A simplicidade do caminho




Cada dia é uma sequência de escolhas, em cada uma das escolhas há energia ou a sua ausência. Para que se façam escolhas é preciso que exista consciência, para que haja consciência é essencial energia. A cada escolha consciente (não necessariamente correta) acumula-se mais energia (ou a preserva). A cada não escolha (automatismo), mais decresce a sua energia. Quanto menos energia, menos se consegue perscrutar o infinito, menos consciente se torna a caminhada, menos se fazem escolhas e há mais entrega ao piloto automático das escolhas sociais, pela mente social. Pode começar em um momento ao acordar, pode ser uma escolha boba, como qual roupa vestir ou qual caminho tomar para chegar ao seu destino. Mas pouco a pouco o automatismo toma conta da vida das pessoas, pouco a pouco a consciência se esvai, pouco a pouco a programação da mente social se solidifica interna e profundamente, afastando, pouco a pouco, a energia do centro energético e a levando para a borda. Ao vidente que consiga ver (ressalto, tem menos de olhos que se pensa), percebe-se a energia indo para a borda, aos poucos e, ao chegar na borda, começa a energia a se solidificar, se fixar, como uma crosta. 

Percebe-se que a energia, ao chegar até a borda e ali permanecer, começa a ficar opaca, perde a sua essência cristalina e fluída que, quando na parte interna parece uma água brilhante de cor amarela-âmbar, bem clara, chegando a se tornar quase que marrom, opaca, aparentando maior densidade e mais sólida, por consequência. 

As rotinas são parte essencial deste deslocamento do centro útil para a borda, mas não as rotinas como repetição de atos comuns ao nosso dia a dia, mas a rotina como atos roboticamente realizados, sem consciência. Explico: não é problema a ida diária ao trabalho, as começa a se tornar um problema a inconsciência – acordar, tomar banho, tomar café da manhã, fazer o mesmo trajeto, repetir tudo impensadamente -, ao agir assim a pessoa, naquele ciclo que iniciamos no texto, deixa de ter consciência de seus atos entregando-se ao automatismo. Diferentemente de quem ao acordar, ainda que saiba que deve ir ao trabalho, deliberadamente toma consciência do que deve fazer para estar inserido na loucura teatral da vida cotidiana – consciente da roupa que coloca, do que se alimenta, do caminho que segue, atento aos sinais, tornando assim a rotina em energética, tornado assim o fluxo diário em uma loucura que ainda que sem sentido, é controlada pela consciência do guerreiro. Pensem nas rotinas todas, e as iscas cotidianas da mente social para tornar o ser fluído em sólido: o apito da hora do almoço (Don Juan dava muito este exemplo), o melhor caminho para o trabalho (tão repetido que a pessoa sequer percebe o seu arredor), a hora e a forma de ir dormir, o banho, o sexo...

Entendam, por isso o grande desafio não é a consciência, é a sua manutenção pelo tempo suficiente, e este tempo suficiente significa toda a vida. O intento inflexível significa exatamente a persistência do guerreiro que, lançando mão da única arma ao seu alcance pessoal, e com a disciplina constante consegue superar diariamente os obstáculos colocados à sua frente. À medida que pequenas vitórias são conquistadas a energia começa a trabalhar a favor do guerreiro e permitir que ele consiga a chance mínima de caminhar junto com o fluxo energético do universo.

O que isso significa? Bem, de que adianta falar, se neste caminho o importante é você mesmo presenciar. Caminhemos e a resposta, no momento certo, nos chegará.

Comentários

Postar um comentário

Obrigado por partilhar do intento da transformação global

As mais lidas (se gostas de multidão)

A mariposa, a morte, e o espírito

O fim da linhagem de Don juan, a prisão de Castaneda e o legado das bruxas

As dúvidas na caminhada: entre ser tudo e não ser nada