Os destinos cruzados: a humanidade e o ser individual





Este mundo, esta realidade, esta percepção da vida é um presente, é uma dádiva inestimável. Somos efetivamente, como povo, um bando de afortunados, agraciados pelo Espírito, pelo Infinito. Olhemos ao nosso redor e o quão opulenta é a nossa realidade, como se manifesta a grandiosidade da criação, como resplandece o brilho da grandiosidade magnânima perceptiva. Nós mesmos somos criações belas, uma forma energética protegida e defendida, uma forma encapsulada em ovo, que permite que sejamos protegidos do universo predador e que seja possibilitada a nossa jornada pelo tempo suficiente, nem mais e nem menos, para a nossa evolução nessa jornada energética. Ao nosso redor também reflete-se esta mesma graça. Nascemos em um mundo que nos protege, somos reflexo, aliás, deste mesmo mundo, um reflexo perfeito, tal e qual mãe e filhos. Vejam como é nossa bela Terra, uma redoma de beleza e opulência de recursos, um ambiente totalmente favorável à nossa vida que nos protege de todo o Universo hostil que nos cerca: asteroides, radiação, manchas solares, nos dá uma atmosfera respirável.
Mas tal e qual é a nossa história como humanidade é a nossa história individual, o macro e o micro se refletem não só universalmente, mas também em termos de história da humanidade e história da maioria de cada uma das pessoas que caminha neste mundo. Vejamos como, mesmo nascendo protegidos, em um mundo que tem mais do que suficientes recursos para a vida boa e plena de cada um de nós e de todos os seres que aqui habitam, somos capazes de querer destruir tudo em prol de uma acumulação desmedida de algo artificial e irreal como o capital. Vejamos como somos capazes de fragilizar o ar respirável que nos dá vida em troca de produtos de consumo inventados. Vejamos como somos capazes de matar as nossas árvores, plantas e biodiversidade que nos criam um clima favorável para ter conforto e clima favorável em meras redomas de proteção e de ostentação do individualismo moderno. Relembremos como somos capazes de criar novas tecnologias, alterar os alimentos e a natureza que já nos nutre em prol não de melhor nutrição, mas de mais lucro em nosso dia a dia. Destruímos sob a desculpa de melhorar a vida, mas essa desculpa se verifica cada vez mais falaciosa, na verdade a humanidade destrói para ser melhor que o outro, a guerra é contra o outro imaginário, em ser melhor, em ser mais, em ter mais, em acumular mais, mesmo que para isso seja necessário destruir todo o suficiente. O ser humano não consegue se ver mais como igual mesmo ao seu semelhante humano, quanto mais se ver refletido em qualquer parte da natureza, nos separamos de todo o resto, nos colocamos como civilização como separados, negando toda a natureza que nos cerca, negando a vida simples, negando o natural na criação da artificialidade de vida, que hoje chega ao ápice de permitir que até mesmos as relações interpessoais sejam substituídas por algorítimos de infinitos uns e zeros codificados em informações nesta mesma tela.
Olhando para dentro das pessoas, o que a civilização fez com a bolha de energia maravilhosa que é a Terra, e continua a fazer, é o que cada um faz com sua própria bolha de energia.  A grande maioria das pessoas nasce em perfeição. Um emaranhado de energia agrupado dentro de um ovo de luz que nos protege de todas as agressões externas, uma percepção que pode ser moldada da forma que quisermos, seja para manter-se aqui nesta realidade, seja para viajar para outras realidades, e uma quantidade energética, que por menos que seja, é o suficiente para a nossa passagem por aqui e para a realização do destino mágico que nos é reservado a todos. Contudo, ao invés de seguir o nosso coração, e fazer a jornada perceptiva e de autoconhecimento que nos é reservada, a maioria das pessoas decide, à medida que é domesticada, a seguir escolhas mais fáceis. Poucos são os anarquistas que decidem jogar tudo para o alto, seguir um destino paralelo, ouvir seus próprios impulsos, escutar a voz do Espírito, que à medida que as pessoas amadurecem, se torna uma voz mais distante e inaudita em suas vidas. Destruímos então, individualmente, o nosso ovo de luz tal e qual a civilização destrói a Terra. As pessoas se alimentam de forma pobre, destroem seu corpo com todas as toxicidades possíveis em nome de ganhos imediatos, se