O elo com o espírto - despertando o EU verdadeiro parte I






Limpar o elo de conexão é destronar o EGO que comanda a vida da unidade, e a faz ver como apartada do todo. No donjuanismo o nome que se dá a essa etapa da caminhada do guerreiro que busca encontrar-se, descobrindo assim o próprio segredo maior do universo, é espreitar a si mesmo. O ponto de aglutinação para os feiticeiros antigos é o que resulta no que chamamos de percepção. Há uma forte corrente energética que todos usamos a cada segundo de nossas vidas para manter uma uniformidade perceptiva de nosso mundo. A ilusão reside na não compreensão que o que percebemos é apenas um pacto estabelecido silenciosamente por todas as pessoas, que ao longo de muito tempo foi aperfeiçoado para o mundo como é hoje. Não há problemas no mundo em que vivemos, o problema que há é em acreditar que a única forma de perceber o mundo é desta forma. O que foi criado para garantir a sobrevivência do homem tornou-se a sua prisão perceptiva, o ponto de ancoragem da percepção, o lugar de fixação do ponto de aglutinação.
O ponto de aglutinação não só faz com que as pessoas percebam o mundo como é de forma genérica, em seus objetos, como faz com que cada um tenha a percepção de todas as coisas com as quais interage. A força para manter a percepção do homem desta forma, a força para manter o mundo como é estupenda, cada pessoa doa uma grande parcela de sua energia, mesmo não sabendo, para a manutenção dessa realidade. Não obstante, o ponto de aglutinação, ou a ancoragem da percepção não tem um lugar muito preciso, ele flutua por uma área que chamaremos aqui de coesão racional. Cada pessoa tem uma visão subjetiva das coisas, mesmo vendo o mundo como é, sólido e imutável, tem percepções pessoais deste mundo, guardando para si impressões subjetivas de cada coisa com a qual interage. Os limites de flutuação do ponto de aglutinação é o que chamamos de coesão racional, ou seja, são os limites que, não ultrapassados, fazem com que a pessoa seja considerada “normal”, socialmente falando. Os loucos de todo gênero são as pessoas que por algum motivo tem seu ponto perceptivo fora das margens da coesão racional. Ainda temos as pessoas que por algum motivo extrapolam essas fronteiras – algumas com o uso de plantas enteógenas, ou drogas, psicotrópicos, álcool, com doenças, enfermidades, fome, ou qualquer coisa que de alguma forma tire o indivíduo de sua coesão racional. Poderíamos então dizer que a coesão racional são as fronteiras do mundo racional, as grades da prisão da ilusão do ser humano de nossa era.
Espreitar-se é analisar as mínimas flutuações de nosso campo perceptivo, dentro das fronteiras da coesão racional. Todos durante a sua vida passam por pequenas flutuações na localização de seu ponto perceptivo. Algumas são percebidas como alterações no humor, alterações fisiológicas como engordar ou emagrecer, alterações físicas como alguma doença inexplicável. Quem não tem a plena consciência destas flutuações do ponto perceptivo, é controlado incessantemente por forças externas, que manipulam o ser humano em suas mais diversas formas. Toda interação do ser gera uma modificação em sua percepção. Os alimentos alteram a forma da pessoa ver o mundo, o açúcar cria picos de emoções, o sal altera a pressão sanguínea que altera em consequência o humor da pessoa, a água modifica, tudo que interage o ser humano altera em alguma coisa, mesmo que muito pequena em seu campo perceptivo, e com isso altera a sua realidade. Uma pessoa pode inclusive mudar a sua aparência ancorando o seu ponto de aglutinação em uma nova posição. É uma revolução pensar dessa forma, pois este entendimento extrapola os limites da coesão racional, segundo Don Juan, mudanças profundas no ponto de percepção podem transformar uma pessoa em qualquer coisa que ela deseje, mas isso é assunto para outra hora. O que aqui se pretende é mostrar que toda mudança que se opera na vida das pessoas inicia-se na mudança de sua forma perceptiva. os grandes mestres todos aperceberam-se em alguma fase de sua caminhada desta premissa básica. Para mudar o mundo é necessário que a pessoa mude, e isso é um fato energético que não admite contradição. A movimentação mínima do ponto perceptivo traz mudanças que podem ser temporárias ou definitivas no indivíduo, e a movimentação do ponto perceptivo é atingida do o intento, intentar é a chave para estas mudanças, quaisquer que elas sejam, e na profundidade que se queira.
