O homem e a natureza - Tempo de recomeçar




O que seria o homem para a natureza? Nada mais que um verme que devora tudo que o cerca, que consome tudo que deveria lhe ser caro, que caga onde come. Mas porque é assim o homem, porque a civilização virou um antagonismo de tudo que existe? Sei que o homem deveria ser, sei o que o homem é, um ser mágico com mágicas possibilidades, mas toda a mágica tem as suas vertentes, tem a sua polaridade e tudo que pode ser utilizado para o bem pode ser utilizado para o mal. O homem é um buraco negro, um buraco negro  criado a partir de seu próprio ego, um vórtice. Como homens, isolados, cada um de nós tenta moldar o mundo que nos cerca a nossa imagem e semelhança, de acordo com nossas predileções, desejos, pensamentos e imperfeições, assim somos nós, um buraco de infinita profundidade que tende a sugar tudo que nos cerca. Como civilização tentamos impor a todo o resto do mundo o que somos, a nossa forma de viver, e queremos que tudo que nos cerca seja tal qual os nossos desejos mais sórdidos. Não sabemos ver as coisas andarem sem a nossa participação, seguindo rumos outros que não sejam os que nós mesmos caminhamos, não conseguimos, por algum motivo não aceitamos que tudo caminha sem a nossa ajuda, sem um toque de nossas mãos.

Seguimos então em um egoísmo, um egocentrismo, cada qual em sua marcha, tocando e tentando modificar tudo que nos cerca, para acalentar o nosso ego, tentando suprir uma necessidade narcisista de transformar tudo que convive conosco em nosso próprio reflexo, pois pensamos, cada qual em sua própria visão, que somos o melhor modelo de existência. Dessa forma, modificamos a natureza as nossas necessidades, sem pensar que somos uma raça dentre tantas outras que depende da natureza para viver. Desmatamos, destruímos, erguemos as nossas cidades, expulsamos os animais de seu habitat, as plantas, os insetos. Pensamos que o mundo deve nos servir, ser o nosso servo e deve moldar-se as nossas supostas necessidades que parecem serem infinitas. A cada dia precisamos mais de luz, de água, comida, a cada dia destruímos mais e tentamos moldar o mundo, sempre a busca do eldorado, da época em que teremos a fartura de tudo que queremos, mas nunca pensamos que o que queremos nunca cessa, sempre aumenta.

Vejo aqui onde vivo, estamos em um período de seca, a umidade do ar hoje está beirando os 15%. As pessoas sofrem na cidade, mas isso tudo tem um porque. Moldamos a natureza as nossas pretensas necessidades e nos afundamos quando descobrimos que o que queremos não é nada frente a força incomensurável na mãe Terra. Aqui como em tantas outras cidades, os rios e mananciais de água são poluídos pelos dejetos produzidos pelas nossas necessidades desnecessárias. Reduzidos os leitos de água são nada mais que fios d´água que um dia já foram opulentos rios. O que era uma grande mata, onde a umidade era retida hoje são ruas de asfalto, quente, mortas, o chão preto que aquece as cidades. Tudo que fazemos contribui para a nossa destruição, para o nosso desconforto, para a nossa separação, moldando a natureza a ser igual ao nosso imperfeito ego a destruímos a cada dia, e destruindo a nossa fonte geradora antecipamos o nosso eminente fim.

Aqui em minha morada, no pequeno pedaço de terra que vivo ainda tento manter as proporções de minhas amigas plantas. Parte é construção, a casa, a minha morada, outra parte é a morada das amigas plantas. Enquanto vejo pela cidade árvores sem folhas, ressecadas pelo clima seco, vejo em meu jardim o verde cada vez mais verde, as plantas dando fruto, as flores brotando em contraste ao cinza morto de toda a cidade. Vejo então aqui a verdadeira função que o homem devia fazer nesta Terra. Os animais, as plantas sobrevivem as durezas das estações, a natureza se renova, se reconstrói, é de uma inteligência suprema em sua reconstrução e acredito que estamos aqui como parte essencial dessa engrenagem. Se quiséssemos já teríamos aqui uma terra do leite e do mel, um lugar de fartura. O homem consegue criar canais de irrigação, consegue combater as pragas, consegue combater a seca, superar o frio, semear a Terra e assim o devia fazer. Respeitando a natureza e seguindo a sua lei, poderíamos voltar a ser parte de tudo, teríamos de tudo para nos prover bem em nossos quintais, sem que alimentássemos o nosso ego e as nossas necessidades sem fim. Não temos que voltar a era das cavernas, não defendo isso, mas deveríamos nos voltar agora a sustentabilidade e não ao desenvolvimento, precisamos entender que a nossa forma de produção está errada e de alguma forma rever o que somos, e para onde rumamos.

