Uma pequena homenagem a maior das mães - a nossa Terra.



Hoje enquanto corria pela manhã me invadiu um sentimento de alegria, por estar nesta bela Terra, a nossa mãe, pela oportunidade de estar neste desafio que é a vida, consciente, presente, naquele instante do infinito, me vi declamando um poema que não me lembro, e nem era para estar aqui, pois foi direcionado a nossa mãe em comum, a Terra, nosso berço de existência e que estamos a destruir com a nossa ignorância. Me vi envolto em pedidos de desculpas pela humanidade, pela nossa ignorância, pelas destruições e pelas mudanças que fazemos em nossa bela Terra na vã ilusão de que nossa razão como humanidade incipiente nesta bela esfera é maior que os bilhões de anos de existência de nossa mãe, e que nossa razão pode suplantar os bilhões de anos de evolução de consciência que nossa berço chegou. Em meio ao poema que eu declamava, em voz alta enquanto corria, por entre suspiros e suor descendo pelo rosto, me vi impelido por um sentimento único, por uma comoção que me mostrou que eu estava de fato conectado com a nossa Gaia, nossa Pacha Mama. Eu pensavam que estava para chegar o dia das mães e que não havia mãe maior que a Terra, e eu ali a receber um presente. Minha energia alinhara-se em perfeição com a grande mãe e recebi dela uma mensagem especial, que foi mais ou menos assim:
Não se preocupe com desculpas, se existem homens aqui, e se vocês estão seguindo esta linha de ir contra o fluxo natural das coisas, existe também um propósito nisso tudo. Por gerações antes da vinda de vocês, existiam apenas seres conscientes, totalmente conscientes do fluxo universal, conectados plenamente com o espírito, com a corrente do mundo. Sim, todos os animais, plantas, tudo que não é o homem, diferente do que vocês penam com a razão, está plenamente consciente, e seguem apenas o fluxo universal. Percebem como tudo é extremamente sincrônico na vida? Como cada animal sabe quando deve se alimentar, quando deve correr, quando deve parar? Cada animal na natureza sabe atuar de acordo com o fluxo das coisas em precisão, são não sabe lidar quando depara-se com o homem, pois este que julga ser o mais consciente, está o mais distante possível da consciência universal.
Bastaria um estalo de minha energia para que não existisse mais um homem sequer na Terra, eu poderia fazê-lo, mas não o faço por não ser guiada por uma razão, sou guiada pelo espírito, e sigo o fluxo universal. Há tempos o que eram os homens antes dos homens, em suas gerações antigas, das mais remotas, haviam seres ligados plenamente com o fluxo universal. Contudo, o homem intentou algo, intentou o poder, e o poder o escravizou. A razão foi o ponto em que chegaram estes homens antigos, que antes se conectavam comigo, com o universo, com o fluxo das coisas com perfeição, reconheciam-se como parte de tudo, e cumpriam o seu papel evolutivo. Naquele tempo dos antigos de vocês, havia propósito na existência de cada um de sua raça. Mas a razão trouxe o entorpecimento da visão, o homem esqueceu-se do fluxo da vida, e começou a acreditar apenas na razão, somente na razão, e dela tornou-se escravo. O algoz da razão é a mente, que sozinha conseguiu mudar os rumos da evolução do homem.
Como eu diria estar insatisfeita com isso, como mãe de todas as energia que aqui estão, e como consciência que sou estou ciente do objetivo maior existente, mesmo na prisão que prendeu o homem. A energia não acaba-se, não finda-se, o homem não me destruirá, nem destrói nenhuma energia, apenas serve de ferramenta para forças que desconhece na alteração energética do fluxo existente em minha energia, e tudo tem um propósito que os guia. Falou dos tremores de terra, dos maremotos, das catástrofes, mas nada são que minha energia se moldando, seguindo fluxo, não faço isso para punir, porque puniria, para isso teria que julgar e não o faço, para isso teria que refletir, comparar e também não o faço. Apenas existo, dou vida, dou provimento aos seres que o espírito universal trouxe para viver aqui, nesta jornada, longa jornada que sigo. Se alguém destrói alguns seres que aqui estão, continuo a alimentar estes seres com igual impecabilidade, assim sou, punir um, agraciar outro nada mais seria que sucumbir a forma e não o faço, por não ter forma.
Se um homem desmata as plantas que nasceram em mim, matam os animais, e constroem cidades, eu continuo dando as chuvas, os ventos, dando o abrigo, sustento, ainda mantenho o fluxo de minha energia para sustentar a vida destes seres, pois assim sou, e este é meu objetivo, bem como é o de vocês livrarem-se da prisão que se tornou o que era para ser uma ferramenta apenas, a sua razão.
