A jornada da consciência total

 

Acho muito importante a composição que se faz, dentro dos textos que coloco aqui no blog e das mensagens deixadas pelo Guerreiro Dárion. É importante saber que toda a magia da feitiçaria está em abandonar o que achamos que é a parte mais sólida de nossas vidas: a mente, a matéria, a sociedade. Mas quando digo abandonar é dar-se a acreditar nas possibilidades mágicas do homem tanto quanto acreditamos no dinheiro, no poder ou em nossos pensamentos. Acreditar é o primeiro ato mágico de um guerreiro, assim ele começa a destituir a mente de seu império e tomar o controle de seu corpo energético.

Sei que muitos vêem-se em momentos a perguntarem-se se isso tudo que lêem é verdade, se realmente acontece, se realmente o homem tem estas capacidades mágicas todas. Vou seguir um ditame deixado pelo Senhor Gauttama (Buda), quando ele explicava aos seus discípulos sobre o pequeno caminho que levava a consciência total, ao nibbana (nirvana), ele falava que não gostaria que ninguém acreditassem em suas palavras, ou mesmo nas palavras de quaisquer pessoas que como ele preconizassem o caminho da libertação, ele dizia que sensata e sábia seria a pessoa que ao invés de acreditar em palavras percorria o caminho e descobria com a própria caminhada se havia ou não verdade nas palavras.

Vejo muita coisa acontecendo no mundo digna de credibilidade por muitas pessoas. Todos acreditam no mundo capitalista, com sua farsa de pouco mais de 150 anos. Todos acreditam em jogar suas economias nas bolsas, todos acreditam que poderão estar vivos para gastar as economias no futuro, mas poucos acreditam no poder do hoje, de onde estão. Conheço amigos que tem todas as suas vidas planejadas, todo um futuro certo e detalhado, que deixam de aproveitar momentos sublimes dados pela vida na esperança de poder aproveitá-los de uma só vez quando estiverem nas suas merecidas férias, daqui a dois anos, ou mesmo em suas aposentadorias, daqui dez ou vinte anos. Fico impressionado com isso, com tamanha capacidade de prever o futuro. Existe outro conhecido que sempre me faz ter boas gargalhadas internas, sempre que o cumprimento, pergunto se ele está bem e ele responde, tantas quantas forem as vezes: - Vai ficar! É impressionante, nunca, em pouco mais de sete anos que o conheço, ele está bem, mas sempre diz que vai ficar, um dia quem sabe.

O mundo está ruindo, o mundo de hoje não tem mais existência para a maioria das pessoas, para ninguém, sempre será o amanhã, sempre foi o ontem, e nunca é o hoje. Perdidos em meio as suas projeções de um futuro e suas divagações sobre um passado as pessoas passam batidas pela vida, e que vida insone esta do que está sempre preso a lembranças, que vida! Então essas pessoas chegam em seus futuros e vêem que nada é como imaginaram que seria, nunca o é. As pessoas perecem, o que somos hoje não seremos amanhã, não fomos ontem, mudamos, morremos e renascemos milhares de vezes durante as nossa vidas, nunca seremos os mesmos que somos hoje.

Então chega o fim da vida e as pessoas percebem que não viveram, que passaram a vida planejando o futuro e se lembrando do passado, como em uma cadeira de balanço que movimenta-se para frente e para trás sem nunca sair do lugar. De alguma forma o nosso mundo hoje é feito para o planejar, para o poupar e para o lembrar, nunca para o viver. Porque não viver, porque não valorar o hoje, a existência plena, a vontade total. Concentrando-se no agora poderemos ter a composição de todas as forças necessárias para qualquer empreendimento, mesmo que o agora desemboque em algo que venha a se realizar no futuro, de forma inesperada, o agora começa hoje e se estende infinitamente por onde nem sequer conseguimos pensar, e nem precisamos, e nem devemos pensar. Toda a nossa vida começa hoje, começa agora, tudo que se passou fez parte de nós de alguma forma, e de alguma forma deve ser liberado, se formos como um rio, fluido, corrente, inevitavelmente chegaremos ao oceano, ao infinito e seremos parte dele, contudo, se criarmos barragens na tentativa de represar o nosso passado em lembranças, prejudicaremos o nosso curso natural, ficaremos transbordando do ontem e nunca correremos para o amanhã. Esse processo de liberação do passado é chamado de recapitulação, esse é o dinamite que explode as represas que seguram as águas de nosso passado.

Por outro lado, apesar de termos uma meta abstrata para o futuro, a libertação da prisão perceptiva que vivemos hoje, teremos que nos abandonar dos pensamentos que nos fazem especular sobre o futuro. Gastamos horas e horas especulando, planejando, supondo e dentro disso nos perdemos em pequenos sonhos inventados por nossa mente para nos desprender da força de viver agora, sem viver no agora somos presas fáceis do sistema. Quando estamos perdidos em pensamentos quem nos assume o comando é a mente social, a mente predadora, a instalação forânea. Percebam as pessoas ao seu redor, é muito mais fácil ver as falhas nos outros que em nós mesmos, percebam como todos estão inevitavelmente afundados em pensamentos, em divagações, em serviços repetitivos e rotineiros, em notícias na televisão. As pessoas são, se as percebermos em seus afazeres diários, tais quais zumbis controlados por uma espécie de piloto automático, pela mente do mundo social, a mente niveladora e contraditória que faz o nosso mundo ser tal qual o é. Não lembramos sequer como respiramos e se respiramos, não sentimos o nosso corpo, não acompanhamos os nossos pensamentos, se assim o fizéssemos saberíamos antecipar as dores que geralmente sentimos em nossos corpos, as alterações de respiração e cardíacas, teríamos uma consciência e um controle total de nosso corpo físico, que é a porta para a consciência de nosso corpo energético. Mais uma vez repito, não acreditem nessa baboseira que falo, constatem por si só, e pelos que nos rodeiam no dia a dia de nossas rotinas.

