O salto da consciência
O espírito
goteja dia após dia o conhecimento, que aos poucos vai inundando o interior de
nosso ser. Conhecer é viver, e estar aberto à vida. Durante esses dias venho
imerso em uma onda de autoconhecer em diversos níveis de conhecimento, e em
conhecer o exterior. Como é começo de ano, é hora de estabelecermos na linha
temporal social as metas do que virá, e isso para os guerreiros tem um
significado especial. Cada compromisso que o guerreiro faz consigo é uma ordem,
emanada para o universo em voz alta, e que com o tempo retornará em forma de
concretude, realização. Não é nada abstrato na vida de quem caminha com
consciência, cada ato tem o seu lugar, e cada escolha, cada palavra proferida,
passa da forma a matéria, do latente ao manifesto. É questão de poder e
consciência, todos disponíveis a qualquer ser que esteja vivo, que tenha o lúmen
da consciência à sua disposição.
Corriqueiramente
as pessoas também fazem esta mesma magia, só que não de forma deliberada. Um
desejo contido manifestado em palavras pode conduzir a uma realização, muitas
vezes não da forma pensada, pois movimentar as linhas do universo pode ter
consequências diversas. Quando se joga uma pedra em um lago, aguardando que as
ondas cheguem a um certo ponto, nunca se sabe o que as ondas farão nos outros
360 graus que não o do que fora intentado. Assim, destinos se entrelaçam, vidas
modificam a outras, desejos se encontram, pedras são lançadas em conjunto no
mesmo lago, e as ondas chocando-se a outras de outros intentos, modificam o seu
próprio caminhar.
Os intentos
foram claros na medida em que caminhos teriam que ser fechados para que outros
se abrissem. O caminho antes largo deveria se fazer mais e mais estreito para
que certas coisas fossem compreendidas. Saber o que intentar é propositura da
maior responsabilidade neste mundo, ainda mais para os despertos, advertidos de
todas as possibilidades de se intentar algo neste mundo. Claro, temos que
seguir adiante, aquiescer ao espírito, mas nem tudo será ditado pelos sinais, e
escolhas deverão ser feitas e consequências deverão ser suportadas. A regra é
simples: quanto mais consciência mais previsível são as consequências.
De uma coisa
depende toda e qualquer escolha que fazemos no mundo, a consciência da morte ao
nosso lado. Quando falo isso, não é de forma a obscurantizar a questão, longe
disso, este tema trás clareza e lucidez à caminhada. Pensar no que se quer, e
para onde mirar o nosso intento, é necessário sob os auspícios de uma imediatez
que só a efemeridade de nossa vida pode trazer, só a morte pode nos mostrar com
clareza os desejos que devemos proferir para o futuro de nossa caminhada. Intento
é sobriedade no querer, confiança no poder, e ação no caminhar – um tripé que
alicerça a caminhada dos que nesta senda da consciência desejam estar.
Durante essa
semana foram vários os presságios sobre isso. Uma pequena caminhada deve ser
realizada, de forma a poder carregar só o necessário, pois o caminho é tão
estreito que não comporta bagagens desnecessárias. Assim é a lição máxima
deixada por Don Juan: só carregue o necessário. Esse presságio me veio quando
felicitava um amigo pelo seu aniversário e usei, inconscientemente a palavra: o
caminho estreito -, em uma analogia a uma doutrina budista antiga. O presságio
que se seguiu foi a modificação de um local de troca de conhecimento, tudo se
alterou energeticamente, de forma que se não fosse para analisar os presságios
que sei que ainda virão, teria abandonado aquele pedaço do infinito em
definitivo, mas ainda não o fiz, ainda não é tempo para deixar aquele espaço do
infinito, não ainda. Outro presságio foi o conhecimento galopando de meu
passado, ali estava algo que eu tenho que buscar dentro de mim mais uma vez,
algo que ficou ali atrás, em um lugar que quase consigo ver, e para caminhar
neste estreito caminho devemos estar completos, plenos. Não devemos levar
bagagens desnecessárias, mas devemos obrigatoriamente levar o essencial. O
essencial é outra palavra, nada mais.
São por certo
presságios pessoais, coisas que eu mesmo verifiquei e tantas outros que para
mim apareceram, mas uma foi especial. Junto com outro amigo, grande amigo,
começamos a empreender uma busca que estava intimamente ligada aos momentos
finais do guerreiro na terra, quando realiza o guerreiro a sua última dança
para o infinito, e segue rumo ao outro lado. Empreendemos uma verdadeira
jornada mágica, entre presságios conjuntos, sincronias, e revelações de todos
os lados – literalmente falando!
