A opção oculta da morte, o nascimento para liberdade.





Na mais vã das tentativas resolvi buscar as respostas mais banais para os problemas mais cotidianos que podemos ter. Todos somos assolados por estes problemas, principalmente quem se propõe a trilhar o caminho do guerreiro. São problemas de ordem de associações no mundo cotidiano, na primeira atenção, que levam o guerreiro caminhante a questionar-se acerca das decisões protagonizadas por ele em seu caminho e principalmente as suas conseqüências no caminho escolhido para seguir. Os meus questionamentos se faziam a medida que caminhava, sobre relacionamentos, sobre família, sobre vínculos energéticos e conexões que devemos ou não fazer durante a nossa vida, pois tudo está relacionado ao caminho que seguimos, e dar o melhor de si em cada uma destas ações chama-se impecabilidade.

Entendi então que não importa de fato seguir no caminho sozinho ou acompanhado, não importa estudar, trabalhar, prosperar, não importa ter milhões de amigos ou apenas um, não importa ser ou não ser, importa apenas e sobretudo caminhar de forma impecável por todas essas ações, utilizando-as como desafios a arte da espreita, a arte de interpretar, de buscar fazer o melhor, desapaixonadamente, sem preocupações com recompensas, com  honrarias, com o que quer que venha a ser conseqüência das ações, na verdade é agir por agir, simples e puramente assim. Quanto entendi essa premissa vi que independente do que fazemos devemos nos preocupar com o como fazemos, independente de com quem vivemos, temos que saber para que vivemos e comecei a me desprender das coisas que nos cercam, sem na verdade me tornar um ermitão ou andarilho, pois não importava a minha energia esse tipo de mudança, bem como não importa a energia de ninguém. Comecei então a caminhar em dois pontos e agora eles se tornam um só. Continuo com a minha família, mas utilizo a vida familiar como um constante exercício de espreita, sabendo que não importa o quanto estejamos juntos, chegará a hora de partirmos, cada qual para o destino que edificou durante a sua vida, conforme a nossa natureza humana, sozinhos, conforme o vento que sopra e não pode ser visto pelos nossos olhos, que contempla os reinos e planos do universo sem fim, solitário, contemplando, ouvindo e modificando o que lhe cabe em seu papel.

Não existe relação que seja infinita e duradoura para um ser mortal como o homem, nada é infinito, nem mesmo enquanto dura, na verdade o ser humano deve apenas se associar temporariamente, se juntar sem o apego gerado pela posse, pois como tudo é efêmero para o homem a única verdade inexorável é que tudo se esvairá um dia, bem como a nossa própria vida. Sendo assim a única possibilidade para o homem é a de escolher e preparar esse momento. Vi em meus sonhos um dia que somos isolados de tudo o que nos cerca, estamos cercados e presos em um casulo de energia que nos cerca e não deixe que toquemos nada de fato, assim pairamos sobre o que temos como sólido, mas passamos a vida a nos agarrar. O sonho me mostrou que a única ligação que temos de fato com o mundo que nos cerca e com a Terra, uma ligação temporária, bem como o cordão umbilical de nossa mãe a nos nutrir e quando estamos diante da ceifadora, da nossa morte, esse cordão que prende o nosso casulo serve de âncora para ele, enquanto a morte nos rasga a casca de nosso ovo de luz, libertando o nosso ser mágico. Quando esse nosso ser mágico eclode de nosso ovo, sente-se inebriado pela luz que o cerca, pois a visão não mais é ofuscada pelo ovo que o protegia, sente-se o ser mágico oprimido pelo infinito que o cerca, pois agora ele consegue ver além do que permitia a casca opaca do seu ovo de luz, ele então ascende e vê que tudo que passou em sua vida não foi tocado por ele e nem ele tocou, que ele na verdade não amou ou foi amado, pois sequer podia ver o que estava o cercando, vê-se rodeado de um mundo novo e por não estar preparado para estar sozinho geralmente vive um curto período de tempo e morre pela dor e solidão da liberdade, mimado durante uma vida acreditando ser e ver mais do que permitia a sua opaca casca.

Mas o sonho me mostrou mais, mostrou aquele que se prepara, que sabe que não toca e não pode ser tocado, que não aprisiona e nem deixa ser aprisionado, que acredita no mundo que vê sem acreditar Mostrou que esse espera pacientemente pelo seu destino ciente do desafio, vi a beleza que é essa explosão de luz, me vi ali, clamei para ser eu a estar ali um dia. O brilho, a liberdade a solidão, o infinito, a possibilidade de ver e viver a eternidade e ser banhado pela imensidão, de ser a testemunha dos tempos, livre, finalmente com os olhos abertos, pairando como o irmão vento pelas colinas dos infinitos mundos, contemplando os nascimentos, mortes e transformações, vivendo a plenitude mágica de ser, de nascer finalmente da casca que nos prende, a antítese mágica da solidão e do júbilo eterno se configuraram na visão. Ainda pude ver, tive a sorte de poder entender, que no meio da solidão, depois de um infinito de júbilo, descobrimos existirem milhares de formas, energias nascidas como nós que podemos conhecer, formas incontáveis perdidas na maravilha da descrição do indescritível, mas vi apenas de parte de meu ser e não pude de todo compreender e nem narrar o inenarrável. 

Entendi então que a visão era apenas para compreensão de que não importa de fato, se vamos a igreja, ou vamos a boates, se dançamos ou meditamos, se estudamos ou farreamos, se temos esposa ou galinhamos, nada disso importa de fato, mas para não importar temos que ver, temos que saber ver a essência, pois ali é tudo igual, enquanto não vemos, não olhamos além de nossa bolha imperfeita de energia, nossa casca opaca e difusa, não podemos ver além do brilho difuso das convenções humanas atuais. Apenas olhando profundamente, apenas vendo, transpomos a visão dessa casca e deixamos de ser míopes, para não dizer cegos pela nossa própria criação, a realidade em que vivemos.

Enquanto não enxergamos devemos agir impecavelmente em tudo que fazemos, por mais banal que seja a nossa ação, quando a empregamos de poder e vontade ela se torna algo mágico, algo que transforma e catalisa a nossa energia, mudando uma simples ação para uma ação mágica, no sentido de que não gastará a nossa pouca energia disponível, mas se multiplicará, isso é agir consciente, agir impecavelmente no que se propõe. Assim, ter família ou ser só vai ser um ato de magia, estudar vai ser um ato mágico, trabalhar, seguiremos nossa vida como devemos realmente fazer como seres mágicos, tomando a rédea de nossas ações e tomando a responsabilidade de nossos atos, e assim, só assim poderemos um dia ver e saber além de toda e qualquer conjectura o que estamos esperando e que realmente estamos apenas esperando o amadurecimento de nosso ser que emergirá para o infinito e a vida mágica que nos aguarda lá fora.

Comentários

  1. MARAVILHOSO O TEXTO! MUITO CONSCIENTE!

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  2. Obrigado Clauss, é muito gratificante um comentário como esse vindo de uma pessoa como você. Essa é minha humilde contribuição.

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  3. Uma pena poucas pessoas terem essa visão das coisas, ótimo texto.

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