Uma pessoa que queira, por exemplo, emagrecer. Para que ela obtenha esse objetivo deve primeiro intentar, e intentar não é apenas querer. Intentar é o ato de sentir o fato como acontecido, mas não de forma passiva, pois ai seria apenas a fé. Intentar é mais que isso, é o acreditar pleno, somado ao agir desprendido. Acreditar plenamente significa que o guerreiro que intenta deposita a sua fé no intangível do qual também é parte, e agir do guerreiro é entregar-se aos ditames do espírito, que encaminharão o indivíduo àquela conquista. Para intentar é preciso antes de tudo estar conectado, ter o elo límpido com o espírito, e saber discernir o que vem como desejo, brotando do EGO, ou o que vem do próprio espírito, brotando do EU. O que brota do EGO é a prisão, é limitador, é o desejo que aparta, que faz sofrer, seja pelo atingir o objetivo, seja pelo não atingir. No exemplo dado, suponhamos que a pessoa que queira emagrecer já esteja bem fisicamente, mas o quer apenas para satisfazer ao seu EGO, por motivos de comparações com outras pessoas, ou para atingir uma conquista, neste caso, o querer brota do EGO, e é assim uma prisão, se tornar-se o intento, pode trazer consequências graves, como a anorexia ou algum distúrbio outro. Um outro exemplo é uma pessoa que acorda um dia e vê que sua saúde está debilitada por conta de anos de descuido, e entende que deve mudar a sua vida, largando velhos hábitos. Neste caso, o próprio entendimento desta necessidade veio do espírito, do outro lado, do verdadeiro EU, que viu que o corpo físico estava dominado por uma moléstia, um desequilíbrio. Quando isso acontece, estabeleceu-se o vínculo com o espírito, o propósito veio de uma sabedoria superior, e desta forma pode se atingir o verdadeiro intento. Com isso a pessoa terá um deslocamento mínimo de seu ponto de aglutinação que a fará atingir um local perceptivo que lhe permita chegar a sua forma física ideal, e tudo isso será guiado de forma impessoal pelo espírito. A pessoa que entra nesta senda do intento, verá que caminhos apresentar-se-ão para ela de forma a guia-la àquele objetivo intentado. Isso reflete a própria movimentação do ponto de percepção, ou de aglutinação, e a posterior ancoragem deste ponto em um novo local. Sim a pessoa mudou quando atingiu essa conquista, e sim, isso será percebido por todos à volta daquela pessoa hipotética.
Contudo, todas essas modificações das quais eu falei, prescindem da auto-observação, ou a auto espreita. Inicialmente o trabalho de auto espreita é o trabalho de limpar o elo de conexão do o espírito, e o espírito é nada mais do que o nosso verdadeiro EU, o reflexo perfeito do universo dentro de cada um de nós. Quanto mais claramente se ouve a voz do EU, mais limpo está o elo de ligação da pessoa. Espreitar-se e o ato de peneirar o que é o ser verdadeiro e o ser egóico espreitando cada ato, cada pedaço mínimo da vida do indivíduo. Inicialmente a voz do EU verdadeiro levantará questões pessoais para organizar a vida da pessoa, para que a pessoa tenha uma vida plena. Pode ser através de sonhos, de intuições, de sinais mandados de infinitas formas, para tanto é preciso que o caminhante esteja atento a todo o momento, e a isso chamamos impecabilidade. Impecabilidade é sinônimo da atenção plena, é dar o máximo de si a cada momento, e isso se refere também à atenção que se dá a tudo que acontece a sua volta. Espreitar-se é um ato complexo, que não se resume apenas a observação do presente momento, é o momento único em que o guerreiro revolve o seu passado de forma sistemática libertando-se dele. Libertar-se do passado consiste no ato chamado recapitulação, não é olhar o passado como as pessoas comuns o fazem, já falamos deste assunto (para ler aqui). Contudo o ato de espreitar-se é um processo lento e gradual que consiste em livrar-se de cada grilhão que prende ao domínio do EGO, um a um, e a medida que o indivíduo se livra destes grilhões lhe chega também a sabedoria.
