Umas gotas de entendimento






No decurso da obra de Castaneda, em todo o legado que ele deixou sendo o conduto do Espírito, e por meio de obra de arte de seu benfeitor o Nagual Juan Matus, um dos temas mais controversos e que mais suscita dúvidas é exatamente a espreita. Como uma modalidade de ensinamento em si mesma, que pode ser uma arte única a ser seguida pelo guerreiro que caminha rumo a ser um homem de conhecimento, esta é uma arte recente na feitiçaria, se considerarmos dois períodos históricos ara delimitar as figuras do que chamaremos aqui, como guerreiros em busca do conhecimento.
Na história que oralmente fora repassada de gerações em gerações, não sanguíneas, mas energéticas entre cíclicos, que foram os Naguais da linhagem de conhecimento que hoje exploramos aqui, existem quatro períodos bem definidos de grupos, e quatro aspectos de evolução, ou em melhores termos, ruptura e alargamento do conhecimento.
Antes de falar sobre as linhagens e rupturas de conhecimento, farei uma breve digressão dobre o termo guerreiro, que é o que, logo de início, é erroneamente tratado, e que posteriormente, desemboca inevitavelmente a concepções erradas acerca da própria terminologia da espreita. O termo guerreiro designa realmente uma luta, um embate constante que a pessoa busca no caminho para o conhecimento. Essa luta não é contra outras pessoas, contra o sistema, contra o capitalismo ou qualquer outra coisa que exista fora de nós. A luta é contra o nosso interior, contra o estado de sítio em que vivemos, o estado de dominação da mente racional. O império do racionalismo interno é o nosso inimigo, que desdobra-se em diversos inimigos que temos que, a cada passo, lutar para combater: é a ignorância humana, a autoimortância, o incessante pensar. Todos estes inimigos são assim não porque seja ruim pensar, ou ter uma certa auto significância, é sim ruim na dosagem que que a Humanidade utiliza hodiernamente. A diferença entre o remédio e o veneno é exatamente a dose. O guerreiro vive nesta linha de navalha, buscando combater os excessos todos, tanto na exacerbação do Tonal quanto na exacerbação do Nagual. As gerações de guerreiros mostram, de forma paradigmática, as gerações e como se perderam, em cada tempo, a seus próprios desafios. Estamos inevitavelmente presos aos desafios de nosso tempo, e o nosso desafio é a luta contra a exacerbação da razão a tonalização excessiva e o desequilíbrio sob esta ótica no mundo hodierno.
Pois bem, a primeira linha de videntes[1] (usando a terminologia preferida por Dom Juan, que nunca foi xamanismo ou qualquer outra), foi a linha do que chamarei aqui de vidente-esperimentadores. Ela foi brevemente relatada nos livros, foi o grupo de pessoas que teve como o desafio de seu tempo a ruptura do caos perceptivo em que viviam os homens. eles eram experimentadores da realidade, e tinham que imergir no conhecimento, pela pura experimentação. Na verdade eles buscaram criar a ponte entre o conhecimento silencioso (que tinham muito forte) para o conhecimento sistematizado (que ainda era inexistente). Através das plantas de poder conseguiram a manipulação da realidade, a utilização inusual da atenção, muitos se perderam nos confins do universo, em mundos outros, pois não havia ainda uma prática sistematizada, seria ali o extremo do Nagual em que o Tonal era apenas uma sombra quase inexistente. Dom Juan assim os citava:
O modo como os toltecas começaram a seguir a trilha do conhecimento foi consumindo plantas de poder — respondeu. — Motivados pela curiosidade, pela fome ou pelo erro, eles as comiam. Depois que as plantas de poder produziram seus efeitos sobre eles, foi apenas uma questão de tempo alguns deles começarem a analisar suas experiências. Na minha opinião, os primeiros homens na trilha do conhecimento eram muito ousados, mas estavam muito enganados. (CASTANEDA, 1994, P. 12)

A segunda geração de guerreiros veio após os experimentadores iniciais. Essa geração é mais conhecida e trabalhada nos livros e é conhecida como os antigos feiticeiros. Dizia Dom Juan sobre eles da seguinte forma:
Os videntes toltecas eram homens extraordinários: poderosos feiticeiros, homens sombrios e determinados que desvendavam mistérios e possuíam um conhecimento secreto que usavam para influenciar e dominar pessoas, fixando a consciência de suas vítimas no que quer que escolhessem. (CASTANEDA, 1994, p. 10)
(...) Tornaram-se extraordinariamente eficazes em ver e eram capazes de exercer grande controle sobre os mundos estranhos que contemplavam, Mas foi inútil. Ver havia minado sua força, deixando-os inteiramente obcecados com aquilo que viam. (Idem, p. 14)

