As irmãs vida e morte - sobre a libertação e os apegos do homem





O vento, parte de uma própria essência de meu ser havia soprado forte aquela tarde de sábado que havia se passado. Era um dia meio nublado, onde as nuvens protegiam a terra do sol escaldante que sempre assola estas terras do meio de nossa terra Brasil, no meio de um serrado, no caldeirão que se forma entre as serras frondosas e o largo lago desta cidade. Assoberbado com as atribulações do dia, os estudos, o enamoro constante com os estudos acadêmicos que me preenchem parte da mente, dentro da atribuição que ela deve ter, me peguei sendo fisgado por um tópico que há muito me cercava, a morte. Havia sido jogado no meu colo, como trabalho de conclusão de uma pós-graduação em minha universidade, um tema bastante controverso, filosófico, científico, um tema que a tudo tocava, independente da área de conhecimento que se estuda, e eis que ela caiu em meu colo.
Comentando com o professor que seria meu orientador, ele aceitou o tema, e juntos propusemos a linha pela qual se seguiria. O meu tema seria a morte, e o direito que as pessoas, no leito de morte, assoladas por doenças terminais, tem de não querer serem tratadas, e aguardarem a morte de forma lúcida, com suas próprias forças, sem a intervenção da medicina. Seria um tema que passaria pelas ciências médicas, pela filosofia, pela religião, pelo direito por todas as áreas que são as correntes sociais que prendem o homem, como diria Rousseau. Mas seria o homem obrigado a viver sendo mantido por equipamentos, por remédios, por tratamentos que transformam a vida em uma morte, alongando apenas o sofrimento, e denegando o direito a morrer dignamente da pessoa? É um tema que adentrarei mais a frente, mas de pronto, como antes de qualquer trabalho que faço, abri-me inteiramente ao espírito ao chegar em casa, para sorver do infinito as considerações abstratas sobre o tema, e colher na árvore da sabedoria silenciosa o que poderia me guiar nesta nova senda de conhecimento que se abriria.
Meditando em casa, vi a morte para o nosso mundo. Vi os conceitos cristãos, de morte, ou a redenção levando ao paraíso, ou a punição levando aos infernos, e ainda a possibilidade do purgatório, conceitos de Dante largamente aceitos pelos cristãos. Nesta senda, vi o sofrimento que é a morte, deixar a vida, e a chance de ir, pecadores sob a ótica cristã que somos todos, para o inferno que nos espera. Vi então os enterros, velórios, missas de sétimo dia, todas muito triste, os choros e lamentações por alguém que partiu, as rezas para manter os parentes moribundos em leitos de hospitais, pois mais um e mais um dia que seja, tentando manter a vida de forma indefinida, assustados que são pelo desconhecido, e pela desconhecida morte que os levará, inevitavelmente. Vi os dias que se seguem aos parentes do moribundo, chorando a sua partida, apegados, colados, frustrados por a vida não ser eterna, mesmo eterna em suas futilidade que muitos vivem. Depois vi uma festa na minha meditação, não sabia a relação com o tema, mas sei que havia. Vi que a grande festa era uma comemoração por um senhor que partia. Vi que comemoravam os anos de vida de presente que o recém finado havia recebido, oitenta anos de graça e felicidade, e uma grande festa se fazia, uma visão diferente que comemorava a morte que chegava, pois ela havia deixado o homem viver por muito tempo, e mesmo que fosse pouco, só o ato de viver, que seja alguns meses já era uma incrível dádiva de vida.
Os pontos se contrapuseram em minha mente, e comecei a entender. O apego do homem a vida, somado ao medo do amanhã o faziam apegado a tudo, e seu apego lhe levava ao limite intenso de fazê-lo apegar-se a vida.
Foi então que abri meu email, no computador e vi uma mensagem do Hermano Dárion e do Hermano Nick, os dois falavam que haviam visto que seria interessante que eu falasse do tema apego e o medo do desconhecido, que é o amanhã. Senti então todo o peso do espírito guiando, por caminhos que apenas nos parecem tortos e estranhos, a escrever sobre este específico tema, que se relaciona como uma infinita trama, como em um efeito borboleta, nos acontecimentos que se seguiram este final de semana. Pensando sobre a morte, e meditando sobre ela, por incrível que possa parecer a nossa criação ocidental, o tema me deu uma felicidade e impulso indescritível, que me levou a ficar em um estado de êxtase durante o dia inteiro, em um sentimento de júbilo pelo que temos hoje, e pelo que é a vida, e pela libertação que é a morte.
