O mito da caverna ilusória do homem - de Platão à Don Juan na libertação do homem





Durante um dia destes estava eu contemplando a maravilha do dia, ciente da presença quando repentinamente comecei a cantar uma canção católica, me parecia muito bonita no momento, mas eu não sabia porque ela tinha surgido em minha mente. Então que minha esposa recolhe esta música, e me fala que por conta dela lembrou que fazia tempo que não estava indo para a sua igreja. Fui o canal para uma mensagem que chegou a ela, sem julgamentos de se é uma mensagem para o bem ou para o mal, a mensagem chegou ao destino que pretendia. Assim somos, como antenas que captam ondas energéticas, e entender de onde vem e para onde vão estas ondas é um dos objetivos de nossa jornada da consciência.
Da mesma forma, estava eu pensando no segundo inimigo do homem durante esses dias em que estou imerso na presença. Indagando sobre os perigos que a clareza podem nos trazer. Várias foram as mensagens que me chegaram do infinito, para a resolução deste problema que eu vinha enfrentando. Se por um lado a clareza nos faz focalizar ao nosso redor o que é a realidade, ela pode nos cegar. Então que um amigo me enviou uma mensagem remetendo-me a Platão e ao mito da caverna, e toda a questão, em um texto antigo me trouxe todo o esclarecimento que eu tanto buscava.
Remeter-me ao texto do mito da caverna, me levou a mais buscas em que comparei os escritos platônicos aos textos de Don Juan, no primeiro livro da obra deixada por Castaneda, quando aduz sobre os inimigos naturais da caminhada do guerreiro para ser um homem de conhecimento. Realmente, os textos, que tomam perfis literários diversos, remetem a uma mesma verdade. Deixarei aqui os riscados que refletem a minha fase atual na caminhada. Interessante notar que apenas agora, depois de tantos anos de caminhada, que entendi como chegar à clareza, e nesta fase da jornada, temos que redobrar a atenção para não sucumbir no caminho árduo que leva ao conhecimento.
No mito da caverna, Platão aduz sobre a questão da seguinte forma:
Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no gênero dos tapumes que os homens colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.
 - Estou a ver – disse ele.
 - Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objetos, que ultrapassam: estatuetas de homens e animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados. (PLATÃO, A república, Livro VII, p. 315, grifo nosso)
O mito da caverna inicia-se conforme inicia-se a nossa vida socializada. A socialização do homem inicia-se com o agrilhoamento das crianças nos ditames sociais de manutenção do status quo, com as diversas frentes do sistema, a família, as escolas, os amigos, a televisão, etc. Os soldados do sistema são os replicadores da dominação. A cada palavra, a cada dia de edificação da vida adulta na criança, se estão forjando grilhões para a sua prisão nesta caverna, tal qual falava Platão. O homem socializando-se acostuma-se primeiro com os grilhões que o prendem, com as limitações, com a separação. A socialização impõe ao homem que ele está separado do todo, e que seus objetivos confundem-se aos objetivos que levam a perpetração da sociedade como está, suas estruturas de poder, e a replicação da dominação que leva a humanidade ao que ela é hoje, escravos de um sistema, vendo apenas um reflexo tênue da realidade que permeia o universo.
Quando o guerreiro começa a percorrer o caminho do conhecimento, ele o faz entendendo inicialmente que está preso a grilhões, a correntes, e começa então a identificar cada corrente que o prende, e ver a ilusão que é o próprio mundo. Perceber as correntes que prendem o homem é a primeira das grandes descobertas de sua vida, não existe medo antes disso, antes de se ater que é preso, não existe sequer um inimigo senão a própria ignorância. Não conhecer a realidade que cerca é um inimigo em si. Sonâmbulas as pessoas perambulam pela vida desta forma, presas em correntes que sequer imaginam carregar, carregando bolas de ferro pesadas, que as fazem arquejar em suas caminhadas, sequer sabendo de onde vem o peso da vida. Praguejam as pessoas sobre a dificuldade da vida, agridem aos seus semelhantes tentando se livrar da dor que carregar, sequer sabendo que a dor vem da prisão em que vivem, em que se permitem viver, sendo que sequer sabem que estão já dentro do paraíso, e que para reivindicar isso basta levantar-se e sair do canto escuro da ignorância que o sistema os impôs.
Apenas após despertar para a prisão em que vivem, as pessoas são capazes de levantar-se, e sentir, movimentando-se que estão presas, e quais os grilhões que as prendem. Despertar é a tarefa inicial, mas não é uma tarefa em que uma pessoa possa ajudar a outra, é algo pessoal, é um segundo em que há um alinhamento, em que o espírito dá um clarão para a pessoa, um momento único de alinhamento do o todo, com o universo, um segundo lembrado por todos como algo que aconteceu em suas vidas e que os fez repensar toda a existência. O espírito universal, que a tudo permeia, a todos, que é tudo e todos, permite que todos tenham esse vislumbra mínimo, e o divisor de águas é o que a pessoa faz com esse lampejo da eternidade que recebe em sua caminhada. Ao despertar, a pessoa vê-se a volta com o primeiro inimigo do homem, livre da ignorância que amortecia o impacto da realidade, o homem depara-se com o medo. No mito da caverna de Platão, o homem vê-se agrilhoado, preso, em um lugar escuro, percebe algo a mais naquela existência. Don Juan coloca as coisas da seguinte forma:
- Quando um homem começa a aprender, ele nunca sabe muito claramente quais são seus objetivos. Seu propósito é falho; sua intenção, vaga. Espera recompensas que nunca se materializarão, pois não conhece nada das dificuldades da aprendizagem.
Devagar, ele começa a aprender... a princípio, pouco a pouco, e depois em porções grandes. E logo seus pensamentos entram em choque. O que aprende nunca é o que ele imaginava, de modo que começa a ter medo. Aprender nunca é o que se espera. Cada passo da aprendizagem é uma nova tarefa, e o medo que o homem sente começa a crescer impiedosamente, sem ceder. Seu propósito torna-se um campo de batalha."