O grande inimigo desta segunda geração foi o poder do nagual, eles se perderam nas aberrações da segunda atenção, do conhecimento silencioso, minaram as pontes de ligação entre Tonal e Nagual e superenfatizaram aquele lado, romperem mais uma vez o equilíbrio. Tinham técnicas das mais perfeitas, sistemas de ordenação destas técnicas de toda a forma, mas perderam tudo apostando na utilização do poder Abstrato para o controle do Mundo Concreto. Eram feiticeiros não eram guerreiros e tão pouco videntes ou menos ainda pessoas em busca de serem Homens[2] de conhecimento. O poder os rompeu aquela linha, que perdurou por muito tempo se perdendo nos confins da segunda atenção relegando ao esquecimento a sua Humanidade. Tanto é que, quando as primeira guerras aconteceram na Mesoamérica[3] , estes antigos videntes não conseguiram vencer a força da realidade atual. Já havia um pacto da atenção, já havia sido feito o pacto dos antigos[4], que por fim iniciou esta geração, que teve como desafio entender que toda a sistematização do conhecimento silencioso, e sua ritualística não serviria de nada, se não fosse exercitado o Tonal. Na verdade, pagaram um preço gigantesco por não terem conseguido identificar o próprio “mistério da vida orgânica” que é exatamente a maturação do ovo de luz para poder liberar, no momento certo, o nagual.
Resistematizando essa antiga dogmática surgiram os novos videntes, que relata Castaneda no decurso dos livros, como a geração do equilíbrio. Essa geração, guiada pelos erros dos seus antecessores, iniciaram uma prática de fortalecer o Tonal ao mesmo tempo do Nagual. Dom Juan cita:
A primeira coisa que fizeram foi estabelecer que a espreita, o sonho e a intenção eram os procedimentos-chave, e reduziu-se a importância do uso de plantas de poder; talvez isso nos dê uma ideia do que realmente aconteceu a eles com as plantas de poder. (CASTANEDA, p. 15)

Dentre estes procedimentos-chave o que aqui analisaremos é a espreita que é uma técnica-ponte entre o Tonal e Nagual ou seja, o elo que faltava ao exercício total do ser humano.
Os novos videntes é uma linhagem que se estendeu até a nossa contemporaneidade, na verdade, quando falamos desta linha de conhecimento, chegou até Castaneda, que foi o presságio do Espírito para indicar que um novo tempo começaria. Castaneda chegou a encontrar essa linhagem, ou ser encontrado por ela, ou melhor ainda, ser guiado pelo Espírito até ela por um motivo e em um determinado momento temporal e histórico. Era a década de 1970 quando vários conhecimentos estavam se fundindo e perpassando por entre as fronteiras culturais do mundo. O budismo vinha com força com a cultura new age para os EUA e o ocidente, os grande Gurus orientais, os psicotrópicos e as drogas de alteração da consciência permitindo que os conhecimentos confluíssem. Muito do que era antes hermético e secreto se abriu para o mundo e começou a se espalhar. As culturas se mesclaram. No Brasil a Oaska começava seu movimento de Ascenção, como um símbolo do próprio Espírito para a globalização da espiritualização, a abertura das portas do paraíso para todos.
Então que surge a nossa geração, os novíssimos videntes que temos tido um recuo em termos de muitas coisas, mas um avanço em outros. Como disse antes, todos estamos, como estiveram outros, presos aos desafios de nosso tempo. Nosso desafio é exatamente utilizar todo este conhecimento que hoje caminha junto e misturado de forma que essa luz extrema não nos cegue mas sim nos revele o verdadeiro caminho. Se antes cada caminho se abria a uma pessoa, hoje as portas estão aberta aos milhares para a escolha de quem caminha, ou para a refutação pessoal. Não é aquele iluminismo racional do século XVIII, mas o iluminismo espiritual, muito além da onda new age que vivemos a pouco tempo.
Hoje nosso tempo nos trás todos os desafios somados do passado em diversas etapas de nossa caminhada. Inicialmente temos a prisão da concretude exacerbada da razão de nosso tempo, é a primeira algema que temos que nos livrar. A segunda é a iluminação excessiva da quantidade excessiva de informação espiritual que temos à nossa disposição, e o perigo que temos de nos perder em não encontrar o caminho que se molde a peculiaridade energética que cada um tem. A terceira é o poder que inebria a quem quer se tornar um Guru espiritual, ou que quer tratar o mundo Tonal com o Nagual sem o equilíbrio que deve manter o guerreiro.
Mais do que nunca essa nossa geração tem dificuldades ainda maiores, que enquanto formam-se grupos gigantescos de pessoas, como nunca antes possível, esses grupos virtuais não se concretizam em verdadeiros grupos de nivelamento de intento, e portanto o intento se enfraquece ou se divide em linhas diversas de pensamento em grupos que transparecem erroneamente a uniformidade. O nagual sempre foi importante nos grupos não como líder mas como o mantenedor da coesão do grupo, e como luminária para um foco a ser seguido. Hoje o sincretismo exagerado faz com que haja uma mistura excessiva de técnicas e caminhos, e pode tornar a linha reta da libertação em um labirinto de desinformações, Mesmo sendo a essência igual para todos os caminhos, cada um tem passos próprios que se misturados, embaralham os pés e levam à queda do que quer assim caminhar.
Então guerreiro somos os que, nesta linha de conhecimento, entendendo que o homem está em estado de sítio dominado pela excessividade da razão, e que para superar este obstáculo deve estar em constante alerta, na atenção plena a si mesmo para conseguir vencer, a cada dia uma pequena batalha contra a sua própria ignorância, seu diálogo interno, sua importância pessoal, que ao fim e ao cabo são apenas aspectos da mente cartesiana e maniqueísta-individualista que temos dentro de nós, mas que não é totalmente nossa.