A vida e a morte são forças que estão unidas e apenas apresentam-se na dualidade que conhecemos, são conceitos que indicam começo e fim, e alternam-se como irmãos gêmeos da mesma força que cola o universo no que ele é, energia pura. Já falei aqui antes, há um tempo atrás sobre os três nascimentos que todos conhecemos em nossas vidas, mas que damos nomes distintos, e agora quero ocupar-me nestas linhas tortas e as vezes rotas sobre um deles, o segundo nascimento. Apenas a título de rememoração, o primeiro nascimento dá-se quando há uma magia entre homem e mulher, e quando inconscientemente na maioria das vezes é evocada a energia criadora da grande águia. Manterei o nome fonte do universo como águia por algumas razões muito mais românticas do que sobre o que verdadeiramente é o centro do universo. Quando duas pessoas, um homem e uma mulher, a energia escura e feminina e a energia brilhante e masculina unem-se, apartam a dualidade da qual é composto o nosso mundo e o próprio universo, e cria-se ali, naquele mágico ato a unidade, uma unidade que reivindica energeticamente ser o reflexo puro da própria fonte, da fonte criadora e destruidora. É um ato de autoflagelação, onde o homem e a mulher doam parte de si para a composição de algo novo, e ali o homem torna-se tal e qual a fonte de tudo, e cria algo a partir de sua própria energia. Este é o primeiro nascimento. No primeiro nascimento a energia que tornar-se-á homem ou mulher, vive em algo que é a própria cópia do universo feminino, do universo escuro, o útero, o lugar de extremo poder, onde a conexão da mulher e o universo faz-se de forma natural. Ali as energias do universo convergem-se para a criação de um ser da raça humana. Durante nove meses a energia forma-se, nasce desde uma célula até uma forma de girino, e assim desenvolve-se criando algo como brânquias que depois transformam-se em pulmões, reproduzindo a própria evolução das espécies nesta Terra em que vivemos, moldando-se a energia ao longo destes tempos a forma humana, ao molde humano. Quando a energia está pronta, temos o segundo nascimento. O homem sai de sua primeira camada, que é a placenta que o envolve. Por nove meses o feto acha que aquele é o mundo em que vive, e ali sente o mundo, um ovo dentro de um ovo da sua mãe. O segundo nascimento traz maiores provações ao homem, ao nascer do útero, ao sair do ventre o bebê chora, pois ele morreu para uma vida anterior, ventral e nasceu para uma segunda vida. Ele chora e logo depois sorrirá, mas esquecer-se-á outra vez a relação gêmea entre a vida e morte que acabara de passar.
No segundo nascimento o homem está agora envolto em seu ovo de luz. Se lembrasse, saberia mais uma vez que ainda não está totalmente livre, mas amadurecendo em outro ventre, o ventre da grande mãe Terra, a mãe que a todos nós leva em seu útero energético protetor, nos deixando pairar durante a segunda vida, ou o segundo nascimento por este oásis, muitas vezes protegido do universo impessoal que nos cerca. Longe está o pai, o masculino no universo, nos nutrindo de sua forma, um pouco mais distante, bem como era no útero da mãe, que o pai nos afagava de longe, agora o é no segundo nascimento, o pai, o sol de quem somos igualmente filhos, de longe nos afaga, nos dá calor, nos conta histórias, se vai e se vem em sua eterna dança, mas apenas a grande mãe está sempre presente, independente dos chutes e pontapés que damos em seu útero, ela sempre nos alimenta e nos sustenta, como era a nossa primeira mãe em seu pequeno útero.
