Nos domínios da mente: mente social X mente ancestral



 Existem duas mentes em cada um de nós, em cada ser humano existente neste planeta, na face desta Terra, não importa se guerreiros, se homens comuns, se feiticeiros ou videntes, as duas mentes sempre andam conosco, durante toda a nossas vidas. O que então separa o guerreiro vidente do homem comum? Eu havia feito essa pergunta ao Nagual Juan Cortez, na verdade, na mesma data eu havia recapitulado uma intensa parte de sua explicação sobre outros fatores, mas não tinha me recordado até agora desta parte da conversa. Foi apenas depois de uma mensagem de um colega de caminho que as lembranças vieram a tona do que hoje reparto com vocês, amigos de jornada.

Não adianta pensar que conseguimos domar a nossa mente superficial a todo instante. Na verdade, nas pessoas comuns, a maior parte de seus pensamentos é guiada por essa mente, por essa parte que segue ao longo da vida do homem comum como a mente dominante. Neste ponto é que se diferenciam os feiticeiros dos homens comuns, da forma que pende a balança entre as duas mentes. De certa forma, o homem comum conhece esta mente mais profunda, a sua mente verdadeira, ele dá diversos nomes a ela, intuição, premonição, mas pouco importa o nome dado, ela sempre é comparada a uma faculdade oculta, distante dos homens, inacessível, só atingida em momentos aleatórios, sem que o homem tenha acesso direto a esta fonte inesgotável de conhecimento.

A medida que o feiticeiro caminha em sua jornada rumo ao conhecimento, rumo a liberdade, ele se depara com uma voz mais profunda, com visões mais apuradas de situações, com um estado peculiar de concentração e entendimento das coisas, com o tempo, adaptando-se a esta nova forma de acessar o conhecimento, o homem então entende que ele tem outra mente além daquela cotidiana e contraditória que ele sempre tem acesso, aquela que sempre tem dúvidas e muito pouco de respostas. Neste ponto o homem se torna um feiticeiro, quando o conhecimento deliberado de outra mente se forma em seu corpo energético.

É importante ressaltar que a nossa mente superficial, a nossa mente social não nos quer mal, não é uma mente diabólica, não é a força do diabo sobre nós, nada disso. Esta mente nos quer bem, muito bem, inseridos o mais profundamente possível em nosso mar da primeira atenção. Ela quer que tenhamos uma vida plena, cheia de realizações, que vivamos muito e tenhamos muitos filhos, e que nossos filhos sigam nosso caminho de sucesso e realizações, ou morram tentando essa façanha, morram velhos nessa tentativa. Essa mente nos faz incessantemente pensarmos e agirmos de forma a gradualmente desperdiçar a nossa energia, pouco a pouco, alimentando o sistema que vivemos, alimentando os que nos emprestaram a nossa mente. Essa mente nos ama tanto quanto amamos as galinhas em nossos quintais, não queremos as nossas galinhas mortas, queremos seus ovos, deles dependemos para viver, dessa forma alimentamos bem as galinhas, espantamos os perigos que rondam o galinheiro, damos rações a elas no intuito de vê-las gordas e vistosas, para vermos seus ovos multiplicados e nossa barriga igualmente cheias. Dessa forma a nossa mente social nos guia na vida, dessa forma ela nos vai guiar, mantendo-nos separados apenas de uma coisa, todas as formas que temos para nos libertarmos do galinheiro que vivemos. Ela sempre nos dirá que é bobagem pensar em libertação, dirá sempre que a luta válida é por dinheiro, poder, colocação no mundo, dirá sempre que nossas visões são delírios imaginativos, que energia não existe, muito menos predadores ávidos pela energia, é uma mente que contesta, que afugenta os ditames da liberdade, que contradiz as experiências mágicas, que exclui tudo que nos nutra além da parca ração dada pelo nosso sistema.

