a domesticação por um lado e com o aperfeiçoamento por outro, uma faca de dois gumes.

A terceira atenção, inatingível em regra quando vivos (estado físico-orgânico), é um estado de plenitude e totalidade de percepção, onde somam-se todas as capacidades humanas reais, para além do que se entende por humano e suas capacidades em nossa limitada esfera de socialização. É o transcender ao destino evolutivo do homem, é uma percepção englobante da qual apenas podemos conjecturar. Neste ponto, daqueles que citei acima, cada qual teve o seu vislumbre da possibilidade e chamou este estado de um nome: paraíso, nirvana, terceira atenção - e foram dados nomes em cada uma linha para o que se tornava o ser humano neste estágio: o iluminado, o santo, o fogo interior, o sol - todos ligados à luz e à iluminação de fato, pois isso decorre do que é a visão desta catarse no ser.

Enfim, perceber essa intensidade pode ser feito por meio da utilização de termos novos, ou termos antigos, pela não utilização de termos, ou pela simples vivência deles, cada caminho é escolhido por quem caminha, mas a busca, mesmo do mais ignorante dos ignorantes, é pela luz, tal e qual a jornada da mariposa. Contudo, alguns voarão como Ícaro ao Sol queimando as próprias asas e nunca mais voarão, e outros saberão que aquele brilho que parece estar lá fora é seu próprio brilho, e efetuarão o voo para a explosão de si mesmo neste ser de luz.

E quem poderia contestar cada caminho? Quem poderia dizer o melhor dentre eles? Quem poderia falar sequer algo dos caminhos que as pessoas seguem?

A única coisa que se pode fazer um ser é observar e observar, e com isso chegar mais próximo do entendimento pleno de que nada é possível fazer para mudar o caminho de cada um, a estrada que uma pessoa decidiu seguir, porque a estrada se inicia no interior de cada ser, em um lugar inacessível ao outro e que só pode ser atingido, se a porta estiver aberta, pelo toque do próprio Espírito, que é a expressão da unidade universal.

Comentários

  1. "A única coisa que se pode fazer um ser é observar e observar, e com isso chegar mais próximo do entendimento pleno de que nada é possível fazer para mudar o caminho de cada um..." Fazer disso prática, prática, prática. Minha gratidão.

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  2. E, este caminho tem coração?

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  3. Como se fosse possível escolher um caminho ou algo que te toque... Na minha vida, eu nunca vivi essa escolha, em termos de caminho, de modo que fosse decidido plenamente pela razão, porque os caminhos, e a direção, simplesmente, ou primeiramente se sente, e ir de contra ao que pulsa, é encontrar, senão,o sofrer...

    Como se pode julgar aquele que quer simplesmente, viver aquilo que brota de si?

    Diferente ao meu ver, é aquele que vive seu caminho, o manifesta, seja em suas palavras faladas ou escritas, seja simplesmente pelos gestos mudos, seja até mesmo com seu silêncio total, daquele que impõe ao outro seu caminho, que acha que todos assim devem o seguir, com a violência da total intolerância e imposição!

    Sim, a liberdade de expressão deve ser plena, mas o julgamento, pode ser sim um fator limitante. E tão igual limitado aquele que precisa levar a cabo do julgamento, de forma até a agir de modo invasivo, (o que ultrapassa qualquer legitimidade da liberdade de expressão) quando por exemplo, se recorre de um ato maledicente para atacar aquele que simplesmente quer seguir se caminho... ( o que se iguala àquele fanático que quer impor ao demais seu caminho...).

    Não só tolerar, mas aceitar como é o outro pode ser fundamental nessa conjuntura de diversidade que vivemos, que pretendemos cada vez mais democrática. O respeito pode ser o fator decisivo e de evolução, para que se consiga se estabelecer uma sociedade realmente diversa... Mas às vezes, ao que parece, isso pode ser ainda um patamar de evolução distante a se alcançar, pois talvez seja preciso abandonar dentre outras coisas, o egoísmo e a extrema vaidade de se achar melhor que os demais.

    Quem pode falar algo do caminho do outro se às vezes nem mesmo do próprio caminho, que às vezes está para além do próprio entendimento, se é possível falar...?

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  4. cada caminho trilhado permite a compreensão da unidade universal da experiência humana. O ponto além da cultura onde tudo é igual pois sem nome.

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