Contudo sofremos de uma forma inversa no segundo nascimento, de alguma forma andamos na contramão da evolução que deveríamos sofrer. Quando dentro do útero sofremos todas as evoluções físicas que nos levam de um emaranhado de fios de luz que somos, que nos presenteou a águia para a forma humana, presos, encapsulados em nosso ovo de luz que é essa própria forma. Contudo, no segundo nascimento deveríamos sofrer uma evolução de consciência mais ampla, de forma que nosso ser biológico, que representa o nosso ovo de luz vai definhar para que o interior amadureça, a morte e a vida mais uma vez na dança da dualidade que nada mais é que um desdobramento mental que fazemos da unidade. A medida que crescemos, deveríamos amadurecer a nossa consciência interior, ao mesmo tempo que cuidaríamos para que nosso corpo biológico não definhasse totalmente antes do tempo. Os cuidados com o corpo biológico, são concernentes a tudo que chamamos de tonal, desde a parte física a parte mental, esse é o tonal, que ficará, que morrerá ao fim do segundo nascimento, ele ficará e apenas o nagual, este ser emergirá em sua totalidade. Contudo, para emergir o nagual ele deve estar amadurecido, devemos nutri-lo de consciência, e geralmente este não é o caminho que o homem segue, cortando o fluxo natural de nossa vida como homens e nossa evolução como energia.
São diversos os motivos que fazem com que a humanidade tenha desviando-se do seu caminho, dentre eles, tenho como principal a tese de que apenas a energias predadoras interessa a nossa não evolução. Como já dissemos aqui, esse segundo nascimento é tido por uma básica característica, a socialização de nossa totalidade energética, a domesticação do homem. Nascemos e ao invés de sermos ensinados a amadurecer em consciência, o mundo, e as ferramentas dos dominadores, dos voladores, nos fazem sermos domesticados para seguir o fluxo contrário a evolução. Ao invés que crescermos e a medida que o fazemos, entendermos o mundo como ele é, além da sua descrição ordinária, crescemos e a medida que envelhecemos fixamos como mais sólida a ideia de que o mundo é isso e apenas isso. Em uma evolução natural, o homem deveria utilizar o mundo de objetos nos primeiros anos de sua vida, para organizar a confusão energética do universo, contudo, a medida que crescesse, deveria entender que por detrás da solidez do mundo existe muito mais. O homem deveria aprender a usar a mente, e não aprender a ser escravo da mente. Usando a mente, faríamos apenas como usamos o corpo, tratando da melhor forma possível as ferramentas do tonal para fortalecer o nosso nagual, desvelando mais esta aparente dualidade em uma unidade perceptual.
Contudo, a solidez do mundo nos afoga, e somos treinados para isso. Somos treinados para cada vez mais nos escravizarmos pelas formas, pelos objetos, e nos apegarmos a cada dia mais. Quando crianças os pais ensinam a dar valor as coisas que temos, nos fazem escravos de nossos objetos desde muito cedo. Dizem para cuidar dos brinquedos, cuidar das roupas, não estragar, dar valor ao que temos, e deturpam o que deveria ser o cuidado transformando isso em obsessão. Fomentam a criação do desejo nas crianças, e isso é imputado desde muito cedo, e reforçado nas escolas, e durante toda a nossa evolução do segundo nascimento. Abrimos mão tacitamente de nossas capacidades mágicas e super-enfatizamos o tonal, o material, a solidez de nosso mundo. À medida que crescemos seguimos a ótica inversa das coisas, ao invés de a medida que crescemos começarmos a desapegar, a entender, a acordar, a equilibrar o tonal e nagual, o mundo nos força em sua criação a abandonar o nagual e abraçar o que é o tonal, a solidez apenas. As crianças são treinadas a abandonar os amigos invisíveis, a deixar os sonhos de lado, a esquecerem as fadas, os duendes, aa imaginação que é perigosa, e focar-se na solidez do mundo, chegamos ao ponto que a mente social quer, ou melhor, ao ponto em que nossos dominadores nos querem, apáticos, sem nenhum resquício de consciência, apegados as formas, aos objetos, escravos da mente social, dos desejos, afundados na ilusão do mundo, alguns apenas com uma leve recordação do mundo mágico que na infância conheceram.
O homem então afogam-se na ilusão e vivem então guiados pelo medo. São afogados pelo passado, pela comparação, pelo futuro que anseiam ser melhor, afinal, a mente predadora não consegue a plenitude da consciência, e a consciência vive apenas no presente. Então as ferramentas do mundo social são usadas constantemente, o desejo, que faz com que os homens queiram sempre mais, o medo do incerto amanhã, que faz os homens quererem acumular, seja dinheiro em suas contas, seja patrimônio, seja estoques de comida em casa, mas o homem, escravo da mente social, tem medo do desconhecido, do futuro, do incerto, e vive tolhido pelo medo, acumulando, guardando, como se o amanhã de fato existisse, vive sempre ali, a frente e atrás. O medo dominou a nossa sociedade atual e com o medo somos alimentados, e o medo alimenta o sistema que nos domina. As crises mundiais são ótimas fases para os dominadores, pois a mente social manda uma mensagem aos homens, façam reservas, acumulem, guardem, poupem para viver bem amanhã. Os governos avisam, guardem na poupança, poupem e não vivam. As propagandas mostram produtos cada vez mais caros, e tentam nos impor falsas necessidades, e guardamos dinheiro para ter essas imposições que há alguns dias sequer pesávamos em ter.