Mas os feiticeiros entendem que existe essa mente, a forma que ela pensa, e a forma de se libertar dela. Eles sabem que neste mundo, enquanto formas ovoides de luz, antes de nossa libertação definitiva não podemos abrir mão totalmente desta mente antagônica, pois ela é o pilar que sustenta a nossa descrição, é o pilar de nossa coesão como humanidade, e antes que nos libertemos, no final dessa nossa jornada na Terra não havemos de abrir mão desta mente. A outra forma de abrirmos mão desta mente é em um estado de libertação em massa, um estado já atingido por gerações de feiticeiros do passado. Apenas através da massa crítica de grupos pequenos, ou até mesmo de toda a raça humana seremos capazes de largar toda essa descrição sustentada por esta mente e transcender essa existência, mas isso vai muito além da jornada pessoal de um guerreiro, que deve apenas responsabilizar-se por sua caminhada pessoal rumo a liberdade desejando o mesmo destino aos seus iguais, por saber que todos temos as mesmas capacidades e oportunidades para tal nesta jornada terrena.

Desta forma o feiticeiro faz a balança pender, desde o momento do conhecimento de que existe essa mente. Sabendo e sentindo os efeitos libertadores desta mente mais profunda, antiga, o feiticeiro se agarra a esta oportunidade, se agarra aos ditames desta mente que reflete de forma mais perfeita os ditames do espírito, esta que é a síntese da sabedoria infinita, do intento. Pendendo a balança o feiticeiros separa as áreas de atuação das duas mentes, relegando a menor parte a mente cotidiana, a mente social, utilizando-a apenas para a sustentação mínima do mundo como conhecemos, nunca seguindo os seus desígnios e direções. Desta forma o feiticeiro começa a seguir guiado por esta mente mais profunda o caminho da liberdade, o caminho para a libertação.

Então que ponderei sobre o controle efetivo da mente e vi que na verdade, existe um grande trabalho de disciplina para conseguir separar o que vem da mente social e o que vem da mente ancestral que temos dentro de nós. Fui me dito pelo Nagual ainda que constantemente a mente social tenta conjecturar, trazendo para seu bojo de interpretações as realizações energéticas empreendidas pelo feiticeiro. Desta forma, a mente social, que é extremamente adaptada amplia o seu inventário para tentar manter-se utilizada pelo feiticeiro, trazendo itens da segunda atenção para a descrição cotidiana. Acontece desta forma quando a mente social tenta explicar viagens mágicas empreendidas pelo feiticeiro de modo a transformá-las em delírio, em devaneio, em alucinações, transformando o caráter mágico dos empreendimentos em meras invenções fantasiosas dessa mesma mente. Assim, a mente social tenta transformar os sussurros da mente ancestral em imaginação, relegando as visões do feiticeiros ao esquecimento a banalização e ao segundo plano, esta é a forma de atuar da mente social.

Por outro lado, o feiticeiro deve tentar abarcar as várias facetas do mundo com a sua mente ancestral, de modo a agir com eficiência, de forma impecável em cada ato, como um caçador implacável de energia, buscando apenas o seu aprimoramento energético e não o que é insistentemente tentado pelo homem comum. Desta forma, alargamos a utilização da mente ancestral e começamos a utilizar a mente social apenas para a sustentação do mundo. Um exemplo fácil de ser percebido é o que o Nagual Carlos sempre falava sobre estudar. Dizia sempre que o homem deveria buscar o conhecimento, seja ele qual fosse. Contudo, muita gente pensa em estudar apenas para ganhar benefícios financeiros e não pelo exercício de impecabilidade que existe no estudar. Quando estudamos focados na experiência de adquirir conhecimento, de ampliar o nosso leque perceptivo, dessa forma estamos executando um exercício de impecabilidade, estamos exercitando a mente ancestral, ampliando o seu espectro de percepção, exercitando o próprio silêncio interior. 

