Sobre a nossa realidade e a forma de ver o mundo





Somos a pura representação da realidade que acreditamos ser a única verdadeira em nossa existência. Tudo que nos cerca e o que vemos é apenas o reflexo do que temos dentro de nós, do que acreditamos e fomos guiados a acreditar que é a verdade. Somos um ser de pura luz e incomensurável energia dentro de nossas ovos luminosos, contudo, esse ovo que protege a nossa luz interior enquanto o seu amadurecimento, também deixa a nossa visão da realidade distorcida, e nos faz cair na armadilha da falsa realidade. Quando nascemos para o mundo a nossa crosta, o nosso ovo luminoso é translúcido, pouco afetado pelos demais ovos existentes em nossa realidade, assim, quando crianças muito pequenas, quando bebês, conseguimos ver o mundo como ele realmente é, como pura energia. Inicialmente quero considerar que ver o mundo como pura energia é uma visão caótica a primeiro momento, pois temos a visão do infinito sem interpretações e filtros. O que o ser humano faz, como realidade, é adequar essa visão para um mundo de coisas, organizado sistematicamente de forma que podemos manter uma coesão de visão, permitindo a comunicação, a visão comum e a construção social da humanidade. Contudo, o que é para ser apenas a organização social torna-se a nossa prisão, de forma que a realidade e a força das convenções é tão coesa que nos prendemos a ela como única descrição da realidade, nos fazendo esquecer que a forma que vemos o mundo é apenas uma adequação confortável enquanto amadurecemos a nossa energia interior para a viagem ao desconhecido e ao infinito. Nos prendemos de tal forma que levamos toda uma vida apenas para desfazer a obsessão com a realidade que nos cerca.

Enquanto crescemos, a medida que convivemos em sociedade, a nossa casca luminosa vai se tornando cada vez mais opaca, e cheia de verdades energéticas, que nada mais são do que retratos, manchas do ego pessoal de cada ser que convivemos e da sociedade como um todo. A nossa crosta de luz se apega a certas energias e deixa parte dela mesma em vários outros, combinando-se mutuamente e formando um lixo energético que faz com que, cada vez mais a realidade se torne forte e coesa. O silêncio interior faz com que essa camada se enfraqueça, pelo menos no que vi, a medida que silenciamos a mente forma-se uma fissura de percepção que altera a realidade, desfaz o mundo mágicamente, desvanece a realidade que parece dura. O problema é que a medida que voltamos a nosso pensamento racional a realidade se endurece novamente, solidificando a realidade e tornando-a novamente tão aprisionante quanto antes, pois o pensamento tende a explicar e colocar o acontecimento de forma a ser entendido de forma lógica, de forma a corroborar essa realidade. Então damos o nome de alucinação, de sonho, de devaneio a essa experiência mágica que vivemos. Ora, toda e qualquer alucinação, devaneio e sonho e o simples ato de quebrar a realidade, por isso são ações que geralmente não podem ser explicadas de forma lógica, pois a própria linguagem é um produto de nossa realidade, feito para mantê-la. A comunicação pura e simples, que transcende a linguagem, é muito mais do que palavras, é o sentir com todo o corpo, ou sentir com algo que não é o corpo, se eu tentar explicar eu mesmo estaria caindo na rede da realidade.

As meditações profundas tendem a nos tirar da fixação da atenção cotidiana, é um ato natural de calar o diálogo interior e de adentrar outras realidades. Mas há de se atentar que as outras realidades são igualmente ilusórias, são também realidades intentadas por energias, com coesões diferentes. Vejam bem os loucos, esquizofrênicos, eles tem uma realidade própria, igualmente fixadora e aprisionantes, na verdade são loucos para nós porque não compartilham de nossa coesão, mas são igualmente miseráveis porque estão preso a alguma realidade.

A liberdade total vem apenas com a compreensão total que somos presos a uma realidade enquanto estivermos presos ao nosso ovo de luz, até a vinda do nosso salvador que é a morte. Contudo, para que a morte seja o salvador e não o destruidor, temos que estar, no tempo de sua visita, amadurecidos internamente, preparados, devemos ter visitado as mais diversas realidades possíveis ao homem, devemos ter limpado a nossa crosta de energia, mantendo-a cristalina, nos acostumando com a visão do infinito. Quando, e apenas quando nos tivermos desprendido dessa realidade ordinária, e de qualquer outra, quando tivermos a nossa crosta de luz impecávelmente cristalina é que devemos ver a morte como a salvadora e a libertadora, pois quando isso acontecer, a nossa crosta vai ser rompida e a visão que teremos de tudo será igual a visão que temos de dentro do ovo de luz, poderemos então desfrutar da liberdade perceptiva, pois além de termos a visão imaculada e pura, seremos livre das limitações que o ovo de luz nos impões na nossa jornada rumo ao infinito.

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