Vivendo na esperança de acumular, para um dia poder viver tranquilo, tolhido pelo medo, o homem deixa de viver o agora, e deixando de viver o agora, deixa de lado a consciência. Consciência é viver plenamente este momento, e a cada dia necessitar de menos para viver. A alteridade é o sinônimo da vida do guerreiro, o guerreiro vive no agora, o universo lhe dá o que é necessário para viver, quando o guerreiro confia no poder que tem, não importa quanto poder ele tem, isso dizia Don Juan. As pessoas que me cercam ficam atônitas com minha forma de vida, não guardo nada, sempre gasto o que tenho, tudo, e a medida que se seguem os dias, mais aparece de acordo com minha necessidade, não deixo nada para o amanhã, pois necessito de tudo que tenho agora, já, este é o momento que estou vivo. Quando as pessoas planejam a velhice, a aposentadoria, viagens no futuro, sempre digo que sequer sei se vivo estarei, então faço, já agora. Isso é ter consciência, a vida só tem sentido quando reconhecemos que ao lado dela está a morte, apenas assim há sentido em viver. O segundo nascimento deve ser assim, e quem pensar que é diferente o caminho do guerreiro, que deveremos ser ricos, acumular capitais para ir no México quando aposentados, para viver como um guerreiro depois de velhos, quem pensa assim está matando a sua chance única de viver, a chance que o agora dá, e está matando a sua consciência, pois apenas alimentamos a nossa consciência com o desapego tanto ao futuro quanto ao passado. A recapitulação mostra isso a todos que se propõe a fazer isso, mostra que a vida é cíclica, e que se renova a cada dia. Olhem a natureza, a renovação das estações, olhe para você na recapitulação, você sofre ciclos constantes, e os ciclos renovar-se-ão para frente, é o fluxo energético constante de vida e morte em nosso segundo nascimento apresentando-se, apenas livrando-se do passado livrar-nos-emos das expectativas futuras, pois nada se realizará ali, apenas aqui será realizado, e não precisa para isso acumular, apenas viver e confiar em seu poder pessoal, como disse, seja ele do tamanho que for.
Nos propomos aqui, todos que passam, a um caminho diferente do que prega o mundo social em que vivemos, propomos aqui a estratégia do guerreiro, de viver sempre sem bagagens. Ninguém vai deixar de trabalhar, de se sustentar, pois o espírito não fará cair comida do céu para ninguém, mas também não seremos escravos do capitalismo, produzindo excedentes que apenas nutrem ao espírito. Temos tudo que precisamos aqui dentro de nós, e se confiarmos no que temos dentro, sempre teremos o necessário para viver, e digo por mim, o necessário para viver bem. Tenho mulher, tenho uma filha, e não faço reservas para o futuro de ninguém, e digo, nunca passamos fome, nem necessidades, porque acredito em meu poder, e não na mente que a todo instante me manda acumular, não sucumbo a este medo que não existe.
Tenho como iconolátrico em minha vida um período que me aconteceu. Em uma época de minha vida, tive a necessidade de ir ao meio da floresta amazônica em busca de certos conhecimentos. Como sempre, externalizei o meu intento ao infinito, e as pessoas que comigo vivem. Eu ia fazer uma jornada mágica, apenas minha, no tempo eu ia seguir a ayahuasca até a suas origens no Brasil, em uma jornada que se seguiu desde Brasília até Cruzeiro do Sul no Acre, na divisa com a Bolívia, passando por outros lugares. Neste jornada, não tinha dinheiro e não sabia como fazer, como nunca acumulei poupanças, capitais não tinha de onde tirar que não de meu trabalho. Os meus familiares toparam seguir a minha jornada. Eu sabia que o espírito me providenciaria o necessário. Foi uma grande jornada, em que tudo me foi provido do começo ao fim dela. Ficamos sempre bem acomodados, algumas dívidas caíram em minha conta a medida que necessitava, de forma que conseguimos cumprir o que tinha proposto, a todo instante que eu estava por desacreditar ouvia a música do velho mestre da ayahuasca cantando e dizendo “confia, confia, confia no poder...”