Remodelando o ovo luminoso

Por alguns dias deixei este blog por uma missão que se estende e se estenderá pelo tempo de minha vida, não sei quanto tempo, e nem mesmo tenho interesse em saber, mas é o tempo que levará a tarefa. Contudo, a tarefa se resumirá agora, pelo menos por um tempo, a minha pessoalidade. A recapitulação foi assunto recorrente de muitos posts por aqui, não sem sentido, e nem sem motivo tão pouco, os temas no caminho do guerreiro dependem de uma saturação de nossa mente ordinária, para apenas depois penetrarem de forma mais profunda em nossa totalidade energética. Em geral, a saturação da mente é o primeiro passo, é a fresta que nos leva a entrar derradeiramente na porta que está a nossa frente.

Então, caros amigos, levado pelo vento da recapitulação, sendo esvaziado de minhas lembranças vãs de meu passado e ao mesmo tempo sendo inundado de energia que as coisas vão se formando. Olhar o passado, presenciar o que fomos, é o primeiro passo para entender de que forma dá-se a caminhada de um verdadeiro guerreiro. Nós guerreiros não tocamos o mundo e nem nos deixamos ser tocado por ele. E aqui coloco a palavra mundo referindo-se ao mundo social, ao mundo de nossas interações na primeira atenção. Eu estava em uma meditação profunda, fruto do avançado exercício de recapitular, entrando nos portões do sonhar, recapitulando na segunda atenção, então que a medida que o véu se descortinou a frente de meus olhos, lembrança após lembrança, entendi como o homem faz sua jornada pelo mundo.

O nagual então apareceu para mim, e me falou que eu já sabia o que era a leveza do guerreiro e que este era um tema de extrema relevância na caminhada. Lembro-me de suas palavras dizendo:

- Não adianta apagar as suas pegadas, se continuará a andar pela mesma areia da vida, apagar as pegadas é um passo importante, mas deve vir junto com a capacidade de modificar o peso de seus passos na caminhada que você faz.

Lembro-me que na cena inusitada eu estava em uma lembrança qualquer de meu passado, apagando os arquivos, limpando as pegadas, repentinamente apareceu a cena, o nagual veio rodopiando, com uma dança estranha, e senti no meio de meu corpo essas palavras que repito a vocês. Logicamente podem não ser as palavras exatas, mas garanto o sentido, e o que nos faz pensar.

Vi durante as lembranças que precederam o encontro e as que sucederam o quão tocamos de forma pesada o mundo, de forma egoísta, no sentido literal da palavra, guiados pelo ego. Tentamos manipular a tudo e a todos como se fosse a nossa imagem e semelhança. Queremos que o mundo se adapte ao que é o nosso ego, ao que é a nossa mente social. Não conseguimos ver as pessoas agindo por elas mesmas, sempre comparamos, conjecturamos que seja em nossa mente, com críticas, sempre opinando, em silêncio ou em alto brado o que deveria ser mudado, e como nós mesmo procederíamos nesta ou naquela situação. Os exemplos são tantos, na criação dos filhos, nos relacionamentos amorosos, nas famílias, nas amizades, no trabalho, em todas as nuances do mundo social somos inevitavelmente assim, todos iguais, todos colocando seu ego como molde e tentando fazer com que tudo mais seja exatamente igual ao que nosso ego dita como sendo a regra.

Mas existe um problema grandioso com esta atitude. Primeiramente é o gasto simples da energia que temos a nossa disposição. Em contraste com o guerreiro que não se mete se não com assuntos seus e de sua caminhada, além das indicações que o espírito lhe dá, o homem comum tende a modificar tudo que o cerca, tudo e todos. Ele corrige as palavras dos que o cercam, ele modifica o comportamento, ele força mudanças de atitude, sempre pensando ser esta a melhor forma de caminhar. Mas sendo assim, somos apenas carroças guiadas pelo charreteiro ego, no caminho que inevitavelmente nos levará para o abismo, no caminho mais tortuoso que podemos seguir. Além do gasto energético que temos em tentar modificar as pessoas, situações, temos a perda de filamentos energéticos, que ficam agarrados ao ovo luminosos daqueles que concentramos a nossa energia na tentativa de modificar.

