Os doze passos do guerreiro vidente - Início de uma jornada




“São doze os passos do guerreiro vidente no caminho da liberdade.” 

Bem, dessa forma que começou as últimas instruções da energia. Obviamente fiquei eufórico, a simples presença de um mapa é por demais tentadora para esquecermos dela, deixarmos de lado uma declaração como essa, sempre esperamos contar com um mapa, as coisas assim se tornam mais simples, mais diretas, podemos comparar o nosso caminho com um que deve ser seguido, de alguma forma nos sentimos amparados, e o que é melhor do que seguir algo pronto ao invés de tatear na escuridão.

Logicamente foquei a minha busca então, na visão que estava tendo, com a energia que estava alinhado, em saber quais seriam esses passos, que passos seriam esses. Então a voz me disse:

“Não se preocupe em saber dos passos que ainda estão distantes de ti, sabe dos três primeiros pois já os vou te contar, são os passos por onde caminha, não tem porque mantê-los em segredo, pois não mais gerarão expectativas, são os que você mesmo vive e advém da primeira fase do caminho, do Despertar do Guerreiro. 

Acho, no entanto, salutar falar do último passo do guerreiro, esse sim todos deveriam conhecer em sua essência, é o último passo da última fase do caminho, essa que dou o nome de A Libertação do Guerreiro, o nome dela é o Rompimento do Casulo, não é uma técnica em si, nem uma artimanha, na verdade é mais aquiescer do que qualquer outra coisa, é o desejar sem desejar, o esperar, o ato supremo de paciência e humildade do guerreiro a antítese mais poderosa no caminho que encontrará qualquer guerreiro, que já detentor de todo o poder que pode ter a sua disposição, já sabedor da forma de convocar os poderes, de reger a música do Intento, de manobrar a disposição da vontade, agora deve apenas esperar sem esperar que uma força venha ao seu encontro para a sua libertação suprema. Por gerações em fim, em tempos imemoriáveis, o homem já sabia de seu encontro com a morte, a que faz a balança pender ao seu favor. Ciente dessa força o homem se viu compelido a enfrentá-la de duas formas distintas: uma era esperá-la, ciente de que ela chegaria um dia e o levaria de volta a fonte, a outra conseguir fugir dela, de qualquer forma que seja, sendo que uns pensaram em adiar o encontro infinitamente, outros em proteger-se dela da forma que fosse possível.

Os videntes da época remota então, viram a fenda que todos temos em nosso casulo luminoso, que a medida que passa o tempo se torna mais rígida até, sem a energia necessária para protegê-la, a energia da vida, ficam suscetíveis a morte e rompem-se, desaglutinando a energia que temos dentro do ovo e fazendo-a retornar a fonte criadora.

 Um grupo de guerreiros então empenhou-se para manter a energia protegida dentro do ovo luminoso, acreditando que se mantesse a fenda fechada a energia ficaria aglutinada dando a eles uma sobrevida quase que infinita, assim estudaram, se mesclaram as mais diversas energias, fazendo pactos sem fim com o intuito de aprender a manipular a sua forma para proteger-se do assalto da morte. Eles conseguiram, foram felizes em seus empreendimentos, mas ficaram infinitamente presos a seu casulo de luz em formas abomináveis, serviçais das energias que os ensinaram a modificar-se, angariando outros guerreiros que sucumbiram ao medo da morte em seu séquito de guerreiros presos ao ovo de luz.

Um outro grupo viu que a fenda poderia ser aberta de dentro para fora, sem a necessidade da morte para isso, eles achavam que a morte não só romperia o ovo de luz mas desaglutinaria toda a energia interna junto ao assalto definitivo, chegando a conclusão que o problema não era a ruptura do casulo e sim a desaglutinação do seu interior. Que para isso ser feito era preciso um controle total da energia que existe dentro do ovo de luz, que se iluminado, de forma coesa romperia o casulo de dentro para fora e seguiria rumo a liberdade perceptiva. Esse grupo estava quase certo, em sua busca atingiu a liberdade, mas viram, que após se libertarem, a energia interna adquiria uma forma inorgânica, com uma quase imperceptível fenda em si, que nunca foi vista sendo rompida, mas que mostrava que um dia ia ter o mesmo destino da outra, seria atingida pela morte. Ficaram obcecados pelo medo do encontro com a morte, e ficaram vagando em busca de respostas para o dilema do grande encontro, inebriados pelo poder, acham ainda hoje que nunca precisarão encontrar-se com a conselheira e vivem a buscar essa solução para seu impasse.