. E assim seguiram-se os dias, e as jornadas, e as descobertas, e a confiança mantendo-se, de ida e vinda. Cheguei em casa como parti, quase um mês depois, sem um real no bolso, mas satisfeito, pois tudo que me apareceu de necessidade me foi provido pelo espírito, e pelo meu poder pessoal. Eu lembro de me hospedar em hotéis sem ter um real, mas na hora de pagar a conta o dinheiro aparecia, nos momentos certos, sempre me provendo da melhor maneira, como deveria ser o sistema, provendo para o necessário e não para o acúmulo.
Quem aqui não conhece pessoas que guardam dinheiro uma vida inteira para poder ao final, quando aposentado poder usufruir de seu descanso merecido, quando perde os melhores anos de sua vida e de sua saúde trabalhando incansavelmente, de sol a sol, apenas para nutrir a esperança em uma amanhã que sequer sabe se chegará. Apegado, amarrado pelas esperanças em um futuro sempre melhor e diferente, o homem esquece-se de que a única coisa mais certa que tem na vida é a morte, e que por ser a única certeza que tem, este deveria ser o ponto de partida de toda a sua busca e sua caminhada. O sabedor de que ao amanhã é incerto,  o sabedor que a morte o espreita, este sim consegue usufruir o momento, e quem usufrui o momento desapegar-se-á das correntes aprisionadoras da vida, o apego, a acumulação desnecessária. Este homem que sabe que a morte é a certeza irrefutável, irmã gêmea da vida, irá hoje para praia, descansará hoje com os amigos, subirá hoje a montanha que tanto quer, dirá a pessoa tudo que deseja agora, tomará as rédeas de sua vida hoje, e o amanhã, quando chegar, resolver-se-á, naturalmente, seja qual for o problema que se apresentar para o guerreiro caminhante que anda desapegado, este problema inevitavelmente virá com a solução, pois é assim que o espírito se demonstra em sua totalidade para quem sabe vê-lo, apresentando os problemas e junto as soluções, sem dualidade de bem o mal, apenas na unidade da conexão que se apresenta a quem caminha e mantém o elo límpido com o espírito.
E ai que chegamos ao ponto em que iniciamos essa nossa pequena jornada. A morte, o amanhã nos reserva inevitavelmente a morte, nos reserva a todos, independente do que somos, do que fizemos e do que guardamos em nossas vidas. Olhando as pessoas que nos cercam, as que gostamos, as que não gostamos, as que somos indiferentes, vemos algo que nivela a tudo e a todos, a morte. Com a visão clara desta verdade, conseguimos ver que nos tornamos todos iguais ali, naquele momento que é mágico, é libertador, que não deve ser temido e tão pouco desejado, mais é um momento especial na vida de todos nós, é o momento único, gêmeo, siamês do momento do nascimento, é o fim de um ciclo, que pode ser um fim definitivo, quando a nossa vida foi vã, ou pode ser um novo nascimento para uma jornada inconcebível, uma jornada abstrata em que seremos libertos das amarras desta vida, e que também estaremos sós em um universo infinito e impessoal. Olhando aquele momento, temos a verdadeira noção dos nossos atos de agora. Quando olhamos este momento vemos que não precisamos manter palavras vãs, sentimentos torpes quanto as pessoas, se estamos diante da morte, não é necessário agressões, não é necessário nada que vá deixar pontas soltas, resta apenas um sentimento único, de agradecimento e libertação. Diante da morte iminente, que pode estar em qualquer esquina, acumular não tem sentido, apenas viver, diante da morte certa, o amanhã não existe, pois amanhã pode ser o fim, e o agora toma uma dimensão mágica de acontecimento.
Apenas nos libertamos dos medos quando olhamos a morte nos olhos, quando sentimos seu hálito frio, quando a escutamos, quando isso acontece os apegos findam-se, não é necessário manter expectativas quanto ao futuro, não é necessário acumular dinheiro, comida, não é necessário, estamos livres, apenas quando estamos prontos para morrer, estamos livres definitivamente para viver.

