A dura caminhada, e a essência do donjuanismo - O pequeno caminho do guerreiro
Caros amigos, hoje
recebi uma indicação, dentre diversas indicações, discussões, conversas, tudo
relacionado a dúvidas sobre o caminho deixado pelo novo nagual Castaneda, e
então percebi que muitas das vezes misturamos a caminhada que seguimos com
diversas outras. Castaneda mesmo fez este caminho, procurou em diversas tradições
algum mestre que fosse igual a Don Juan, e não conseguiu encontrar. Não digo
que ele não tenha encontrado por ser estes mestre inferiores, apenas ele eram
diferentes. Não sei se fico com a teoria que algumas pessoas são marcadas para
seguir um caminho isso seria conformismo, por outro lado, as coisas apontam
para isso.
No caminho do guerreiro,
não existem escolhidos, isso já foi dito, todos são indistintamente iguais,
todos. Contudo algumas peculiaridades apresentam-se, de forma que é importante
elucidar esses pontos. O espírito se manifesta as pessoas, a algumas pessoas,
não pelas qualidades especiais que estas pessoas apresentam, ou por distinções
que elas tenham das demais, apenas por terem elas cumprido uma etapa que chamo
de marco zero dos guerreiros, ou cerne zero. Falaremos dos cernes adiante
nestes riscados, pois é importante tal definição para a caminhada nesta trilha
pequena e dificultosa que é o donjuanismo. Não existe outro termo que eu pense
em usar agora. Verão no texto que coloquei do livro “O poder do Silêncio” que o
velho nagual havia escolhido o nome feitiçaria, dentre as tantas opções,
contudo, vejo que hoje o termo mais apropriado seja este, um nome em si obscuro,
concordo, mas apenas aos que não conhecem esta tradição. Contudo o nome leva em
si o nome daquele grande homem, hoje ser iluminado que vaga pelos confins do
universo, tendo ele evoluído de sua forma humana. Não é um deus, e isso é
mágico, é um homem que transcendeu, um caminhante como todos nós, ele foi,
claro, hoje é algo além de nossa compreensão humana, e os riscados dele que
andarei analisando aqui, pois este é um trabalho que me vejo impelido a fazer.
Fiquei um tempo fora por
uma tarefa do infinito, um trabalho da razão, com pinceladas energéticas, estou
o fundando agora, dentro de uma semana, mas a ordem foi tão precisa que resolvi
dar um stand by nos trabalhos para vir aqui, falar sobre este pequeno texto de
Castaneda, e prestar-me a ajudar, com o quinhão mínimo de energia que possuo, a
dar as minhas impressões sobre o texto.
Logo será uma releitura
do texto introdutório ao livro “O poder do Silêncio”, uma leitura comentada,
com as impressões que tive e venho tendo tentando caminhar neste caminhos
muitas vezes árduo, e tantas outras magnífico que é o caminho do guerreiro.
O texto a seguir é extraído do livro O poder
do Silêncio, edição de 2006, e está compreendido entre as páginas 10 e 18 do
livro, o autor, Carlos Castaneda. Os grifos são meus, todos, e os parágrafos em
itálico são comentários que inclui no texto para colocar as minhas impressões e
descobertas sobre o assunto em tela.
Nesta introdução o nagual explica a feitiçaria, seus princípios ao então
aprendiz Castaneda de duas formas, iniciando em uma explicação do lado direito,
e depois seguindo para uma explicação para o lado esquerdo. Implicitamente Don
Juan demonstra a base da forma como são transmitidos os ensinamentos, sempre
para os dois lados, um para tentar amenizar a força da razão, sendo esta para o
lado direito, e outra explicação que serve para criar um ponto específico no
ponto de aglutinação, servindo como um mapa para o lado esquerdo de algum
conhecimento ali guardado.
EM VÁRIAS OCASIÕES DON JUAN TENTOU, PARA O MEU
PROVEITO, dar nome ao seu conhecimento. Ele sentia que o nome mais apropriado
era nagualismo, mas que o termo era obscuro demais. Chamá-lo simplesmente
“conhecimento” tornava-o vago, e chamá-lo “bruxaria” seria rebaixá-lo. “A
mestria do intento” era muito abstrata, e “a busca da liberdade total” longa
demais e metafórica. Finalmente, por ser incapaz de encontrar um nome mais
apropriado, chamou-o “feitiçaria”, embora admitisse não ser realmente adequado.
Através dos anos, deu-me diferentes definições de
feitiçaria, mas sempre manteve que as definições mudam à medida que o
conhecimento cresce. Perto do final de meu aprendizado, senti que estava em
condição de apreciar uma definição mais clara, assim pedi-lhe mais uma vez.
— Do ponto de vista do homem comum — disse Don Juan
— a feitiçaria é bobagem ou um mistério agourento além de seu alcance. Ele está
certo, não porque este seja um fato absoluto, mas porque ao homem comum falta a energia para lidar com feitiçaria. —
Parou por um momento antes de continuar: — Os seres humanos nascem com uma
quantidade finita de energia — continuou —, uma energia que é sistematicamente desdobrada, começando no
momento do nascimento, de modo que possa ser usada de modo mais vantajoso pela
modalidade do tempo.
Dois termos utilizados pelo velho nagual referem-se inicialmente, à
necessidade primordial na feitiçaria, qual seja, energia, e a segunda como a
energia transforma-se na maturação do homem, em seu crescimento até a fase adulta.
Quando DJ fala sobre a falta de energia do homem comum, ele diz que isso é a única e exclusiva barreira para que o
homem comum não acesse o conhecimento da totalidade do mundo. Sendo assim, a
primeira base da feitiçaria é a economia de energia, tudo que o guerreiro faz é
buscando a economia energética. Sobre a modalidade do tempo falaremos adiante.
— O que quer dizer por modalidade do tempo? —
perguntei.
— A modalidade
do tempo é o feixe preciso de
campos de energia sendo percebidos. Acredito que a percepção do homem
mudou através das eras. O próprio tempo decide o modo; o tempo decide quais feixes precisos de campos de energia,
dentre um número incalculável, devem
ser usados. E manipular a modalidade do tempo... esses poucos e
selecionados campos de energia... toma
toda a nossa energia disponível, não nos deixando nada que nos ajude a usar
qualquer dos outros campos de energia.
