O renascimento do ser energético






Quando nascemos, somos paridos, temos o nosso primeiro nascimento. Após a gestação no útero materno, que é a representação máxima do universo, quando adquirimos a nossa evolução em alguns meses – passando de uma simples célula a um peixe, um cordado, um ser aquático e enfim um ser humano. Quando então saímos deste universo materno entramos em um segundo útero materno que é a Terra. Nascemos na pureza da forma humana, regozijamo-nos com todas as coisas da vida de igual forma, não julgamos, não catalogamos, mas vemos tudo puramente como realmente é. Aos poucos, os mestres todos do mundo vão nos “desensinando” sobre a vida. Quando crianças vemos a árvore como um ser mágico que é, imaginamos mundos subindo nesta árvore, respeitamos e brincamos como o fazemos com tudo que nos cerca. Mas aos poucos vão nos falando que a árvore e tudo que há no mundo serve apenas para o ser humano explorar, foi posto aqui para nos servir, para ser objeto de cada um de nós. Aos poucos vão catalogando cada objeto e restringindo a amplitude que temos de percepção de cada coisa no mundo. Quando crianças tudo é um infinito a se descobrir, tudo é um grande mistério insondável que queremos explorar, em cada detalhe, pois tudo é igualmente empolgante, excitante. Aos poucos nos dão as fórmulas para olhar sem explorar, apenas catalogando formas e reduzindo a amplitude de todas as coisas.

O primeiro efeito de “amadurecer” no mundo social, é definhar na amplitude energética de nossa totalidade. Quando maduros estamos ao mundo social, estamos alijados de todo nosso espírito de deslumbramento com o mundo mágico, pois tudo já é catalogado, conhecido, explicado, e o que não é, não deve ser explorado, sob pena de se ser considerado imaturo, um outsider social.

Nascemos com a nossa crosta energética, nosso ovo de luz, muito cristalino. Conseguimos ver por através dele com muita clareza todas as coisas. Se uma criança vê alguma pessoa com uma má intenção, logo chora, reconhece a verdade, o carinho só de ver, pois a criança não enxerga catálogos, não tem ainda sua crosta energética maculada pelos desenhos sociais todos. Com o tempo, com as relações, impregnamos a nossa crosta energética com energia de todos os seres e pessoas que convivemos, com visões de mundo de todos que adaptamos à nossa, com os ditames sociais, com os traumas, com as reduções e catalogações todas, com os amores e dores, e criamos uma nódoa em nossa crosta energética que nos faz ver o mundo sob a ótica das experiências que juntamos ao longo da vida.

Vamos ficando pesados, carregados de coisas, gordos de tudo que não é nosso, com a visão turva daquela ampla realidade, vendo, muitas vezes, apenas o reflexo interno desta crosta de luz, a nossa mente a nos guiar. Vemos muito pouco o mundo externo, percebendo apenas o nosso reflexo, refletindo sobre o passado, sobre o futuro, pois nossa visão está turva quanto ao presente real, este que está aqui, e permanece aqui infinitamente, que sempre esteve.

A consequência disso é um tonal cansado, pessoas que aparentam um grande peso, um cansaço, um enfado constante, uma tristeza ou insatisfação constante. As pessoas aparentam serem seres velhos, para além das aparências. O tonal demonstra a pessoa aquele ser interno preso e cansado. O ovo que deveria servir para amadurecer o ser interno começa a sufocar o ser interno na escuridão, distante da realidade, recluso e sozinho, alijado do mundo. O ser interno, mágico, que deveria amadurecer não consegue ver o mundo que o cerca, e sem a camada cristalina de energia, começa a se enxergar diferente do todo, o EU se amplia e mata a sensação real de que somos iguais a tudo mais. Quando esse ser interno sai para fora, nas noites de sono, ele está bêbado, perdido, não se reconhece como sendo aquele ser completo que ali dorme, quer andar mas não sabe para onde, lembra das visões do ovo sujo, das imagens e as busca durante a noite. Aquele ser está perdido nas lembranças do que o está sonhando, e depois o sonha reforçando as lembranças.
Que coisa louca que acontece. Durante os dias, o ser interno está dormindo, e apenas uma pequena porção de uma energia estranha, escura, pendular comanda o ovo de luz. O ser interno está na prisão de si mesmo, na prisão da história pessoal, na prisão das convenções, na prisão das rotinas perversas da humanidade, a prisão maior que existe é a prisão de si mesmo.
A noite, quando vê uma brecha naquela prisão, a fenda, o ser sai, mas não sabe de onde vem, para onde vai, pode apenas repetir o que ouvir durante seu sono matutino e buscar aquilo, aquelas histórias do passado e projeções do futuro. O ensonho vira o sonho, uma ilusão dentro de uma ilusão, uma prisão dentro de uma prisão.

À medida que se retiram essas camadas de fora do ovo de luz, é que se consegue ver o que está além. Quando começa a dissolução do EU, ou daquele lixo todo emaranhado no ovo de luz, que começa-se a ver o brilho real do mundo lá fora. É belo o mundo lá fora, além das descrições. Quando a luz penetra no ovo de energia, estando este limpo das nódoas da história pessoal, o ser interno, o ser energético desperta e aos poucos começa a tomar o controle do ser total. Com a luz aquele ser interno predador, aquele ser de dominação começa a se afastar, ele não gosta da luz, da liberdade, ele se torna então menor, e menor até que se vai.

Toda esta luta é um retorno à tenra infância, voltando a ser como criança, livre de todas as amarras da história social e pessoal, começa-se então a verdadeira caminhada para liberdade. Com a camada cristalina se percebe idêntico a tudo, e morto o EU a pessoa se torna o TUDO, e estará liberto. A liberdade será sentida como a ausência de amarras, de dor, de desejos, como a entrada em um fluxo interminável de energia, é como aquele prazer de uma criança ao brincar sozinha, que cada um se lembra, o regozijo por algo novo a ser explorado. E então o ser interno volta a amadurecer, e estará pronto quando a morte chegar.

Se o ser energético ficar a vida inteira separado da luz, preso na clausura do EU, da história pessoal, quando a morte lhe chegar ele morrerá, dissolver-se-á assustado com aquele brilho que ele sequer se lembrava.

O primeiro trabalho é recapitular, incessantemente. O trabalho de recapitular é a limpeza deste ovo de luz por dentro. A cada camada tirada a juventude é renovada, anos são rebobinados, a leveza tomará conta deste caminhante, os olhos terão um brilho especial, e todos que estiverem em sua presença sentirão o calor da paz e da iluminação.

Não é trabalho que se finda, a todo dia uma nova nódoa tenta obscurecer nossa crosta de luz, mas a cada dia temos que ter o esmero de limpá-la, de cuidar dela com carinho. Não podemos nos privar de um pedaço que seja da verdadeira visão, não podemos nos apegar um momento que seja ao que não é nosso. A maturação é um processo de milhares de passos, de uma infindável caminhada, mas é um caminho tão belo, tão prazeroso e cheio de amor que não devemos abrir mão dele.

Se no começo da recapitulação não ver a luz, não te desespere, são anos de limpeza para acabar com a merda com a qual foi caiado o nosso ser de luz. São anos de trabalho duro para ver a primeira fiação de luz, são anos de cárcere de um ser mágico dentro de nós, e só o acreditar nessa possibilidade deve já ser a mola propulsora para a nossa primeira limpeza...

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