Não se preocupe, apenas entenda que deve seguir um caminho, e há apenas um caminho possível, não milhares. A razão tenta moldar as coisas, moldar este ser que sou, tenta arrancar o que é natural e criar o artificial, dizendo estar melhorando a sua vida, mas estão apenas distanciando-se do fluxo das coisas. Será que a razão, a mente, é mais sábia do que o fluxo do universo, o fluxo evolutivo que segue o universo? Será que o homem que vive uma vida de criações, e edificações artificiais ao fim de sua jornada estará pronto a seguir a sua jornada?
O homem edifica por fora, constrói cidades e organiza o mundo exterior, cria civilizações e instituições para tentar organizar o mundo, e tenta conhecer a tudo que existe, mas abandona a sua busca interior. O homem sábio na razão, sabe tudo que a razão pode lhe ensinar, mas não sabe atender a própria fome, sustentar o próprio corpo, controlar a mente, e entender o universo silencioso – existe sabedoria nisso – pergunto?
Na verdade, tentei colocar aqui em palavras o que vi por mim mesmo. Não existe rancores na Terra pelo que fazemos, mas apenas existe a constatação de que estamos no caminho errado, não existem julgamentos da grande Gaia, apenas uma certa tristeza que notei por ver que nossa civilização não consegue evoluir para lugar algum. Naquelas visões percebi que caminhamos todos para um abismo, onde ao fim da vida somos reciclados, e novamente, e novamente, por gerações estamos assim, seguindo para lugar algum como energia, apenas vivendo a prisão da ilusão, sem conseguir entender, e por não entender estamos perecendo, estamos em um vórtice evolutivo.
Choramos quando vemos uma espécie em extinção, mas estas espécies estão bem mais conscientes que nós, e quem sabe estão – como energia -, indo para planos outros na jornada energética do universo. E nós, estamos aqui, parados, glorificando uma meia dúzia de iluminados que seguiram este caminho da evolução energética, e ao invés de seguir os seus caminhos, estamos aqui, parados, seguindo os ditames da razão.
Nosso centro para decisões está enfraquecido, não conseguimos tomar decisões, e a decisão principal que deveríamos tomar, de mudar as nossas vidas, de mudar os rumos de nossa civilização, não tomamos, e protelamos a nossa evolução. Entendo que haja um propósito nisto tudo, de estarmos em estado de sítio, sitiados pelo mundo da razão que criamos, e entendo que talvez isso seja uma natural barreira a evolução, mas me pergunto por quantas gerações ainda termos que passar por esta ignorância? Somos homem que matam os que chamamos de irmãos, nas guerras, seres que criam animais, são nomes a eles, e depois os comem, sem piedade. Somos seres que matamos a nós mesmos, comendo inutilidades, com o ócio, presos pelo sistema morremos de infartos, estresse, depressão, aprisionados pela solidão matamos em surtos psicóticos, ou guerreando em nome da política do dinheiro, do capital. Não direi que somos aberrações, mas estamos aberrações, e isso entristece quando vejo a capacidade mágica que nos escorre pelas mãos.
Ali naquele parque de tantas visões a Terra me mostrou como eram as antigas civilizações, onde construíam-se casas que conectavam o espaço à terra, orientados pelos astros, pelo infinito, para o homem sempre lembrar-se de ser parte do todo. A grande mãe me mostrou como as civilizações antigas sabiam construir as suas civilizações em pontos de maior energia em sua crosta luminosa, como sabiam conversar com ela, e até mostrou-me como antigamente o homem sentia-se parte de tudo que existe aqui, o homem liberto, que entendia a morte como a hora do adeus a terra, e a hora de seguir a jornada, um momento que era aguardado e festejado pelo homem antigo. A terra me mostrou como hoje somos, e que não há julgamentos nisso, não por parte dela, mas havemos de fazer uma reflexão, pois não estamos matando a grande Gaia, mas matamos a nossa própria chance de seguir a nossa jornada, distantes estamos de nossa verdadeira natureza.
No fim de minha corrida começou a cair uma chuva, misturada com o sol me veio um sentimento de paz, a Terra me respondia, eu estava no caminho certo, tinha me conectado com a grande Mãe, me sentia em paz, ligado a ela, e ela me respondia. Saindo de dentro das matas por onde eu corria, um arco-íris me aguardava, de canto a canto formando um arco perfeito, a minha Pacha Mama havia me respondido, e entendido meu recado. Misturei o meu suor a chuva e as lágrimas em minha face, de alegria por aquele momento especial, ali eu sorria e chorava, eu entendia a minha ligação com ela, e como era belo o presente que ela me dava. Agradeci em voz alta, e vi que ela sentia meu carinho que ali eu expressava. Lembrei de cada pessoa, cada iluminado que já expressou esse sentimento na vida pela grande mãe, e ali, segui em paz para a minha casa, inundado pelo sentimento mágico de amor por ela, por mim, por tudo.

