A jornada do duplo nos confins do sonhar

 


Não temos mais conforto, vivemos sem esperanças, estamos em defesas. Estas palavras, caros amigos, suscitadas por uma breve discussão neste espaço, refletem a essência do caminho do guerreiro. Tomem cuidado, estando neste caminho, temos que suportar todo o peso do mundo com nossas próprias ferramentas, não temos mais Deus para rezar, nem santos para pedir, nem deuses para clamar, estamos sós no universo, entendendo isso perfeitamente cria-se a primeira barreira do guerreiro, o medo.

O universo é predador em si, e por si, nossa raça é exemplo vivo do que são os predadores, matamos, destruímos e nos alimentamos de vários seres vivos de consciências diferentes da nossa própria, mas isso não vem a tela agora. O que importa é que quanto mais nos adensamos no caminho para a liberdade, mas nos sentimos sozinhos no mundo, pois aprendemos que temos tudo que é necessário para a nossa jornada, todo o resto começa a tornar-se apêndice, desnecessário e além de tudo um peso em nossa caminhada. O que podemos fazer, quiçá nos apoiar em outros que caminham nesta mesma estrada, olhando para o lado, para frente, para trás, não sei, mas mesmo assim sabendo que todas as associações serão provavelmente temporárias. Com esse pensamento, o guerreiro começa a apoiar-se em si mesmo, e a valorizar os gestos de amizade na caminhada.

O guerreiro, por saber-se só no mundo, não é uma pessoa fria, é muito ao contrário uma pessoa calorosa, que não desprende tempo em demagogias típicas da socialização, prende-se a parte prática da vida, e é impecável com ela. Sabendo-se da fugacidade das relações, ele aproveita tudo de todos os momentos que têm, é alguém que não perde tempo em frente uma televisão, não perde tempo em conversas sem sentido regadas a bebidas, tudo tem um propósito, pois seus olhos e sua totalidade vivem a caça de energia. Como um caçador tem que passar despercebido, mesclar-se a multidão, mas ainda tem que manter em seus olhos a sede pelo conhecimento, a sede pela energia. Apenas um guerreiro reconhece outro no caminho, e por mais misterioso que isso pareça, os guerreiros tendem a encontrar-se no caminho, existe uma força que os aglutina, a despeito de seu apartamento do mundo cotidiano.

Desta forma, bem como faço de tempos em tempos, venho aqui celebrar a todos os guerreiros que aqui contribuíram de alguma forma para o engrandecimento do conhecimento mágico que aqui se escreve, a vida é mágica por si, pois é um milagre puro e perfeito que estejamos, neste pedaço do infinito, aqui, juntos, dialogando um assunto que sequer interessa a grande maioria socializada de nosso mundo. Cada pessoa que aqui passa, criticando, ajudando, perguntando, ou apenas visitando é parte essencial no intento que aqui se forma, um intento que aponta para a liberdade, para o conhecimento, este intento serve, de forma cíclica a todos que lêem os textos que aqui são colocados, pois eles são guiados a este espaço pelos desígnios do espírito, o verdadeiro jogador.

Então, sabedores da efemeridade do tempo que temos nesta Terra, e mais ainda da efemeridade das relações humanas, agradeço a todos que aqui passaram, a todos que aqui depositam seu quinhão mágico. Durante estes dias o intento vem se avolumando no sentido de meus objetivos de rumar para o domo dos naguais. Já havia falado aqui sobre minhas jornadas, guiado pelos antigos, a cidade branca, que está além das planícies sulfurosas, aquela que alguns chamam de domo dos naguais, o porto, o ancoradouro para o outro mundo.

Em tempo recente, eu havia recebido presságios que me mandaram concentrar-me na posição antiga do chacmool, e percebi, através de diálogos, que o amigo caminhante Dárion também havia recebido os mesmo presságios. Então que resolvemos intentar, no dia de nossa força, na lua cheia o nosso encontro, e ver o que o espírito nos aguardava.
Foi algo impressionante. Tudo aconteceu em dois encontros, em dois sonhos diferentes. Obviamente, apesar da singularidade entre nossas experiências, no campo da interpretação, da sintaxe, tivemos o resgate de lembranças distintas, falarei aqui de minhas lembranças dos encontros, de forma resumida, como forma de agradecimento e retribuição ao espírito, que nos proporcionou esta grande viagem aos limites de nosso mundo.

