O Antagonismo do homem com tudo que o cerca





São os inconstestes sinais do tempo o que não conseguimos notar do mundo que nos abriga, que nos abraça. Fico analisando, prescutando o tempo, a terra, sempre em seu rítimo, acertada com tudo que vive em cima dela, os animais, as plantas, os mares, as nuvens o vento, tudo, menos o homem. Estamos apartados, diferentes, e digo estamos pois não somos assim. Estamos em uma condição energética, de pensamento de ações que nos afastam a cada dia do mundo que vivemos, nos afasta de tudo que aqui existe, nos deixando solitários em nossa caminhada egomaníaca, escravos do nosso ego, escravos de nossa descrição, ao mesmo tempo a alimentando e conservando como o mais precioso dos bens. Enquanto isso o nosso mundo se esvai. Vejo a chuva caindo aqui de minha casa e vejo o quanto somos distantes de tudo que nos cerca. Se a Terra tem ainda algum apreço para com a nossa raça eu poderia supor, poeticamente a chuva como as lágrimas desse nosso templo e ainda imaginas os pensamentos dessa nossa mãe nos vendo tão distante do que nos é preconizado como evolução.

Senti um dia desse o quanto estamos realmente distantes de tudo, e não senti porque sou mais do que ninguém, só vi isso porque me apartei por um segundo dos grilhões de nosso pequeno e limitado mundo social. VI pessoas correndo da chuva na rua, umas praguejando contra o tempo, outras reclamando que só chovia e mais nada, pessoas, apenas pessoas como eu, cheias de si, destruindo o mundo e ainda praguejando o que por ele é dado. Vi então os pássaros, todos recolhidos em árvores, esperando pacientemente a chuva passar, sem um pio ou cantar, apenas esperando um sinal de que a chuva iria passar. Eu fiquei ali, estava de moto, parado em um canto, decidi não reclamar, observar o tempo e esperar a chuva se ir como é o natural. Percebi que minutos antes da chuva se extinguir, sem nenhum prenúncio do céu, as nuvens não se abriram, a chuva não diminuia, mas os pássaros, esses sábios amigos começaram a se alvoroçar, eles se chacoalhavam das árvores, ainda sem voar começavam a cantar e a piar como se anunciassem que perceberam um silencioso aviso da natureza que dizia que a chuva iria passar. Observando eu tentei sentir aquilo. Fechei meus olhos e vi que nada senti, distante estava de nossa mãe. Poucos minutos se passaram para a chuva cessar, quando os pássaros então sairam em revoada e alguns minutos mais o sol retornava a acariciar a nossa Terra, como o fim de um ciclo.

Vi o quão distante estamos da natureza, tentando prever e sentir a Terra por infinitos métodos de análises científicas, talvez buscando com mirabolantes estudos cientificistas buscar a resposta de algo que sentimos dentro dos rincões mais profundos de nossa energia e mal sabemos, distantes estamos de nossa real natureza, de nossa real forma, de nossa real ligação com a mãe Terra.

Então percebendo como estamos apartados comecei a ver a Terra como ela é, a companheira definitiva do homem, a que nunca nos deixa, nunca de nós se separa, está sempre ali e ali sempre esteve, nos ouvindo, nos nutrindo, nos aguentando em nosso infinito egoísmo humano, que não nos é natural, mas algo forçosamente adquirido depois de gerações de nossos ancestrais que sabiam magistralmente se ligar a tudo. E tudo, caro amigos, é conexão, tudo é ligação, o cerne de nossas buscas está em escutar, em sentir, em ligar-se a algo que aprendemos a acreditar que estamos apartados. Estamos indistintamente presos a nossa matriz de energia, pelo menos enquanto humanos formos, enquanto vestirmos esta veste somos ligados ao destino desta Terra, ligados a ela, dela tiramos tudo que nos sustenta, os nossos alimentos, a nossa água, o nosso abrigo a nossa morada. Daqui tiramos e nem imaginamos o quanto mais profunda pode ser essa relação. Podemos sentir muito mais que sentimos, sem máquinas, sem estudos, sem projeções matemáticas. Os cachorros podem sentir muito antes que nós terremotos, os pássaros variações no clima, e tantos seriam os exemplos que cobririam todo o reino de viventes de nossa esfera azul de vida que a cada um nos sentiríamos mais distantes.

