FEARLESS




"Walk on, walk on
With hope in your heart
And you'll never walk alone
You'll never walk alone"

 

Mais uma vez ando caminhando em uma observação em que busco despir-me de conceitos. Analiso e vejo todas as coisas, e depois jogo fora o verbo analisar, pensar, interpretar. O mundo cheio de interpretações nos deixa presos também a uma série de medos. Porque não existe medo naquele clarão maravilhoso da luz da pura energia do universo?
Quando nos permitimos entrar no silêncio e quando no silêncio permitimos mais uma vez que nossos sentidos se abram para além das interpretações, vemos e sentimos tudo ao nosso redor despido de qualquer tipo de interpretação, para além do bem e do mal e de qualquer dicotomia que temos em nosso universo. Esse coração aqui para de pulsar regrado às intempéries de interpretações e de conceitos e começa a fluir no ritmo sincrônico da vida. Sim existe uma melodia universal, e nesta melodia não existem letras. Todos que escutam o farfalhar de uma árvore reconhecem pela planta o próprio vento, a beleza de sua manifestação por meio de outra coisa. Tal e qual é a água, que em um lago é inaudível mais pode ser ouvida por uma pedra ao cair contra a calma superfície. Assim é também o sabor de todas as coisas sem sabor, a água tem o sabor de cada componente e a vida tem o sabor de cada interpretação, como uma alquimia mágica que se faz entre o que se interpreta e o objeto interpretado.
Quando estou dentro deste silêncio eterno tudo é uma calma e um prazer sem limites. O ressoar melódico como eram descritos os cânticos dos anjos, as trombetas divinas. Olhem ao seu redor e acreditem em mim, mas acreditem apenas um pouco antes de que vocês mesmos possam ver a beleza por vocês mesmos. Quando a mente cala o coração ressoa nesta melodia. Aquele negrume eterno em que todas as faixas de energia por todos os lados por todos os cantos permeia, é a própria capela celestial, é a própria e incomensurável maravilha dos filamentos cósmicos de amor que estão pulsando ao nosso redor. Vejam como, longe de desesperadamente tentar catalogar pode ser sentido uma verdade tão verdadeira que não pode ser negada – que o amor é a fonte de tudo, o amor é a essência e o movimento -, o medo, o ódio, as suas antíteses, mesmo que as antíteses sejam só aparentes, é a estagnação. Eu poderia ainda tentar dizer, sem me aprofundar em balbuciar o incompreensível, que toda e qualquer estagnação é a falta de amor, é a falta do fluir desta energia que só pode ser e é o amor.
O que é a dança se não o amor em movimento:? O que é a música se não o amor cantado? O que são os poemas se não o amor escrito? E as pinturas se não o amor do observador com a habilidade de suas mãos a acariciar o que vem? O amor é tudo que está em movimento, mas não o amor comercial que vemos todos. É o amor que liga a tudo. Não é possível que algo não se ame na profundidade mais profunda que se possa sentir algo. O único amor viável e possível é o amor por si, o amor de si mesmo consigo. E daí brota o amor da mãe pelo filho que viu sair de seu ventre, e ai deveria brotar o amor do verdadeiro vidente, pois se existe algo que se compreender é que sendo tudo parte de tudo, tudo deveria se amar sem condições, se amar e permitir com este amor o fluxo entre todos os corações.
O fluxo é isso, e tudo o contrário do amor é um rompimento do fluxo de todas as coisas. Para sentir isso, temos que chegar apenas ao título do texto: menos medo!
Esta palavra em inglês é um termo fantástico de denominação de nosso grande desafio na vida, o medo. O medo de tantas as coisas, a maioria delas criadas pela nossa própria invenção do pensar. Umas tantas criadas pela invenção do pesar. Pesado é o que não sabe amar, e aquele que não ama teme, e temendo se fecha e se fechando se enclausura separado do todo, e estando separado só pode perecer.
O medo que nos deixa apartados de viver, de sentir, de amar -  mas não o amor posse, o amor entrega, o amor abertura, o amor a tudo e todos de igual forma, permitindo o fluir eterno desta maravilhosa energia que nos cerca.
As vezes olhando todos sinto o amor, e quando o amor brota gera flores de conhecimento, flores de contentamento, pois esta energia que deve fluir é a própria energia do guerreiro viajante, é a única bagagem que ele pode carregar, é a derradeira que ele terá em suas mãos quando a sua morte chegar. O guerreiro ao final de sua jornada, dançando a sua última dança na terra, fará com todo este amor que ele acumulou, com o coração aberto ele receberá mais um aspecto do universo e mostrará que poderá continuar, pois ele entende o fluxo, ele queima neste fogo interior que não é nada senão o amor por tudo...
Se os desafios parecem insuperáveis, devemos enfrentá-los, tendo a cada dia menos medo. Menos medo de sermos como somos. Existem pessoas que passam uma vida escondidas de seus sonhos, uma vida sem declarar o amor a uma pessoa que ama, a vida sem cantar a sua música preferida ou de seguir o caminho que sonhava quando jovem. Quando estamos agindo guiados pelo amor, tudo é possível, o universo se abre e os medos vão diminuindo. O coração faz arder o fogo que nos aquece e que ilumina o nosso caminho. Quanto mais amor mais força tem o guerreiro para prosseguir a sua caminhada cheio até as bordas deste sentimento que o alimenta e sustenta – não existem barreiras para quem ama...
Don Juan dizia que todo o caminho que vale a pena tem coração, e ter coração é ter amor, é sentir a beleza naquela caminhada que se faz, é tratar o mundo como um maravilhoso parque de diversões como fazíamos todos, tão naturalmente, quando éramos crianças. É ser como uma criança amando incondicionalmente, sem medo de errar, de fracassar, de ter medo....
Este tema estava na minha cabeça e comecei a compreender. Em uma jornada que vinha fazendo percebi que tentar enfrentar os medos guerreando com eles é como uma estrada em que sempre que se ultrapassa um carro outro surgirá na frente, sem nunca acabar. Mas quando se faz esta trilha com o coração é como se todas as miragens cessassem.
O caminho do coração é o único possível, estejam certos disso, não há outro. Não querem que acreditem, mas que vivam este caminho. Todos temos essa possibilidade de amar, amar tanto que este amor nos guiará ao nosso verdadeiro destino mágico, amar sem temer, amar sem cessar, amar sem escolher, o guerreiro só tem essa opção na vida: o amor incondicional por tudo que há.
Só quando se conecta com esse verdeiro querer que se permite que o guerreiro manipule o próprio intento, pois o intento é o puro amor do universo em movimento, a chave do grande mestre Juan Matus, o velho Juan Cortez se torna cada vez mais clara em meio a tanto obscurantismo pedante dos pensamentos, o amor é a chave de tudo, o amor nos faz expandir por todos os lados neste infinito, reconhecer a si no outro e assim seguir o fluxo de todas as coisas. O intento é possível de ser chamado quando se abre o coração verdadeiramente para tudo. Chamar o intento só é possível quando se quer algo pelo coração e não pela mente. O coração rege o intento, aquele frio na barriga, aquele pulsar do coração querendo algo verdadeiramente.
A mente deseja e o coração intenta, esta é a grande lição!

Para se querer algo deve-se realmente sentir este querer no coração, e proferir estas palavras como um apaixonado que declama seu amor incondicional, só assim o verbo se torna verdade e a verdade se torna vida...

Intento a todos...

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