Nos encontros, lembro de sentir a presença do Dárion, contudo eu não conseguia vê-lo claramente, sentia que ele me acompanhava, ou eu o acompanhava, não importa, mas não conseguia vê-lo, como já consegui em outras oportunidades. Então que cheguei a uma edificação na Cidade Branca, no domo dos naguais, não lembro como cheguei ali, lembro-me de um túnel, ou um vôo, mas não consegui, por mais que tentasse, relembrar meus passos, e a forma que eu cheguei ali. Outras vezes lembro-me de ter passado pela planície deserta antes de chegar ali, mas dessa vez não. Outra diferença nesta jornada, foi que antes eu havia visto a cidade, mas de alguma forma não consegui estar lá por completo, apenas contemplava a cidade, me aproximava dela, mas nunca havia adentrado em suas estruturas. Naquele dia o espírito havia me reservado algo especial. Dentro da cúpula onde eu estava, haviam várias pessoas, eu sentia o poder pairando por todos eles, eram pessoas com olhares extremamente consciente, como se me analisando em minha completude. Então que eu vi um homem que parecia ser o rei ali, mas não era, naquele lugar não existiam reis, mas parecia ser a pessoa mais antiga. Eu então me apresentava a ele e ele me mostrava duas mulheres, uma vinha em minha direção, eu sabia de alguma forma, sem palavras, que ela me mostraria algo naquela cidade. Sentia como se uma outra história me fosse contada, estava consciente mas a energia era tão grande no lugar que meu corpo parecia despedaçar-se, eu entendia uma história antiga de guerras. Via vários espreitadores sobrevivendo aos terrores das aberrações humanas, via que eles divertiam-se com isso. Enquanto eu via e estava na história antiga, eu podia ver o sorriso da mulher a minha frente, eu sentia que ela me ensinava algo, então eu sabia que era uma história sobre a espreita.

Então eu olhei para cima, e vi uma estrela distante. Foi quando senti que voava, senti que Dárion estava comigo, meu corpo doía todo, eu alternava entre estados de consciência. Então comecei a sentir algo queimando em mim, sentia que ia explodir, sentia que tudo queimava dentro de mim, não estava mais com ninguém, estava só, comecei a rir e minha consciência se ia embora, eu sentia que estava louco, uma voz dizia que eu era louco no sonhar. Eu sorria, via o brilho de uma estrela aumentando enquanto eu brilhava, então eu apagava. Quando acordei estava em uma cidade estranha. Parecia uma cidade antiga, ali a mulher do domo estava ao meu lado. Eu então lembrei dela, da primeira vez que eu tinha visto ela, quando eu observava a cidade branca de longe. Ela sorriu com minha lembrança. Ela então me guiava a cidade e de alguma forma eu entendia, eu entendia as relações humanas, e a dificuldade que temos de manter a nossa constância energética. Ela me mostrava que a espreita nos fazia constantes, e que essa constância era necessária para equilibrar com a loucura do sonhar. Ela me mostrava de alguma forma as explosões energéticas que temos devido a sentimentos de raiva, felicidade, arroubos de energia gastos para nada. Me via discutindo por besteiras com minha mulher, filha, nas salas de aula, no trabalho, e via o quão isso dificultava o meu sonhar. Ela sorria e me mostrava que o desafio não era lidar com desconhecidos, não era sonhar, era equilibrar o nosso mundo cotidiano, que espreitar as emoções era a chave para a sobriedade do sonhar. Então eu via um papel na mão dela, eu não o conseguia ler. Ela dissolvia-se então eu ouvia que poderia ler aquilo quando eu fosse mais sóbrio, quando eu controlasse a minha loucura do sonhar.
Acordei suado em minha casa, meu corpo estava todo dolorido, eu parecia ter levado uma surra, corrido uma maratona, me senti muito mal. Naquele dia as lembranças me vieram aos poucos sobre a jornada no sonhar. Eu não sabia se tinha conseguido o intento de sonhar junto com Dárion, mas sabia ter tido um combate fantástico no sonhar.