2. A ESPREITA

A espreita então é a técnica pela qual o guerreiro mantém-se em guarda contra si mesmo, é a técnica de observação pessoal no aperfeiçoamento do ser. O guerreiro permanece sempre a observar-se vendo que a sua atuação no mundo é apenas um teatro consciente, em que ele sabe não ser a sua atuação mais o menos importante que qualquer outra. A espreita é assumir um dentre vários pontos de vista e aceita-lo não com a absolutividade que o homem comum aceita seu ponto de vista, mas no entendimento da relatividade desta visão, que, inclusive pode ser mudada a qualquer tempo, por não ser sólida, sendo determinada apenas pelo Espírito essa guinada e não pela vontade pessoal, pois senão apenas seria um capricho. Ou seja, se a espreita torna-se uma justificativa para agir como um imbecil, a espreita não existe, é apenas um teatro da mente que quer se apoderar de uma ferramenta do Espírito e lhe deturpara a utilização. Ou seja, espreita não é fingir-se para um uso pessoal e estratégico dos princípios da espreita. Para a espreita como arte do espírito é essencial que se tenha o elo límpido ou seja, que cada ato de espreita seja guiado pelo espírito e não pela mente.
Ou seja, quando se espreita querendo apenas ensinar uma lição a alguém, não se está agindo pelo espírito, de forma abstrata e impessoal, está sim se agindo guiado e dominado pela mente que acredita que é melhor que outrem e pode então lhe ensinar uma lição. A espreita é uma técnica diretamente ligada à caça, mas à caça de nossas fraquezas pessoais e a superação destas fraquezas de forma estratégica. Não se caça a fraqueza de outrem mas sim da fraqueza pessoal.
Existe uma passagem clássica da espreita de Dom Juan com Castaneda, quando ele, guiado por um presságio do Espírito, entende que é o momento de dar uma lição ao Castaneda de como chegar ao local da não piedade (termo inclusive mal redigido que leva a interpretações errôneas, deveria, ao meu ver chamar-se “lugar da ação” ou “lugar do não pensamento”). Vejamos o que sentiu, sob a ótica subjetiva, Castaneda ao chegar a este ponto:
Don Juan estava na calçada, ao lado de meu carro, olhando-me ausentemente. Olhei para ele com uma frieza pouco comum. Nunca em minha vida tivera tal sensação. Não era ódio que sentia, nem mesmo raiva. Não estava sequer aborrecido com ele. O que senti não era resignação nem paciência. E decerto não era gentileza. Antes era uma indiferença fria, uma assustadora falta de piedade. Naquele instante, eu pouco me importava com o que iria acontecer com Don Juan ou comigo mesmo. (CASTANEDA, O poder do Silêncio, p. 150)

