O contentamento do guerreiro
O mundo social
nos impõe desejos em um ritmo frenético. Quando se atinge um objetivo
falsamente criado por este mundo, logo outro é criada. A pessoa ao comprar um
celular logo verifica que o seu estará desatualizado, assim é com o seu carro,
com sua televisão, com seu salário, com tudo que cerca este mundo. Torna-se
virtualmente impossível neste mundo encontrar-se contente, pois a palavra
contente vem de realizado, de pleno, de pessoa que atingiu todos os seus
objetivos. Em um mundo de objetivos forjados e criados, a busca verdadeira é
suplantada pelas falácias construídas pela dominação. A criação constante de
objetivos falsos faz com que o ser humano fique tempo demais imerso nestas
buscas e não consiga ter tempo para encontrar o que realmente o levaria à sua
plenitude.
Isso não
significa, no entanto, que o ser humano deva abandonar este mundo e renegar
tudo que aqui existe. Este é um desafio a nós que nascemos neste tempo-espaço,
é um desafio que serve como um filtro, uma barreira que separa os que estão
aptos aos inaptos. Não é questão de escolhidos e sim de escolhas – cada um
traça o caminho que prefere, e nenhum caminho é melhor que o outro, mas cada
qual leva a lugares completamente diversos.
A plenitude do
contentamento, o sorriso escondido guardado no rosto que reproduz Budha, aquele
sorriso do contentamento só é possível quando atingimos o nosso verdadeiro
objetivo, a verdadeira meta que nos leva a realização. Essa meta só é possível
quando atingimos a nossa conexão com o cerne que permeia a tudo no universo,
este cerne que chamo de Espírito. Chamo assim pois é o algo que está em tudo e
por toda parte, desde o que existe até o que não existe, é o fio invisível que
liga a tudo na trama cósmica da vida e morte.
Descobrir essa
ligação é retornar a nossa origem, àquele tempo que todos rememoramos, de
quando éramos crianças e regozijávamo-nos de nada ter de preocupações, de problemas ou
de falsos objetivos a serem cumpridos. As crianças, livres das imposições sociais
são felizes a todo tempo, se choram é temporário, por alguma dor física ou por
alguma dor psicológica que lhes é imposta, mas o seu mundo é mágico, pois elas
estão ainda livres do mundo social opressor que nos tenta afastar a todo tempo
do verdadeiro contentamento. Contentar-se é estar completo, e estar completo é
descobrir em si o que nos liga a tudo, é cantar a música do verso divino no uno
que somos.
Nenhum objeto
do mundo social, nenhuma realização social, nenhum objetivo social, nada pode
fazer alguém contente, no máximo feliz, e sendo a felicidade um dos lados da
moeda da oscilação constante do homem, ela está ao lado da tristeza. Os desejos
sociais são assim, feitos para serem efêmeros, breves, para logo aquele que
pensou estar contente tenha algo que o descontente e continue a girar a
manivela social que move o sistema. Assumir esta verdade é entender que o mundo
é uma loucura que deve ser controlada, e entender que nada que vem deste mundo
é perene, e sim efêmero, de um lado cravejado com o brilho do diamante e do
outro maculado como o lodo, a oscilação é o que move a engrenagem do mundo
social, e quem nele está imerso é como um escravo que gira a roda de uma
máquina que sustenta a engrenagem da enganação social. E assim as falácias são
criadas a cada dia: se conseguir um emprego será feliz, mas não se acomode,
queira algo melhor; se tiver uma casa será feliz, mas sempre queira ela
melhorada, se tiver um carro estará feliz, um celular, um computador. Mentem
descaradamente, e as pessoas acreditam imbecilmente nisto, e se veem ao final
de suas vidas cheios de tranqueiras inúteis sem ter descoberto, no entanto, o
contentamento.
O guerreiro
então não busca os lampejos de felicidade dados pelas falácias sociais, ele
vive ali, e consegue o que outros conseguem, mas não se apega a esta busca, a
usa como necessária passagem mas não como prisão na engrenagem. Sorri-se dentro
de si ao ver a loucura que é o mundo à sua volta, mas não se engana, a cada dia
busca dentro de si o elo com o todo, e quando consegue ver-se unido com este,
retornando à sua origem, rejubila-se com um pequeno sorriso de contentamento
como o de Budha, em silêncio está pleno, em paz, contente, e assim pronto para
seguir a sua jornada evolutiva pelo universo predador de miríades ilusórias sem
fim, mas armado da única coisa que o pode guiar ali, a sua plena consciência!
Sobriedade impecável!
ResponderExcluirVocê tem página no facebook ?
Participo de um grupo, e um dos membros apresentou seu blog, se estiver por lá , queria te adicionar ao grupo - Xamanismo Tolteca - O Caminho do Guerreiro Moderno.
Grande abraço ! E gratidão pelas experiências !