Vejo esperança em nossa humanidade, sempre vejo pessoas bem intencionadas, pessoas que conseguem conviver com o que nos é dado gratuitamente pela natureza, consigo ver esperança quando vejo alguém plantando uma árvore em seu quintal ao invés de jogar cimento na Terra que o alimenta. Vejo que muita gente sente o chamado de volta para a natureza, temos que conhecer a nossa Terra antes de conhecer o espaço, temos que amar a nossa Terra antes de conhecer outros planetas, temos que entender que somos parte disso tudo aqui e que o nosso ego, que nossa mente social é apenas um empecilho em nossa revolução, pois temos que aliar o que um dia fomos com o que hoje somos. Temos que reatar a nossa ligação com a Terra, com os animais, temos que erradicar essa experiência que se mostra trágica em nossa existência, essa breve experiência de menos de 200 anos em nossa história que é o capitalismo, que está nos destruindo e conosco levando junto outros seres que conosco compartilham essa morada.

É hora de uma nova consciência, de abandonarmos o eu e abraçarmos o nós, de entendermos que tudo que queremos a Terra pode nos dá, é hora de quebrar as fronteiras que separam as nações pois todas elas são um mesmo povo, uma mesma raça, vieram de uma mesma fonte e a esta mesma fonte devem voltar. É tempo de esquecer as religiões e buscar a religação com a Terra, é tempo de acabar com as moedas, com os governos, com os muros e as cercas, é hora de mudar, de alguma forma mudar, retomar o eixo evolutivo que um dia perdemos, um dia em nosso passado foi esquecido. Espero que ainda haja tempo para um recomeço, espero que ainda haja tempo para que tenhamos a iluminação derradeira, espero de forma paciente que o fim do mundo preconizado para o ano vindouro seja mesmo o fim dessa geração que dilapidou o nosso útero, a nossa Terra, e dotados de uma nova consciência venhamos a nos realinhar com o eixo evolutivo de nossa existência.

Comentários

  1. Hermanos Guerreiros
    Buenos dias,
    Ví ontem na TV um incendio no centro do pais devido a baixa humidade do ar, que consumia já 4.000 estádios de futebol (isso mesmo, quatro mil). Em outra reportagem milhares de pessoas desabriagadas em Santa Catarina. Fiquei estupefado ao invés de pensar como a grande maioria "ainda bem que não aconteceu comigo", pensei naqueles milhares de pessoas sem teto, roupa, comida e água. No mesmo canal nostrava uma máquina de mudar o tempo com o intuito bélico. Para destruir. Destruir o que? Não precisamos de mais guerras além da guerra silenciosa que travamos contra o ser, a Terra que deveriamos agradecer e amar a todo instante. Como Guerreiro senti as dores e ouvi os lamentos da Mãe.
    Em minha concepção a Terra é como um imenso cachorro onde nós somos as pulgas. O que acontecerá quando o cachorro realmente começar a chacoalhar para se livrar das pulgas ...
    O filme ainda nem começou e o ser humano continua comendo pipocas. Ludubriado e iludido pela mente predadora. Sinceramente penso que a raça humana está divido em duas partes: uma almeja a evolução e a outra está em plena involução. Tratamos a Terra como um imenso depósito de lixo. Jogamos coisas nela com bitucas de cigarro, chicletes, pequenas coisas que somadas fazem um grnade estrago. Não estamos nem aí. Só nos daremos conta da merda que fizemos quando o Show começar. O Show dos Horrores.
    Dárion 09/09/2011 08:08
    Abraços Hermanos
    Será que acontecerá algo em 2012 para que precisemos acordar de nosso sono de Predador? Evolução se faz com revolução e essa revolução não será a nossa e sim de Nosso Mundo-Terra, nossa nave.
    * * *

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  2. Engraçado, ontem também no mesmo canal ,em um episódio da Rebeldes (apesar de não assistir novelas), vi uma aula do Professor que ele pedia aos alunos para cada um ler uma parte do Poema: SE de Rudyard Kipling que postei a alguns dias atrás. Fiquei todo arrepiado. Como, naquele episódio foram recitar justamente aqauele poema.
    Grato Guerreiros e forte Intento.
    Dárion
    * * *

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