O tempo da eternidade
A química que
vivemos nesta vida é algo de impressionar. Não falo da química tradicional, me
aproprio do termo sem pedir licença para falar acerca da química energética que
guia todas as nossas ações. Não li isso em livros, tão pouco pela boca de um
igual, tive apenas aquela sensação de um sopro divino sobre isso. Estava a
caminhar por uma tarde qualquer da vida, não tinha sequer uma pretensão que não
a própria caminhada. Era uma tarde ensolarada em casa, quente, realmente
causticante, de forma que caminhar por certo faria bem. Ao sair a primeira
sensação que tive foi do sol escaldante em contato com a pele, mas o vento
fresco soprava como se convidando para entrar pelo mundo afora. Caminhava e
sentia a energia brotando como quando caminhamos em silêncio, um caminhar
revigorante, começava a me mesclar com as ruas, com as árvores, com tudo mais
que tinha ao meu redor. Comecei então a ter aquela compreensão para além da
racionalidade, um entendimento corporal que me invadia as células de todo o meu
corpo. A mente cada vez mais silenciada permitia que eu ouvisse um coração que
não era meu, um ritmo incessante e doce que me acalentava e me convidava a
continuar. Não pensem que era um caminho especial, uma mata fechada – nada disso,
era apenas uma cidade como qualquer outra. Eu olhava ao redor e via as árvores
plantadas por entre asfaltos e concretos e sentia elas olharem para mim.
Inicialmente pensei que eu atraíra a atenção das árvores, ou que elas o
fizeram, mas era só um sentimento profundo de magnetismo e identificação entre
eu e cada uma delas. Era como se alguma parte de mim ficasse sincronizada com
as árvores, conectada, ligada, era algo que me identificava com elas. Olhei ao
redor e percebi que quando me detia em algo e focava a minha atenção neste algo
- seja planta, pedra, bicho -, podia me sentir conectado com aquele algo,
entendê-lo, sentir corporalmente o que em palavras tentamos chamar de
alteridade. Eu não queria chorar por isso, não me sentia emocionado, não me
sentia triste, não me sentia especial ou tão pouco normal, era estranha a
indiferença que eu sentia naquele momento em que eu conseguia ver algo que me
ligava a tudo mais. Para além das palavras que reduzem a infinitude de cada
coisa em objetos consensualmente identificados eu percebia um núcleo que me
fazia ser igual aquilo tudo que me cercava, em um minuto de infinito, que sei
que perdi nas linhas do tempo linear que nos aprisionam, eu senti que era igual
a tudo, eu olhei cada uma daquelas coisas que me cercavam como se fosse igual a
mim, e eram efetivamente, em um ponto para acima e além da racionalidade que me
impediria de tal visão, eu percebi o mundo além das descrições, eu senti o
pulsar dentro de cada coisa que me impelia a pulsar como elas. Era tudo
frequência, um tipo de vibração que não posso firmar em palavras aqui, mas era
como se a minha energia interna ressoasse no ritimo que ressoava o que eu me
conectava.
Percebi então
que tinha chegado à uma praça, era uma praça muito grande e sem nenhuma pessoa,
tinham objetos e coisas todas que tem em qualquer praça ordinária, e ao longe
tinha o sol que estava findando o seu ciclo diário. Os pássaros cantavam como
se despedindo daquele ciclo solar diário, ou quiçá para receber o manto da
noite que chegava, não sei nem me importava. Em pé olhei ao meu redor e vi como
podia sintonizar a minha vibração com tudo que me cercava, aquilo, aquele
instante dentre os instantes de toda a vida foi mágica, sei que tudo é mágica
mas aquela foi percebida, sentida e distanciada de qualquer racionalização que
só agora faço, retornando a ordinária percepção de todas as coisas. Já antecipo
que não me tornei um iluminado por aquilo, não estou tão pouco em posição mais
favorável por aquilo, talvez até mais medíocre, ciente que estou da
incapacidade neste momento de manter aquele sentir.
Lembro em minha
memória de agora, que pode estar deturpada pelo véu da razão a tentar tatear
palavras para completar o que tendo compartilhar aqui, que as árvores me
respondiam, não a dúvidas, sentimentos, afirmações nem nada, elas apenas me
mostravam a chave de sua vibração, me mostravam e se abriam em seu centro comum
ao meu, era assim com tudo que me cercava, desde a formiga que passava até o
sol. Tenho que assumir que não me lembro de tudo, tenho que afirmar que não me
importa do que lembro, e tenho que alertar que não conseguirei interpretar tudo
aquilo. Quiçá alguém que ali passou viu apenas um homem sentado contemplando
uma praça parada em um fim de tarde, não importa tão pouco. Sei que fui jogado
em um negrume por um instante, que sempre esteve aqui ao nosso lado, e que
agora em minha ignorância perceptiva, sim, pois ignoro este negrume, não
consigo perceber. Mas naquela praça, naquele instante que bem poderia se chamar
eternidade eu estive ali e vi como fios saltavam de mim e se juntavam a fios brilhantes
em outros emaranhados de energia. Lembrei de uma teia de aranha, de energia, na
verdade, para ser mais exato, imaginei agora ao tentar focar na cena do
passado, um bando de praianos tecendo uma rede de arrastão, uma tarrafa em uma
praia. Sim, eu estava na praia do mar da eternidade, esta é a melhor ilusão que
posso me apegar.
