O retorno do obscuro inferno da prisão

Essencialmente a vida de um guerreiro é pautada na observação plena de tudo que há, esta é a estratégia primeira que rege esta caminhada árdua em que adentramos em nossas vidas. A solidão do guerreiro está em silenciosamente, sem a aquiescência ou a negação de ninguém, seguir um caminho de desbravação do infinito, a partir da própria obra que é a sua existência. Então o primeiro ato do guerreiro, e o último também, é observar-se em cada detalhe, em cada aspecto por mínimo que seja, na tentativa de desvelar o que é realmente o produto que chamamos de EU, para depois partir para desvendar o produto que se chama o VERSO, ou tudo que não é o EU. Parte-se então da dualidade aparente do universo, e da separação aparente que realmente se reflete em nossa própria composição física e energética última.

Dentre os grandes mistérios em que vivemos está o nosso corpo energético. Somos compostos de um emaranhado de fios de luz, fios que são energia deste o não tempo, fios dos confins universais que antes compuseram outros seres e não seres, energias todas de diversas gerações e não gerações do imensurável universo. Tudo neste mundo é feito de energia, destes filamentos, de diferentes vibrações mas iguais em essência. Na máxima física de que tudo é energia encontramos a máxima do donjuanismo, desta tradição milenar que já sabia de tal fato energético previamente a qualquer estudo racional, apenas na observação mencionada ao começo deste texto, a espreita que inicia-se no UNI e parte para o VERSO. Imaginemos o trabalho do guerreiro de exploração do universo como uma caminhada em espiral, em que começamos o trabalho em um círculo diminuto em nós mesmos e à medida que expandimos a nossa caminhada aumentamos este círculo abrindo-se neste caminho pelo VERSO, em um incomensurável caminho do sem fim, pois não chegará, e nem o pretende, em nenhum lugar.

A nossa civilização atual está também nesta caminhada em espiral, contudo estagnada em um círculo de não caminhar, presos a uma energia que há muito tempo foi pactuada pelos antigos, pelos nossos ascendentes passados, em uma visão distorcida do que seria a liberdade.

Mas voltando ao nosso mistério, esses fio de luz nos são dados como um presente do centro do universo, uma doação que inicia-se com o ato mais mágico que a Humanidade pode conceber, que é o ato sexual, ou o ato de invocação das energias criadoras do universo, e o ato de sacrifício pessoal de energia. Com o ato sexual dois corpos encapsulados de energia, um homem e uma mulher, invocam o poder da Águia, doando de si um filamento central de seus corpos energéticos, e com essa doação pessoal, a Águia complementa a criação do tecido da nova vida que virá. Vejam que o UNI (as duas partes, homem e mulher) evocam o poder do VERSO criando um vórtice de energia que atrai a outros filamentos e que compõem a criação de uma nova vida orgânica. Este processo de criação pode ser visto no âmbito biológico e físico como a microrreprodução de toda a evolução na vida Terrestre dentro do centro mágico do corpo da mulher, o seu útero. Ali, de um ser unicelular a multiplicação acontece milagrosamente, repetindo a evolução para a multiplicação, a criação de um ser anfíbio, com caudas, que respira debaixo da água e depois evoluindo para o ser humano, quando o molde final é concebido na encapsulação energética do ser invocado pelas forças mágicas do ato sexual.

Dá-se o primeiro nascimento na invocação dos seres, por isso a data de concepção, relegada muitas vezes ao esquecimento, é uma data que diz muito sobre a pessoa, as conjunturas daquele dia do concepto são relevantes para a sua composição energética, quiçá mais do que o dia de seu nascimento segundo, quando eclode do ovo-útero de sua segunda mãe. É como a reprodução de antigos mitos cíclicos, do anjo anunciando dos céus a vinda de um novo ser, que será o filho de Deus e que apenas será abrigado no útero da mãe terrena. Assim é o nascimento de todos os homens e mulheres neste mundo, todos somos vindos do útero da própria fonte universal de vida,  invocados pelo amor, mesmo que carnal e sexual dos pares terrenos, mas paridos da fonte primeira do universo e nascidos sob o prenúncio pressagioso de dois nascimentos.

Somos assim, cada um de nós, próprios filhos e parte também da própria essência de tudo que há. Filhos de um sacrifício de nossos pais, que dispuseram de suas próprias energias para nos conceber e nos criar. Frutos do sacrifício, mas não necessariamente cordeiros que serão sacrificados, como as gerações contemporâneas e predecessoras estão sendo de uma força tão distante deste mundo. Somos e nascemos predestinados ao terceiro nascimento. Nascemos e somos encapsulados em um ovo de luz. Temos dentro de nós - cada um com sua história, regidos tanto pela força da magia de evocação quanto pelos desígnios inintendíveis da inteligência cósmica -, compostos de energias e sabedorias de vastos mundos e vastos e incontáveis seres que já possuíram os filamentos de energia que nos compõe a totalidade hoje. O que exploramos, e as possibilidades cognitivas e de conhecimento que vivenciamos estão adstritos, em sua grande maioria, apenas ao canal sintonizado pela grande massa, monoculares de visão para uma só direção. Se lhe falam que isso ou aquilo é errado, é o peso desta visão monocular, o pesar da mente social que nos oprime a isso, pois ver de múltiplas formas, ver de forma ampla para todas as direções faz com que vejamos a realidade que nos oprime e que nos faz circular como peixes em um aquário há tantas gerações.