Quando observamos o mundo com a mente social, quando observamos o tonal das coisas, das pessoas com essa mente antagônica e mesquinha, sentimos inveja, desejo, medo, aversão, atração, sentimos as mais diversas tonalidades dos sentimentos criados por esta mente. Sim, os sentimentos mais baixos, os sentimentos como os citados são apenas criações mentais, exercícios de nossa mente social. Se sentimos atração por alguém é porque comparamos a beleza da pessoa com um inventário pessoal, comparando pensamos em uma interação com ela, apenas do contexto físico e visual e assim sentimos a atração. Igualmente se forma os outros sentimentos. Se temos uma mágoa de alguém é apenas porque sentimos nosso ego afetado pela ação da pessoa, ou seja, todos estes sentimentos produzidos pela mente social são apenas um produto do ego e da mente social. Mesmo o ego não passa do maior ícone criado para cada um da mente social.

Contudo, ao observarmos tonais com a mente ancestral vemos apenas uma paisagem passando, pessoas, objetos, árvores, nuvens, todas passando, como um quadro em nossa frente. As coisas se aproximam do silêncio, pois o silêncio é silenciar a mente social, quando a silenciamos paramos o sistema interpretativo do mundo, e o parando paramos o mundo como ele é. Ai ouvimos a voz de ver, a voz ancestral de nossa mente, a voz do espírito, pois essa mente, como eu já havia dito, é o puro reflexo do infinito, o microcosmo que reflete o macrocosmo dentro de nós. Então percebemos observando tonais no silêncio a energia das coisas, sentimos o silêncio que emitem as plantas, um silêncio profundo, dominante. Podemos então sentir as palavras do vento, as histórias do vento, podemos sentir a confusão da mente das pessoas, o seu desgaste o seu sofrimento. Olhando as pessoas o tumulto se faz, olhando as plantas o silêncio nos domina, olhando as nuvens viajamos pelos céus, essa é a mágica de seguir a mente ancestral, o nosso mundo rui, desfaz-se como um passe de mágica, como se nunca antes tivesse existido.

Esse é o grande segredo dos feiticeiros videntes, controlar o equilíbrio entre as duas mentes que temos, controlar e não ser controlado. Sair do piloto automático, viver no hoje, no presente, sem interferências de ninguém, de nenhum pensamento ou ditame social, isso é ser livre, acreditar na mente ancestral, acreditar em nossas visões, acreditar em nossos sonhos e em toda mágica que vivemos, essa é a grande chave que pode dar uma guinada em nossa forma de viver, de ver o mundo e de entender a mágica do universo, só assim despertaremos do sono eterno da realidade na qual estamos submersos.

Intento aos guerreiros despertos, feiticeiros da segunda atenção.

Comentários

  1. voy a postar una inserccion del "encontro inevitável", una parte del capítulo:
    "Por uma razão qualquer, soube exatamente o omomento em que ele morreu.Eu vi..."
    "Ví a morte como uma força externa já abrindo seu amigo. Cada um de nós tem uma fissura energética, uma brecha energética abaixo do umbigo.Essa abertura, que os videntes chamam de a fenda, está fechada quando uma pessoa está no seu auge."
    Don juan hace un comento sobre Bill, lo amigo de Carlitos, que lo dije que este hava felecido. D.Juan havia visto la muerte rondando Bill luego en su primero Encontro com Castaneda. Bill fue el apresentador de Carlitos a D.Juan en Noguales.
    Sobre el assunto comentado anteriormente:
    Naian. 12:12 07.05.11
    Abraços Hermanos Guerreros,
    In lak´ech Ala K´in
    * * *

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado por partilhar do intento da transformação global

As mais lidas (se gostas de multidão)

A mariposa, a morte, e o espírito

O fim da linhagem de Don juan, a prisão de Castaneda e o legado das bruxas

As dúvidas na caminhada: entre ser tudo e não ser nada