A modalidade do tempo que DJ afirma, é a construção da realidade,
segundo ele ela é feita em um ajuste que acontece naturalmente. Acredito que
neste ponto ele se refira a aspectos construídos como desafios pela ordem da
águia, houve uma era do silêncio e hoje é a área da razão, essa é a modalidade
do tempo em que vivemos. Esta modalidade é a seleção de alguns feixes
específicos das emanações da águia, internamente, no ovo de luz, seria o ponto
de aglutinação, que é selecionado pela modalidade do tempo de forma igual para
todas as pessoas, a fixação do ponto de aglutinação mantém o mundo como é, e
todos os seres usam toda a sua energia para manter o mundo como o é, por isso
DJ fala sobre o gasto de toda energia disponível para manter o mundo, não tendo
nada extra para outra atividade. Tanto quem aceita o mundo quanto quem o
contesta, quem protesta e luta contra ele, está mantendo o mundo. A lógica
simples é que não se luta contra algo que não existe, quando se luta contra o
mundo a pessoa usa parte de sua energia para manter aquela realidade, para torna-la
real, só se luta contra o que se considera real. O que DJ coloca como modalidade do tempo, é a
primeira atenção, é o mundo social, é a realidade ordinária.
Eu permanecia atento à sua explanação.
Convidou-me com um leve movimento das sobrancelhas
a considerar tudo isso.
— Isto é o que quero dizer quando afirmo que o
homem comum não tem a energia necessária para lidar com feitiçaria. Se usar apenas a energia que tem, não
pode perceber os mundos que os feiticeiros percebem. Para fazê-lo, os feiticeiros precisam
usar um grupo de campos de energia não usado normalmente. Claro que, se
o homem comum perceber esses mundos e compreender a percepção dos feiticeiros, deve se utilizar do mesmo grupo que
esses usaram. E isto simplesmente não é possível, porque toda a sua
energia já está desdobrada. — Fez uma pausa, como se procurando pelas palavras
apropriadas para demonstrar seu ponto de vista. — Pense dessa maneira. Não é que, à medida que o tempo passa,
você esteja aprendendo feitiçaria; antes, o que está aprendendo é economizar energia. E essa energia irá capacitá-lo a
manipular alguns dos campos de energia que lhe são agora inacessíveis. E isto é feitiçaria: a habilidade de
usar campos de energia que não são empregados para perceber o mundo normal que
conhecemos. Feitiçaria é um
estado de consciência. Feitiçaria é a capacidade de perceber algo que a
percepção comum não consegue.
Este texto é autoexplicativo, sem circunlóquios DJ fala primeiro que apenas seguindo a vida
ordinária, o homem não conseguirá perceber o mundo como os feiticeiros. Para
tanto o homem tem que mobilizar uma energia que já possui, mas não é utilizada.
Ai começa a entrar na questão da segunda atenção. A segunda atenção, bem como a
primeira, é uma modalidade de tempo, não imposta pelo conjunto social, ou pela
era vivida pelos feiticeiros, é um actio libera in causa ou seja, uma
ação deliberada e organizada por eras pelos feiticeiros, um posicionamento do
ponto de aglutinação específico, que aglutina um universo em uma organização
peculiar. No passado haviam construções para induzir o PA a movimentar-se para
estes pontos, existem civilizações que foram inteiras para a segunda atenção
desta forma. Mas a segunda atenção é ainda uma prisão como a primeira, é a
utilização de apenas alguns conjuntos de filamentos para perceber algo um pouco
maior que o mundo social da primeira atenção, mas ainda que um cômodo maior,
ainda é um cômodo. Mais uma vez DJ reafirma que o princípio, aliás propósito
maior da feitiçaria, economia de energia, apenas assim é possível o caminho do
guerreiro. Feitiçaria, ele expõe por fim, é o ato de expandir a consciência de
forma deliberada, com um propósito. Ingerir plantas de poder não é feitiçaria
apenas pelo fato que somos guiados por uma força externa, apesar de perceber
algo maior, atingir um estado de consciência aumentado, não se tem o controle
da ação. Então chegamos ao ponto que podemos dizer que o donjuanismo consiste
em economizar energia para ampliar a consciência e atingir formas não usuais de
percepção do mundo, com o fito único de chegar a níveis não ordinários de
consciência. Diria aqui que o caminho é a economia de energia, e o fim é a
expansão da consciência.
“Tudo pelo que fiz você passar, cada uma das coisas que lhe mostrei era
apenas um instrumento para convencê-lo de que há mais coisas do que o olho pode
perceber. Não necessitamos de ninguém para nos ensinar feitiçaria,
porque de fato não há nada a aprender. O que necessitamos é de um professor
para nos convencer de que há poder incalculável ao alcance de nossos dedos. Que
paradoxo estranho! Cada guerreiro na trilha do conhecimento pensa, num momento
ou outro, que está aprendendo feitiçaria, mas tudo o que está fazendo é permitir a si mesmo ser convencido do
poder oculto em seu ser, e que pode alcançá-lo.”
Inicialmente Don Juan diz que as explicações para o lado direito são
feitas para convencer a mente de que o mundo é maior que apenas a percepção
ordinária. Para quem diz que não são necessários argumentos no donjuanismo,
eles são essenciais, são o início de um processo de transformação. Em outras
obras DJ dizia que contar histórias é um ato de feitiçaria, com o intento de
modificar a realidade. Os atos mágicos são testemunhas em si mesma, fazer o
aprendiz passar por isso é a ferramenta do espírito (que age através da impecabilidade
do nagual) para derrubar a rigidez de sua percepção e acordá-lo par ao mundo
real atrás da realidade aparente, cada jornada que DJ fez Castaneda passar,
cada ato mágico, cada jornada ao infinito era apenas para Carlos testemunhar a
imensidão e convencer-se que há sim um mundo além do usual. As histórias sobre
essas jornadas, tem o mesmo efeito, testemunha a imensidão. Segundo DJ um
professor era necessário, e uso o verbo no passado, porque hoje não é
necessário um professor, em nossa geração, somos alunos e mestres, formando uma
corrente para a busca desta percepção, este foi o presente do velho e do novo
nagual, em um ato deliberado pela libertação. Conforme a parte grifada no final
do parágrafo, tudo que fazemos testemunhando atos mágicos, sejamos nós mesmos,
ou no relato de outros, é nos convencer que é possível, e que todos somos
capazes de atingir esse poder oculto em nós mesmos.