“E assim, ele se depara com o primeiro de seus inimigos naturais: o medo! Um inimigo terrível, traiçoeiro e difícil de vencer. Permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando à espreita. E se o homem, apavorado com sua presença, foge, seu inimigo terá posto um fim à sua busca. (CASTANEDA, Erva do Diabo, grifo nosso)

Don Juan mostra que o início da caminhada é árduo, e que é difícil entender o incipiente caminhante para que são os ensinos que ele recebe, qual é o objetivo de sair da zona de conforto que lhe dava o mundo social, em que bastava seguir nos ditames sociais para estar realizado. Mas para quem despertou, e decidiu explorar o mundo que se abre, não era mais possível ficar inerte, acorrentado, também é difícil seguir a jornada. A pessoa não é mais um prisioneiro de todo, pois a prisão da realidade tem uma condição si qua non, qual seja, a inconsciência do seu estado de prisioneiro, e isso nunca mais volta. De outro lado, o caminho do guerreiro tem também suas condições, vencer os inimigos que se colocarão a sua frente, e o primeiro deles é o medo. Platão cita então que:
- Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fosses soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas que se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, ao fazer tudo isso, sentiria for, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objetos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objetos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objetos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam?

É a dor de olhar a realidade como é que impinge o medo aos caminhantes. É dolorido olhar a clareza inicial das coisas, e ver que estava dentro de um sono que parecia ser a realidade mais sólida por detrás de tudo. A maravilha de descobrir o verdadeiro mundo por detrás da ilusão vem depois da dor de descobrir-se imerso na escuridão de uma prisão que a própria ignorância permitiu que a pessoa vivesse. Nesta hora não há como culpar o sistema, pois as correntes são colocadas apenas em quem as aceita, e quem as usa de bom grado, e com esse peso quer seguir. As pessoas as aceitam, e muitas inclusive relutam de livrar-se delas quando tem a chance única da liberdade, pois a liberdade trás uma responsabilidade que poucos querem assumir. O medo é ver-se perdido entre não ver ainda a realidade de forma clara, e sentir-se perdido em face das novas responsabilidades que a caminhada lhe dá. Na prisão os carcereiros alimentam as pessoas, lhes dão água, abrigo, o mínimo necessário, claro, mas tudo vem naturalmente, mas levantando-se e desagrilhoando-se, tudo deve ser batalhado, a realidade toma a forma verdadeira, e não uma nova forma, da escuridão da caverna da prisão em que a pessoa vivia, começa a surgir algo além da sobra pálida da realidade, começa a surgir a luz que cria essas sombras, e é apavorante inicialmente para quem ali chega ver a realidade, e ter a certeza de que se estava preso durante grande parte de sua vida.
Ao entender e vencer o medo, a caverna que em o caminhante estava preso ilumina-se, e o brilho começa a mostrar as belezas daquele mundo além das sombras. O homem quando assim vence ao medo, encontra-se frente a frente com a clareza. A clareza é perceber o próprio brilho que nunca antes havia sido percebido, é o fogo da caverna do mito de Platão, que ainda não é a luz verdadeira, mas é uma luz que pode cegar a quem estava preso na escuridão por muito tempo.
Na verdade a caverna em que o homem está preso é a caverna de si mesmo, é o casulo luminoso do homem, os limites do eu, que o fazem crer separado do todo. Isso é a caverna, e o ovo luminoso, as suas paredes, permitem apenas que as pessoas vejam a realidade sobre o reflexo dele mesmo, de forma que este ovo é lapidado com os ditames sociais, conforme já falamos. O homem então está preso a ele mesmo, ao ego, ao eu, entendendo-se apartado do todo, na escuridão das sombras da realidade que vê refletida em seu ovo de luz. Essa é a prisão que está enclausurado o homem, a prisão da forma humana, nos limites de seu ego. A clareza é o brilho interior. A caverna do homem, ele mesmo, quando iluminada mostra um universo de possibilidades. Então o homem começa a ver que naquele brilho que é o ser interior consegue proezas antes inacessíveis, ele fica cego pela beleza do brilho interior, ele vê além da projeção do universo nas bordas de seu ovo de luz, de sua caverna da individualidade, as possibilidades perceptivas, começa a explorar a caverna interior, cada canto dela, encontra tesouros maravilhosos ali, este é o segundo inimigo, preso dentro de si, ainda entendendo-se apartado do todo, o guerreiro ai pode cegar-se com as maravilhas que encontra dentro desta caverna de si mesmo. Don Juan falava deste inimigo da seguinte forma:
