O reinado da consciência - o poder do presente.




Só existe uma possibilidade de estarmos cientes dos sinais dados pelo espírito, estando presentes, estando no agora, não existe outra possibilidade. A nossa vida é um emaranhado, um novelo embaralhado de vários tipos de linhas, de vários tipos de energia, a maioria que se apresenta em nossa visível personalidade não são energias nossas, são energias de professores que tivemos por toda a vida, não importa o tamanho da vida de cada um de nós. Desfazer o novelo é o primeiro passo para encontrar-se, mas não o único, e não caminha sozinho. Não é apenas recapitulando que emergimos deste emaranhado de energias outras que fazem que sejamos o que achamos que somos, algo muito maior existe por detrás disto. Em paralelo ao trabalho de recapitulação é muito importante que nos aloquemos, nos foquemos sempre no momento presente. Este tema já foi assunto redundante aqui neste palco de diálogos de guerreiros, mas não importa o quanto falamos, nunca vai ser suficiente. Estar presente no agora é a mágica que nos conecta a tudo, mas para estarmos totalmente aqui, não podemos simplesmente jogar o nosso passado por debaixo de um tapete, para dentro de um armário, estar aqui e agora, aqui e aqui é algo que depende de uma série de fatores, dentre eles, o primeiro, desfazer-se de todo o passado, e a isto damos o nome de recapitulação.
Contudo, caros amigos, somos homens, e claudicamos pelo hábito, não um hábito de uma vida apenas, não os nossos hábitos apenas, mas os hábitos do homem como civilização. Como hábito a nossa civilização ergueu-se encima de uma rotina um tanto quanto egóica, de identificarmos o nosso eu com a nossa mente, e ai reside a nossa prisão. A mente em si não existe no agora, a mente existe apenas no passado e no futuro, a mente pensa, problematiza, elucubra, compara, mede, da nomes, critica, a mente nos prende a um infinito jogo interno que nos leva indefinidamente para longe do agora. Me peguei aturdido quando comecei a ler um livro de Eckhart Tolle sobre o Poder do Agora, ele dizia mais ou menos isso que digo e venho martelando e achei isso fantástico. A mente nos prende em comparações, em sonhos em lembranças, sempre nos tira do agora, pois diante do agora o que emerge é a presença da consciência, e a consciência afasta qualquer resquício do eu, do ego. Contudo somos ensinados como civilização a manter o passado como nossa identidade, comumente ouvimos alguém dizer: “somos o produto de nosso passado.” Ou frases com o mesmo sentido, e a mesma ignorância. Não somos o nosso passado, pois o passado não existe, tão pouco somos os nossos sonhos, pois eles são fantasias da mente, ambos, passado e futuro são fantasmas que roubam a nossa energia diariamente, são os voladores em plena atividade, coadunados por nós mesmos, ou o que achamos ser nós.
O trabalho inicial consiste então em recapitular, conforme vimos, e concentrar-se no momento presente. Este é o primeiro passo para silenciar a mente superficial e abrir espaço para a mente profunda. Não existe nada além do agora, fala Tolle em seu livro, o agora é o momento único de existência, existe apenas um agora que entender-se-á eternamente enquanto durarmos, o agora é tudo que precisamos, é tudo que temos, é tudo que podemos. Don Juan dizia para Castaneda, quando revelou a ele o maior segredo que dizia existir, ele falava que estamos cercados pelo infinito e podemos nos estender até ele para qualquer direção, e isso foi uma metáfora magnífica daquele velho índio sábio para dizer que o agora é o infinito, o presente, mais nada existe, nada além da mente, nos dividindo em milhões de fragmentos, entre lembranças, sonhos, comparações, desejos, coisas que não existem, coisas que apenas servem ao propósito de nos exaurir.
Quando compreendemos isso, não a nível intelectual, mas em um nível profundo, percebemos que o espírito só reside no hoje, no agora, onde estamos. Apenas aqui podemos estar conectados, apenas aqui acontece a mágica, qualquer mágica, apenas aqui realizamos o milagre da percepção pura, basta apenas que estejamos aqui por completo, para então perceber por completo. Apenas quem caminha nesta tênue linha, no fio da navalha do presente que consegue perceber o espírito.  Viver aqui é viver o espírito, é ver o universo em sua matemática, em sua orquestra da vida. Viver aqui, estar totalmente aqui é ser você mesmo, e diante da presença de você no aqui, no agora, não existe mente, existe apenas o silêncio da consciência, apenas o deleite da percepção pura, apenas o tudo, o infinito.