— E isto que está fazendo, Don Juan,
convencendo-me?
— Isso mesmo. Estou tentando convencê-lo de que
pode alcançar esse poder. Passei pela mesma coisa. E era tão difícil de ser
convencido quanto você.
— Uma vez que o alcançamos, o que fazemos
exatamente com ele, Don Juan?
— Nada. Uma
vez que o alcançamos, este irá, por si mesmo, fazer uso de campos de energia
que estão disponíveis para nós, embora inacessíveis. E isto, como eu
disse, é feitiçaria. Começamos então a
ver, isto é, perceber, algo mais; não como imaginação, mas como real e
concreto. E então começamos a conhecer
sem a necessidade de usar palavras. E o que cada um de nós faz com esta
percepção aumentada, com aquele conhecimento silencioso, depende de nosso
próprio temperamento.
Neste ponto DJ coloca um ponto final na questão dizendo por fim que não
existem presentes quando atingimos o poder. Esse é um cerne em si mesmo, e como
tal tem toda uma explicação. Quando o guerreiro atinge o poder, quando ele
chega ao limiar de ser um guerreiro de conhecimento, um guerreiro sem forma,
ele já não tem decisões do ego, o ego morreu, e ele é guiado pelo espírito,
pelo poder, o poder decide onde vai, o que verá, é um paradoxo, ter o poder
todo em suas mãos e não querer nada. Isso acontece porque, sem a forma humana,
liberto da mente, o guerreiro não tem mais desejos, os desejos emanam da mente,
do ego, sem ego, não existem desejos, apenas os desígnios que guiarão o guerreiro.
Os presságios são exemplos de como o guerreiro é guiado no mundo social, ele
está fora do mundo e mesmo assim deve agir no mundo até a sua hora chegar. Apesar
disso, alguns guerreiros não entregam-se ao poder, e dependendo do temperamento
o guerreiro pode querer usar esse poder para as coisas do mundo social, ou para
objetivos não abstratos da evolução, que é a liberdade, ou fugir do ciclo de
reciclagem e nascimento da águia. Quem usa a percepção aumentada, o poder de ver
para causas próprias, egóicas, transforma-se em uma aberração, quando domina a
mente, sucumbe a mente, e usa o poder conquistado para satisfazê-la, neste
caminho seguiram os feiticeiros antigos, e se perderam no meio da caminho,
vivem a fugir da morte, mas não conseguem seguir em frente para a liberdade.
Aqui termina a explicação sobre a
feitiçaria para o lado direito e inicia-se a explicação para o lado esquerdo.
Em outra ocasião deu-me outro tipo de explicação.
Discutíamos um assunto não relacionado quando de repente ele mudou o tema e começou a contar-me uma piada.
Riu e, muito suavemente, bateu em minhas costas entre as omoplatas, como se
estivesse envergonhado e eu fosse muito superior para ele tocar-me. Deu curtas
risadas diante de minha reação nervosa.
— Você é muito sensível — falou, caçoando, e bateu em minhas costas com mais força.
Meus ouvidos zumbiram. Por um instante perdi o
fôlego; parecia como se ele tivesse machucado meus pulmões. Cada respiração causava-me
grande desconforto. No entanto, depois que tossi e engasguei algumas vezes,
minhas passagens nasais abriram-se e encontrei-me aspirando o ar em grandes e
calmantes golfadas. Tinha uma grande sensação de bem-estar que nem sequer me
aborreci com ele por seu golpe, tão duro quanto inesperado.
Então Don Juan começou uma explicação muito
notável. Clara e Concisamente, deu-me uma definição diferente e mais precisa de
feitiçaria.
Don Juan de forma magnífica mostra como destronar o ego. Primeiro ele
usou a graça, uma piada, depois atacou frontalmente o ego de Castaneda, e
depois lhe deu um tranco, o golpe do nagual, deslocando o seu ponto de
aglutinação para a consciência intensificada. O velho nagual era uma raposa
velha mesmo, ele como conduto do espírito mostrou como age o próprio espírito
quando nos leva a conhecimentos incríveis. Ele age com graça, com leveza e com
impiedade, levamos grandes trancos na vida, de forma inesperada, e estes
trancos são golpes do espírito, como golpe do nagual. Todos que trilham esse
caminho sabem do que falo, os golpes do espírito nos fazem caminhar.
Eu entrara num admirável estado de consciência!
Tinha tal clareza de mente que era capaz de compreender e assimilar tudo que Don
Juan dizia. Ele explicou que no
universo há uma força imensurável e indescritível que os feiticeiros chamam
intento, e que absolutamente tudo o que existe no cosmo inteiro está ligado ao
intento por um elo de conexão. Feiticeiros, ou guerreiros, como os
chamava, preocupavam-se em discutir, compreender e utilizar este elo de
conexão. Estavam especialmente
empenhados em limpá-lo dos efeitos atordoantes causados pelas preocupações
comuns de suas vidas cotidianas. A feitiçaria a este nível podia ser
definida como um procedimento de limpar o elo de conexão de um indivíduo ao
intento. Don Juan salientou que este
“processo de limpeza” era extremamente difícil de compreender, ou aprender a
executar. Os feiticeiros, portanto, dividiam sua instrução em duas
categorias. Uma era a instrução para
o estado de consciência da vida cotidiana, no qual o processo de limpeza era apresentado
de modo disfarçado. A outra era a instrução para os estados de
consciência intensificados, tais como o que eu estava experimentando no
momento, nos quais os feiticeiros
obtinham o conhecimento diretamente do intento, sem a intervenção perturbadora da
linguagem falada.