“E assim ele encontra seu segundo inimigo: a clareza! Essa clareza de espírito, que é tão difícil de obter, elimina o medo, mas também cega."
“Obriga o homem a nunca duvidar de si. Dá-lhe a segurança de que ele pode fazer o que bem entender, pois ele vê tudo claramente. E ele é corajoso, porque é claro; e não pára diante de nada, porque é claro. Mas tudo isso é um engano; é como uma coisa incompleta. Se o homem sucumbir a esse poder de faz-de-conta, terá sucumbido a seu segundo inimigo e tateará com a aprendizagem. Vai precipitar-se quando devia ser paciente, ou vai ser paciente quando devia precipitar-se. E tateará com a aprendizagem até acabar incapaz de aprender qualquer coisa mais”
- O que acontece com um homem que é derrotado assim, Dom Juan? Ele morre por isso?
- Não, não morre. Seu inimigo acaba de impedi-lo de se tornar um homem de conhecimento; em vez disso, o homem pode tornar-se um guerreiro valente, ou um palhaço. No entanto, a clareza, pela qual ele pagou tão caro, nunca mais se transformará de novo em trevas ou medo. Será claro enquanto viver, mas não aprenderá nem desejará nada.
- Mas o que tem de fazer para não ser vencido?
- Tem de fazer o que fez com o medo: tem de desafiar sua clareza e usá-la só para ver, e esperar com paciência e medir com cuidado antes de dar novos passos; deve pensar, acima de tudo, que sua clareza é quase um erro. E virá um momento em que ele compreenderá que sua clareza era apenas um ponto diante de sua vista. E assim ele terá vencido seu segundo inimigo, e estará numa posição em que nada mais poderá prejudicá-lo. Isso não será um engano. Não será um ponto diante da vista. Será o verdadeiro poder.
A clareza é um engano, pois ainda o caminhante quando depara-se com ela está preso a um fragmento da realidade, não são sombras como antes, e nem há o agrilhoamento que havia outrora, mas ainda há apenas uma parcela da realidade. Sucumbir neste estágio é possível, pois a realidade incompleta, mesmo que menor que a realidade que se pode alcançar, pode fazer com que o guerreiro sucumba a ela. Acostumar-se com a clareza existe força de vontade do guerreiro, para entender primeiro que ainda não chegou a lugar algum, mas apenas está dando os primeiros passos para sair da prisão em que estava agrilhoado. Neste ponto o guerreiro ainda não sabe que a prisão é ele próprio, e os limites que acredita existir entre o eu e o tudo, como dizia Platão:
- Precisava de se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objetos, refletidas na água, e, por últimos, para os próprios objetos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há no céu, e o próprio céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do que se fosse o Sol e o seu brilho de dia.
Todas as fases desta caminhada para o conhecimento demandam tempo, para acostumar-se o guerreiro com sua nova condição. Quando aprende a caminhar, a criança deve fortalecer os músculos de suas pernas, para depois correr, depois pular, depois dançar com graça. Assim são as conquistas energéticas, demandam também um tempo para internalizarem-se e consolidarem-se no campo de ação do caminhante. A clareza que liberta também cega é preciso, necessário nesta fase da caminhada explorar sim toda a caverna agora iluminada pela chama do fogo do segundo nível, mas é preciso entender que aquilo ainda é uma ilusão, uma parte do todo, e assim ainda parte. O guerreiro busca a totalidade e não os fragmentos, não se satisfaz com migalhas, pois o espírito lhe sopra em seu interior que ele é tudo, e mesmo não compreendendo isso, o guerreiro sustenta-se no ter que acreditar, para não sucumbir e continuar a sua jornada de descobertas.