Começamos por
descobrir os passos e a sequência que se deve realizar nos últimos momentos do
guerreiro nesta Terra, de modo que não falarei sobre isso, pois tenho por certo
que o próprio guerreiro Kawak o postará logo abaixo nos comentários que se
seguem ao texto, mas o que me cabe, e me foi revelado, e hoje consolidado foi a
explicação de um passe especial de Don Juan, que tem o propósito claro de fazer
com que agitemos as nossas fibras interiores, atraindo a morte para próxima de
nós, abrindo a fenda do ovo de luz, e logo após agitando as fibras de energia
de nosso interior, de forma a criar um sentimento de urgência que nos permite
direcionar a nossa energia com mais concentração ao agora, ao momento mágico
das realizações, o único momento que há.
O fragmento
deste passe, um dos poucos realizados pelo próprio Don Juan para Castaneda no
decorrer da obra, está narrado da seguinte forma:
Dom Juan
fez um gesto estranho. Abriu as mãos como dois leques,
levantou-as ao nível de seus cotovelos, virou-as até os dedos tocarem seus
lados e depois juntou-as de novo devagar no centro de seu corpo, sobre o
umbigo. Conservou-as ali um momento. Seus braços tremiam com o esforço.
Depois, levantou-as até as pontas de seus dedos médios tocarem sua testa e
depois puxou-as para baixo na mesma posição no meio do corpo. Era um
gesto formidável. Dom Juan o executara com tanta força e beleza que fiquei
assombrado.
levantou-as ao nível de seus cotovelos, virou-as até os dedos tocarem seus
lados e depois juntou-as de novo devagar no centro de seu corpo, sobre o
umbigo. Conservou-as ali um momento. Seus braços tremiam com o esforço.
Depois, levantou-as até as pontas de seus dedos médios tocarem sua testa e
depois puxou-as para baixo na mesma posição no meio do corpo. Era um
gesto formidável. Dom Juan o executara com tanta força e beleza que fiquei
assombrado.
Contudo, como
se vê, é tão hermético e propositalmente mal descrito o passe que sequer é
possível que se realize ele sem que se tenha algo a mais. Acontece que eu mesmo
já havia ficado horas tentando realiza-lo e sem sucesso, abstive-me de fazê-lo.
Contudo somado a alguns diálogos e uma energia extra que me sobreveio esses
dias, consegui ver esse passe em sua
perfeição. Somando também as descrições em espanhol do mesmo fragmento, e uma
visão que tive do próprio nagual Juan Matus realizando-o, tive a certeza de que
era o passe. Contudo, fiquei três dias com o passe em minha cabeça, mas sem realiza-lo,
e hoje, como de um impulso, um grande sentimento tomou conta de mim, um
sentimento de tristeza sem motivo, de emergência. Somado a isso, um
formigamento que havia se iniciado em minha cabeça começou a ser mais
proeminente. Formigava toda a minha cabeça, como se uma energia estivesse ali.
De um salto
levantei, comecei a sacudir os braços na lateral de meu corpo, meus pés
firmaram-se e realizei o movimento, breve, mas firme, de uma força que não
consigo descrever. As minhas mãos ficaram trêmulas, senti um algo indescritível
rondar meu corpo, e ao mesmo tempo senti uma unidade em mim impossível de se
descrever em palavras, parece que partes separadas se mesclaram em uma unidade
do agora, sólida, presente, consistente. Fisicamente as minhas mãos ficaram em
uma tensão estranha, um tremor não físico mas energético que a perseguia, e ao
mesmo tempo os pensamentos de lembrança cessaram, e os pensamentos do porvir
dissolveram-se.
Sentei-me e
ouvi por fim uma voz dizendo: esse passe deve ser feito em momentos extremos, é
muito perigoso o realizar sem que tenha um propósito deliberado, ou sem a
anuência do corpo físico, quando se atrai a morte, as consequências são
imprevisíveis, só uma pessoa com a energia em perfeita sintonia pode realiza-lo.
Vi por fim a
cara de um velho me sorrindo, como se tivesse me contado um de seus últimos segredos.
Estranho, sinto
dentro de mim uma grande tristeza, um sentimento estranho. Um amigo levantou as
bagagens, e partiu em uma viagem, não sei se voltará, um outro amigo recebeu os
presságios destes passos finais do guerreiro, e agora o velho Cortez me mostra
este seu passo especial. Além disso esses dias me surpreendi com uma mensagem
de uma guerreira que iria partir de um propósito anterior.