Essa talvez seja a parte mais importante de todo o conhecimento de DJ.
Já senti isso, o intento é a força que está no vazio entre as coisas. O que
segura o movimento dos elétrons em torno do núcleo, que nos faz na forma humana,
que mantém o mundo coeso, é a parte oculta que mantém as coisas como são o elo
de conexão é a parte central do ensinamento. Entender 5% de nosso corpo é
entender a matéria, entender os 95% que não vemos é entender o intento.
Entrando em contato com o intento, com essa parte que nos faz ser uma unidade
com o todo, é estar com o elo de conexão limpo, claro. Alguns falariam no amor,
mais isso está além, é estar ligado a tudo, além de palavras, é sentir-se parte
do todo, indissolúvel, este é o intento. Limpar o nosso elo com o intento é
recobrar essa sensação de unidade, de não estarmos separados, quando nos
sentimos conectados com tudo, ligados, estamos com o elo limpo. Limpar o elo de
conexão é um trabalho sistemático, demanda tempo. A mente nos liga
perceptualmente com o mundo, ela interpreta o que os sentidos captam como
antenas que são. A medida que silenciamos a mente, limpamos o elo, e estando
limpo acessamos o ver, o conhecimento além das palavras, esse é o ver. Em nosso
caso temos duas formas de receber o conhecimento, uma é em nossas conversas de
feiticeiros como temos aqui, a outra é em nossos esforços de meditação, para
silenciar a mente, nos entregamos ao espírito, e ele faz o trabalho no
silêncio. As vezes temos a sorte de encontrar entidades da segunda atenção,
como já tive o prazer, dos sete antigos e ainda de Juan Cortez, o silêncio nos
faz atrair, bem como a impecabilidade, seres que já atingiram um certo degrau
em suas caminhadas.
Don Juan explicou que, usando a consciência
intensificada durante milhares de
anos de doloroso esforço, os feiticeiros obtiveram percepções específicas do
intento, e passaram esse precioso conhecimento direto de geração a geração, até
o presente. Disse que a tarefa da feitiçaria é tomar esse conhecimento
aparentemente incompreensível e torná-lo compreensível pelos padrões da
consciência da vida cotidiana.
Aqui entendo que foi dito sobre o caminho do guerreiro. Um conjunto de
práticas voltadas ao acúmulo de energia, à limpeza do elo de conexão e a ligação
com o intento como consequência. Um conhecimento aperfeiçoado ao longo do
tempo, até desembocar em algo que poderia ser entregue, aberto. A geração de
Castaneda, o novo nagual, um nagual de três pontas que serviu como presságio de
que seria hora de abrir o conhecimento, pois ele estava enfim pronto para ser
entregue para a humanidade.
Explicou então o papel do guia nas vidas dos
feiticeiros. Segundo ele, um guia é
chamado “o nagual”, e o nagual é um homem ou uma mulher com energia
extraordinária, um professor que tem sobriedade, resistência, estabilidade;
alguém que os videntes vêem como uma esfera luminosa com quatro compartimentos,
como se quatro bolas luminosas fossem comprimidas juntas. Por causa de sua
extraordinária energia, os naguais
são intermediários. Sua energia permite-lhes canalizar paz, harmonia,
alegria e conhecimento diretamente da fonte, do intento, e transmiti-los a seus
companheiros. Os naguais são responsáveis por proporcionar o que os feiticeiros
chamam “a oportunidade mínima”: a consciência da conexão do indivíduo com o
intento.
No nosso tempo não existem mais intermediários, além do espírito. Mas
quando os encontramos estes são facilitadores do caminho, são canais límpidos que
nos ajudam a entender melhor o caminho para a liberdade.
Avisei-lhe que minha mente absorvia tudo o que me
dizia, e a única parte de sua explicação ainda obscura para mim era a necessidade
de dois conjuntos de ensinamentos. Podia compreender tudo o que dizia sobre o
mundo dos feiticeiros com facilidade, e no entanto ele descreveu o processo de
compreender como muito difícil.
— Você irá
precisar de uma vida inteira para recordar as percepções que teve hoje
— disse ele — porque a maioria delas era conhecimento silencioso. Dentro de
instantes você as terá esquecido. Este é um dos imperscrutáveis mistérios da
consciência.
Então Don Juan fez-me mudar de nível de
consciência, com um golpe no lado esquerdo, na beira da caixa torácica.
Perdi instantaneamente minha extraordinária clareza
mental, não podendo sequer me lembrar de tê-la possuído...
Aqui DJ mostra outra percepção, de que temos conhecimentos adquiridos
que demandam tempo para serem lembrados. Nós mesmos que caminhamos aqui, temos
muitas vivências nos sonhares, na segunda atenção, em momentos de expansão da
consciência que devemos lembrar como um mapa de nossa caminhada. Para isso
serve a recapitulação, em seus diversos níveis. Recapitular é fazer o mapa
inverso dos movimentos do PA por toda nossa vida, é um ato mágico de movimentar
a nossa energia e dá fluidez ao ponto de aglutinação para a sua dança final,
onde ele correrá toda a extensão do corpo luminoso, nos queimando no fogo frio.
Aqui acaba a explicação para o lado
esquerdo.
O próprio Don Juan deu-me a tarefa de escrever sobre
as premissas da feitiçaria. Certa vez, muito casualmente, nos primeiros estágios
de meu aprendizado, sugeriu que eu escrevesse um livro para fazer uso das notas
que sempre tomara. Eu acumulara resmas de anotações e nunca considerei o que
fazer com elas.
Argumentei ser uma sugestão absurda, pois eu não
era escritor.
— É claro que você não é um escritor — disse ele —,
portanto terá de usar de feitiçaria. Primeiro, precisa visualizar suas
experiências como se estivesse revivendo-as e então deve ver o texto em seu
sonhar. Para você, escrever não será um exercício literário, mas antes
um exercício de feitiçaria.
Escrevi dessa maneira sobre as premissas da
feitiçaria exatamente como Don Juan as explicou para mim, dentro do contexto de
seus ensinamentos.