Então, dessa forma, controlados, perdidos no passado e no futuro, guiados por um piloto automático seguimos as nossas pobres e medíocres vidas. Adquirir a consciência de nossas vidas, no dia a dia, em nossas rotinas diárias, é o primeiro passo para ter o controle absoluto de nossa totalidade energética. Não podemos conceber o controle de nossos sonhos sem que controlemos sequer a nossa mente desperta. Não há o que se falar em silêncio interior quando nos perdemos em divagações vãs e sem sentido e em especulações tolas. Não há o que se falar em intento se sequer sabemos para onde segue a nossa vida cotidiana, se somos apenas robôs em nossos serviços, em nossas relações, em nossos afazeres diários. A consciência começa de sentir a sua própria respiração, o seu coração, o seu corpo e os seus pensamentos, passa pelas suas rotinas diárias, pelas interações, e apenas quando todas as faculdades do mundo cotidiano, apenas quando o corpo e mente tiverem sido dominados é que haverá a dominação do corpo energético. Só emerge no homem o sexto sentido quando os cinco tiverem sido dominados. Só teremos o exercício do intento, quando tivermos o controle pleno de nossa razão.

Assim, na consciência corporal, na consciência cotidiana, começamos a perceber a mágica de cada um dos pequenos atos que rege a vida em nosso corpo. Percebemos a mágica que a respiração realiza em nosso corpo, percebemos que um ato simples que é respirar cria a nossa própria existência, rege os nossos pensamentos e nossas sensações com relação ao mundo. Então que começamos a escutar o nosso coração, pulsando, gerando vida ao nosso corpo. Vejo pessoas falando em ouvir o coração da Terra sem nunca terem parado para sentir o próprio coração, pura baboseira, pura afetação de um modismo ecologista vigente neste tempo de destruição mundial. Mas seguindo sentimos o sangue correr por nosso corpo, cada parte, sentimos os locais onde existem dores, onde a circulação é dificultada, onde o corpo está em pleno funcionamento. Sentimos a nossa pele, e temos a sensação tátil de contato do interno e do externo em nosso corpo. Ouvimos as pessoas e percebemos o nosso sentido auditivo, sua relação com a respiração, com o coração, com o tato. Se ouvirmos um grande barulho nos arrepiamos, o coração acelera, a respiração também, estão os sentidos conectados a tudo e a mente. Então sentimos os cheiros, o odor e isso nos modifica todo o organismo novamente. A visão completa o quadro de nossa existência, nos emocionamos com a visão, nos guiamos, os sentidos se comunicam em uma sinfonia silenciosa, em que opera toda a máquina corporal. É ai que vemos que temos que acreditar, precisamos acreditar, existe mágica na forma como nos comunicamos com o mundo, o nosso corpo responde de infinitas formas ao que nos acontece em nosso exterior, e precisamos ter as rédeas desse corpo, entendê-lo para assim conseguir dar um passo. Apenas entendendo e controlando as ações do corpo que seremos despertos, e apenas despertos começamos a caminhada efetiva para a consciência total.

E como comecei este texto, é preciso acreditar. Tendo consciência de nosso corpo, de nosso funcionamento, controlando-as, controlaremos inevitavelmente a nossa mente, e a controlando saberemos por fim descobrir qual é a voz da mente social e qual é a voz de nossa mente ancestral e profunda, a voz do ver, a voz do saber. Neste passo saberemos já o que somos, a nossa mente estará domada depois de uma árdua batalha na destituição de seu reinado, e assim, conscientes já poderemos expandir as sensações, saber que somos além de nosso corpo, sentindo o corpo energético que é muito mais que as barreiras físicas de nosso corpo, e tudo começa com o acreditar, tendo que acreditar, começaremos a sentir mais que nosso corpo, e sentindo mais saberemos, com a certeza que sabemos da existência do ar, que somos mais do que vemos.

Assumiremos então o controle de nosso corpo energético, assumiremos a consciência de nosso sonhar, de nosso silêncio interior, da manipulação de nosso ponto de aglutinação, aos poucos, gradativamente, chegaremos ao controle total de nosso campo energético, e assumiremos a totalidade de nosso ser, a única forma de sermos despertos entre insones, de atingirmos a liberdade total e de transcendermos a nossa desafiante no momento de nossa partida, mas tudo depende de acreditar, tudo começa no acreditar, bem como foi o exercício de nossos professores durante toda a vida, nos fazendo acreditar que o mundo é sólido, imutável e que somos seres fadados a velha rotina natural que nos encerra na rotina de vida de nascer, crescer, reproduzir e morrer.