entregam ao desperdício energético, aos dramas emocionais, as disputas de egos, à luta por “ser alguém” aos olhos de outrem, mesmo que isso signifique a sua infelicidade consigo mesmo. As pessoas são ensinadas a responderem à expectativas de outros, à ditames da sociedade, à regra da competição diária, à regra do consumo, do hedonismo, da obediência cega e irrefletida, tudo isso para manter um sistema que existe, que dá felicidade artificial, superficial e efêmera. Criam-se necessidades que se realizam e se dissolvem tão rápido que sequer podem ser gozadas, é uma época de gozo precoce e efêmero, onde não se concebe a existência de um estado pleno de realização individual. Neste sistema as pessoas desfocam todas as suas capacidades: mente, corpo, energia – tudo é transformado em soldados do mundo social na manutenção de uma mentira passada de geração em geração, e tal qual as gerações destroem a Terra, as pessoas destroem-se individualmente em suas jornadas, tudo para satisfazer algo que nunca será acalentado com essa busca incessante. O mundo social mantém as pessoas com desejos constantes, criações efêmeras de propagandas criadas e forjadas, tudo isso para manter a energia da pessoa longe da voz do Espírito, e longe desta, sem seguir o verdadeiro caminho de si, a pessoa segue perdida por toda a sua jornada da vida, destruindo-se.
Quem não se preserva preservará o mundo para os que virão amanhã?
Quem não se cuida e tem amor por si terá amor pela Terra que o recebeu e acolheu?
Assim seguem-se gerações em que, como em uma espiral para fora, seguimos cada vez mais distantes do núcleo do “ser integral” e como civilização seguimos cada vez mais distantes da harmonia do ser com a Terra. Distanciando-se do centro cuspimos em todo o presente que foi a composição de energia que nos permitiu estar aqui e agora, nos afastamos do reconhecimento do eu em tudo mais que existe. Ora, se não conseguimos mais nos identificar com as pessoas que nos cercam, que são igual a nós em termos biológicos e energéticos – os seres humanos -, como conseguiremos nos identificar com um animal? Como conseguiremos nos identificar com um vegetal? Como conseguiremos nos identificar com um ser inorgânico? Se desejamos a morte ao semelhante, se não conseguirmos sequer ver da deidade reflexa de nós no outro, como veremos a deidade presente em tudo que há? E na Terra que nos abriga?
Em algum ponto no passado deixamos algo importante, algo de extrema relevância, não podemos manter o dedo apontado a culpar as energias exteriores, aos voladores, à Nova Ordem Mundial, não adianta, a velha máxima ainda é presente e cada vez mais. Todos nós podemos nos lembrar da voz do Espírito que falava alto em nossa infância, que ainda fala se silenciarmos a mente, não é culpa de nenhum ser ou energia que estejamos perdidos como pessoa ou civilização, a culpa, temos que assumir, é de cada um de nós, e o nosso papel, tamanho é o desvio de nossa humanidade, não pode ser maior do que a tutela de nós mesmos neste norte de retorno.
Honre a si mesmo em cada dia, faça cada ato um ato de reverência à sua deidade interior: seu sono, sua alimentação, seu sexo, suas palavras, seu trabalho, faça tudo com devoção ao presente que é ser e estar aqui, isso em si é especial. Faça tudo como um ato de agradecimento à Terra, já sacou que ela que nos protege, nos nutre, nos abriga? Agraciar a Terra é manter esse sentimento de gratidão constante e agraciá-la com pequenos atos anônimos, com o regar de uma planta, com o acariciar, com uma mensagem que ninguém mais ouvirá. Negar a corrente social não é virar um eremita, fugir para as montanhas, é repetir-se a todo dia que tudo que faz em tua vida é um grande teatro necessário para não chamar atenção a si: honre pois seu trabalho fazendo como um teatro, mas que seja uma peça que lhe encha o coração; honre seu dinheiro usando para construir pontes e não construir muros em volta de si; viaje para longe, conheça lugares e pessoas; não acumule posses, não siga correntes, não seja escravo de desejos, abra mão do que a sociedade diz ser o principal e busque o essencial que dita seu coração, e honre sempre seu corpo em tudo que faz, desde a alimentação, o sexo, os exercícios, seja impecável e será implacável em sua jornada, e terá feito o seu papel nesta pequena jornada da vida.

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