Luz, paz e intento a tudo e todos, pois somos um!
Do guerreiro Vento que sussurra.

Comentários

  1. Olá a todos,

    Há pouco tempo atrás reparei que quando me mantenho conectada ao Todo, minha conta bancária fica sempre zerada, rsrs... Nem mais nem menos do que o necessário, iguial ao que descreveu.

    Recentemente recebi outra valiosa lição do Espírito também. Eu andava me perguntando o porquê de tantas pessoas, boas pessoas, viverem com tão pouco e outras viverem com tanto, em termos materiais... Senti que havia uma resposta muito óbvia a essa questão dentro de mim mesma e que essa própria pergunta não fazia sentido mas ainda assim não conseguia iluminar esse tópico. Então fiz um pedido silencioso ao Universo para que me lembrasse dessa resposta. A resposta "caiu no meu colo" no dia seguinte pela Internet. Então um dia após essa minha pergunta silenciosa li a mensagem do Arcanjo Gabriel psicografada naquele mesmo dia: " Irmãos, mesmo com todo caminho percorrido vocês ainda se preocupam com questões de merecimento. Muitos de vós vivem com muito menos do que a vida pode oferecer por não se julgarem merecedores dessa bonança. Para tal, repitam a seguinte frase como um mantra 'eu aceito tudo de maravilhoso que o Universo tiver a me oferecer'. A fartura está disponível a todos!" Me arrepiei antes mesmo de ler a mensagem. Como sugerido, repito esta frase quando sinto-me culpada ou triste e lembro meu coração de que a fartura está disponível a todos. Assim como para o guerreiro que deseja libertar-se de tudo que lhe é desnecessário, basta que devolva isso ao Universo. Tão simples quanto isso, o resto é vampirização voladora. rsrs... Sinto que me libertei de uma grande e pesada ilusão após isso.

    Muito interessante essa sua frase: "quando estamos prontos para morrer, estamos livres definitivamente para viver". Sinto isso hoje mais verdadeiro do que nunca. Tudo se transforma perante a Morte....

    Intento!

