Caminhando para a libertação – Rumo ao destino mágico do homem



Pensei acerca dos pássaros em revoada, voando para um destino imposto pelo seu instinto, pelo instinto de sua espécie. Eu os vi um dia durante a noite em um sonho meu, estavam entre nuvens, a contra-luz da lua, mostravam-se seguindo um destino sem contestação. Pensei várias vezes sobre a cena, sobre o destino que eles seguiam, não queria ao certo saber se eles iriam para algum lugar, ou para que lugar eles iam, isso na verdade não me importava no contexto da visão.

Entendi a analogia da visão, percebi toda a humanidade caminhando para o mesmo destino. Lembrei-me do discurso coeso de toda a raça humana, da destruição em prol da evolução, do desenvolvimento, lembrei-me de diversos discursos ontológicos que falavam sobre a idade da razão, sobre o desenvolvimento sofrido pela civilização desde o fim da Idade Média, sobre o caminho que seguimos. Vi pessoas justificando que é necessário acabar com os rios, alguns só para podermos ter energia, que é preciso, é conseqüência uma certa destruição de florestas para termos lugar pra os pastos. Lembrei de pessoas justificando os derramamentos de óleo como pequenos incidentes no caminho do progresso.

Não sinto energia nessas justificativas, não vejo evolução nesse caminho, não vejo progresso nessa devastação que estamos sofrendo. O sistema nutre-se e se mantém principalmente com essas justificativa. Um certo dia me lembro de um colega, entristecido com a devastação, falando que o homem é a antítese do mundo, discurso esse que inclusive eu já utilizei. Na verdade penso hoje que não somos antíteses em essência, vejo civilizações passadas que viviam em plena harmonia com a natureza. É certo que temos uma energia superlativa, como um fósforo que queima bruscamente mas se apaga com a mesma ferocidade, contudo, podemos controlar e ponderar essa energia, economizar e estender a sua utilização, não queimando o que tocamos, sem consumir o que nos cerca, já vivemos assim, ainda temos povos que vivem assim, podemos continuar, regressar a esse sistema e a esse modo de vida, basta que para isso deixemos de nutrir o sistema, deixemos de ouvir a voz do sistema e comecemos a ouvir a voz do Espírito que em tudo está.

Voltando a visão dos pássaros, devemos tentar, que seja por pequenos momentos caminhar na contramão de nosso bando, na contramão da humanidade. Grandes pessoas passaram pela Terra e já o fizeram, dando o exemplo de seguir na contramão da existência, na contramão do sistema. Vou dar um exemplo, Jesus, em sua história pura, que fugiu do sistema imposto pela sociedade, não quis casar-se, ter filhos, constituir família. Não quis ir atrás de bens materiais, pregando o desprendimento material e a conexão com o Espírito (que ele chamava de Pai, Deus), ele pregava que todos podemos em meditação, em silêncio (oração nas palavras dele) conectar-se e ouvir a voz do espírito. Em uma passagem clássica ele ficou 40 dias no deserto, meditando, conectando-se com o espírito, calando o seu diálogo interior. Depois, logicamente a Bíblia deturpa o ensinamento, falando que ele teve uma briga com o Diabo, que na verdade não foi nada além de uma briga com o seu Ego, seu pensamento que queria retornar. Purificado e em plena conexão com o Espírito (Pai, Deus, que nome seja dado), ele viu-se dotado de toda possibilidade mágica do homem, de qualquer homem, ele foi tentado (os pensamentos, o ego) a diversos feitos mágicos, transformar pedra em pão, voar e diversas outras, logicamente ele conseguiria, como qualquer um que atinja o estado de silêncio e tenha poder pessoal suficiente conseguiria, mas isso era apenas uma manifestação do ego para tentar utilizar o poder mágico do homem para manter o sistema, voltar-se a realidade da primeira atenção. Buda seguiu caminho similar, conquistou o silêncio interior e com isso parou o mundo, teve uma briga intensa com seu ego, com o seus pensamentos, até conseguir atingir o seu limiar, o seu silêncio interior. Ele também foi na contramão da sociedade, das imposições sociais em busca do Espírito, descobriu assim a ilusão que era o mundo (a primeira atenção), descobriu em suas meditações vários mundos e viu que igualmente ao nosso eles eram armadilhas ilusórias apenas, que eram apenas celas diferentes de uma grande penitenciária. Descobriu que tudo era ilusão e que além da ilusão existe um lugar que existe apenas a pura energia, em que somos esmagados, somos nada e tudo ao mesmo tempo, ali podemos compreender os diversos mundos como o que são, apenas energia e tudo depende somente do poder pessoal, do intento, da vontade e do silêncio interior de cada pessoa.