Percebam que pela citação do termo “falta de piedade” talvez o nome pegou, mas ele insere uma possibilidade negativa, de não piedade como maldade em nosso maniqueísmo mental. Trataremos disso posteriormente.
Voltando à espreita, Dom Juan no mesmo livro cita os passos para a sua manobra impecável:
1.      “Comentou que em nosso caminho para Guaymas prevenira-me sobre a iminente lição de implacabilidade.” (a palavra como gesto que chama o poder)
2.      “Eu nunca converso por conversar — retrucou ele asperamente.” (a importância da palavra para o guerreiro)
3.      “...o lugar da não-piedade deve ser alcançado com o mínimo de ajuda possível.” ( o valor da busca pessoal)
4.      “Eu não estava apenas representando um velho frágil. Eu estava velho.” (a espreita verdadeira não é um exercício mental mas espiritual, é tornar-se daquela forma)
5.      “Disse que tudo o que os feiticeiros faziam era feito como conseqüência de um movimento de seus pontos de aglutinação (...).” (significa que o mundo como é visto é uma questão de ponto de vista, e entender isso é a arte da espreita)
6.      “e que tais movimentos eram governados pela quantidade de energia que os feiticeiros tinham a seu comando.” (neste caso mostra que a energia é todo necessário para a feitiçaria da manobra da atenção)
7.      “Disse então que os feiticeiros eram os únicos seres na terra que avançavam deliberadamente além do nível intuitivo treinando a si mesmos a fazer duas coisas transcendentais: primeiro conceber a existência do ponto de aglutinação e, segundo, fazer aquele ponto de aglutinação mover-se.” (significa que a espreita é a arte de perceber que o mundo é percepção e que mover a percepção modifica o próprio mundo, ou seja, nada é real, mas apenas um ponto de vista, ou mesmo um local do ponto de aglutinação)
8.      “Enfatizou repetidamente que o conhecimento mais sofisticado dos feiticeiros era, primeiro, o de nosso potencial como seres perceptivos e, segundo, o conhecimento de que o conteúdo da percepção dependia da posição do ponto de aglutinação.” (isso é espreita)
9.      “Afirmou que um nagual em seu papel como líder ou professor deve atuar do modo mais eficiente, mas ao mesmo tempo mais impecável. Uma vez que não lhe é possível planejar de modo racional o curso de seus atos, o nagual sempre deixa que o espírito decida seu curso.” (exatamente o último e para mim principal preceito da espreita a impessoalidade em quando se aplica a espreita com outrem o Espírito guia o guerreiro na utilização da espreita).

Ao começar a verificar essas verdades, na conversa acima citada de Dom Juan, Castaneda teve uma percepção dos dois seres que residem dentro de cada um de nós, e assim relatou:
Duas partes obviamente separadas estavam dentro de meu ser. Uma era muito velha, à vontade, indiferente. Era pesada, escura, e conectada a tudo mais. Era a parte de mim que não se importava, porque era igual a qualquer coisa. Desfrutava das coisas sem expectativa. A outra parte apresentava-se leve, nova, penugenta, agitada. Era nervosa, rápida. Preocupava-se consigo mesmo porque era insegura e não desfrutava de nada, simplesmente porque lhe faltava a capacidade de conectar-se a qualquer coisa. Estava só, na superfície, vulnerável. Aquela era a parte com a qual eu olhava para o mundo.(CASTANEDA, 2004, p. 150)

Exatamente a espreita, como um teatro deliberado e consciente de quem percebe o mundo como apenas uma forma de percepção do ser, permite que nos identifiquemos com as nossas predileções quanto à visão de mundo, tanto a visão superficial da mente quanto da profunda do Nagual.
Na verdade então a espreita é uma arte de controle do ser total que permite uma conversa entre o conhecimento silencioso e o conhecimento racional. Pois o conhecimento silencioso, antigo a tudo sabe perfeitamente, e o conhecimento racional nada entende com profundidade mas a tudo consegue descrever de forma a ser entendido por todos.
Os feiticeiros acreditam que, quando o homem tornou-se consciente de que sabia, e quis ficar consciente do que sabia, perdeu a visão deste saber. Esse conhecimento silencioso, que você não consegue descrever, é, naturalmente, o intento — o espírito, o abstrato. O erro do homem foi querer conhecê-lo diretamente, da maneira como conhecia a vida cotidiana. Quanto mais o desejava, tanto mais efêmero este se tornava. (CASTANEDA, 2004, p. 155)

A arte da espreita é exatamente conseguir utilizar o conhecimento silencioso sem sair do mundo, entender que o homem pode fazer a ponte entre o local do silêncio e o local da razão.
Significa que o homem renunciou ao conhecimento silencioso pelo mundo da razão. Quanto mais se agarra ao mundo da razão, tanto mais efêmero se torna o intento. (CASTANEDA, 2004, p. 154)
Da mesma forma, olhando sob outra ótica, no erro dos feiticeiros antigos, adentrar demais no conhecimento silencioso faz com que o homem enfraqueça o seu Tonal e assim enfraquecer o seu ser total. O caminho do meio é o caminho do guerreiro que cria a ponte entre os mundos. A espreita faz com que dissolva-se a autoimagem sem que se descaracterize a individualidade e ao mesmo tempo o guerreiro mescle-se com a totalidade (intento) sem dissolver-se no universo. Citava Dom Juan “os feiticeiros haviam desmascarado a auto-estima e descoberto que esta é a autopiedade disfarçada de alguma outra coisa.” (idem, p. 158)
E por fim, em um texto esclarecedor explica o Velho Nagual o que é a não piedade:
— A posição da auto-reflexão — continuou Don Juan — força o ponto de aglutinação a agrupar um mundo de falsa compaixão, mas de crueldade muito real e autocentrismo. Naquele mundo os únicos sentimentos reais são aqueles que convém para quem os sente.
“Para um feiticeiro, a implacabilidade não é crueldade, e sim o oposto da autopiedade ou auto-estima. Implacabilidade é sobriedade. (CASTANEDA, p.161)
Não piedade é na verdade o ponto do silêncio interior, onde não existe o fluxo de sentimentos humanos. Os sentimentos são apenas decorrência de nossa mente, a nos colocar no centro do mundo e nos tornar pseudo-importante, é um aspecto da auto-reflexão e portanto do pensamento, auto-estima, e portanto é um eu inventado.
No dia que eu pensava sobre isso, e expunha aqui meu ponto de vista, recebi um texto de Ortega Y Gasset o qual traduzi livremente (com falhas, acredito), mas que representou como uma luva a confirmação do espírito sobre algumas questões: a espreita, o lugar da não piedade e o silêncio interior,
Incrível ver como o Espírito se manifesta em nossa vida, acenando quando estamos no caminho correto do conhecimento que buscamos. No texto tive o cuidado de grifar alguns termos ou expressões que achei fundamental para explicar a espreita, o texto é autoexplicativo mas comentarei alguns pontos ao final, mormente quanto ao local da não piedade e a sua falsa interpretação.