Quando falamos a uma pessoa que ele deve agir assim ou assado, direcionamos as nossas fibras luminosas para aquele intento, o que impregna o ovo luminoso daquela pessoa com nossas fibras. Desta forma, com a mesclagem de fibras luminosas, a pessoa fica mais parecida conosco, e nós amarrados aquela pessoa por um tempo indefinido. Assim, ficamos com a lembrança das pessoas em nossas memórias, nos amarrando a um relacionamento ou a um passado, na forma que percebemos como um sentimento, de saudade, de amor, de desejo ou até de ódio e aversão. Quando nos ligamos emocionalmente com uma pessoa, quando amarramos nossas fibras na pessoa, no lugar, no evento, nos conectamos aquilo, de forma que, apenas nos desamarramos quando recapitulamos e recuperamos a nossa fibra.

Aliás, voltando ao velho tema, a recapitulação é exatamente isso, buscar as nossas fibras que ficaram presas, a pessoas, a eventos, a lugares e libertando as energias de outras que estavam impregnadas em nosso ovo luminoso.

Por isso o Nagual falou que não adianta recapitular se não modificarmos a nossa caminhada. Havemos de nos posicionar, nas relações, em uma postura de humildade, onde não imporemos nada a ninguém e nem aceitaremos imposições, desta forma pairando sobre as situações. Caminhar impecavelmente é isso, é dar o melhor de si, apenas o melhor de si, não comparando-se a outrem, não disputando postos. A disputa maior acontece dentro de nós mesmos, com o nosso próprio ego. Apenas adormecendo o demônio que é o próprio ego encontramos a nossa verdadeira mente.

Existe então, caros caminhantes, uma necessidade imperiosa para o guerreiro, a necessidade de atentar-se a todos os momentos, estar consciente. Consciente de nossos momentos, de nossa caminhada, despertos, desta forma e apenas desta, conseguimos ver as investidas de nosso ego na tentativa de deixar a sua marca pelo mundo. O ego tentará de qualquer forma ser percebido por todos, é ele quem quer ser o ator principal de todas as ações. O ego sabe ser mortal, sabe que, independente do destino que levarmos, se for a liberdade ou o retorno a águia, de qualquer forma ele vai ser consumido no momento de nossa morte, pois ele não é nada além da ilusão maior que ergue o nosso mundo conhecido. Desta forma o ego quer eternizar-se, quer multiplicar-se, que deixar a sua marca no mundo, as  suas mãos na calçada da fama, e ele usará de todos os métodos possíveis para isso.
Quando recapitulamos, além de nos libertar de energias que nos prendem a pessoas, eventos, lugares, libertamos também as pessoas das lembranças que tem conosco. Inconscientemente somos esquecidos pelas pessoas, da mesma forma que as esquecemos, em termos de energia. Não apagaremos as lembranças, lógico, não é a recapitulação um tratamento de lobotomia, mas apagaremos os vestígios energéticos que nos fazem prisioneiros daquelas situações, que nos fazem lembrar de lugares quando ouvimos músicas, que nos fazem lembrar de romances antigos, situações que nos fazem sentir ódio ou amor, mesmo ocorridas há tempos distantes. Recapitular é a ação que nos ajuda a faxinar a nossa casa, jogando o lixo dispensável para fora.