Então neste sentido, comecei a perceber que como o silêncio, a presença no presente é algo que acumulamos, pouco a pouco. Lembro-me de ter lido nos suttas budistas muita coisa sobre os exercícios de consciência no presente, exercícios em que nos concentramos na respiração, nos pensamentos, nos colocamos como observadores, como o que realmente somos, como a nossa real natureza, no agora, e assim transformamos a nossa vida, esta é a mais pura verdade. Quando iniciamos a jornada do presente, do agora, percebemos o quanto vivemos presos em pensamentos, eles a todo momento nos atacam. Percebemos o quanto somos presos aos sonhos e planos do futuro. Nos pegamos pensando em dias melhores amanhã, comparando momentos com o passado, nos pegamos comparando, catalogando, medindo e pesando pessoas gestos, e vemos o quanto deixamos de ver o momento. O pensamento, a razão, que é originalmente apenas uma ferramenta do homem, tornou-se o seu algoz, dominando o todo. A mente domina o corpo, a matéria, a nossa totalidade, e o que ela não consegue dominar ela deixa apagado, longe de nossas possibilidades, a mente mente, esta é a verdade, ela mente para manter-se no trono, e o seu cão de guarda é o ego, feroz, vigilante, sempre atento, pesando e medindo, protegendo o trono forte de nossa mente.
Mas aos poucos a pessoa que busca a presença no agora, percebe que vai aumentando o tempo que consegue estar aqui. Começa a ver os pensamentos diminuírem a força, diminuírem a intensidade, o ego vai se tornando o que é, nada. Não somos nada, pelo menos nada do que fomos criados para pensar que somos, e este é o problema, a obsessão em pensar sempre. A mente deve ser a ferramenta que é, a ferramenta da razão, e não a guia da nossa totalidade. Aos poucos o guerreiro que recapitula desprende-se de seu passado e começa a ter mais de si no agora, estando no agora, começa a desligar o piloto automático da mente e perceber a vida, e a despertar, a ter consciência, esse é o verdadeiro nascer do homem, que tem o seu corolário no momento que Castaneda chamava de “perder a forma humana”.
Qual é o sentido da “expressão perder a forma humana”? Caso alguém já tenha tentado descobrir, não significa que viramos monstros, ou fantasmas, ou coisas diferentes dos homens, significa apenas que saímos do molde do homem, dominado pela mente e identificado pelo ego. Por isso sempre preferi a expressão volta a forma humana, pois exatamente quando conseguimos dominar a mente pela consciência, exatamente quando consolidamos a nossa presença no agora caem todas as máscaras do mundo, e este é o ponto culminante do guerreiro, o ponto máximo de onde sua energia está totalmente disponível para os feitos mágicos e maravilhosos que ele pode alcançar, é um momento de graça, de luz, onde o véu de maia, que nos faz pensar na realidade como sólida e imutável caia.
O véu do mundo é o que nos faz ter sonhos, acreditar no futuro, ter medo, pensar e relembrar o passado, só assim o nosso mundo, da forma que é hoje pode se sustentar. O mundo é uma invenção tola, uma mentira repetida um zilhão de vezes, em que todos acreditamos. O nosso mundo se sustenta em mentiras, o dinheiro é uma mentira, o ego é uma mentira, duas das mentiras que são os pilares de sustentação do nosso mundo de hoje. Por conta do dinheiro pessoas morrem, matam, o dinheiro em nosso mundo representa poder, o dinheiro é o braço forte do ego, e o ego é o braço forte da mente, desta feita, a mente não é nada além do cerne de nosso mundo atual. Vivemos presos ao futuro porque nos ensina que a esperança está em dias melhores, nunca estamos satisfeitos porque nunca vivemos no hoje, no presente, sempre vivemos em sonhos, olhe para o seu lado, conhece alguém satisfeito, conhece alguém presente, no agora, no hoje. Abra a boca e faça o teste, a esmagadora maioria das conversas são sobre projeções futuras, sobre o passado, nunca se está aqui, o hoje, o agora só se torna presente em nossas vida amanhã, depois, nunca agora. Sinta a sua respiração agora, seu corpo, olhe ao seu redor, a mágica do mundo está se revelando a sua frente, seja em um objeto, seja na sua respiração, aquiete a mente por um segundo que seja e respire, o hoje é pleno, é perfeito, é tudo que temos, não existem problemas no hoje, não existem comparações, não existe tristeza, o hoje é a força do universo se manifestando em sua totalidade para nós, só basta que estejamos completos para perceber, e podemos perceber.
Apenas a luz de nossa consciência pode nos revelar o verdadeiro mundo, e isso não pode acontecer amanhã, não pode ter acontecido ontem, só pode ser feito agora. Peço aos guerreiros que aqui estão que se levantem, deliguem seus computadores, respirem, sintam-se vivos, reivindiquem a sua totalidade agora, já, só existe este momento para a mudança, percebam isso, abandonem-se no agora, completamente e sintam mais uma vez na vida o que é ser completo.