UMAS GOTAS DE FENOMENOLOGIA

Um homem ilustre agoniza. Sua mulher está junto ao leito. Um médico toma a pulsação do moribundo. No fundo da casa há duas outras pessoas: um jornalista, que assiste à cena do óbito por razão de seu ofício e um pintor que aleatoriamente foi conduzido aquele lugar. Esposa, médico, jornalista e pintos presenciam um mesmo fato.  No entanto, este único e mesmo fato se apresenta a cada um deles com aspectos distintos – tão distintos são estes aspectos, que apenas têm um núcleo em comum. A diferença entre o que é o fato para a mulher, atravessada pela dor e para o pintor que, impassível assiste à cena, é tanta, que seria mais preciso dizer: a esposa e o pintor presenciam dois fatos completamente distintos.
O resultado é, portanto, que uma mesma realidade se desdobra em muitas outras realidades divergentes quando vistas desde pontos de vista distintos. E nos cabe perguntar: qual destas realidades é a verdadeira, a autêntica? Qualquer decisão que tomemos para escolha dentre uma delas será arbitrária. Nossa preferência por uma ou outra só poderia basear-se no capricho pessoal. Todas essas realidades são equivalentes, cada uma fiel e congruente ao seu ponto de vista e a escolha entre elas é o que parece mais normal e espontâneo. Assim, chegaremos a uma noção nada absoluta, mas pelo menos prática e normativa da realidade.
A forma mais simples de se diferencias os pontos de vista destas quatro pessoas que assista à cena mortuária consiste em medir uma de suas dimensões: a distância espiritual de cada um com o fato comum vivenciado, da agonia. Na mulher do moribundo esta distância é mínima, tanto que quase não existe. O evento infeliz atormenta de tal modo o seu coração, ocupa tão grande quinhão de sua alma que se funde com ela, ou sendo dito de forma inversa: a mulher envolvida na cena torna-se uma parte dela. Para que possamos ver algo, para que um fato se converta em um objeto de contemplação, é essencial a separação entre o observador e o fato para que este deixe de ser parte viva de nosso ser. A mulher então, não assiste à cena, mas está dentro dela, não contempla, mas a vive.
O médico se encontra um pouco mais distante. Para ele se trata de um caso profissional. Nele não há a interferência da apaixonada e cegante angústia que inunda a alma da pobre mulher. Contudo, sua profissão o obriga a voltar a sua atenção profundamente ao que acontece, pois isso interfere em sua responsabilidade como profissional e então pode afetar o seu prestígio. Portanto, ainda que menos integral e intimamente que a esposa, a cena se apodera dele o arrastando ao seu dramático interior o prendendo, já que não por seu coração, pelo fragmento profissional que existe em sua persona. O médico também vive o triste acontecimento, ainda que as emoções não partam de seu centro emotivo, mas de sua periferia profissional.
Ao nos colocarmos agora na perspectiva do jornalista, notamos que somos separados, que perdemos todo o contato sentimental com o evento. O jornalista está ali como o médico, vinculado à sua profissão, não por um impulso espontâneo de uma pessoa. Contudo, enquanto a profissão médica exige a intervenção direta no caso, o jornalista se obriga exatamente a não intervir: deve limitar-se a observar. Para ele é exatamente o fato puro, o mero espetáculo que logo ele há de relatar nas colunas de um jornal. Ele não se envolve emocionalmente com o que ali acontece, está espiritualmente isento e fora do evento: não o vive, mas o contempla. Contudo, ele contempla o evento com a preocupação de ter que, em seguida, descreve-lo a seus leitores. Ele anseia envolver aos seus leitores, comovê-los e, se for possível, conseguir que todos derramem lágrimas, como se fossem parentes transitórios do moribundo. Na escola havia lido a receita de Horácio: Si vis me flere, dolendum est primum ipsi tibi[5].
