A ligação do homem e a Terra - espiando o presente








          Há alguns dias estive analisando a ligação entre o homem e as plantas. Sempre tive uma ligação muito grande com as árvores, mas afundado no mundo cotidiano como sempre fui nunca parti ativamente para explorar a conexão que podemos ter com esses seres em sua profundidade. Recentemente, com os exercícios que venho fazendo de energização através da luz do sol e as práticas de recapitulação e sonhar, tenho entendido um pouco mais a magnitude do reino vegetal.

          Temos uma relação que poderia ser sintetizada como simbiótica com as plantas. Nós, utilizamos o oxigênio para a sobrevivência, o ar é responsável pela respiração celular, ali é absolvido o oxigênio e gerado ATP, energia para o corpo. Mas o mesmo oxigênio que nos mantém vivos é responsável pela nossa degeneração celular, pela oxidação de nossas células e o nosso envelhecimento. Muito diferente de nós estão as plantas, que necessitam do CO2 que é expelido pelo homem para, juntamente com a água, os nitratos quebrem as moléculas de gás carbônico que passam a fazer parte de novas moléculas e juntamente com a energia solar proveniente da fotossíntese venham a produzir energia para a planta e expelir oxigênio de volta a atmosfera.

          Na perfeição incontestável da natureza os animais, dentre eles o homem e os vegetais tem o seu equilíbrio como forma de manter e preservar a existência neste planeta, últero que nos gerou e que nos nutre e sustenta. Contudo, com a degradação e a destruição cada vez maior imposta pelo homem a natureza esse frágil equilíbrio vem se perdendo.

          O homem a cada dia se distancia mais de sua fonte, e do que o liga a tudo mais na existência. Distante se torna cada vez mais como um predador, distante e separado de tudo mais que o cerca. De parte da natureza divina passamos a destruidores da própria existência, escravizados por uma necessidade cada vez maior de nutrir os próprios monstros que criou. O homem então destrói e mata para manter o seu sistema capitalista, as suas tecnologias, para manter a Terra habitável e as suas casas cada vez mais confortáveis. Desmata e produz computadores e sistemas para prever catástrofes criadas por suas próprias destruições. Usa máquinas para conter queimadas geradas pela sua própria ganância. Perfura a terra, derruba as montanhas para retirar o seu poder e sua força. Faz jorrar o sangue negro sobre os mares para encher o tanque de suas máquinas de destruição. E a fumaça sobe cada vez mais sobre os céus tampando os sóis luas a estrelas de nosso firmamento, pois o homem não precisa mais de sol luas e estrelas, pois está preso em seus shoppings cheio de luzes artificiais e em suas casas prisões, cada dia mais afastados de tudo que os nutre, mantém e que os criou.

          Penso no que acontece em meu próprio universo quando algo sai errado. Em meu corpo, micro reflexo do universo, quando uma célula perde a função no nosso corpo duas coisas podem acontecer, e as duas me deixam com muito pesar pelo caminho que a nossa civilização está trilhando. A primeira, quando uma célula morre, ou perde sua função ela é excluída do corpo, cuspida para fora, pois não mais cumpre o seu papel no organismo. A segunda é começar a mudar outras ao seu redor e destruir o próprio organismo, quando vira um câncer.

          O homem está no limiar deste acontecimento, pois já se tornou um câncer em seu próprio ambiente, destrói mata e impõe ao mundo a sua própria evolução, esquecendo de seus pares, como citei, as plantas. Em algum momento de nossa vida largamos o espírito e agarramos a razão, presos a descrição nos perdemos de nossa função como seres mágicos que somos. Vivemos deslocados de tudo que nos cerca, de nossa essência e presos ao que nos diminui, as nossas criações e aberrações, ao mundo que ergemos sobre o mundo de verdade, a ilusão da realidade.

          Venho pensando acerca de tudo isso já faz algum tempo, acredito que seja um sentimento que todos tem em seu interior. Existem aquelas perguntas triviais que todos fazemos a nós mesmos na vida, de onde viemos, para onde vamos e nem mesmo paramos um dia sequer para pensar em suas respostas. Perguntamos sempre o que acontece com o mundo, com tantos desastres, com tantas catástrofes, mas não conseguimos ver que isso é só um reflexo de nosso distanciamento com tudo mais que existe. Não precisamos abdicar de tudo que temos para seguir o caminho, a trilha para si, para dentro, a espiral do conhecimento, o que precisamos é entender que secundária é a vida que aqui se encerra caso a busca primária seja feita, a busca que responderá a todas as perguntas existenciais.

          Então que evoco o reino vegetal, a ligação que tivemos um dia com esse reino majestoso que se equilibra em perfeição com o homem. As plantas têm uma ligação profunda com a Terra, elas penetram na profundeza energética da terra para ali retirar os seus principais nutrientes, e essa profundidade mostra a profundidade de suas consciências. Certa feita Don Juan citou em seus livros que as árvores são seres que são estáticos e que fazem tudo ao seu redor se mover. Ainda citou que são seres de vida e consciência infinitamente maior que a nossa. Imaginem o que aprenderíamos com uma vivência mais harmonioso com esses seres, os benefícios e aprendizados.

          Durante alguns dias venho exercitando a proximidade com algumas plantas em minha casa. Durante o pôr do sol vou regá-las, um ato simples mas que tem se mostrado gratificante em minha vida. Afora o simples exercício de relaxamento proporcionado pela prática, a conexão que venho sentindo vem se aflorando a cada dia mais. Juntamente venho praticando a captação da energia do sol com o olho esquerdo também nos fins de tarde e somadas as práticas tem aberto mundos inteiramente novos para mim. Alguns dias venho sentindo a imperativa necessidade de me molhar junto com as plantas (o calor ajuda muito na vontade), mas as coisas acontecem de forma diferente. Piso com os pés descalços na terra e começo a me molhar como se eu mesmo fosse uma planta. A água, quando dessas práticas me deixa uma sensação de metal que molha e energiza o meu corpo me conectando profundamente com as plantas que me cercam. Além disso a contemplação, a chamada da segunda atenção olhando para as plantas me mostrou já formas e conhecimentos que ainda não pude interpretar mas apenas sentir. Durante uma prática as plantas se mesclaram e vi algumas formas de animais se formarem nas folhagens de uma árvore, e alguma coisa ser sussurrada par mim que não cabe expor aqui. Na outra as folhas se transformaram em um céu estrelado que me cobriu por completo, me senti então flutuando por esse universo, vendo constelações, nebulosas, vendo realmente um universo inteiro da criação naquele microcosmo da segunda atenção que era a folhagem daquela dama-da-noite, foi um presente muito especial.

          Espero estar errado em minhas afirmações, espero que haja uma guinada para a raça humana na Terra em que vivemos. Não quero ser parte da destruição do mundo e tento preparar o meu pequeno universo, tento encontrar a minha essência a cada dia para poder sair dessa espiral que como raça fomos jogados. Não mais critico, não mais luto, mantenho apenas meu espaço de respeito e conexão com o todo, com o que está dentro e fora na tentativa de saber, e sabendo seguir rumo ao nosso mágico destino de liberdade ao qual fomos destinados.

A todos meus sinceros desejos de liberdade e conhecimento.

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