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  2. Hermano Vento mais uma vez muito agradecido. Dissecastes e mesclastes o tema muito bem.
    Estamos sempre acumulando. fazendo reservas de coisas para o dia de amanhã. Sinto que isso vem de nosso ser ancestral catequizado pelos inorganicos que dizem:
    -Você não sabe o dia de amanhã.
    E não sabemos mesmo. Nos preparamos para acumular coisas para o dia de amanhã para o incerto enquanto que o guerreiro encara com frugalidade o dia, sem nada acumular contando com o Espirito porevedor que nada o deixará faltar desde que acredite em seu Pode Pessoal. Isto é verdadeiramente ter de acreditar.
    Uma vez estava indo trabalhar como fazia todos os dias. Passava pelo patio da reitoria da universiade que cursei, cheio de enormes mangueiras , enquanto seguia o caminho para o traballho. Então ouvi um sussuro poderoso do Intento que dizia para que eu saísse daquele emprego. No mesmo dia fui guiado por uma espécie de sentimento que me dizia que tudo daria certo. E asssim procedi,mesmo sem economias e ainda tinha uma bruxa(verdadeira) com quem compartilhava o caminho, viviamos como homem e mulher enquanto o que estava por trás era nosso treinamento no caminho. E assim fui e segui meu caminho, pedi demissão. Passei alguns meses com muito pouco, com o ultimo salário, porem ñão passamos necessidade e treinavamos muito. Alguns meses depois nem estava procurando emprego quando um amigo me disse que havia um emprego
    que casava certinho comigo. Então fui até a empresa e lá me contrataram no mesmo dia para trabalhar em um lugar muito melhor. Isso foi em 1998, no ano da partida do Nagual. Eut inha de acreditar.
    Dárion 08:19 29/10/2012
    * * *

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  3. Lemrei-me de una frase de um grande Guerreiro Lakota Sioux de nome Cavalo Louco (Crazy Horse) que dizia:
    - Hoje está um lindo dia para morrer.
    Quando saia de sua tenda e contemplava o dia.
    Dárion
    08:38 29/10/2012
    * * *

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  4. Uma outra coisa que temos que fazer constantemente é agradecer. Principalmente por estarmos vivos e saudáveis e compartilhando as mesmas emanações do tempo neste lindo e maravilhoso Planeta.

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  5. o homem comum pensa que a morte está lhe esperando no final da vida, enquanto que o Guerreiro tem a cosciência de que ela lhe acompanha a cada instante, em cada golfada de ar.
    Dárion

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  6. Extractps de Uma estranha realidade
    A vida para um guerreiro é um exercício de estratégia. Mas você quer
    descobrir o significado da vida. Um guerreiro não se importa com
    significados.2:170
    Só o que posso lhe dizer é que um guerreiro nunca está disponível;
    nunca fica esperando na estrada, aguardando para ser massacrado.
    Assim, ele reduz ao mínimo suas probalidades de imprevisto.
    O que você chama de acidentes são, na maioria das vezes, muito
    fáceis de se evitar, a não ser no caso de tolos que vivem de qualquer
    maneira.2:171
    O que nos torna infelizes é desejar. E, no entanto, se aprendermos a
    reduzir nossos desejos a zero, a menor coisa que recebermos será
    um presente verdadeiro. 2:135
    Ser pobre ou necessitado é apenas uma idéia; assim também é o
    ódio, ou a fome, ou a dor. O poder de fazer isso é só o que temos,
    preste bem atenção, para opor às forças de nossas vidas; sem
    esse poder somos lixo, poeira no vento.2:135
    Cabe a nós, como indivíduos isolados, opor-nos às forças de nossas
    vidas. Já lhe disse isso algumas vezes: só o guerreiro pode sobreviver.
    Um guerreiro sabe que está esperando e o que está esperando;
    e, enquanto espera, não precisa de nada, e assim qualquer
    coisinha que ele receba é mais do que pode tomar. Se ele
    precisa comer, dá um jeito, pois não tem fome; se alguma coisa
    lhe machuca o corpo, ele dá um jeito de parar aquilo, pois não
    sente dor. Ter fome ou sentir dor significam que o homem se largou
    e não é mais um guerreiro; e as forças de sua fome e de sua
    dor o destruirão.2:135
    Um guerreiro pensa em sua morte quando as coisas se turvam. Porque
    a idéia da morte é a única coisa que modera nossos espíritos.
    Darion

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