Dócil à Horácio o jornalista tenta forjar uma emoção para com ela alimentar o seu texto. Acontece que, apesar de não viver a cena, finge vive-la.
Por último, o pintor, indiferente, não faz outra coisa se não passar os olhos pela cena. Ele não se preocupa com o que se passa ali, está como dizem: a cem mil léguas do evento. Sua atitude é puramente contemplativa, podendo inclusive ser dito que não contempla a cena em sua totalidade: o sentido interior da dor que permeia a cena está fora de sua percepção. Só percebe o seu exterior, as luzes e as sombras, aos valores cromáticos. No pintor chegamos ao máximo de distância e ao mínimo de envolvimento emocional.
A tristeza inevitável dessa análise seria comprimida se nos permitíssemos estar em um ponto médio entre a realidade objetiva e a realidade subjetiva. Nesta escala as graduações de proximidade equivalem a graus de participação sentimental nos eventos; os graus de afastamento, ao contrário significam graus de libertação em que objetivamos encontrar o evento real, tornando-o puro objeto de contemplação. Situados em uma das extremidades, encontramos com um aspecto do mundo – pessoas, coisas, situações -, que é a realidade “vivida”. Desde o outro extremo, ao contrário, vemos tudo no aspecto da realidade “contemplada”.
Ao chegar aqui temos que fazer uma advertência especial para a estética, sem a qual não é fácil penetrar na fisiologia da arte, tanto a velha quanto a nova. Entre estes diversos aspectos da realidade que correspondem aos vários pontos de vista, há um de qual derivam todos os demais e que é então seu pressuposto. Este ponto é a realidade vivida. Se não tivesse alguém que vivesse em uma pura entrega e frenesi a agonia do homem, o médico não se preocuparia com ela, os leitores não entenderiam os gestos patéticos do jornalista que descrevem o evento e o quadro em que o pintor representa um homem em seu leito rodeado de pessoas de luto não seria compreensível. O mesmo poderia ser dito de qualquer outro objeto, seja pessoa ou coisa. A forma original de uma maçã é a que esta tem quando nos dispomos a comê-la. Em todas as outras formas possíveis que se adote – por exemplo, que um artista em 1600 a tenha dado, combinando em um ornamento barroco, representado em uma pintura de Cézanne, em uma metáfora elementar que faz dela um rosto de moça – retendo mais ou menos o seu aspecto originário. Um quadro, uma poesia onde não é deixado nenhum fragmento das formas vivenciadas, seriam inteligíveis, ou seja, não seriam nada e como nada seria um discurso onde cada palavra foi extirpada de seu significado habitual.
Significa dizer então que na escala das realidades, corresponde à realidade vivida uma peculiar primazia que nos obriga a considera-la como “a” realidade humana. O pintor que presencia impassível a cena de agonia parece “desumano”. Digamos, então, que a perspectiva humana é aquela em que “vivemos” as situações, as pessoas, as coisas. E, por outro lado, todas as realidades são humanas – mulher, paisagem, vicissitudes -  quando oferecem um aspecto sob o qual tendem a ser vividos.
Um exemplo, cuja importância mostrar-se-á ao eleitor mais adiante: entre as realidades que integram o mundo estão as nossas ideias. As usamos “humanamente” quando com elas pensamos as coisas, ou seja, ao pensar em Napoleão, o normal é que atendamos exclusivamente a ele como um grande homem. Em vez disso, o psicólogo, adotando um ponto de vista incomum, “desumano”, ignora Napoleão como um conceito e, olhando para o seu próprio interior, tenta analisar a sua imagem de Napoleão como um pensamento. É visto, portanto, de uma perspectiva oposta a que usamos na vida cotidiana. Em vez de ser a ideia instrumento com o que pensamos um objeto, a transformamos no próprio objeto e fim gerado pelos nossos pensamentos. Veremos então o uso inesperado que a nova arte faz desta desumanização.