Então, durante a noite, depois de passar um dia quase acamado pelas dores no corpo, verifiquei que estava febril. Resolvi então arriscar-me em mais uma jornada no sonhar. Juntei as minhas pedras de poder e entrei no sonhar. Passei a noite sendo levado por pessoas, como se delirasse, ouvindo várias histórias. Uma coisa era comum, as pessoas diziam vir do domo, cada qual me narrando algo que não me lembro, só consigo juntar o que todas diziam em comum, que um dia eu lembraria as histórias, que não me preocupasse com elas. Então que tomei consciência de um sonho, eu estava em um barco, em águas tormentosas, No meio da jornada Dárion entrava no barco, eu achava estranho aquilo, mas seguia normalmente. Então chegávamos a uma ilha, ali eu me encontrava com aquele que parecia ser um rei na cidade branca. Ele falava que deveria levar a minha energia. Então eu apontava o dedo mindinho para ele e ele mudava a sua forma, mas eu não conseguia ver sua energia. Olhava para trás e Dàrion dizia que teríamos que sair dali.Então eu ouvia a mulher novamente, a mulher do sonho branco, a mulher Nagual, ela me levava dali, mas dizia que nós teríamos que intentar aparência de uma pessoa daquela cidade. Eu não sabia como fazer, mas algo automaticamente me fez mudar de aparência, ela falou então que agora Dàrion seria Naian naquela cidade. Então passeávamos por aquele mundo, vendo as pessoas, vendo aquelas energias, era um mundo predador, andei por ali até que minha energia se dissipasse e eu voltasse ao mundo desperto, recuperado revigorado e certo de ter cumprido meu intento.

Tudo isso aconteceu, caros amigos, depois que meu duplo se aproximou de meu corpo físico, hoje sinto que minha energia está se completando, mas não sei as conseqüências ainda desta condensação energética. Vários presságios de pessoas próximas que compartilho a caminhada mostram que a condensação energética do duplo é o atual objetivo em nossa jornada, mas ainda não posso precisar nada, não sem aglutinar todas as informações que consegui nesta jornada do sonhar.

Intento a todos.

Comentários

  1. Olá Ênio,
    Muito interessante sua história. Me parece que quanto mais energia acumulamos mais conscientes são nossos sonhos. Eu tive vários sonhos conscientes, que sabia que estava sonhando, e eu praticava certos exercícios, como tentar atravessar minha mão pela parede, já que sabia que aquela parede não estava la de verdade. Teve vez de eu andar pelas paredes, isso era bem mais difícil, ja que nossa mente está condicionada a gravidade.
    Mudando de assunto, você está acompanhando o experimento do LCH, da "partícula de Deus"? Eu achei algo muito interessante e parece condizer com que Dom Ruam falava.
    Esse trecho peguei do jornal, o próprio cientista fala que a partícula de Deus seria uma energia que aglutinaria tudo. Sem ela,não existiria matéria e e energia ficaria divagando pelo universo.
    olha só:



    "Segundo os cientistas, quando o universo esfriou após o Big Bang, uma força invisível conhecida como o campo de Higgs teria se formado juntamente com o bóson de Higgs. É este campo que dá massa às partículas fundamentais que formam os átomos. Sem ele, estas partículas passariam pelo cosmos na velocidade da luz e não conseguiriam se aglutinar."

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  2. Hermanos Guerreros
    Tenho certeza que algo aconteceu desde o dia 11/11/2011, nossos duplos foram afetados quase que simultaneamente pelas mesmas forças, inclusive recebemos o intento, apesar de distantes, de nos prepararmos para sonharmos juntos em posição Chacmool. Nem haviamos falado antes sobre isso. Só depois vimos nossas sincronicidades do intento que recebemos.
    Já estava me preparando há dias. Na sexta-feira (09) lua-cheia, não sai de casa a noite para o Intento. Entrei num estado muito profundo da segunda atenção, no mesmo instante recebi a mensagem de que os Naguais anteriores a Carlitos nos observavam a partir da cupula dos Naguais e torciam por nosso sucesso. Então na posição Chacmool, como haviamos combinado, entrei no ensonhar.
    Me recordo que encontrei com Hermano Vento, ele estava vestido de branco e brincava comigo por que eu estava nu. Imediatamente fomos puxados em direção a uma estrela enorme. Senti que não tinhamos a energia necessaria para irmos adiante. Hermano Vento queria continuar porém não deixei. Seriamos queimados naquela empreitada. Em vez disso fomos parar em um local onde havia uma piramide comprida parecida com uma que existe em Tikal na Gautemala. Me recordo que Hermano Vento e eu ouviamos as estórias dos naguais contadas por um homem muito forte ,sentado em uma cadeira de pedra, havia mulher com cabelos negros e compridos que nos assistia. No ´sabado acordei com uma falta de ar tremenda. Não conseguia respirar direito, pensei até em ir a um Hospital, porém resolvi me curar sozinho, me recobrei e na notie de Sábado intentei novamente. No mesmo local de anteriormente, continuamos a ouvir as estórias contadas tanto que no domingo cedinho fui acordado repentinamente pelos vizinhos que faziam um barulho terrivel falando embaixo da Kit onde moro. Me acordei ainda balbuciando palavras de que sabia de um passo de poder que o Nagual Julian usava para tornar-se novo ou velho de acordo com sua vontade. Porém me sentia mais forte. Quando há alguns dias, me olhei no espelho, coisa que não faço sem necessiudade, minha musculatura estava mais robusta e meu olho esquerdo havia passado de verde para quase azul. Foi uma das coisa mais desvairadas , dentre tantas, que já passei em minha vida. Uma aventura fantástica e ao mesmo tempo estarrecedora, que creio sem exagero, poderia ternos custado a vida.
    Atesto com veracidade as palavras que aqui posto.
    Dárion. 14/12/2011
    Abraços Guerreros.
    In lak ech ala Kin