Em seu esquema de ensino, o qual foi desenvolvido
por feiticeiros de tempos antigos, havia duas categorias de instrução. Uma era chamada
“ensinamentos para o lado direito”, desenvolvida no estado normal de
consciência. A outra era chamada “ensinamentos para o lado esquerdo”, posta em
prática apenas em estados de consciência intensificada.
Como já falamos sobre os ensinos para o lado esquerdo e direito, nos
ateremos aqui na parte sublinhada. Essa parte mostra outro exercício mágico, o
de recapitular no sonhar. A recapitulação e o ensonho estão unidos indissoluvelmente,
um caminha junto ao outro. Contudo, em certa parte do conhecimento eles
unem-se. Há momentos em que Castaneda recapitula em ensonhos com La Gorda parte
dos ensinamentos, a recapitulação do ensonho é o processo sofisticado de
recapitulação, este estado específico molda o corpo sonhador para ser entregue
a águia, como tributo necessário para a nossa liberdade.
Essas duas categorias permitiam que os professores
ensinassem a seus aprendizes em três áreas de habilidades: a mestria da consciência, a arte da espreita e a mestria do intento.
Essas três áreas de habilidade, são os três enigmas
que os feiticeiros encontram em sua busca ao conhecimento.
A
mestria da consciência é o enigma da mente; a
perplexidade que os feiticeiros experimentam quando reconhecem o espantoso
mistério e propósito da consciência e da percepção.
Esse seria um tópico para um texto completo, pois a mestria da
consciência é o controle total do ser, é a ampliação de sua percepção, é
dominar a sua totalidade. A percepção ordinária abarca só uma pequena fatia da
totalidade, ela é a mente do predador, deixamos muita coisa passar batido em
nossa frente. Não atentamos à respiração, a alimentação, ao corpo, as
sensações, a mente e os desejos que ela forma, somos basicamente, como homens
ordinários, homens comuns, inconscientes. A mestria da consciência é tomar a
rédea de nossa totalidade, e o primeiro passo para tanto é o domínio da mente,
e o acesso ao silêncio. A mestria da consciência é estar desperto, consciente
do que é o universo em sua totalidade. Para atingi-la é necessário apenas uma
coisa, acumular energia suficiente.
A arte
da espreita é o enigma do coração; o desconcerto que os feiticeiros
sentem ao se tornarem conscientes de duas coisas: primeiro, que o mundo parece
para nós inalteravelmente objetivo e factual, por causa das peculiaridades de
nossa consciência e percepção; segundo, que se diferentes peculiaridades de
percepção entram em jogo, as próprias coisas do mundo que parecem tão
inalteravelmente objetivas e factuais mudam.
Esse parágrafo é magnânimo, ele explica o básico do que DJ fala ser o
caminho do coração. Este caminho não é seguir o que te faz bem, pois isso é
comodismo, é o caminho da consciência inicialmente, para seguir a arte da
espreita, primeiro temos que ter consciência, com essa consciência vemos que o
mundo é um jogo de papéis, como um teatro, um cenário montado em frente a uma
grande realidade maior. A espreita mostra que podemos atuar da forma que
quisermos para modificar a nossa percepção. Alterando elementos deste palco que
é a vida, modificamos a forma que percebemos a vida. Em um primeiro nível a
espreita modifica apenas aparências superficiais. Em um segundo nível, a
percepção do guerreiro é alterada. Em um terceiro nível, a espreita altera a
realidade para o guerreiro e a cena como um todo, esta é a mestria da espreita,
o caminho do coração é saber que todo o conjunto que parece estático e imutável
da realidade é apenas um jogo de percepção, por isso DJ e Genaro riam das
coisas, pois tudo é um teatro, um jogo de encenação, e neste mundo, nada
precisa ser levado tão a sério.
A
mestria do intento é o enigma do espírito, ou o paradoxo do abstrato — os
pensamentos e ações dos feiticeiros projetados além de nossa condição humana.
Aqui chegamos a um ponto distante de meu conhecimento, não consigo em
palavras expor toda a complexidade, então colocarei apenas algumas palavras.
Aqui, quando o guerreiro limpa o elo de conexão, ele consegue acessar o domínio
da realidade, e ao mesmo tempo, quando atinge esse nível, o guerreiro não quer
mudar nada, ele apenas é regido pelo fluxo universal. O guerreiro entende que é
parte de um fluxo, e para evoluir ele precisa seguir esse fluxo, de forma
impessoal, além da forma humana, além dos desejos da mente, além do amor
humano, o guerreiro torna-se a própria impessoalidade do universo, apenas
seguindo o seu propósito evolutivo.
A
instrução de Don Juan quanto à arte da espreita e à mestria do intento dependia
de sua instrução sobre a mestria da consciência, que era a pedra fundamental de
seus ensinamentos, que consistem das seguintes premissas básicas:
Já comentamos acima.
1.
O
universo é uma aglomeração infinita de campos de energia, semelhantes
a filamentos de luz;
O universo segue um fluxo e têm uma
organização própria que transcende o entendimento racional.
2.
Esses
campos de energia, chamados de “emanações da Águia”, radiam de uma fonte de
proporções inconcebíveis, metaforicamente denominada
Águia;
O universo tem uma fonte, impessoal, é
apenas uma forma de denominar um centro de energia universal, não existe
dualidade na águia, é apenas um ponto de onde emana e para onde caminha toda a
existência, é o vazio infinito, que visto sob o lampejo de suas emanações,
mostra-se para os videntes antigos como uma águia. A visão da águia é apenas
uma metáfora para a visão da escuridão universal, impessoal, infinita, do
vazio, em contradição com filamentos de consciência, vistos como pontos de luz
naquela escuridão. A águia não é pessoal, ela não conversa, não é um ser,
prefiro chama-la de negrume infinito, vazio primordial, mas tudo são nomes, e
insuficientes para definá-la. A águia não manda recados, a sua parte humana é
infinitamente pequena, como a parte qualquer coisa dela, a impessoalidade ali é
reinante, não adianta rezar para ela, suplicar, ela é apenas a manifestação da
ordem universal, e ao mesmo tempo do caos, é o início e o fim, além de
dualidades de bem e mal. Chegar a ela não é o juízo final, e ela nunca
manifestar-se-á a ninguém, mas pode ser vista por todos, mesmo que isso possa
ser a visão mais terrível de todas, porque para a nossa mente, aquilo é a
antítese de nossa existência racional, e mesmo assim parte dela.