(ORTEGA Y GASSET, A desumanização da arte. tradução livre)
3. Considerações finais

O texto de Ortega Y Gasset é algo impressionante. De um racionalista brotaram os pensamentos sincrônicos com o que, mais acima, eu havia citado sob a égide do pensamento mágico de Dom Juan. Desta forma, alguns pontos apenas podem finalizar tal questão:
1.      A espreita é um ato que se inicia e segue por toda a vida com a auto-observação e a estratégica para que se obtenha a nossa capacidade total;
2.      A espreita para consigo é um ato de razão inicialmente, que posteriormente se torna um ato mágico guiado pelo espírito;
3.      A espreita especializada é chamada de recapitulação e serve para apagar a história pessoal;
4.      A espreita no dia a dia é uma filosofia prática que exige que o guerreiro se observe a cada momento, e perceba a atuação da mente superficial na tentativa do domínio da ação do ser total;
5.      A espreita para com outrem não é um ato racional, ela é sempre guiada pelo Espírito ou então torna-se um ato de capricho pessoal;
6.      A distância espiritual citada por Ortega Y Gasset é a distância do ponto de aglutinação da convenção social, perpassando entre o local da razão e o local do silêncio interior, desta forma o que o autor cita como “distância espiritual máxima” é exatamente o “local da não piedade” que deveria ser chamado de “local da cessação do pensamento” ou “local do conhecimento silencioso”;
7.      Se seguir pelo ponto usual da autorreflexão, ponto da humanidade, a pessoa identifica as ações como: subjetividade de visão, ilusão de concentricidade, prisão perceptiva, descarga energética pelo sentimento excessivo;
8.      Se seguir pelo ponto do “silêncio” tem-se: a objetividade da visão, o ver energia diretamente, a eficiência na ação, e a contemplação das cenas.

Neste sentido, vemos que sob o entendimento da espreita está intimamente ligado a uma prática de auto-observação especializada pelo guerreiro, que consegue identificar as nossas ações sociais como um ponto de vista entre milhares e que sucumbir a essa visão é entrar na prisão da percepção. A espreita permite também a mudança de pontos de vista pela mudança da ação do guerreiro, como forma de não deixar-se aprisionar à uma visão específica na busca da visão da verdade, ou a visão objetiva da realidade, que é a visão dentro do conhecimento silencioso.
Intento guerreiros!


[1] Não estavam ensinando feitiçaria, e sim como dominar três aspectos de um antigo conhecimento que possuíam: consciência, espreita e intenção. E não eram feiticeiros; eram videntes. E Dom Juan não era apenas um vidente, mas também um nagual. (CASTANEDA, O fogo interior. Editora Record, São Paulo. 1994. p. 6) E dizia ainda “Na verdade, nós todos somos todos nuevos videntes: os novos videntes. Os antigos videntes é que eram feiticeiros.” (idem ibdem)
[2] Uso o termo Homens com a letra maiúscula para representar não o gênero mas a própria Humanidade, o sentido da humanidade imanente  cada ser, seja ele homem (h minúsculo pelo gênero) ou mulher.
[3] não a invasão espanhola, muito antes que isso as guerras entre os Olmecas, Maias, Astecas, e outros “ecas” na época, na verdade quando chegaram os espanhóis aquele poder já havia se desfeito, a ordem já era primordialmente dos novos videntes
[4] Este pacto fora feito pelos antigos feiticeiros, que trocaram o poder da possibilidade de sistematização dos conhecimentos silenciosos pela razão dominante.
[5] Se queres que eu chore, começa tu também por chorar. Conselho de Horácio ao ator dramático, citado por todos os autores de retórica e eloquência

Comentários

  1. Muito bom o texto, realmente a ponte com o Ortega ficou bastante clara. Como dizia Dom Juan, a implacabilidade ou o estado de não-piedade é o primeiro princípio do movimento do ponto de aglutinação conhecido como o "parar o mundo": esse estado fazem nossos olhos brilharem, como olhos de águias. É muito bom estar nesse estado, é como se nosso ser não sentisse mais dor emocional de espécie alguma, é quando estamos realmente alertas, nos traz força e segurança. Sobre a influência do guerreiro sobre outras pessoas, principalmente nas questões relativas ao desafio de ser um guerreiro, concordo que é inútil e cansativo querer falar algo sem uma concordância qualquer, por que mesmo uma concordância negativa (de não dizer certas coisas) ocorrem também. Nesse sentido realmente é importante estar atento ao espírito e dizer somente o que for sinalizado, e ter coragem de dizer também! Por fim, essa passagem é como uma facada de seriedade em relação a nossa ignorância como espécie, o que deve ser superado:

    — A posição da auto-reflexão — continuou Don Juan — força o ponto de aglutinação a agrupar um mundo de falsa compaixão, mas de crueldade muito real e autocentrismo. Naquele mundo os únicos sentimentos reais são aqueles que convém para quem os sente.

    Nada mais verdadeiro.
    No final das contas, toda essa feiura é um desafio pessoal, a culpa não é diretamente dos outros - estamos todos sitiados. Por enquanto!