Quando explora toda a caverna de seu ser, dos limites ilusórios que lhe impõe a forma humana, o guerreiro encontra uma brecha para a luz verdadeira, para além dos limites da caverna. Tendo explorado a si mesmo, ele vê que a luz que brilha do lado de fora é mais completa. O guerreiro aqui descobre-se parte de tudo, vê através do ovo de luz, e finalmente vê como os guerreiros, entende a plenitude, entende com perfeição que nunca este apartado de nada, se não pela ilusão que lhe fora impingida desde seu nascimento pelo sistema de crenças que mantém o status quo. Segundo Platão, o homem ao descobrir a verdade não voltaria nunca mais para a ilusão da prisão, ao encontrar-se em definitivo com o poder, o homem entende que nunca esteve longe deste poder, mas fez-se distante dele, não o tocava porque achava que ele era intocável, inatingível, quando o poder e o guerreiro sempre foram a mesma coisa, o poder o soprava nos ouvidos a liberdade, o poder o fizera caminhar até ele, e ele sempre esteve ali, a disposição do guerreiro que para isso precisava apenas estender as suas mãos e reivindicar, pois ele sempre foi seu, parte de ti. Platão segue da seguinte forma:
E as honras e elogios, se alguns tinham então entre si, ou prêmios para o que distinguisse com mais agudeza os objetos que passavam, e se lembrasse melhor quais os que consumavam passar em primeiro lugar e quais em último, ou os que seguiram juntos, e àquele que dentre eles fosse mais hábil em predizer o que ia acontecer – parece-te que ele teria saudades ou inveja das honrarias e poder que havia entre eles, ou que experimentaria os mesmos sentimentos que em Homero, e seria seu intenso desejo [servir junto de um homem pobre, como servo da gleba], e antes sofrer tudo do que regressar àquelas ilusões e viver daquele modo?
 - Suponho que seria assim – respondeu – que ele sofreria tudo, de preferência a viver daquela maneira.
Consciente do poder que o cerca, tendo vencido a clareza, e chegado ao poder, o homem em troca de nada volta à condição da prisão. Chega-se então a uma perigosa encruzilhada no caminho: como viver no mundo, sabendo da ilusão que ele é? O guerreiro então deve usar das ferramentas da espreita, da loucura controlada. Neste ponto alguns escolhem partir, e somem deste mundo, pois não veem mais objetivo em estarem aqui. Don Juan cita isso, e diz que depende da predileção de cada guerreiro isso, é uma escolha pessoal, ele cita que escolheu caminhar por este mundo, por entende-lo belo. Aos que escolhem aqui permanecer até chegar o seu tempo, a loucura descontrolada da vida, onde as pessoas são marionetes do sistema dominante cessa, e o guerreiro brinca com a realidade,  a loucura controlada o faz fingir acreditar e estar no sistema, sabendo e mantendo a consciência constante de que tudo é um grande teatro. No entanto o guerreiro escolhe o seu papel, de acordo com o espírito, pois ele segue tal e qual o fluxo do universo, pois claro, ele já sabe ser o próprio universo. Ninguém ao ver a maravilha do mundo desperto, e sentir totalmente esta dádiva, retorna a caverna, pois consciente da luz verdadeira das coisas, sua vista não mais acostumar-se-ia com a escuridão e a pálida realidade do mundo de sombras.
Mas não adianta ao guerreiro que por suas próprias pernas e ouvidos e coisas todas conseguiu ouvir as indicações do espírito para sair da prisão, querer voltar ali e levar as pessoas que são caras a ele, pois seria incompreendido. Imagine chegar àquela caverna escura da ignorância e tentar a todo custo falar das maravilhas do sol verdadeiro? Seria a pessoa execrada, morta talvez, excluída por ser tida como louca, e isso é o guerreiro, um louco com o pleno domínio de sua loucura. Platão fala da seguinte forma desta possibilidade: “E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se pudessem agarrá-lo e mata-lo, não o matariam? - Matariam, sem dúvida – confirmou ele.”
Então o guerreiro neste estágio, poderiam pensar, sente-se sozinho em meio a sua jornada. Mas não é isso que acontece, posso asseverar. Neste estágio, como está conectado com tudo e todos, o guerreiro está mais completo que todas as pessoas, pois é ele a própria eternidade, e ai vem o grande inimigo do homem nesta caminhada, o poder. Don Juan diz que:
“Ele saberá a essa altura que o poder que vem buscando há tanto tempo, é seu por fim. Pode fazer o que quiser com ele. Seu aliado está às suas ordens. Seu desejo é ordem. Vê tudo o que está em volta. Mas também encontra seu terceiro inimigo: o poder!"

