O caminho para dentro



O ser humano se organiza em sociedade para a própria sobrevivência, foi um dos termos da evolução humana, a sociedade a coesão de pensamento, um mundo sólido e imutável que restringe as capacidades humanas mas dá uma segurança e escudos perfeitos contra um universo predatório que nos cerca, bem como fazemos com um animal que cremos desamparado, colocamos ele em uma gaiola, em um canil, em uma jaula, acreditando que ali ele perde a sua liberdade mas preserva a sua existência. Lendo Castaneda descobrimos um mundo novo, onde o homem age apenas como ser individual, com um completo universo dentro de si, que adere a possibilidade de se libertar da prisão da realidade mesmo sabendo os perigos que corre, troca a segurança de sua cela pela liberdade perceptiva e mágica, troca a segurança ilusória pela real natureza do homem. As suas buscas se resumem a uma busca interior pelo poder, para então conseguir empreender uma viagem mágica perceptiva pelo universo. Hoje o homem conhece as estrelas mas ainda começa a engatinhar na descoberta do DNA humano. Engatinha ainda nas novas descobertas da metafísica, que colocam o homem mais perto de sua essência divina, bem como tudo mais que existe no universo. Cria máquinas que são apenas extensões de seus sentidos, telefones que o fazem escutar a distância, máquinas que multiplicam a força humana, outras que permite o homem ver a distância, todas extensões puras e simples de seus sentidos, aproximando o homem de poderes de antigos Deuses de sua existência.

Imaginem, se o homem, como tudo mais que existe veio de uma única fonte, Deus, tudo no universo deve conter uma pequena fagulha que seja desta fonte, acessar essa fagulha mágica que a tudo permeia é o que penso ser o cerne dos que buscam a liberdade. Mas o que quero chegar é a esse ponto, o que poderemos acessar quando atingirmos essa fagulha, essa essência divina que existe em nós? E ainda, como acessar essa fagulha?

Ainda, seguindo essa premissa, temos que todos os seres tem essa mesma fagulha dentro de si, e extrapolando ainda a minha suposição anterior, como se conectam essas partes, essas fagulhas soltas espalhadas em todos os planos, em todo o universo? Seria a conexão da consciência de todas essas fagulhas a expressão mais pura do que seria Deus, a fonte de tudo, que se conecta a tudo e a toda a existência, que deve nos falar, e digo por experiência nos fala a todo instante mas é constantemente sobrepujada pela voz de nossa mente contraditória e burra.

Não falo só em seres vivos, seres orgânicos, falo dos planetas, dos seres inorgânicos e do que não temos palavras para descrever. Como atingirmos essa conexão universal, essa parte mágica que nos cabe a cada um de nós. Não sei como acessar, e sei que quando experimentar essa conexão não conseguirei expressá-la com palavras, mas sei que a busca para fora é a forma errada de procurar. Não conseguimos nos conhecer porque não buscamos em nosso interior, buscamos no exterior, então já sabemos a primeira parte, o primeiro passo na busca, ou seja, caminhar para dentro. E sobre as ferramentas para a busca? Quais seriam? Não imagino outras ferramentas se não as que dispomos por nós mesmos. O nosso corpo perfeito e as ferramentas, tanto as que vemos quanto as que não podemos ver de imediato. Temos a todas elas, e consigo ver a ignorância humana quando vejo alguém pedindo a Deus força para uma empreitada, sabedoria para passar em um concurso e outros tolos pedidos, pois Deus já deu, a Fonte o Espírito já nos forneceu todo o necessário para qualquer empreitada que queiramos realizar em nossa existência, mesmo que essa empreitada sejam as mais burras e ilusórias, como dinheiro, poder, mulheres e iates.

Eu particularmente utilizo hoje de duas ferramentas essenciais, quais sejam a recapitulação e o sonhar. Não sei se são as ferramentas mais eficientes nessa busca que me propus, mas acredito que possam ser a fagulha que me ascenderá para o caminho de dentro.

Na recapitulação aprendo a me conhecer, aprendo a forma que utilizo a minha energia ao longo dos tempos, ao longo de meu caminho e readequar a mesma a fim de ajustá-la a um uso que seja mais eficiente. Com ela, como descrevo em um outro texto aqui nesse blog, vejo a mesmerização de meu comportamento ao longo de minha existência, me transformando em uma cópia incessante e chata de mim mesmo por toda uma existência.

No sonhar me disponho a navegar pelo desconhecido, pelos mundos fantásticos que meu corpo podem vislumbrar. No sonhar me solto de certas amarras impostas pela atenção cotidiana, por esta que o homem criou e o aprisiona no mundo das descrições ordinárias vejo outras realidades possíveis e outros mundos acessíveis, com o sonho descubro que o que vivemos não passa de um grande sonho, mais sólido e duradouro, contudo um sonho, compartilhado por toda a nossa civilização.

Com essa visão que proponho aqui, não existe um mundo de bem e mal, existe apenas um mundo onde todos os seres vem de uma mesma fonte, possuem um mesmo cerne, e vivem em uma mesma busca, sendo o centro de tudo a energia, a energia que precisamos para seguir no caminho até essa descoberta, até o encontro com sua essência mágica, com as possibilidades que temos dentro de cada um de nós e para essa caminhada, basta apenas uma coisa, a decisão de começar a caminhar.

Comentários

  1. O texto vem ao encontro do tema que vem me rondando há tempos: recapitulação; sonhos! Gaivota 25/03/14 21h15

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