Luz, paz, intento.

Deixo aqui um trecho de Castaneda onde é mostrado o amor daqueles guerreiros pela nossa Terra:

Ficamos calados um momento. O latido daquele cão solitário era tão triste e a quietude em volta de nós tão intensa que senti uma angústia entorpecente. Aquilo me fez pensar em minha própria vida, minha tristeza, o meu não-saber para onde ir, o que fazer.
— O latido daquele cão é a voz noturna do homem — disse Dom Juan. — Vem de uma casa naquele vale para o Sul. Um homem está gritando por intermédio de seu cão, pois são escravos companheiros de toda a vida, sua tristeza, o seu tédio. Ele está implorando à morte que vá libertá-lo das correntes cacetes e feias de sua vida.
Dom Juan com suas palavras tocara num ponto muito perturbador para mim. Senti que ele estava falando diretamente para mim.
— Aquele latido e a solidão que ele provoca falam dos sentimentos dos homens — continuou ele. — Homens para quem uma vida inteira foi como uma tarde de domingo, uma tarde que não foi de todo desgraçada, mas meio quente e incômoda e vazia. Eles suaram e se afligiram muito. Não sabiam para onde ir, nem o que fazer. Aquela tarde deixou-os apenas com a recordação de aborrecimentos mesquinhos e tédio, e depois de repente passou; já era noite.
Ele repetiu uma história que eu lhe contei uma vez sobre um homem de 72 anos que reclamava porque sua vida fora tão curta que lhe parecia que ainda na véspera ele era menino. O homem me dissera: "Lembro-me do pijama que eu usava quando tinha 10 anos. Parece que só se passou um dia. Aonde foi o tempo?"
— O antídoto que mata esse veneno está aqui — disse Dom Juan, afagando a terra. — A explicação dos feiticeiros não pôde de todo libertar o espírito. Vocês dois, por exemplo, alcançaram a explicação dos feiticeiros, mas não faz diferença que vocês a conheçam. Estão mais sozinhos do que nunca, porque sem um amor constante pelo ser que lhes dá abrigo, estar sozinho é a solidão. Somente o amor por este ser esplendoroso pode dar a liberdade ao espírito do guerreiro; e a liberdade é a alegria, eficiência, e a renúncia diante de qualquer dificuldade. Esta é a última lição. pica sempre para o último momento, o momento de solidão final em que o homem enfrenta sua morte e sua solidão. Só então é que faz sentido.

Comentários

  1. Alguns de nós sentimos amor pelo ser consciente que nos acolhe, que nos nutre e nos protege. Outros, em sua maioria, nem tem noção, Sentem apenas o chão que pisam, não sentem a gravidade que lhes atrai. Para estes o que estão pisando é apenas o chão, pura e simplesmente, nada além. Para estes aqui fica o meu pesar.
    Darshan

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  2. Em "Viagem a Ixtlan" o Nagual ensina um passo de poder para despertar a consciência da Terra
    depois ele diz que esse é o primeiro passo da dança que o Guerreiro executa em sua ultima batalha na Terra

    Depois de chegamos lá, ele o rodeou e escolheu um lugar virado para
    sudeste, na base do morro. Limpou os galhos e folhas secas e outros
    detritos num círculo de mais ou menos um metro e meio de diâmetro. Quis
    ajudá-lo, mas ele. recusou com um gesto imperioso. Pôs um dedo nos
    lábios e fez sinal para eu ficar calado. Depois que terminou, puxou-me
    para o centro do círculo, virou-me para o sul e cochichou em meu ouvido
    que eu tinha de imitar seus movimentos. Começou uma espécie de dança,
    batendo ritmadamente com o pé direito; consistia de sete pancadas
    regulares intercaladas com um conjunto de três batidas rápidas.
    Darshan
    11:33 09/05/2013

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