3.
Os seres humanos também são compostos de um número incalculável dos mesmos campos de energia
fílamentosos. Essas emanações da Águia formam uma aglomeração encapsulada que se manifesta
como uma bola de luz do tamanho do
corpo da pessoa com os braços estendidos lateralmente, como um ovo
luminoso gigante;
Primeiro somos a manifestação do
macrocosmo em nosso interior, em proporções menores, não por sermos especiais,
todos os seres o são, um conjunto encapsulado de energia, tal qual o universo,
em proporções reduzidas. Isso porque refletimos o universo dentro de nós. O
encapsulamento é a forma humana, nossa forma é a de um ovo de luz,
esbranquiçado, ou amarelado, e até esverdeado já vi, de energia, com um buraco
pequeno na frente, a fenda luminosa, por onde escoa nossa força vital ao longo
do tempo. Em nosso interior refletimos o exterior, mas temos acesso apenas a
uma pequena porção de nossa totalidade interna.
4.
Apenas um grupo muito pequeno de campos de energia
no interior dessa bola luminosa são acesos por um ponto de intenso brilho localizado
na superfície da bola;
Aqui está o mistério do ponto de
aglutinação. Este ponto chama-se consciência. A consciência total é conseguida
quando expandimos essa luz para todo o ovo, conseguindo perceber a nossa totalidade
energética. O assunto é complexo de forma que apenas o dedilhei aqui.
5.
A percepção ocorre quando os campos de energia
desse pequeno grupo imediatamente ao redor do ponto de brilho estendem sua luz
para iluminar campos de energia idênticos no exterior da bola. Uma vez que os
únicos campos de energia perceptíveis são aqueles iluminados pelo ponto
brilhante, esse ponto é chamado “o ponto onde a percepção é aglutinada”, ou
simplesmente “o ponto de aglutinação”;
Novamente explana-se o que é a nossa
percepção, o mundo que percebemos depende da localização de nosso ponto de
aglutinação. Quando o modificamos, o mundo se modifica, quando o expandimos
vemos além do mundo cotidiano. Ali reside a percepção, e a consciência é a
medida de nossa percepção.
6.
O ponto
de aglutinação pode ser movido de sua posição usual sobre a superfície da bola
luminosa para outra posição na superfície ou no interior .Uma
vez que o brilho do ponto de aglutinação pode iluminar qualquer campo de
energia com o qual entrar em contato, quando se move para uma nova posição
ilumina de imediato novos campos de energia, tornando-os perceptíveis. Esta percepção é conhecida como ver;
Ver é o movimento do ponto de aglutinação
para novos locais. Ver tem dois níveis, um nível apenas de visualização, o ver
em sentido estrito, e o ver em sentido amplo, que é modificar a visão de mundo,
entrar literalmente em outro mundo, tudo depende do movimento do ponto de
aglutinação.
7.
Quando o ponto de aglutinação se desloca, torna
possível a percepção de um mundo inteiramente diferente — tão objetivo e
factual como aquele que normalmente percebemos. Os feiticeiros entram nesse outro
mundo para obter energia, poder, soluções para problemas gerais e particulares,
ou para encarar o inimaginável;
Já comentado.
8.
Intento é a força penetrante que nos faz perceber.
Não nos tornamos conscientes porque percebemos; antes, percebemos como
resultado da pressão e intrusão do intento;
A força indissolúvel do universo, que permeia
a tudo e todos que forma a percepção. A consciência não é um produto apenas da
percepção, mas sim um produto do intento. Sobre isso DJ fala que o intento nos
faz perceber o mundo como percebemos, por isso é difícil perceber as coisas
como são, há uma influência na somatória do gasto energético de todos os homens
que força ao intento de criar o mundo sólido como ele é. O intento pode ser
manejado, a vontade que une as coisas pode ser manejada, de uma forma consciente
é limpando o elo de conexão, outra forma é de maneira inconsciente, como a raça
humana faz para manter o mundo coeso na realidade que bem conhecemos. Para
ampliar a consciência, e modificar a percepção do mundo precisamos limpar o elo
de conexão e manipular o intento para poder ver a realidade.
9.
O objetivo dos feiticeiros é atingir um estado de
consciência total de modo a experimentar todas as possibilidades de percepção disponíveis
ao homem. Esse estado de consciência implica mesmo uma maneira alternativa de
morrer.
Os guerreiros são exploradores,
testemunhas do universo, explorar todos os pontos possíveis para movimentar o
ponto de aglutinação é uma das metas do guerreiro. Isso é uma forma de quebrar
o intento coletivo que cria a primeira atenção, que é chamada de primeiro anel
de poder, a energia que emana de cada homem como ser social para manter a
manipulação do intento, com o fito de manter a realidade sólida. Gastamos muita
energia com isso, solidificando o ponto de aglutinação em um ponto, e devemos
mover o quanto mais nosso PA para ganhar fluidez, e com isso, atingir a
consciência total, que é a alternativa à morte comum.
Um
nível de conhecimento prático era incluído como parte do ensino da mestria da
consciência. Nesse nível prático Don Juan ensinava os procedimentos necessários a mover o
ponto de aglutinação. Os dois grandes sistemas desenvolvidos pelos
feiticeiros videntes dos tempos antigos para realizar isto eram: sonhar, o controle e
utilização de sonhos; e espreitar,
o controle do comportamento.
Os conhecimentos práticos do guerreiro para mover o PA são dois, o
sonhar e a espreita. Sonhando movimenta-se o ponto de aglutinação de maneiras
mais longas, e como mover o PA é um fundamento da arte deixada por DJ, o sonhar
é extremamente necessário para a fluidez perceptiva que pretende o guerreiro.