Os primeiros exercícios de movimentação do ponto de percepção, ou de aglutinação fazem com que a pessoa consiga começar a adequar a sua vida dentro dos limites da coesão racional. A pessoa começará a ficar mais jovem, emanar mais vitalidade, ser mais centrada, conhecer-se melhor. Identificará dentre as inúmeras opções o local que mais lhe faz bem energeticamente falando de fixação do ponto perceptivo. Esse local ideal é o centro da coesão racional, o local de plenitude do ser, plenitude física, emocional, mental, onde o ser social está em seu auge. Uma pessoa neste ponto está em sua melhor forma física, em sua melhor lucidez mental, totalmente centrada no presente. Uma pessoa neste centro conseguiu certamente uma grande façanha de ter seu elo límpido, assim podendo identificar o que emana de seu ser verdadeiro (EU) e o que emana de seu ser social (EGO), e identificando assim consegue a façanha de transformar o então senhor EGO, ao servo do ser total EU. Mas esse não é um fim em si mesmo, é apenas o começo da jornada do guerreiro, só então, ao atingir esse limiar é que começa a verdadeira jornada mágica do guerreiro vidente rumo a sua liberdade total.

Comentários

  1. um e-mail antigo
    O Nagual havia me mostrado um passo que nunca havia feito. Limpando o elo com o Espirito. Consistia em na posição da Tensigridade, com os pés voltados para dentro, esticar ambos os braços a frente e passar o dorso da mão direita do ombro até a mão, como um barbeiro estivesse afiando sua navalha, (cortando as correntes com o mundo). Primeiramente no braço esquerdo depois a mesmo no braço direito. Em seguida fizesse a mesma coisa, só que com a palma da mão direita na parte debaixo do braço esquerdo e vice-versa. Eu tinha algumas duvidas de modo que intentei entrar em contato.
    - Não adianta tentar colocar o carro a frente dos bois. Nosso ensinamento é gradual, de acordo com nosso nível energético. As coisas são reveladas no seu devido tempo. Muita coisa que foi revelada precisou de nosso acordo energético, nosso consentimento em chegarmos até um certo grau de impecabilidade onde os conhecimentos poderiam ser ministrados, transmitidos. É necessária a impecabilidade para que não haja intromissão do nosso eu. Nosso eu mais profundo que se esconde nas entranhas de nossas mentes. É aquele que pede comida mesmo quando estamos saciados, aquele que nunca está contente, insatisfeito, está sempre faltando algo, aquele que nos impede de recapitularmos, é nosso lado direito sentindo que está perdendo o trono.
    Hermano isso foi na sexta-feira. No sábado, estou te escrevendo na integra, ainda estou assombrado, meio grogue. O Nagual havia me ensinado o Passo de Poder “limpar o elo com o Espirito”, aquiescer-se ao intento. Falou que era um ritual antigo e deveria ser procedido como tal. Não deveria ser vulgarizado. Então as 18:00 entrei em contato com o Nagual. O engraçado é que não sei o porque, eu havia dias antes comprado uma vela. Quando cheguei na mercearia do nada perguntei se tinha vela. A senhora perguntou – quer um maço ou unidade? Só quero uma e realmente só havia uma vela como se me esperando.
    Eu estava na penumbra da kit, as luzes apagadas. Então ele disse que acendesse uma vela e começasse a fazer o Passo. Que me concentrasse na chama dourada da vela e começasse a girar meu olho esquerdo com o intento de limpar o elo com o Espírito. Hermano comecei a executar o Passo. Um vento estranho e forte nasceu dentro da Kit, a vela bailava para lá e para cá, não tinha como ter vento ali, então comecei a ficar dormente a partir dos pés e foi subindo até que me senti envolto em uma nuvem ali dentro da Kit.
    O Nagual me falou que aquele rito não deveria ser banalizado. O intento só era chamado depois de limparmos nosso elo com o Espirito. Que naquele caso baniu minhas duvidas me mostrando que o passo era daquela maneira como estava fazendo. Que o Espirito podia ser chamado com atos de um certo grau de abandono, humor, ou em voz alta ou girando o olho como estava fazendo. Só era chamado com o intento de esclarecimento , sobre como proceder em certas circunstancias. A dar decisões na vida. Nosso elo com o Intento er através do ponto da garganta, o centro de decisões.
    Falou que aquele Passo de Poder só teria sentido depois de ter cumprido certos requisitos e ter alcançado um certo nível energético, era o que eu vinha fazendo todos esses anos, limpando meu elo com o Espirito utilizando as disposições da espreita. Não era um passo de poder isolado pois necessitava de um certo preparo para ter o devido valor. Que o Espirito era chamado com atos de um certo grau de adandono e humor.
    Darshan 09:28 03/07/2013

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