Todos são
sinais inequívocos que um novo tempo se aproxima, um estreito caminho.
Sinceramente não sei quanto tempo durará ainda este blog no ar, ou por quanto
tempo estarei disponível ainda, talvez tenha que empreender uma jornada
solitária em breve, e para isso, terei que recolher inevitavelmente todas as
bagagens, arribar as malas e seguir – afinal, esse é o destino de todos nós.
Um forte
intento a todos!
Hermanos Guerreiros Buenos dias
ResponderExcluirsinto que o caminho estreito a que se refere Hermano Vento é a ponte. A ponte estreita conduz ao outro lado e para se chegar ao outro lado faz-se necessário atravessá-la. è o que estamos fazendo. Temos de seguir pelo caminho do meio, assim temos a oportunidade de ver os dois lados.
Kawak.
07:58 13/01/2014
Sinto que esse texto de Paulo Coelho ilustra bem o sentido da ponte e o absimo que atreavessamoa
ResponderExcluire Hermano Vento bem falou da conciencia da morte:
Carlos Castaneda conta como o mestre do seu mestre, Julian Osório, se transformou em um nagual -espécie de feiticeiro, segundo certas tradições mexicanas.
Julian trabalhava como ator em um teatro itinerante no interior do México. Entretanto, a vida de artista era apenas um pretexto para fugir das convenções impostas por sua tribo: na verdade, o que Julian mais gostava era beber e seduzir mulheres -qualquer tipo de mulher, que encontrava durante suas apresentações teatrais. Exagerou tanto, exigiu tanto da saúde, que terminou contraindo tuberculose.
Elias, um feiticeiro muito conhecido entre os índios iaques, dava seu passeio vespertino quando encontrou Julian caído no campo; sangrava pela boca, e a hemorragia era tão intensa, que Elias -capaz de ver o mundo espiritual- percebeu que a morte do pobre ator já estava próxima.
Usando algumas ervas que carregava na bolsa, conseguiu estancar a hemorragia. Depois, virou-se para Julian: "Não posso curá-lo", disse. "Tudo que podia fazer, já fiz. Sua morte já está bem próxima."
"Não quero morrer, sou jovem", respondeu Julian. Elias, como todo nagual, estava mais interessado em comportar-se como um guerreiro -concentrando sua energia na batalha da sua vida- do que ajudando alguém que nunca tinha respeitado o milagre da existência. Entretanto, sem conseguir explicar por que, resolveu atender o pedido.
"Vou às 5h para as montanhas", disse. "Espere-me na saída do povoado. Não falte. Se você não vier, vai morrer antes do que pensa: seu único recurso é aceitar meu convite. Nunca poderei reparar o dom que você já fez ao seu corpo, mas posso desviar seu avanço até o precipício da morte. Todos os seres humanos caem neste abismo, mais cedo ou mais tarde. Você está a alguns passos dele e não posso fazê-lo recuar."
"O que pode fazer então?"
"Posso fazer com que caminhe pela borda do abismo. Vou desviar seus passos para que você siga pela enorme extensão dessa margem entre a vida e a morte; pode andar para a direita ou para a esquerda, mas, enquanto você não cair nele, continuará vivo."
O nagual Elias não esperava grande coisa do ator, um homem preguiçoso, libertino e covarde. Ficou surpreso quando, às 5h do dia seguinte, encontrou-o esperando num dos extremos do lugarejo. Levou-o para as montanhas, ensinou-o os segredos dos antigos naguais mexicanos e, com o tempo, Julian Osório se transformou num dos mais respeitados feiticeiros iaques. Nunca ficou curado da tuberculose, mas viveu até os 107 anos, sempre caminhando na beira do abismo.
Quando chegou o momento adequado, começou a aceitar discípulos e foi o responsável pelo treinamento de Don Juan Matus, que por sua vez ensinou as antigas tradições a Carlos Castaneda. Castaneda, com sua série de livros, terminou popularizando essas tradições no mundo inteiro.
Uma tarde, conversando com uma outra discípula de D. Juan, Florinda, ela comentou: "É importante para todos nós examinar o caminho do nagual Julian à beira do abismo. Nos faz entender que todos temos uma segunda chance, mesmo que já estejamos muito próximos de desistir".