Intento a todos.

Comentários

  1. Hermano Vento e Guerreros Buenos dias
    Hermano li o texto umas três vezes, ou mais, como sempre faço.
    Tocastes numa palavra mágica "CONCENTRAÇÃO".
    Os obscuros, sombrios, ou qualquer outro nome, tem "um calcanhar de Aqiiles", pois, como D.Juan dizia, não tem a minima concentração. Por isso vivem jogando com nossa mente, como numa partida de tenis, de um lado o "passado" e do outro o "futuro".
    Vivemos nesse joguete nos esqueçendo do presente, do aqui-e-agora.
    Concentração e Disciplina são as maiores armas para afastarmos essa mente alienigena.
    Darion 08:27 16/07/2012
    * * *

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  2. Guerreiros são são homens de razão pois são extremanete pragmáticos. Filósofos é que e intelectuais é que são homens de racionalidade.
    Darion

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  3. Esse conceito de aqui e agora esta muito banalizado. Vejo muitas pessoas falando , o importante é o agora, estar aqui e agora e etc.
    Mas é bom ressaltar que é algo difícil focalizar a atenção no aqui e agora, como disse Darion a concentração é a chave, uma ótima maneira de treinar essa canalização é a contemplação, que nada mais é que um exercício para a segunda atenção, a atenção do nagual.

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    1. Leonardo devemos estar cientes de algo, profundo e que rompe com nossos preconceitos: se o tema está banalizando-se significa que de uma forma ou de outra o tema está sendo discutido, e isso pode levar a difusão de pelo menos uma centelha que nos leve a este momento, o agora, quem sabe isso não seja necessário para a nossa evolução como raça?
      Mas é de suma importância o que você e Dárion falaram, a concentração, e mais ainda, a atenção plena no que fazemos, isso é impecabilidade e a impecabilidade está diretamente ligada ao agora, ao momento presente. Quando nos concentramos no que fazemos, o que seja, nos concentramos no agora, e isso é ser impecável, pois é utilizar o nosso máximo sem divagar.

      Intento amigo

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  4. Gratidão hermano por um texto tão consciente... compartilhei em meu blog.

    No intento.