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  3. Dárion, vamos demorar um tempo até consolidar totalmente as lembranças deste sonhar. Recebi o presságio que deveria dividir a história, não cheguei a contar o restante, mas por sorte você dividiu o restante aqui.
    Intento amigo!

    Rafael, já li sim a matéria, inclusive no dia que postou da primeira vez o comentário. Sabe, acredito que essa é a tentativa da mente social entender o desconhecido, mas são conjecturas mentais, não se prova o invisível, o incomensurável com pesquisas científicas.
    Isso que eu penso, quando os métodos de busca mudarem, encontraremos as respostas que procuramos.

    Intento Rafael.

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  4. Novamente o predador brincado de Deus. Há anos ouvi sobre essa idiotice só não sabia até que ponto chegaria. Onde estão os clones humanos? Quase já esquecemos. Provavelmente trancafiados dentro de laboratórios. Rudo isso um alimento para o ego predadador dos cientistas. Qualquer descuido (lembrem-se do vazamento radioatico do Japão) e poderão criar um buraco negro aqui mesmo nesta terra comconsequencias imprevisíveis. Por detrás dessa particula de deus existe a inteção bélica de uma nova arma da mesma maneira que aconteceu com a radioatividade.
    Dárion 08:05 15/12/2011
    * * *

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  5. Hermanos Guerreros
    voltando a nosso assunto. Sonhar é muito melindroso e só deve ser intentado mais fortemente depois de tempos trilhando o Caminho do Guerreiro. Sonhar ao invés de fortalecer foi o que enfraqueceu os caprichosos antigos videntes por isso os novos videntes só ensinavam as artes de sonhar aos guerreros depois de terem passado as provações do Caminho do Guerreiro. Sem ele somos nada perante as agruras do Infinito.
    Aconsellho aos novos praticantes que se detenham na arte da espreita antes de intentar alçar vôos mais altos se aventurando no sonhar. Não quero dizer que não pratiquem, pois só a tarefa de encontrar as mãos já é um exercício poderoso e necessário para termos controle no ensonho. O próprio Carlitos só conseguiu esse intento depois de quatro anos e diga-se de passagem, era um |agual e dirigido por outro Nagual. Nossos sonhos comuns são o predador em nós regurgitando seu dia a dia compratinhando com outros predadores. Lembrem-se, existem sete portais no sonhar que devemos atravesar um a um. Dar continuidade ao mesmo sonho, sonhar dentro de sonhos, ir a lugares aqui mesmo nessa Terra ensonhando, ou viajar para locais através do mar escuro da conscieica são alguns exemplos, que passo a passo devem ser experimentados. Não adianta tentar dar um passo maior que as pernas.
    Muitos guerreros morreram, despareceram tentando isso os Videntes solucionaram isso sonhando juntos.
    Abraços Guerreros e forte intento.
    IN lak ech ala Kin.
    Dárion 08:20 15/12/2011
    * * *

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  6. Buenos dias Hermanos
    Ao invés de tentar ser o melhor o Guerreiro intenta dar o melhor de sí.
    Dárion 16/12/2011 09:45
    * * *

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  7. uma efemeride, o primeiro dia de verão traz dias mais longos e noites mis curtas. Cuidado com excessos.
    Abraços Hermanos
    Dárion
    In lak ech ala Kin
    22/12/2011 09:00

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