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  2. Buenos dias Hermanos
    Quanto conhecimento brotou Hermano.
    Genaro era o mestre da consciencia, Silvio Manuel mestre do Intento e Vicente Mendrano mestre da espreita.
    Somo agora os Guerreiros da nova era e Castaneda já vinha preparando para isso quando do deslocamento do ponto de aglutinação da Terra em 2012.
    Kawak
    08/09/2014 08:08

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  3. Um grande exemplo de como um texto pode abordar as questões que me fiz nos últimos dias. Gratidão! zAIOn

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  4. 30/05/2012

    Hermano no colegio tinha visto na Net um artigo em que sempre falava sempre na coluna vertebral:
    Quando cheguei em casa mexendo em minhas anotações de primeira encontrei uma que recordei que o Nagual me dizia como um flash:
    - È necessário que você intente sentir a sucção no alto da cabeça então sentirá a energia do Universo atraindo a energia da Terra.
    Deixe que a sucção o suspenda estirando a coluna. O segredo está em estirar a coluna.
    (agora recordei que D.Juan sempre fazia isso)
    " endireite sua coluna. Esta é a consciência do seu corpo e, nesta postura, que é a correta, o Céu está acima e a Terra abaixo, você é o condutor.
    Portanto, minha última recomendação é que nossa coluna esteja ereta. Caminhamos sobre a Terra, lembrando-nos do amor que dela recebemos através dos nossos pés.
    Este amor sobe através dos nossos cinco centros e, ao atingir o quinto, no topo, nos conecta com o céu. Assim, recebemos o amor do céu eo devolvemos à Terra. Essa
    é a maneira pela qual cada um de nós pode estar no “aqui e agora”. Encontramos as 13 articulações: o tornozelo, os joelhos, o quadril, os pulsos, os cotovelos
    e os ombros; no centro, o pescoço e a espinha dorsal. Portanto, o espelho do universo está do outro lado do corpo. Dessa maneira, de fato somos formados pelas 13 dimensões do universo. O espelho está dentro de nós – o centro do eterno agora, e corresponde à nossa coluna vertebral.
    Do seminário Magos da Terra
    KAWAK
    11/09/2014 10:00

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  5. Um Passo de Poder
    Incrivel o que aconteceu. No período da tarde me saturei ao máximo com os Passos de Poder. Fiz uma breve recapitulação de minha infância. as 22:00
    fiz o chamado do Intento. Estava tão leve que me deitei um pouco. Não fiz o exercicio do espelho , pois adormeci profundamente.
    Então entrei no ensonhar ou o ensonhar entrou em mim, e o Nagual apareceu. O engraçado era que a imagem do Nagual que eu via era sempre a
    do Nagual jovem. Então ele começou a me falar (mais ou menos assim como consegui anotar):
    - Vou lhe ensinar um passo para a conexão Terra Céu. Vai precisar de equilíbrio e concentração. E começou a explicação.
    De pé com a coluna ereta e os braços estirados ao lado do corpo, que SEM MOVER A CABEÇA FOCASSE MEUS OLHOS PARA CIMA (disse que esse detalhe era importante). Com as mãos em palma voltadas para a Terra contraísse meu esfíncter(com ele falou) 3 vezes.naquela posição.
    Continuando, me elevasse três vezes nas ponta dos pés contraindo o esfíncter a cada vez elevando as mãos acima da cabeça com as mãos em palma
    agora voltadas para o Céu. Que minha intenção fosse de empurrar o Céu.
    Então consegui acordar a tempo e anotei isso. Quando acordei depois de ter recebido o passo, minha vontade foi sair correndo até a Lanhouse
    para te relatar os fatos. Liguei a TV para saber as horas eram 01:15. Não consegui mais dormir. Imediatamente me levantei e fui tentar.
    Fiz exatamente como ele falou. De inicio senti quando elevei as mãos ao céu como se tivesse uma leve brisa passando em minhas mãos.
    Depois consegui sentir a energia subindo pelos pés, coxas, e foi subindo. Senti a energia subindo por detrás da cabeça pela região interna dos ouvidos.
    Senti a energia com frescor entrando dentro de minha boca passando pelos dentes e até meu nariz ficou respirando melhor, como se estivesse
    me limpando. Depois senti um puxão leve em minha cabeça. Foi incrível!
    Darion 08:43 31/05/2012
    * * *

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    1. Penso a mesma coisa de Catan, uma fantasia sem sentido. Além de pensar, senti lendo o livro, essa verdade energética.

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    3. Raiugaf já deve ter aprendido que nada neste nosso universo é por acaso. Se chegou esse comentário aqui foi com um propósito.

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  7. Hermano Raiugaf
    caso leias "Aprendiz de feiticeiro" de Ammy Wallace, não se espante, é piro do que o de Ana. Tem muita informação que não bate e cheio de apelos sexuais.
    Kawak

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  8. Alguém pode comentar sobre O livro da Lei de Alester Crowley?

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  9. Hermano anonimo
    não comento nada pois não conheço nada do autor. Seja bemvindo a este recanto.
    Kawak

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