Mas é necessário que tenhamos a disciplina, e usemos a nossa energia recém retornada para mudar os nossos hábitos. Recapitular é realinhar o nosso passado, limpar a história pessoal, mas em paralelo, devemos por obrigação mudar os nossa hábitos diários. E quando falo em hábitos, falo em toda uma série intrincada que nos faz pensar que somos o que somos. E querem saber de uma verdade, não somos nada! Não se assuntem com a afirmação, realmente não somos nada até descobrir o que somos de fato. Apesar de contraditória a frase a um primeiro momento, é uma frase que só pode e só será compreendida quando tivermos a energia suficiente para entende-la, assim são os fatos energéticos, contraditórios até que tenhamos energia para o esclarecimento. Mas explico, tudo que pensamos ser é o nosso ego na verdade.  Pensamos ser o nosso nome, a nossa forma de vestir, o nosso jeito de andar, nossa forma de lidar com os outros, nossa alimentação, mas tudo não passa de uma projeção de nosso ego para que sejamos percebidos pelos outros. Desta forma, mudar os hábitos é um exercício de destronar o ego, e nos fazer entender que o que somos não é nada, além da uma lista de descrições em um caderno.

Este é um exercício magnífico então que temos em nossas mãos. Toda vez que tentarmos mudar alguém, seja porque motivo for, respiremos um pouco e mudamos nós o que nos fez pensar que somos superiores o suficiente para poder mudar alguém. Quando formos criticar alguém por algo que não concordamos, vamos mudar o que nos deixa tão certo de estarmos certos e vamos fazer uma vez errado. Isso é espreita, e espreitar é um exercício que deve andar em paralelo com a recapitulação, que não é nada mais que a espreita de nós mesmos. Espreitar nossos hábitos é uma forma de controlar o nosso ego e mudarmos a posição do jogo, de controlados para os que controlam e controlando o ego deixamos ele para o que precisamos, nada.

Caros caminhantes, desta forma, espero que a mensagem que serviu a mim de reflexão sirva a vocês igualmente, que o caminho que traçamos não deixe pegadas, caminhando suavemente pela vida, mantendo a nossa energia e a dos outros intactas em nossas relações. Não levamos nada na caminhada porque já temos tudo que precisamos, a nossa integridade energética e a nossa consciência de que nosso destino é a liberdade, e chegando ou não a ela, caminharemos impecavelmente até o último dia de nossas vidas nesta terra.

Intento a todos!

Exercícios para ajudar a modificar o hábito e recapitular

Então, caros amigos, por fim deixo aqui uma forma magnífica de espreitar os hábitos e modificar certos pensamentos e em paralelo controlar a sua recapitulação, é um exercício prático que funciona muito bem para mim, e que talvez funcione para vocês. Ele partiu de um exercício passado no livro de Victor Sanchez, “Os ensinamentos de Don Carlos” e aqui o reproduzo, com as devidas alterações para os propósitos pleiteados por nós, caminhantes.

Façam uma lista com três colunas em um pequeno caderno de bolso. De tempos em tempos, anote no caderno o que está pensando, o que está fazendo e o que gostaria de estar fazendo. Ao final de cada dia analise o que fez durante o dia, no que pensou, o que desejava fazer, aproveite e recapitule o seu dia. Com este exercício você basicamente limpará a sua agenda diária, recuperando a energia do dia, lembrando-se de executar as respirações quando recapitular, basicamente inalando para recuperar energia e exalando para devolver.

No segundo exercício, que deve andar em paralelo com o primeiro, anote no caderno, de tempos em tempos durante seu dia, os momentos em que algo te transportou para alguma lembrança do passado, desde um passado recente até o mais remoto. Pontue no final do dia aquelas lembranças e faça uma profunda recapitulação sobre elas, até exaurir-se ou até ser puxado para dentro da lembrança.

No terceiro exercício, no mesmo caderno anote os sonhos que teve durante a noite, mas anote apenas os sonhos que tem relação com alguma coisa de seu passado, faça isso logo pela manhã, de preferência antes das outras pessoas de sua casa acordarem. Imediatamente após anotar o sonho e relacioná-lo com a lembrança do passado, recapitule o evento do passado ao qual o sonho o remeteu. Finalize o exercício queimando aquela folha de papel, ou simplesmente a rasgando e jogando em seu lixo, o efeito deste pequeno ritual simbólico e a representação de que seu passado se foi, assim como aquela folha rasgada ou queimada. O caderno dos exercícios anteriores pode ser queimado ou jogado fora após completar os exercícios.