Espreitar é a arte de ancorar o ponto de aglutinação, é a arte de mover o ponto
de aglutinação no estado de acordado. A arte do sonhar está na manipulação do
PA quando sonhamos, a arte da espreita é mover o pa quando estamos acordados. A
diferença é que sonhar facilita o movimento do PA, é como uma brecha autorizada
pelo mundo social, então tem uma certa facilidade. Espreitar demanda muita
energia, pois consiste em mudar o PA soba influência do mundo social, é nadar
contra a corrente social, é desafiar a realidade, demanda grande quantidade de
energia.
Mover o
ponto de aglutinação de um indivíduo era uma manobra essencial que todo
feiticeiro tinha de aprender. Alguns deles, os naguais, também
aprendiam a executá-lo para outros. Eram capazes de desalojar o ponto de
aglutinação de sua posição costumeira, desferindo um forte golpe diretamente
contra o ponto de aglutinação. Esse golpe, que era experimentado como um soco
na omoplata direita — embora o corpo nunca fosse tocado —, resultava num estado
de consciência intensificada.
De acordo com essa tradição, era exclusivamente nesses estados de consciência
intensificada que Don Juan executava a parte mais importante e
dramática de seus ensinamentos: as
instruções para o lado esquerdo. Por causa da extraordinária qualidade
desses estados, ele pedia que eu não os discutisse com outros até que
tivéssemos concluído tudo no esquema de ensino dos feiticeiros. Esse pedido não
era difícil de aceitar. Nesses estados únicos de consciência, minha capacidade
de entender a instrução era inacreditavelmente aumentada, mas ao mesmo tempo
minha capacidade de descrever ou mesmo lembrá-la ficava diminuída. Eu podia funcionar nesses estados com habilidade
e segurança, mas não podia lembrar-me de coisa alguma a seu respeito depois de
retornar a minha consciência normal.
Levei anos para me tornar capaz de fazer a
conversão crucial de minha consciência aumentada para o normal. Minha razão e o
bom senso retardavam esse momento porque colidiam com a realidade irracional e
impensável da consciência intensificada e do conhecimento direto. Por anos o
descompasso entre uma consciência e outra forçou-me a evitar o assunto, não
pensando a respeito.
Tudo que escrevi sobre o meu aprendizado de
feitiçaria, até o presente, tem sido um relato de como Don Juan ensinou-me a
mestria da consciência. Não descrevi ainda a arte da espreita ou a mestria do intento.
Para nossa geração apenas temos o golpe do espírito, alguns
acontecimentos que nos parecem catástrofes nos fazem mover o PA, e nestas
ocasiões temos a chance de adquirir conhecimentos mágicos para o lado esquerdo.
Além disso, temos que buscar de outras formas este conhecimento, seja pela
meditação, a prática do silêncio mental, de caminhada de atenção, e o ensonho,
nestes estados conseguimos atingir esses conhecimentos, que muitas vezes ficam
perdidos dentro de nossa campo de luz, e
podem ser acessados pela recapitulação. Recapitulando às vezes atingimos certos
conhecimentos que não sabíamos ter acesso. O espírito nos fala a todos como
iguais, mas só uns poucos buscam e relembram com consciência destas lições.
Don Juan ensinou-me seus princípios e aplicações
com a ajuda de dois de seus companheiros: um feiticeiro chamado Vicente Medrano
e outro chamado Silvio Manuel, mas tudo o que aprendi deles ainda permanece
nublado no que Don Juan chamou de complexidades da consciência intensificada. Até agora foi impossível para mim
escrever ou mesmo pensar com coerência sobre a arte da espreita e a mestria do intento.
Meu engano foi encará-las como temas de memória e reminiscência normais. São, e
ao mesmo tempo não são. Para resolver esta contradição, não persegui os temas
diretamente — uma impossibilidade virtual —, mas lidei com eles de modo indireto através do tópico conclusivo da
instrução de Don Juan: as histórias dos feiticeiros do passado.
Há duas formas apenas de lidar com esse conhecimento, seja a prática
deliberada, como exploradores do infinito, seja através das histórias dos
feiticeiros, ou seja, os cernes abstratos, eles contém chaves para esse
conhecimento, de como manifesta-se o espírito, um mapa, que mostra e que nos
faz, adequando nossas experiências a estes moldes, saber o que são as
manifestações do espírito e o que são apenas ilusões de nossa mente. A prática
por outro lado é a inclusão deliberada e consciente no mundo da feitiçaria, é
vestir-se no conhecimento, é seguir a prática deixada por DJ e Castaneda.
Ele contava essas histórias para tornar evidente o
que chamava os cernes abstratos de suas lições. Mas eu era incapaz de perceber
a natureza dos cernes abstratos, apesar de suas minuciosas explicações, as
quais, agora sei, destinavam-se mais a abrir minha mente do que explicar tudo
de modo racional. Seu modo falar fez-me acreditar por muitos anos que suas
explicações dos cernes abstratos eram como dissertações acadêmicas; e tudo que
fui capaz de fazer, sob essas circunstâncias, foi tomar suas explicações como
eram dadas. Elas tornaram-se parte de minha aceitação tácita de seus
ensinamentos, mas sem o comprometimento completo de minha parte, essencial para
compreendê-las.
Don Juan apresentou três conjuntos de seis cernes
abstratos cada, arranjados num nível crescente de complexidade. Lidei aqui com o
primeiro conjunto, que é composto do seguinte: as manifestações do espírito, o
assalto do espírito, as artimanhas do espírito, a descida do espírito, os
requisitos do intento e a manipulação do intento.
Há um modo com o qual o espírito manifesta-se em nossas vidas, são
passos que comparados a nossa vivência não dão pistas sobre a nossa caminhada
pessoal, à luz das experiências de gerações de guerreiros. Já detalhei os
cernes abstratos neste tópico aqui (cernes abstratos) então finalizarei o texto
aqui, dizendo que os cernes, o seu conjunto, é o mapa de nossa caminhada, de
quem se propõe a esse caminho, e nele encontra-se a essência do que devemos
estar atentos para atingir a liberdade.
Amigos, espero
ter deixado um pouco de minhas impressões e que isso tenha sido válido para os
que aqui chegarem, a obra completa, o livro “O poder do Silêncio” responde a
tantas perguntas no caminho que seria difícil descrevê-las em sua complexidade.
