O presente do espírito e a roda de capoeira
Mais uma ciclo
se cumpriu, mais uma jornada fora realizada, uma etapa dentre as tantas que
fazemos durante a nossa vida. Completei anos no último fim de semana, e como
sempre, não espero presentes na data, mas deixo os meus agradecimentos ao
universo pelas conquistas atingidas. Agradecer, muito mais do que querer
receber, é um ato de libertação, de desprendimento, e de reconhecimento tanto a
nós mesmos, que tivemos força para atingir aos nossos objetivos, quanto ao
universo impessoal, que nos guiou aos caminhos que passamos. As coisas estão
intrinsicamente ligadas, o ímpeto do guerreiro, o intento, com a confiança que
este deposita no universo, que o guia as suas batalhas, e destas a decorrência
de vitórias e derrotas, ciclos normais na jornada de cada um de nós.
Durante o
último ano, muitas vitórias foram empreendidas. Comecei a ouvir mais
profundamente os sussurros do duplo, que se tornou voz ativa em minha vida, a
mente ancestral começou a falar mais alto, e com isso, uma parte conectou-se a
mim, uma parte que está adormecida na maioria das pessoas, devido ao processo
behavorista de condicionamento que os tantos professores da vida nos fazem no
decorrer de nosso crescer, que por fim se torna um diminuir. Mesmo assim, tais
desafios impostos são por demais necessários, são como barreiras que testam os
que estão preparados para despertar. O grande sono da humanidade, o sono da
mente social é por demais importante para se separar os que estão preparados para
o despertar mágico o qual todos, indistintamente, somos herdeiros.
Durante meu dia
especial, como todo ano faço, empreendi meditações e recapitulei profundamente
o meu último ano, e vi que o meu duplo tornou-se parte essencial de minha vida.
Comecei a perceber isso quando ele começou a me guiar em minha vida cotidiana.
Através dos sonhos, ele começou a me mostrar como fortalecer o meu tonal, para
que eu pudesse receber todo o poder do nagual em minha vida diária. Sim, o
equilíbrio é extremamente necessário nesta vida, só um tonal forte pode receber
plenamente o nagual do ser, este que essencialmente é a fonte inesgotável de
poder, reflexo perfeito da magia universal. Durante os doze meses que passaram,
foram-se 30 Kg de peso inútil do meu corpo, que impedia o fluxo perfeito de
energia pelos meus centros vitais. Foram-se embora hábitos antigos, e a
alimentação, que antes era sustentáculo de desejos, tornou-se uma via medicinal
para o meu ser. A transformação foi completa, em termos de decisão, em termos
de ímpeto. Meu corpo mostrou um gosto ímpar pelas corridas livres, começando de
pífeos 2 km, segui para 6, 8, 12, 20, 30, eu era tal e qual os nossos
ancestrais, e comecei a reconectar-me com uma força antiga dentro de mim,
correndo pelas planícies do cerrado, me sentia como um centauro, sentia as
forças ancestrais dentro de mim, a mata ao meu redor, os pássaros, macacos,
animais todos ali ao meu lado, dando boas vindas a minha nova fase da jornada,
tudo é um evento de cura em nossas vidas, cura ou adoecimento, a depender do
fluxo que nos propomos a seguir.