Vi em um sonhar, e me permitam o caráter pessoal aqui, pois o que rege este fluxo não sou mais eu e sim o Espírito, quando esta força opressora aqui chegou. Vi ela também chegar em outros mundos. Não são apenas aqueles voadores que todos já vimos, sombras ou espectros opressores aos nossos lados, é algo ainda maior. É todo um mundo opressor, é um mundo vivo e fechado que é como uma nuvem espeça de tempestade, um mundo consciente de si, e aqueles que nos assaltam, os voladores, são apenas batedores, caçadores que vem buscar constantemente o quinhão energético que desperdiçamos com tantas baboseiras sociais desta visão monocular e desta mente social. Estes que aqui estão são pequenos.

A grande luta que se trava, aqui dentro de cada um, é contra a mente superficial que nos dominou. Aquela mente social que nos fez criar as guerras, as atrocidades, aquela mente que nos faz ter raiva quando vemos algo que nos contrarie, aquela mente secreta e obscura que nos domina, nos enche de desejos de raiva, que nos faz por uma cortada no trânsito querer matar, ou bater ou até que nos faz querer espancar alguém apenas porque está enrolando na fila de um banco. É esta mente social, esta mente opressora que domina e dominou a nossa sociedade por tanto tempo, e só esta mente social, frágil e contraditória que nos rouba a cada tempo a energia, e esta mente, senhores, é apenas a ponta do iceberg. Vi que esta mente em cada um se conecta perfeitamente a uma energia superior, aquele mundo, esta mente faz com que sejamos apenas bonecos manipulados em um jogo de destruição que àquele mundo regozija. Este jogo de morte, este jogo de conflitos, que leva pessoas ao suicídio, leva homicidas a matar e estupradores a estuprar, é o jogo perverso deste mundo real que está ali, ao nosso lado, nos dominando e nos guiando os passos de nossos humanidade há muito tempo. Basta ver os resultados de nosso mundo.

Percebam-se sozinhos na Terra. Hoje com todos estes bens de consumo que os cercam. Poderiam assim ter livremente quaisquer bens de consumo que quisessem, qualquer coisa lhes seria útil, mas garanto que ninguém conseguiria a felicidade plena. Não ter alguém com quem compartir desta alegria, alguém para quem falar, alguém a quem abraçar, sem o alguém, o outrem, nada deste é útil, nada é essencial. Então porque nos perdemos nesta míope visão? Porque nos perdemos na destruição do ter, do consumir, do predar, do matar pelo simples prazer de matar? A resposta está nesta mente, neste simples objeto de fiação que nos domina a vontade, que decide por nós, e que a cada dia nos repete para sermos assim, assado, para maltratar, para achar-se melhor, para colocar-se no centro, este que está além e para muito além do ego, pois é o próprio separador, é o próprio jogador da destruição.

Budha lutou por dias, e entrou em sua própria mente, verificando os terrores que este ser pode causar. Ele lutou e venceu, primeiro o medo, depois as bajulações, desejos, e todos os inimigos que este colocou em seu caminho. Assim foi Jesus, no deserto (uma analogia a esta passagem), lutando contra todos estes demônios que na verdade é apenas um, este implante que nos fora dado, era a mente social que ele destronava, e lutando contra ela venceu. Arjuna também, postado entre o que chamou de exércitos (as armas da mente social), lutou e venceu, ajudado pela sua mente profunda.

São exemplos e nestes exemplos, alguns mais claros que outros, está estampada uma verdade universal que de tempos em tempos nos é repetida, desde aquele pacto antigo, querendo nos acordar para voltar a linha da evolução da espiral da Humanidade, que deixamos de trilhar naqueles tempos idos. Mitos e lendas, são diversas as formas de recontar essa história e de apontar para este caminho. E perdidos nas setas, nos homens que nos apontaram, esquecemos de mirar no horizonte que nos foi descrito.

Eu vi amigos, vi e entendo porque chamam aquele mundo de inferno, chamam aqueles de demônios, aquilo foi o terror na mais pura acepção do termo, este é o terror que temos que encarar e enfrentar, este é o inimigo que temos que enfrentar. As nuvens negras não podem mais ser eclipsadas pelo nosso reflexo, temos que expandir e lutar, explorar este ser que nos domina e recuperar o fluxo energético de nossos ser total. Não existe outra vida, não existe outra chance, a única chance que temos está aqui, está ao nosso lado, a chance de sair, um a um, desta espiral de dominação, esta espiral de opressão e destruição que nos rege e que não somos nós. Não é o ser humano que é mal ou perverso por natureza, assim somos porque está implantado dentro de nós esta mente superficial que nos afoga nosso verdadeiro ser divinal, o que deveria ter as rédeas e o comando da nau de nossas vidas.

Apenas olhando profundamente na escuridão dentro de nós, é que saberemos o quão profundamente estão enterradas estas raízes, e só assim começaremos o trabalho de atenção. Estas raízes negras, este pêndulo energético negro acima de nossas cabeças pode ser extraído, e essa extração nos revelará o nosso verdadeiro ser. Não podemos aceitar tanto tempo em estado de sítio sem reagir, não podemos aceitar omissos a esta dominação sem sequer lutar. É por isso que quem trilha este caminho se chama guerreiro, pela luta incessante contra este e tantos inimigos. Esta dominação só reflete o caráter predador de nosso universo. Estamos em casa, acolhidos em nosso segundo útero, a mãe terra, mas oprimidos por esta força. O terceiro e derradeiro nascimento só virá para quem, quando o tempo e o cavalheiro da morte chegar, estiver sob o domínio de seu próprio ser divinal, para este, a morte será como as mãos do médico que o acolheu quando nasceu, e a dor não será maior que o tapa para extrair o choro do recém nascido.

Não há recompensa para o acomodado, não há vitória sem luta, nem liberdade sem o reconhecimento da prisão. Não existe possibilidades de que se veja realmente o brilho da luz sem antes olhar para dentro da escuridão. Descendo ao inferno retornaremos vitoriosos, e nos estará reservado o paraíso da compreensão.