Criamos um chão duro para nos manter e que acaba nos apartando de pisar na Terra que faz brotar o nosso alimento. Não mais sentimos o ar que respiramos pois sequer sabemos que respiramos, sequer lembramos que estamos vivos. Nos protegemos da chuva, dos raios, das tempestades sem nem mesmo sentir que elas estão chegando que estão partindo, e que mensagem estão trazendo, de amor, de fúria ou de dor dos rincões remotos de nossa terra. Nos protegemos dos ventos, deles nos escondemos sem nem mesmo saber o que eles vem nos contar, nos trazer ou para onde queiram nos levar. Não Sentimos o cheiro da terra, o gosto da chuva, o cheiro da brisa, nem mais vemos o brilho do sol, com nossos óculos escuros. Nos acostumamos a mundos cinzentos, escuros e frios, a luzes artificiais e alimentos enlatados, nos acostumamos ao mundo social, apartados e distantes de tudo mais que nos cerca.

Engaiolados por nossa própria criação, reféns de um mundo criado por nossos antepassados, pactuado por antigos, não criticamos a forma que vivemos e nos contentamos com pequenas modificações. Mantemos sempre o sufixo ismo e nos contentamos em mudar os prefixos. Passamos por monarquismo, parlamentarismo, presidencialismo, PSDBismos e Ptismos sem saber que nos cerne é tudo parte do mesmo quinhão de ração, com marcas diferentes nessa prisão que vivemos, nessa prisão social, nessa gaiola que nos mantém raivosos contra tudo que nos é diferente, e tudo que nos cerca nos é diferente, seja bixo, seja planta, seja vento, chuva, sol, todos de um lado e nós do outro, estagnados tal qual lixo na borda de um rio, que parado não quer seguir.

Sem nos conectarmos com a nossa matriz, com o utero que nos está abrigando nessa nossa fase da caminhada evolutiva, não há como seguir. Ficaremos estagnados, parados, aqui mesmo pereceremos antes mesmo de nascer, distantes de tudo que nos cerca, seguindo o rumo diferente só nos resta o destino de desaparecer como inevitavelmente desaparece um vírus que se aloja em nosso corpo e que a ele quer destruir. Logicamente ainda posso supor o pior, mas sei que somos pequenos para isso, poderia supor que nós, diferentes e distantes de tudo,  antagonismo do mundo que vivemos, destruirmos a tudo e a todos, até que restemos apenas nós e um mundo morto, sem vida e não quero nem ver essa possibilidade, nem supor este destino, pois não seria só o fim do mundo, seria o fim de nossa raça, mesmo tendo a certeza que nossa extinção deste mundo em nada seria sentido pelo universo, tamanha é a nossa pequenez frente ao incomensurável mundo da existência.

Pisemos então no chão, com pés descalços, tentando sentir a natureza e o que ela nos diz, o que ela nos pede, tentando sentir o que os ventos nos contam. Ligar-se a natureza, ligar-se ao que nos cerca, a Terra, é ligar-se a própria essência do que somos, ligando-se dessa forma descobriremos que tudo que lutamos no mundo social é apenas passageiro, é apenas superficial se comparado ao mundo que deixamos escondidos em nosso interior, que fica ali apagado e apartado de nossa existência. Basta buscarmos e veremos que muito mais reside em nós do que a sede incessante dos desejos impostos pela sociedade. Veremos então que podemos ouvir muito mais do que o que nos conta a televisão, sentir muito mais do que o que é predicado como o sucesso e a felicidade na sociedade. Conectar-se é descobrir que dentro de nós existe um mundo infinito guardado, um mundo mágico, intenso, um caminho para o equilíbrio entre o que somos e o lugar onde vivemos. Poderemos assim sentir a nossa Terra, não seremos como a colher que não sente a sopa, seremos como a língua que sente o sabor, descobrindo o que nos identifica com tudo, veremos o que nos dista de tudo, descobrindo o arquiteto dos desejos, descobrimos como nos livrar da dor, e nos ligando a tudo descobriremos a nossa verdadeira natureza e o porque a sociedade nos mantém afastados desse conhecimento mágico. 

Essa, caros caminhantes é a chave mágica que abrirá todos os segredos dos infinitos mundos, conhecer o que nos liga a tudo que nos cerca, nos ligar a tudo que nos nutre. Só descobrindo essa chave poderemos ter a chance mínima de transcender essa existência, seguir no destino que nos é reservado, pairar pelos mundos sem fim do universo no destino mágico e evolutivo que nos é reservado. Liberdade é isso, conhecer todas as possibilidades e escolher, dentre todas elas a que queremos seguir.

Comentários

  1. Suas palavras são como andar descalço na praia em um dia chuvoso, um verdadeiro alento a alma de todos guerreiros presos fortemente pelos grilhões de nossa estupidez. Eu pediria que a terra nos perdoasse pelo que nos tornamos, mas realmente não acho que seria um pedido justo. Intento no caminho do conhecimento.
    Namastê

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  2. justiça está em reconhecer o erro que vivemos e a necessidade cada vez maior de seguir no caminho que escolhemos.

    Intento

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