“O poder é o mais forte de todos os inimigos. E naturalmente, a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. Ele comanda; começa correndo riscos calculados e termina estabelecendo regras, porque é um senhor."
“Um homem nesse estágio quase nem nota que seu terceiro inimigo se aproxima. E de repente, sem saber, certamente terá perdido a batalha. Seu inimigo o terá transformado num homem cruel e caprichoso.”
Conectado com o tudo, se não estiver apoiado em sua loucura controlada, e ver que na verdade o poder nada importa, como tudo que há, o homem sucumbe aos caprichos pessoais. Vencer a este inimigo significa entregar-se em definitivo ao poder que o libertou, à força perene do universo, à sabedoria universal, ao espírito. Só assim, dissolvendo os seus desejos e apenas assentindo ao poder universal, a inteligência que rege a tudo que há, o homem consegue superar o derradeiro inimigo, o poder. Sem ater-se aos desejos pessoais, em face de poder imensurável que o cerca, o guerreiro entrega-se de vez, e na entrega vê-se livre. Uma dicotomia digna de poemas cantados por toda humanidade, e deturpados nas linhs religiosas de todo o mundo. Da entrega definitiva, do sacrifício final dos desejos que emanam do eu, vem a liberdade plena, o guerreiro pode tudo, mas nada quer, pois apenas segue o fluxo das coisas, e entende que sucumbir a qualquer coisa que emana de dentro de si, é voltar aos grilhões da caverna, com um poder infinitamente superior. A morte simbólica que relata Don Juan do livro O poder do Silêncio, diz exatamente sobre isso, a morte do ego, não em sua totalidade, mas no que ele dita para o todo energético do ser. Há uma extinção dos desejos que regem a nossa caminhada nesta terra, e ele é trocado, dado em sacrifício em troca da impessoalidade o poder. Ele diz:
— Meu benfeitor explicou-me então que a passagem de um feiticeiro para a liberdade era sua morte — continuou Don Juan. — Contou que ele próprio pagara com a sua vida por essa passagem para a liberdade, como o fizeram todos os demais de sua casa. E que agora éramos iguais em nossa condição de estarmos mortos.
— Também estou morto, Don Juan?
— Você está morto. O grande truque dos feiticeiros, entretanto, é estar consciente de que estão mortos. Seu passaporte para a implacabilidade deve estar envolto em consciência. Nessa consciência, dizem os feiticeiros, seu passaporte é mantido em estado de novo.
“Por sessenta anos, tenho mantido o meu em estado de novo. (O Poder do Silêncio)
Ao final da caminhada, entregando-se ao espírito, o guerreiro entende que nunca aprendeu nada novo, nem livrou-se de nada que não de sua própria ignorância sobre a realidade, de que nunca esteve preso, nunca esteve obscurecida a sua visão, e que nunca esteve longe do poder.
Don Juan quem afirma categoricamente que “existe mais coisas que o olho pode perceber. Não necessitamos de ninguém para ensinar-nos feitiçaria, porque realmente não há nada a aprender. O que necessitamos é de um professar para aos convencer de que há um poder incalculável ao alcance de nossos dedos. Que paradoxo estranho! Cada guerreiro na trilha do conhecimento pensa, num momento ou outro, que está aprendendo feitiçaria, mas tudo que está fazendo é permitir a si mesmo ser convencida do poder oculto em seu ser, e que pode alcançá-lo”.