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  5. Contemplar era uma das facetas mais incríveis que os Antigos utilizavam. Contemplar anda junto com o sonhar. Contemplavam as coisas até seu âmago e sua voz de ver lhes contava maravilhas a respeito do objeto contemplado ou então obtinham respostas em seus sonhos de acordo com a predileção do espreitador ou sonhador. Durante a vigília se reuniam em grupos e contemplavam as coisas de acordo com um propósito. Descobriram maravilhas as respeito das plantas.Sabiam de antemão se eram comestíveis, venenosas ou curadouras. Da mesma forma contemplavam as estrelas e o Universo.Contemplavam em grupos para assegurar a integridade do contemplador pois contemplar era tão avassalador que não podiam predizer seus efeitos. Era uma manobra para “parar o mundo”.
    Darion 13:27 16/07/2012

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    1. É Dárion, contemplar é dar a atenção plena, direcionar a consciência ao objeto que queremos, e com a luz da consciência tudo que contemplamos se abre, e vemos a sua verdadeira natureza, isso é contemplar.

      Intento hermano

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    2. Mesmo que não possamos ver, sabemos que está lá.
      Darion 15:00 16/07/2014

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  6. Sonhar lucidamente não é sonhar acordado e sim "sonhar consciente",
    Hermano Vento e eu (Darion) no sábado tivemos a mesma percpção e sobre esse tema
    aqui temos os estágios de ensonhar no Presente da Aguia (Sonhando Juntos)


    1º estágio

    A vigília repousante é o estágio preliminar dos quais os sentidos ficam adormecidos, mas a pessoa continua consciente. Por exemplo, a pessoa pode perceber uma luz avermelhada como se estivesse vendo um pôr-do-sol com as pálpebras bem cerradas.

    2º estágio

    O segundo estágio do sonho é a vigília dinâmica, neste por exemplo a luz avermelhada desaparece e a pessoa se vê olhando para um cenário, como se fosse um quadro em três dimensões: uma pontinha de cada coisa, uma paisagem, uma rua, um rosto e assim por diante.

    3º estágio

    O terceiro estágio é o do presenciar passivamente. Nele o sonhador não está mais vendo pedacinhos do mundo, mas está observando, presenciando um acontecimento. È como se nesse estágio o sonho fosse basicamente uma questão de olhos e ouvidos.

    4º estágio

    O quarto estágio é a iniciativa dinâmica: nele a pessoa é compelida a aventurar a dar passos e aproveitar o máximo do seu tempo.

    Darion 08:42 17/07/2012
    * * *

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  7. Un extracto do Presente da Aguia - sonhando juntos
    Achávamos que o não
    fazer essencial do sonho era um estado de quietude mental, ao qual Dom Juan chamava
    de “parar o diálogo interno”, ou o não fazer de falar. A fim de me ensinar como manejálo
    ele costumava me fazer andar quilômetros com os olhos fixos e fora de foco a um
    nível logo ao fim da linha do horizonte, permitindo assim que eu tivesse uma visão
    periférica. Seu método era eficiente por dois motivos: permitia-me parar meu diálogo
    interno depois de ter tentado durante anos, e treinava minha atenção. Forçando-me a
    concentrar-me na minha visão periférica, Dom Juan reforçava minha capacidade de me
    concentrar por longo tempo em uma única atividade.
    Darion 10:10 17/07/2012

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  8. Complementando
    "Mais tarde, quando eu tinha conseguido controlar minha atenção c podia
    trabalhar durante horas em qualquer tarefa a que me impunha sem me distrair — coisa
    que nunca antes fora capaz de fazer — ele me disse que o melhor modo de buscar um
    sonho era me concentrar na área próxima à ponta do esterno, na boca do estômago.
    Falou que a atenção que um homem necessita para sonhar deriva-se daquela área, mas
    que a energia a fim de se mover e procurar no sonho origina-se da área a uns três a seis
    centímetros abaixo do umbigo. Ele chamava a essa energia “vontade” ou poder de
    selecionar, de acumular. Numa mulher tanto a atenção quanto a energia para o sonho
    originam-se do ventre."
    Darion 10:14 17/07/2012

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