Reivindicando a posse de seu eu - o domínio do guerreiro

Recentemente em nossa último texto aqui neste blog, discutíamos essencialmente o que somos, de uma forma superficial, de uma forma quase que intuitiva, mas agora volto a colocar algumas pontuações sobre o tema, de forma a clarear algo que havia sido obscurecido pelo meu questionamento aqui. Tudo que obscurece-se, determina inevitavelmente que será precedido da luz, essa é a inevitável sequência de eventos no universo, tal qual reproduz-se na parcela ínfima das comunicações que nos permite tal diálogo aqui, uma sucessão infinita de escuros precedidos de claros, de zeros e de uns, o universo dual, não como combatente, mas como complementar, edificando a própria estrutura da vida.

Somos tudo que temos, e temos tudo que somos. A coisa é simples desta maneira, mais simples que pensaríamos, como todo grande mistério, escondido diante da simplicidade do próprio teorema da vida, viver. O velho nagual, Don Juan, havia explicado isso inúmeras e inúmeras vezes, sem que sequer nenhum de nós se apercebesse do fato, pois fato simples não cabe a nossa tão intrépida inteligência. O velho cá e lá falava, repetia-se: - tudo que precisamos está dentro de nós, não precisamos de bagagens. Outras feitas tantas falava: - todo lugar é igual, basta que andemos cem metros. E tantas outras frases que explicam a essência de tudo, que se resume a nós, no axioma básico que diz que o que está fora é como o que está dentro, ou o que está encima é como o que está embaixo.

Dedilhei este conhecimento hoje por todo o dia, sem entender. Passamos por dias ruins, dias bons, por dias que consideramos de sorte, de azar, de força e de fraqueza. Passamos pela riqueza de dias fartos, pela regração de dias piores, por almoços regados a vinhos caros, a lagostas assadas, e por dias de pão e com sorte ovo. Nos mudamos para lugares que parecem impérios, para outros que se parecem masmorras, vestidos com veludos dourados ou com pele de cachorros, mas esquecemos que tudo que está fora de nós, são apenas cascas que se sobrepõem a algo que nunca muda em sua essência, nós mesmos.

Somos sempre assim, recapitular nos mostra isso. Somos o que somos, lá dentro, debaixo da lã persa ou do casaco surrado, nos dias de festa, ou nos dias de claustro, nas cidades de pedra ou nas florestas cheia de prado. Somos e ponto, é apenas isso, é simples, é a chave, é o início e o fim de todo o mistério, ser e ponto.

Apenas quando entendemos que o que devemos fortalecer é o nosso ser, e não o nosso ter, e não o nosso sentir, entendemos como caminhar. O homem hodierno edifica-se de fora para fora, quando muito de fora para dentro, deixando o dentro para o final de sua vida, quando nem lhe restar tempo. Mas esquece-se do que sabia quando tão tenra era a sua infância, que somos nada mais que uma bola incandescente de luz, que transvestimos neste corpo que vemos, por mero deleite funcional da sociedade em que vivemos. Estamos estagnados, mas viajantes somos, e para viajantes, para caminhantes nada importa tanto que algumas coisas, todas elas em seu interior: as suas pernas e pés, pois é necessário caminhar; os seus olhos e ouvidos e narizes e tatos, pois é necessário observar; a sua mente (a sua mesmo e não a da besta) pois é necessário tonalizar; e as suas mãos, pois é necessário tocar. O resto amigos, é o resto, é apenas a tela do infinito filme que nós, como exploradores do infinito viemos para nos conscientizar.

Temos tudo que precisamos, e ao mesmo tempo, tudo que temos é o que precisamos fortalecer. Mas esquecendo disso começamos a tentar tocar o mundo, deixar a nossa pegada, construir palácios, escolher moradas, selecionar comidas, desejar, desejar, edificar e edificar. Para quê homem mortal, que desejar edificar algo além do que pode conservar-se além deste mundo? Construir palácios, achar que um lugar é diferente de outro, um mais belo, outro mais confortável, outro isso e tantos aquilos, é apegar-se ao mundo. Todos lugar é igual, basta olharmos com o verdadeiro olho do guerreiro viajante, o que assume a responsabilidade de sua morte. Olhem agora para o lado, estejamos aqui, ou nos confins mais distantes do universo, ao nosso redor circula energia, as emanações da águia, ou como queira, circula a nossa própria essência em fatores infinitamente maiores que nós mesmos. Não importa que estejamos no Japão, não importa que estejamos no Sertão, tudo é igual, as possibilidades são as mesmas, a mágica é a mesma, e a paisagem será, inegavelmente igual para quem consegue ver de verdade, e não enxergar o catálogo social de nossa construção.

As linhas de energia estão por todos os lados, cada pessoa é uma bola de luz, tudo é energia, encerrada em alguma forma específica. Existem energias mais fracas, exauridas, outras mais fortes, pulsantes, mas todas energias, olhe as pessoas assim e comece a rir dos que dizem que somos diferentes, somos todos iguais, o resto é lapidação da energia bruta que recebemos. Quando entendemos isso entendemos porque o amor é uma farsa aprisionante. Como amar algo se tudo é igual? E ai vem os budistas responderem, amem a tudo e não amarão nada.

E assim eu poderia seguir indefinidamente por definições, mas não vou fazê-lo, é tarde, tenho que recapitular, e tenho mundos a explorar sonhando, tenho que viajar, esse é o nosso destino. Então finalizo com uma proposta para agir e não para pensar: o homem não toca nada em toda a sua vida, ele constrói um casulo que chama de minha vida, cerca-se de coisas, edifica castelos, eternos, duráveis, mas por dentro apodrece por fata de uso. O homem definha por não querer conhecer-se, por não querer utilizar-se, por não querer desfrutar de toda a mágica que tenha. Desta feita, cada um de nós, livres de críticas, de baboseiras da auto importância, vamos fazer nestes dias uma auto crítica e auto analise, não como a dos psicólogos: vamos sentar e dar um tempo para nós mesmos, vamos dar uma revisada em nossa vida e ver o que, passado o tempo do nosso passado, o que ficou. Vamos nos encontrar lá no fundo de todo o lixo que construímos ou construíram em torno de nós e nos encontrando vamos nos explorar. Vamos sentir o campo de luz, a energia que somos além dos braços, pernas, vamos ver o mundo de olhos fechados, vamos nos estender ao infinito que somos nós, para todos os lados, indefinidamente, nos perder em nós mesmos por um instante, que seja. Apenas isso. Vamos dar um presente a nós mesmos, nos abraçando a nossa energia, livres de tudo, como nascemos e como partiremos, vamos dar o nosso primeiro salto, o salto para dentro, o salto para a profundidade do que somos, e deixemos as dúvidas para trás, pois como guerreiros não suplicamos respostas, poderes, reivindicamos o que é nosso e nada além, e o que é nosso amigos, digo com toda certeza, É UM MAR INFINITO DE POSSIBILIDADES.

ENTÃO MERGULHEM, DESCUBRAM, INTENTEM, REIVINDIQUEM A POSSE DO SEU EU!

INTENTO.