Não tenho como
não exprimir a minha gratidão ao infinito, pois neste ano as serpentes dentro
de mim abraçaram-se e conciliaram-se em definitivo, na eternidade do durar do
agora, tonal e nagual se abraçam pois a cura foi finalmente empreendida. Há
exatos sete anos atrás eu começava a me curar de uma enfermidade que quase me
matou, era um hipertenso dependente de remédios, que vivia enclausurado em um
quarto, e ali o espírito me resgatou. Nestes sete anos, empreendi uma
recapitulação minuciosa de minha vida, e os males, uma um dissolveram-se, pois
os males era apenas o desequilíbrio deste guerreiro que hoje vos fala, que
retoma as rédeas de sua integridade, em cada passo que supera os desafios
impostos pelo mundo social. Sou muito grato a tudo. Lembro-me por volta de 12
meses atrás, pouco mais, em que meu duplo me mostrava exatamente como eu
deveria ser, em uma imagem em um espelho em um mundo do sonhar. Ali estava eu,
quando chegasse hoje, e agora me vejo como fui conduzido, por uma parte mais
sábia e profunda de mim, a chegar aonde estou hoje. As mudanças foram demais
profundas, na lapidação do tonal, e assim chegou o nagual, e assim abraçaram-se
as serpentes.
Maior presente
que estes todos que vos narro não existiria, e não poderia ser eu mais grato
por todas essas coisas. Além de tudo, o espírito sempre me guiou pessoas que me
completaram, que me desafiaram partes ainda inexploradas de mim, que me
ajudaram nesta caminhada de alguma forma, uma miscelânea incrível de encontros
e desencontros que nos guiam ao inevitável agora de puro agradecimento, não há
nada a fazer, não há nada a mudar em nosso passado, pois somos hoje exatamente
o puro produto de todos os erros e acertos que tivemos, e isso é motivo demais
para nos regozijar da vida, e de sua sublime experiência que é apenas viver.
Ontem, além de
toda essa compreensão, ainda tive um presente inesperado. Eu estava planejando
com o amigo Kawak uma jornada no sonhar pelas pirâmides do Egito, e alguns
presságios me diziam que eu conseguiria isso. Contudo, como sempre a sabedoria
do outro eu é maior, ele me guiou a outro local. Durante a noite planejada, eu
tocava um berimbau em uma roda de capoeira, rodava e gingava como um menino,
como eu fazia há alguns anos, na verdade lá por volta de 1997 nas bandas de
Minas Gerais com o mestre Ambrósio, tempo querido e bem vivido de memórias
ímpares. No sonhar não eram memórias revividas, mas um novo tempo, e neste novo
tempo, eram só sorrisos, mandingas e meias-luas, como criança eu brincava
naquela roda do sonhar. Acordei alegre, e com o corpo todo tonificado pela
jornada, coisas que nos acontecem lá, tem seus reflexos aqui, exatamente porque
lá e aqui são apenas conotações semânticas para um mesmo lugar, o universo.
Durante a tarde, fui correr pela cidade, tinha me resolvido correr sem rumo,
livre, e que surpresa tenho quando por volta de meus 12 km de corrida encontro
um grupo de capoeira em uma praça, que maravilha foi aquele encontro, marcado
pelo universo para mim, e claro para todos que ali estavam.
Cheguei
sorrateiramente na roda, e batendo palmas acompanhava as cantigas da regional
que ali tocavam. Paranauê, zum-zum-zum e tantos outros, a cada momento eu me
animava. Então, o mestre que ali estava me convidou para jogar, disse que eu
ficasse à vontade, e assim o fiz. Faziam mais de 10 anos que eu não jogava na
roda, mas meu velho mestre dizia que o capoeira não esquece, adormece os passos,
e os guarda com cuidado no coração. Assim foi, naquela hora posso dizer com
toda razão que o abraço foi perfeito entre tonal em nagual. Naquela roda parece
que voltei ao sonho, ou estava lá, na verdade o que é esta vida se não um
sonhar do sonhado, bem como o sonho é o sonhar do desperto. Ali joguei tudo que
sabia, como dizia a cantiga, macacos, faca de ponta, aú sem mãos, rodopios, que
maravilha foi aquilo. Durante mais de uma hora me regozijei tendo a honra de
jogar na roda com cada um ali presente, meias luas e macacos saíram como se eu
ainda fosse uma criança – e ninguém dizia que eu não era ali -, piruetas,
saltos, palhaços, meu corpo estava mole, flexível, cheio de energia, eu fazia
tudo que há mais de dez anos em meu auge fazia naquelas rodas de outrora, mas
meu auge mesmo era agora, naquela roda especial, organizada pelo universo para
a minha especial comemoração de aniversário. Que maravilha foi aquilo, naquele
terreno, meio grama meio terra, pés descalços, mãos sujas no barro, virei tal
gato, e me joguei ao comando do nagual. Nunca vi, há muito, coisa tão especial,
produto da magia única do universo. Até agora caros amigos, sinto a especial
energia daquela roda, e tomo nas lembranças como se fossem mel, pois são doces
para mim ver o que fiz ali naquela roda. Por fim, o mestre daquela roda me
chamou, e com um sorriso de humildade, típico dos capoeiras todos, que são
muito receptivos, me convidou por fim a tocar o berimbau. Optei em
agradecimento a tocar um lamento de angola, tin-tin-ton-ton, assim seguiu a
música, em versos de prosa, evocando o velho mestre Pastinha naquela roda.