E no momento de ter todo esse conhecimento, de reivindicar tudo que o mundo social lhe havia tentado fazer esquecer, o guerreiro depara-se com a sua velhice, o último inimigo, o cessar de seu tempo nesta caminhada. Um momento sublime, em que já entregue ao espírito, ao fluxo universal, o homem vê a sua força orgânica ceder neste mundo, e chega a sua hora de partir para uma nova jornada, na continuidade energética. O guerreiro aceita o seu destino, maravilhado de saber que sempre esteva aqui, no paraíso, e que não é ali ou acolá que existem maravilhas, sempre foi aqui e agora, sempre foi nesta Terra o desafio mais belo que ele podia ter. E parte em luz, independente se for para ser devorado, ou para continuar a sua jornada como um ser inorgânico, nada importa ao guerreiro, pois ele é um homem de conhecimento, e sabe que em qualquer forma, ele é e sempre foi tudo.

Comentários

  1. Creio que caiba muito bem no final desta boa exposição:
    “Já me dei ao poder que rege meu destino (velhice). E não me prendo a nada para não ter nada a defender (poder). Não tenho pensamentos, por isso verei (clareza). Não receio nada, por isso me lembrarei de mim mesmo (medo). Desprendido e a vontade, passarei como um jato pela águia para me tornar livre”
    Don Juan.

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  2. Hermanos Buenos dias
    Somos pontos de ressonancia, antenas e sondas do Infinito, podemos captar qualquer coisa como dizia D.Juan.
    Pratricamente todos os dias recebo lindas melodias que vem do Infinito. São musicas que nunca ouvi, as vezes vem com
    melodia e letras juntos. Eu não as compunha elsa me chegavam eu as presoudiza com a boca os instrumentos, assobiava e cantava porém depois de algum tempo elas iam assim como tinham vindo e eu as esquecia, Somente o Universo como Criador e eu como duto sendo sua manifestação. Vejo que assim serão como os Passos de Poder que começaremos a receber, nossos proprios passos desenhados pelo Infinito de acordo com nosso molde energetico. Virão inclusive com a descrição do Intento, para que serve. Assim os Passos serão as melodias e o intento do passo,
    sua letra.

    Darshan 08:12 28/05/2013

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  3. Hermano Alexandre
    no ultimo verso, só acrescentando "Desprendo e a vontade"..... DESAPEGO, essa arma dificílima de Conquistar. Afinal ninguém quer se desapegar de verdade.
    Darshan

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  4. D.Juan fala de um exercicio "CONTEMPLAR SOMBRAS". Em alguns trechos dos livros de fiz que podemos ver pela
    sombra de uma pessoa qual o seu estado de espirito e até se ela está doente.
    Darshan

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  5. Temos de intentar evolluir, essa é nossa missão. Evoluindo deixaremos um vácuo. um caminho aberto para ser ocupado por outro caminhante. Quando um evolui ele carrega e induz por si só a evolução de outros.
    Darshan

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  6. E assim descobri que estava ´praticando NADA YOGA, sem querer querendo, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Nada Yoga é um antigo sistema metafísico indiano. É ao mesmo tempo um sistema filosófico, um medicamento, e como o nome sugere, uma forma de yoga . Aspectos teóricos e práticos do sistema são baseados na premissa de que todo o cosmos e tudo o que existe no cosmos, incluindo os seres humanos, consiste em vibrações sonoras, chamadas nāda. Este conceito defende que é a energia do som em movimento ao invés da matéria e partículas que formam os blocos de construção do cosmos.
    Nada Yoga também é uma forma de se aproximar com reverência e responder ao som. Som e música É neste contexto, algo mais do que apenas as propriedades sensoriais e fontes de prazer sensual, o som ea música é considerada também a desempenhar o papel como um meio potencial para atingir uma unidade mais profunda tanto com o exterior e os cosmos internos.
    Uso de Nada Yoga das vibrações sonoras e ressonâncias também são usados ​​para perseguir os efeitos paliativos em várias condições psicológicas e espirituais problemáticos. Também é empregada para elevar o nível de consciência dos centros energéticos chamados postulados chakra .
    Darshan 28/05/2013

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  7. Invitado




    Hola guerreros, mais uma feliz coincidência, pensava neste mesmo tema por estes dias...