Sincronização
que era alinhamento, eu senti na hora que estava sendo mostrado para mim o que
era o alinhamento, a conexão que traz a identificação, uma ligação que me
mostrou o que é o universo por um instante, uma trama de incontáveis nós
energéticos. Engraçado pois até lembrei de algo que ouvi uma vez em uma sessão
de ayahuasca, “nós entre nós”, uma dupla interpretação da trama da vida em que
toda forma de consciência é um nó nesta gigantesca trama, nós todos somos nós:
compreendi. Engraçado como uma praça pode se tornar o infinito, como podemos
sonhar em um instante uma realidade cósmica indizível, como podemos em um
instante compreender da forma mais profunda que somos iguais a tudo que existe.
O Espírito
talvez seja isso, pensei, talvez seja o que não consegui ver pois não fui tão
distante, talvez seja, ao olhar de longe, uma maravilhosa trama da qual sejamos
apenas um ponto, um pixel como nesta tela que eu escrevo e que vocês lêem.
Todos talvez sejamos iguais como em um código binário de UNS e ZEROS que se
liguem de forma diferente e que compõem uma tela. E se olharmos bem de longe,
por cima desta trama, quiçá não sejamos um belo botão de rosa de infinitos
pixels de energia buscando a consciência individual e coletiva para enfim fazer
desabrochar a flor?
Voltei em
passos leves, flutuando por tudo mais, contudo, como em um vôo, precisei
pousar, aos poucos as árvores eram apenas o que a palavra diz, tal qual as
pedras, as pessoas, as coisas todas deste mundo, e eu era apenas eu, este traço
separado que precisa ainda dizer, compartilhar, interpretar e traduzir em
palavras só para acalentar a sensação que algo ainda se perde por entre meus
dedos que não cansam de deixar cair a areia do conhecimento por entre eles. Chegando
em casa ainda vi um garotinho, ele, diferente de mim, ainda sorria radiante em
sua pureza, ele rodopiava em frente a minha casa cantarolando uma música inaudível
por mim, por um instante ele parou e me fitou nos olhos, e lá dentro eu vi
aquele brilho que eu vi em todas as coisas. Ele sabia mais que eu, entendia
tudo sem palavreados inúteis e desnecessários, e isso me entristeceu, pois eu
sabia que isso iria durar muito pouco em sua vida, até ser soterrado pelos
entulhos do conhecimento social. Confirmando ouvi seu pai gritar para ele
entrar em casa ao longe quando o menino sorriu e entrou em disparada para a sua
casa, mas antes de entrar ele se virou para mim e disse: - tio, tenho que ir,
não tenho mais tempo...
Sim garotinho,
eu pensei, nenhum de nós temos mais tempo....
Hermano o qu senti foi que entrastes no silencio interior e de lá estava no conhecmento silencioso por isso essa trava em tentar explicar com palavras tuas vis~es .
ResponderExcluir"...era como se a minha energia interna ressoasse no ritmo que ressoava o que eu me conectava." Intento a todos!
ResponderExcluirVocê Viu!
ResponderExcluirRaiugaf (18/08/2016 12:02)
UMA DURA DO NAGUAL (25/08/16)
ResponderExcluirHermano Buenos dias
Na sexta-feira aproveitei a lua-cheia e intentei entrar em contato com o Nagual:
Assim como a consciência intensificada é a porta para o Intento, o Silencio interior é a porta para o Conhecimento Silencioso.
O conhecimento é como um animal selvagem, já lhe disse diversas vezes, o conhecimento só se revela aqueles que o prescrutam com um intento inflexível.
Sei que você não é burro,porém as vezes age com tal.
Caso viesse praticando os passos que lhe transmiti a essa altura já teria perdido a forma humana e poderia até ter acesso ao conhecimento silencioso.
Só se aprende as coisas fazendo e aprendemos através da repetição.
Os não-fazeres causam um tremor no ponto de aglutinação e isso é cumulativo. Assim você está acumulando Poder.
Através do Intento Inflexível praticando aquele não-fazer você estará criando a MOSSA que o conduzirá a seu intento. Entende o que digo?
Quietude,relaxamento,soletude, e concentração são imprescindíveis para a entrada no conhecimento silencioso.
Outra coisa, o conhecimento silencioso é muito parecido com o ensonhar, tem suas armadilhas. Só se entra ali com um um propósito bem delineado, caso contrário o Guerreiro pode perder-se em seus labirintos e até ficar doido de verdade
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Que saudade dos teus escritos!
ResponderExcluirVislumbre do ser que somos
ResponderExcluirObrigado por compartilhar este momento!
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