Ainda poderia citar o exemplo dos guerreiros da linhagem de Don Juan como exemplo superlativo. Eles conseguiram a maestria de contrapor o sistema estando dentro dele. Souberam se destacar em seu caminho pessoal, guardando e aprimorando por milhares de anos o sistema de adequação energética do homem para então, guiados pelo Espírito agarrarem a oportunidade de, pela pessoa do Nagual Castaneda, divulgar todo o sistema a humanidade. Contudo acredito que como nos casos citados anteriormente, o sistema tenta captar essa forma de burlá-lo e modificá-lo para que não haja um choque com ele, com a sua manutenção. No caso de Jesus, o sistema criou a Igreja Católica, e a bíblia, assim corrompendo os ensinamentos puros de Jesus que expus rasamente aqui para a manutenção do sistema. Assim foram transformados também os ensinamentos de Buda, sendo adaptados pelo movimento New Age para meditações, cursos, workshops comerciais que tendem apenas a uma pseudo iluminação e a manutenção do sistema, deixando de lado o verdadeiro caminho de Buda. No caso de Castaneda seus relatos estão ainda puros em seus livros, contudo instituições como a Cleargreen corrompem o mesmo, com cursos, workshops, comercializando o sistema puro milenar, criando hierarquias internas, procedimentos, hermetismo em um procedimento de libertação puro, apenas sendo ferramenta do sistema, que tende a dobrar e a modificar, como eu já disse, os caminhos puros, de forma a não danificar a manutenção do nosso sistema social atual.

Já tive o privilégio de vislumbrar esses mundos, de relance, mas os vi, e saber dessa possibilidade, saber que podemos ir na contramão da sociedade já é o primeiro passo rumo a libertação pessoal. Ainda após a libertação pessoal, caso várias pessoas a atinjam, conseguiremos quiçá a evolução global, a evolução de toda sociedade.

O importante e o que eu friso aqui é a necessidade de ver que existe um caminho possível além do que a sociedade mostra ter, além do que a sociedade nos impõe, e com os exemplos que dei o que mostro é que independente da linha de pensamento que seguimos, independente da linha de ação, oq ue temos que ver é que as pessoas que se destacaram, que se distinguiram do todo e que provavelmente conseguiram, seguiram na contramão das imposições sociais de seu tempo, que em essência são as mesma imposições de nosso tempo, pois acredito que a essência do sistema que nutrimos se mantém a muitos milhares de ano, tendo apenas crescido e evoluído nos últimos tempos, graças aos sistema de produção em massa e ao sistema global de comunicação que temos hoje em dia, que facilitou a coesão de pensamento global e a manutenção do sistema como ele é.

Andar na contramão, contestar, pensar. Caminhar por outras vias, experimentar, acredito que essas sejam as formas de buscar a volta do homem para o caminho da evolução energética que nós somos destinados. Não é possível que fiquemos por muito mais tempo alienados nessa nossa forma predadora de produção e sociedade. Não é possível viermos tanto tempo alienados a verdade que fica a um passo de nossa existência, descartando os sonhos mágicos que temos, descartando as infinitas possibilidades, ouvindo uma voz repetitiva e monótona e acreditando que essa voz somos nós, mesmo que ela nos deixe igual e simétrico a todo o resto do mundo. Não podemos continuar essa guerra contra a natureza, contra a nossa Terra, contra as plantas, gastando a nossa energia e sendo guiados por um mestre cego que só nos quer consumir no caminho de nossa existência. Precisamos acordar, precisamos despertar, esse é o nosso destino, essa é a promessa real que existe entre o homem e a fonte, o Deus, o Espírito o centro do universo.

A todos um intento profundo de liberdade.

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