Castaneda concordou: examinar o caminho de Julian significava entender sua extraordinária luta para manter-se vivo. Entendeu que essa luta era travada segundo a segundo, sem qualquer descanso, contra os hábitos errados e a autopiedade. Não era uma batalha esporádica, mas um esforço disciplinado e constante para manter o equilíbrio; qualquer distração ou momento de debilidade poderia arrojá-lo no abismo da morte.
Só havia uma maneira de vencer as tentações de sua antiga vida: enfocar toda a sua atenção na beira do abismo, concentrar-se em cada passo, manter a calma, não ter apego a nada além do momento presente.
Acho que todas essas lições servem para cada um de nós.
Coloquei esse texto de PC pois tem a ver com o que fizemos.Por esses dias tive um visão e mandei um email para Hermano Vento. Erma os passos da ultima dança que o Guerreiro executa em sua dança final perante a morte.
ResponderExcluirHaviam várias porém um nos chamou a atenção pro sua estranheza e velancia. Hermano Vento o descreveu no texto porém executá-lo er outra coisa, onde apareceram algumas duvidas e para tirá-las consultamos os livros en espanhol para evita erros de tradução..........
Don Juan hizo un gesto extraño. Abrió las manos como abanicos, las alzó al nivel de los codos, les dio vuelta hasta que los pulgares tocaron sus flancos, y luego las unió len¬tamente en el centro del cuerpo, sobre el ombligo. Las retuvo allí un momento. Sus brazos temblaban con la ten¬sión. Luego las subió hasta que las PUNTAS DE SUS DEDOS MEDIOS TOCARON LA FRENTE, y las hizo descender a la misma posición sobre el centro del cuerpo. (capitulo XIII pag 72 uma realidad Aparte)
ResponderExcluirDom Juan fez um gesto estranho. Abriu as mãos como dois leques,
levantou-as ao nível de seus cotovelos, virou-as até os dedos tocarem seus
lados e depois juntou-as de novo devagar no centro de seu corpo, sobre o
umbigo. Conservou-as ali um momento. Seus braços tremiam com o esforço.
Depois, levantou-as ATÉ AS PONTAS DE SEUS DEDOS MÉDIOS TOCAREM SUA TESTA e
depois puxou-as para baixo na mesma posição no meio do corpo. (tradução em portugues)
Vejam que a palavra FRENTE em espanhol pode ser FRENTE mesmo ou TESTA, foi isso o que nos intrigou....
Então depois de algum tempo Hermano Vento teve a visão do Passo em sua integra e viu que na realização do Passo os dedos se uniam realmente em sua TESTA e não a FRENTE do corpo.
ResponderExcluirIsso nos deu um impulso enorme pois estamos fazendo um trabalho sério resgatando os verdadeiros Passos de Poder ensinados pelo proprio Nagual Juan Matus.
Kawak 08:41 13/01/2014
Hermano, obrigado pelas contribuições, essa visão tivemos juntos, e logo eu consiga, gravarei o vídeo com o passe da adaga no ventre hermano. Espero que hoje mesmo eu consiga.
ResponderExcluirO tempo necessário que este blog deverá ficar para tocar todos que buscam a luz!! Es uma porta que clareia aos demais guerreiros!! Sou grata por tua vida Hermano,fazes a diferença em nosso caminhar ( Gaivota menina)
ExcluirEste é um dos ultimos Passos que o Guerreiro pratica e portanto como Hermano Vento falou deve ser praticado com parcimonia.
ResponderExcluirKawak
Muito agradecido a Hermano Vento pela trasncrição do Passo de Poder da Adaga.
ResponderExcluirEste veio diretamente de Don Juan Matus
Kawak 08:49 14/01/2014
,
Exatamente hermano, esse veio diretamente da fonte deste conhecimento, Don Juan Matus!
ExcluirGracias pela partilha! Este passe realmente evoca força no momento presente e renova energia vital! Interessante que fiz no mesmo dia que postasse mencionando -me e, ainda sinto vitalidade.....venho sentindo dores na região do abdômen como se uma energia passasse retorcendo a musculatura interna! Não chega ser uma dor física mas é uma sensação muscular intensa! Além do quesito físico,houve um aumento nos presságios e na " voz do ver"!! O estudo do livro que iniciei é difícil como Hermano Vento me alertara, mas é formidável ouvir Dom Juan
Excluire C.Castaneda!! Estou indo suave, como sugeristes!! ( Gaivota Menina)
Obrigado por compartilhar este valioso passe.
ResponderExcluirVento que sussurra, você leu os conhecimentos deixado por Gurdjieff? Se sim, gostaria muito de saber a sua opinião.
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