Neste momento que escrevo, e a medida que o fiz, sinto-me na segunda atenção,
em um estado de atenção intensificada, vi minhas pupilas e estão dilatadas, a
luz modificou-se, sinto-me pesado, com a cabeça e olhos pesados, é o que faz o
conhecimento de Castaneda, nos desloca o ponto de aglutinação para locais específicos,
um livro escrito na essência deste conhecimento milenar que é o donjuanismo.
Por fim repito
o que sempre me ponho a dizer, este caminho está completo tudo que precisamos
está ali, que na verdade é tudo que temos dentro de nós. O mapa que deixou-nos
Castaneda, pela magistral espreita de Don Juan, é um mapa para a liberdade,
modificar qualquer parte do conhecimento, incluir o que ali não está escrito, é
arriscar-se a perder-se em divagações mentais, quiçá quando perdermos a forma
humana moldaremos este conhecimento, mas sei que quando isso acontecer, quando
a forma humana se for, não teremos essa necessidade. Don Juan fechou a linhagem
pois o conhecimento estava maduro, depois de gerações de videntes de imenso
poder, estava consolidado o conhecimento, que é para poucos, está restrito a um
pequeno grupo, um conhecimento que demanda abdicações, força e resistência, e
que não dá garantias de recompensas. O caminho do coração é o caminho da
verdade, segundo Don Juan, é o caminho que nos leva a ver a realidade além da
aparência, a sentir o elo que liga a tudo e a todos, e a entender que somos
além de tudo que nos foi dito em qualquer lugar desta sociedade.
É uma dura
caminhada, isso posso dizer, e se poucos são os que sequer leem as obras, menos
são os que arriscam caminhar neste caminho, e menos os que perseveram neste
jornada.
Desejo toda a
sorte a todos, mesmo sabendo que sorte não vale de nada nesta caminhada.
Forte intento
a todos.
Olá Ênio,
ResponderExcluirte mandei um artigo muito interessante no seu email.
Dê uma olhada e se possível compartilhar no blog melhor ainda.
abraço
Sem palavras, é como ver a mesma coisa que se via com um olho e poder ver de novo com dois olhos, da a "perspectiva", sensação semelhante a ler os livros do Armando Torres, abraços a todos.
ResponderExcluirHermano Rene muito agradecido pelo convite que postates no Blog no texto anterior. Quem quiser dar uma ohada está la
ResponderExcluirfeito o convite de Rene.
Darshan 08/04/2013
Realmente, esqueci de falar sobre isso, Rene havia feito um convite acerca de um encontro de Tensegridade (passes mágicos) que acontecerá. Repito aqui as palavras do novo companheiro de caminhada deste blog:
ResponderExcluir"Amigos, não sei se o espaço é apropriado (se não for apaguem), mas vai haver um pequeno encontro de praticantes de Tensegridade, muito eclético e informal, entre nós estará o Fábio,que é um grande conhecedor dos passes mágicos. Vai ser na praia do Rosa em Imbituba SC na primeira semana de Maio, se alguém estiver por perto"
Intento a todos, quem tiver chance, sei que sempre são eventos engrandecedores.
De acordo com que o velho Nagual falou, O Caminho do Guerreiro serve para elevarmos a nossa energia para acima
ResponderExcluirdos dedões dos pés, onde ela se encontra adormecida e concentrada, sendo devorada pelos inorganicos predadores dando-nos lampejos de pensamentos a cada vez que se alimentam. Por isso a chave para entrada no caminho é liberar primeiro essa energia para que consigamos ver que existem outras possibilidades além da que nos foi imposta. Para o dilago interno é a chave para a entrada no mundo dos feiticeiros A intenção dos Guerreiros é fazer essa energia subir até a área da garganta.
Darshan 08/04/2013 08:35
Fiz uma coletánea das Histórias de Poder que existem nos livros do Nagual Carlitos. Colocarei-as depois nom eio da seman para não atrapalhar outras mensagens pois demanda ocupar espaço reservado para as apreciações dos Guerreiros.
In lak ech ala kin
Recuperar e armazenar essa energia se chama Impecabilidade. O guerreiro só adquire a impecabilidade através da implacabilidade consigo mesmo, avaliando os pontos onde gasta mais energia aliado a um certo grau de disciplina.
ResponderExcluirCom essa energia acumulada se adquire poder pessoal que é propocional a essa quantidade de energia acumulada.
Com o poder pessoal o Guerreiro consegue manipular as linhas de energia o que é chamado a maestria do Intento.
Darshan
08:51 08/04/2013
Estamos em uma nova modalidade do tempo depois do alinhamento, tanto que agora temos acesso não só as 48 faixas
ResponderExcluirde emanações da Aguia anteriores, foi alinhada mais uma faixa então agora temos 49 faixas. Somos a geração 49.
Darshan
Oi Vento. A questão do donjuanismo pra mim é ainda estranha. A impressão que tenho é que quando se fala em donjuanismo, é como subdividir o Caminho do Guerreiro, ou ainda como dar um ar pessoal ao Caminho que é impessoal, assim como fragmentar um corpo coeso.
ResponderExcluirTenho a visão que a figura de Don Juan é realmente única nesse caminho, assim um porta voz Impecável! No entanto o vejo mesmo como porta voz do Espírito, explanando sobre o Caminho, o que então engloba todo o Caminho, ou seja, não é o Caminho segundo Dom Juan, mas o Caminho que fala através dele. Bem, é fato que ainda não estou familiarizada com o termo ou mesmo tenho estudos mais aprofundados do que venha a ser o donjuanismo, mas foi essa a impressão que tive...
Bem, no mais super super grata pelas explanações, excelentes, inclusive! Que bom que possam colocar as impressões sobre o Caminho. Acredito que isso também faz vivo o Caminho. ( Elis)
OBS: Só mesmo para constar. Foi interessante que ao começar a ler o texto, passei de um estado de cansaço, mental e físico, para um estado de ótimo ânimo! Isso, pra mim, foi um bom sinal!
ResponderExcluir