Acalmando a todos, e seguindo-se em um jogo mandingado, no chão, rodado, coisa
maravilhosa de se ver, e forma linda de se encerrar aquele belo evento do
infinito. Meus agradecimentos aos capoeiras ali, e ao espírito por ter me
reservado tal presente, e por fim, meus agradecimentos a todos que juntos
acompanham a saga deste guerreiros durante os anos em que estamos juntos neste
blog.
Intento a
todos.
Hermano Vento
ResponderExcluirsaúde e forte Intento para nós todos. Excelente presente recebestes do Espirito.
Kawak
Que rico presente recebestes e a nós partilhastes! Gratidão ao "Vento"!
ResponderExcluirBuenos dias Hermanos
ResponderExcluirNada tempera mais o espirito do Guerreiro que a consciência da morte.Esta noite fui em um sonho, não era pesadelo, não, então no Infinito encontrei algo que parecia a imagem de ma celula em preto e branco e aquilo começou a me sugar.Caso tivesse me entregado aquilo meu corpo teria morrido em minha cama. Quando levantei peguei uma estranha realidade em uma parte que DJ dizia que Carlito podia ter visto a face da morte e quando cheguei ao colégio onde trabalho a diretora falou que a psicologa havia morrido.
Parabéns Guerreiro. Muito me emocionei com teu relato. Intento.
ResponderExcluirHermano Guerreiro anonimo apresenta-te, aqui não mordemos não, kkkkkkkk. Todo comentário é bem vindo mesmo que seja um olá.
ResponderExcluirKawak 31/10/2013
Hermanos buenos dias
ResponderExcluirser impecável. Devemos comer somente nos momentos em que sentimos fome. A forma humana vive pedindo comida mesmo que não estejamos com fome. Quando não estamos sendo atacados assim somos bombardeados pelos apelos dos inorganicos para nos entregarmos. Vemos esse ataques e m anúncios de tv, nos balcões de padarias, outdoors, ...
Ja´percebeu que quando está para inciar uma dieta,a s "tentações" aparecem com mais freqüência?
Outra coisa que alimenta a forma humana é a adrenalina desprendida em nossa emoções principalmente o medo.
A forma humana as vezes se utiliza da imaginação para criar situações de conflito, preocupação e desespero mesmo que não existam ,somente para se alimentar desse hormônio.
Kawak
07:47 01/11/2013
D.Juan vivia implicando com a forma humana, brincando com o Nagual Carlitos imitando um apito de fábrica, quando chegava meio-dia, mostrando para ele esse faceta: hora de comer!!!!!!! Como seu corpo estava acostumado com essa rotina.
ResponderExcluirKawak
De 7 bilhões de seres humanos na Terra, calcula-se que 1 bilhão passa fome, enquanto a OMS fala que a OBESIDADE
ResponderExcluiré o "Mal do século"...... Que discrepância!!!
Kawak