O fogo interior e o fogo original




Lá na fonte do universo, de onde brotam todas as formas de vida, eu estive um dia, em que agora consigo recordar com mais clareza, e pude presenciar aquele espetáculo de pura beleza. Ali onde parece crepitar uma chama infinita, que estende as asas  par ao lados, ora brilhante, ora negrura, ali está a fonte de tudo que há. Não é um ser, ou algo qualquer que tenha nome, é o próprio aspecto do que sou, do que é tudo, da própria existência. Sem nome, sem forma certa, sem pensamentos ou manifestações que possam ser antropomorfizadas, seja por mim, seja por qualquer tipo de energia do universo. Decidi então chamar a fonte de o fogo gerador.
Ali eu o vi crepitar como uma fogueira, e dela saiam fagulhas de luz, como brasas ardentes. Algo como o calor, a luz, fulgurava pelo universo em infinitas direções, para todos os lados, em algo como cores. Nestas emanações da luz da fonte crepitavam as energias, como em um processo eterno de formação. Fagulhas de luz brilhante, algumas mais, outras menos, mas todas fagulhas, partes daquela mesma fonte eterna.
Vi algumas fagulhas que me traziam profunda identificação, eram fagulhas homens, fagulhas de luz que seriam colocadas cuidadosamente em um receptáculo, e depois tornar-se-iam homens. As fagulhas tinham uma pequena consciência de serem também parte da fonte criadora, e à medida que distanciavam-se daquela fonte, mais esquecidas ficavam de que eram parte indissolúvel da própria criação. Vi o caminho de infinitas criaturas. Haviam criaturas planetas, que eram lançadas não como fagulhas, mas como pedaços da própria chama, que fixavam-se ao redor das emanações, e juntavam duas ou mais delas. Essas pequenas chamas espalhavam mais luz sobre o universo escuro, e dela brotavam mais fagulhas, pequenas fagulhas.
Havia fagulhas homens que depois de muito tempo faiscando pelo mundo – pois assim eram as fagulhas homens – apagavam-se em pedaços de carvão. Quando assim acontecia uma fumaça subia delas, e era como se sugada até a fonte do universo. Uma fumaça branca de uma história pequena de existência. A fumaça exarada pela fagulha morta era como o resumo de toda a chama da breve existência.
Havia fagulhas homens que quanto mais tempo passava, mas brilhavam, era uma cena rara e linda de se ver. Fagulhas tornando-se chamas, e parece que assim deveria ser. O universo ficava mais feliz desta forma, as fagulhas que viravam chamas crepitavam sempre em uma parte escura do universo. Aliás, era mais escuro que brilhante o universo, mas parecia sem fim o esforça da grande fonte de fogo para equilibrar a equação.
Era uma visão muito distante de tudo, e à medida que eu a percebia, via que eu mesmo era uma fagulha homem. Sentia-me em brilhos e brilhos de tentar ser chama, mas muitas vezes era apenas fagulha. Senti que nas caminhadas de nossa vida, cada um de nós esquece-se de todo o caminho essencial de onde viemos, e como temos que seguir. Querendo mantermo-nos no conforto de ser apenas fagulha, nos acostumamos no conforto de não questionar-se acerca de nosso destino. Confortáveis dentro de uma casa, protegidos, olhando pela janela a vida passar. Assim, no conforto de não buscar, nos tornamos cada vez mais frios, e acomodados na escuridão, e o que antes era brilho, há um dia de tornar-se escuridão.
Cada pessoa neste mundo, cada ser – seja ele orgânico, inorgânico, humano, árvore, bicho -, cada ser é uma fagulha da mesma fonte, com brilhos diferentes, iluminando a grande escuridão do universo. Cada pessoa neste mundo, independente do caminho que ela siga, cada ser, independente de seu nível de consciência, o lume que tenha, é um ponto de vista que o próprio universo tem de si. Se eu olho o mundo por este ponto de vista, infinitos outros seres olham por outros, e outros. O universo se percebe através desta multiplicidade de visões acerca de si mesmo. Somos frutos da mesma árvore, somos fagulhas da mesma fogueira, somos todos olhos, ouvidos, sentidos do mesmo universo, cada um observando um ponto específico de si mesmo. O universo busca conhecer-se, perceber-se das mais variadas formas possíveis, e somos, cada um de nós, cada qual com sua peculiaridade uma forma de observar. Assumir a responsabilidade de perceber na totalidade do que somos capazes, é assumir o nosso objetivo cósmico, como guerreiros percebedores, viajantes. Experienciar cada ponto de vista possível sobre o universo, é tornar-se chama, e iluminar a consciência, e fazer brilhar o universo escuro que nos cerca, é tornar-se como a própria fonte que nos criou, da qual somos parte, é incendiar de consciência o plano da inconsciência. Com os olhos, ouvidos, tato, com os sentidos todos percebemos.
Com as palavras, com a arte, com a habilidade nos expressamos. Bem como somos os sentidos do universo, somos também a sua expressão. O universo se expressa através de suas partes, e sua grande arte cósmica é a mescla da expressão de cada parte, cada pedacinho de expressão individual está ligada, pois é assim que o universo consegue expressar os seus ditames. Expressando-se o universo consegue mandar sinais de uma parte a outra parte, sempre com o mesmo objetivo, a evolução de consciência. Expressar-se, seja da forma que for, é permitir que o espírito que a tudo permeia, o fogo que é a essência de tudo, mostre o caminho a outros percebedores. Eu me expresso com as palavras, outros com a arte, outros com o corpo, outros com o silêncio. Expressar-se é permitir ser o canal por onde fluem as mensagens, ouvir, ver, sentir, é permitir-se a perceber essas mensagens, e conseguir alcançar a meta de todos os seres no universo, a evolução da consciência, que é a liberdade de estar plenamente conectado, tal e qual o fogo original, ser a própria voz do espírito, e ser os próprios olhos e ouvidos conscientes do universo.
Que cada um de nós permita-se a ser consciente que é tudo, basta para isso despertar, e da fagulha o fogo da consciência brotará.

Comentários

  1. Hermanos Buenos dias
    ainda guardamos essa fagulha original dentro de nós mesmos. è nossa herança cósmica. Está guardada em nossos corações e chegará o dia em que a partir dessa fagulha se dará o Fogo interior.
    Kawak

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  2. Para termos acesso a essa camara secreta no coração teremos de sublimar, fazer elevar-se nossa energia do centros institivos para os centros superiores, por isso devemos economizar nossa energia sexual.
    Kawak

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  3. Gratidão ao Vento que Sussurra ,também ,por este rico presente! A clareza !

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