    Publicado: Dom May 26, 2013 8:25 am Título del mensaje:

    El Águila es el "Tirano", todo que uno puede hacer es seguir el flujo de la energia, o sea, ser impecable... "Lo que importa es que el guerrero sea impecable".
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  8. Solo hay sincronicidad en nuestros caminos, Hermano. Sea bienindo.
    Darshan 07:46 29/05/2013

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  9. Hermanos um excelente exercicio que devemos fazer assim que acordarmos é ESPREGUIÇAR-NOS. Os bebês o fazem
    e até mesmo na vida intra-uterina e vários animais também.
    Darshan 08:38 20/05/2013

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  10. O despertador toca e o barulho estridente atravessa o cérebro, tirando você do descanso profundo. Muitas vezes, a rotina atrapalhada faz com que saltemos da cama num pique só, deixando passar batido um pequeno prazer: espreguiçar-se. Só que uma boa esticada é, além de deliciosa, uma grande amiga da saúde. Conheça sete motivos para você tornar o movimento um hábito indispensável no seu dia a dia.
    1. Acorda o cérebro

    "Ao dar aquela espreguiçada, os músculos se esticam e sua circulação sanguínea é ativada, mandando uma mensagem de alerta para cérebro", explica o ortopedista Fabio Ravaglia. Isso que ajuda a dar "aquele gás" na disposição, mesmo que seja uma segunda-feira cinzenta e cheia de trabalho pela frente.

    2. Dá mais prazer

    Fabio explica que o ato de se espreguiçar libera endorfinas através dos músculos, hormônios neurotransmissores que são responsáveis pela sensação de bem-estar. Outro hormônio, a serotonina, também é liberada nesse processo, o que ajuda também a ativar a memória e a dar mais disposição ao corpo.

    3. Afasta dores de cabeça

    O tipo mais comum de dor de cabeça é a cefaleia tensional que, entre outras coisas, pode ser causada pela tensão muscular, afirma o especialista. Sendo assim, espreguiçar ajuda a mandar a dor embora, pois os músculos distensionados enviam informações de que o cérebro também pode relaxar.

    4. Lubrifica as articulações

    Nossas articulações possuem o chamado líquido sinovial, cuja função é auxiliar na lubrificação das articulações, ou seja, auxiliar o bom funcionamento delas. Para mantê-lo em bons níveis, o alongamento dos músculos é fundamental, por isso, espreguiçar é uma maneira boa de deixar as articulações em ordem.

    5. Deixa o corpo de jovem

    A partir da adolescência, começamos a perder a flexibilidade. Por falta de alongamento, problemas de coluna e joelhos começam, cada vez mais, a aparecer nos jovens. Espreguiçar-se é uma forma de alongar e preservar a flexibilidade.

    6. Reduz riscos de lesões

    Se você é o famoso "esportista de final de semana", com certeza, sabe que antes daquela partida de futebol ou de umas braçadas na piscina é preciso fazer um bom alongamento. Entretanto, é importante que você estenda essa prática ao dia a dia, para evitar os problemas típicos desse hábito. "Espreguiçar deve ser um hábito diário, realizado pela manhã e à noite", diz o ortopedista.

    7. Alivia a fibromialgia

    Fabio explica que é cientificamente comprovado que para os portadores dafibromialgia (a doença em que o paciente apresente uma condição de dor generalizada e crônica). Espreguiçar-se pode trazer um bom alívio às dores, pois o alongamento da musculatura de todo o corpo ajuda a minimizar a tensão acumulada nas articulações.

    DARSHAN

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  11. Mas bah tche! Esta caiu como uma luva rsrsrs.. tenho andado tenso e com dores nas costas e pernas, uma coisa que notei foi que fazendo alguns movimentos antes de levantar a coisa melhora...

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  12. kkkkkkkkkkkkkkkkk, Hermano vê como as coisas estão conectadas?
    Darshan

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