Existiu um grupo, no entanto, que resolveu estudar a morte, e viram que era uma força de intensa energia. Viram que ela daria o impulso necessário para o terceiro nascimento, para o amadurecimento da energia luminosa que o guerreiro leva dentro de si e ainda seria o exercício definitivo de humildade e de resignação ao espírito no caminho para a libertação do guerreiro viajante. Esses guerreiros descobriram ainda várias coisas sobre a fenda luminosa. Descobriram que ela deve ser levemente aberta pelos guerreiros no seu caminho, que através desse buraco na fenda, apesar de estarem mais suscetíveis a força da morte, os guerreiros conseguem ter um vislumbre real do mundo energético. Por ela, a energia do guerreiro se conecta direto a fonte de tudo, sem a membrana do ovo luminoso, fazendo o que o guerreiro chamou de ver. Quando o guerreiro abre essa fenda, ele deixa de ter certos escudos, mas em compensação ganha a habilidade de ver energia como ela flui, sem a interferência das interpretações. Assim ele treina a sua energia interna para o dia em que ela sair em definitivo de sua crosta protetora, o dia em que a morte o tocar. Então que o guerreiro, ciente de seu poder de manipular a fenda de sua crosta, ciente do poder de estender ilimitadamente a sua energia, aquiesce ao desígnio da força que tudo permeia e aguarda sem esperar, espera sem ansiar a vinda da morte. Quando ela chega, e a crosta é aberta de fora para dentro, a energia da própria morte inunda de uma energia extra, uma energia só dela, o ser já amadurecido de dentro do ovo de luz do ser humano, que com essa energia extra é catapultado para os confins do universo perceptivo, mesclado com a própria fonte de tudo e ainda aglutinado em sua individualidade, vira um ser de pura luz, livre de tudo que é humano, presenteado pela niveladora é livre para ir e voltar pelo universo, pelo tempo e espaço, guiando gerações de homens ao destino mágico que lhes foi reservado pelo espírito, de exploradores dos infinitos universo da existência.”

De certa forma eu já havia lido relatos do Novo Nagual em seus livros sobre parte desse conhecimento, contudo a totalidade dele me deixou pensativo. Obviamente entendi o porque desse conhecimento ser passado para um caminhante que sequer saiu de suas fraudas, como eu. É um conhecimento básico, que deve ser passado para todos em sua mais tenra infância, sob o risco de criarmos uma imagem demoníaca e maniqueísta da morte como mal, como algo que nos acarreta dor e sofrimento ao invés de libertação e júbilo. Aliás, a força predadora que domina a nossa mente, deve rejubilar-se na idéia que temos da morte, do medo que cultivamos dela, pois com isso, nos desgastamos constantemente em querer cumprir as obrigações sociais, as realizações da sociedade antes de partirmos. Ficamos desejosos em realizar os atos já descritos pelo poeta, “escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho.” Que não deixam de ser formar de tentar eternizar-se de alguma maneira. Lembro-me de um colega me falando um dia: “Sabe Enio, nós deixamos aqui na Terra só os nosso filhos, se não for assim, agente morre e puff! Somos já esquecidos, não somos nada mesmo, por isso quero ter muitos filhos, para ser lembrado por muito tempo.”  Não existe aqui um pensamento contestador, cadê a energia do homem em buscar, em saber, em procurar entender a morte, se ela é realmente o fim ou é apenas a possibilidade de um começo, porque hoje a vejo como um divisor de águas, ela PODE ser o fim ou o começo, quer saber o que vai ser, assuma as rédeas de sua vida e faça a sua escolha!

Bem, continuando o relato, indaguei ainda a energia os demais passos que eu deveria seguir, o tal mapa, a tal facilidade, e obtive a seguinte resposta:

“Porque quer saber do que ainda está muito distante de você? Vou apenas explicar os passos da primeira fase do caminho, o que está acontecendo com você, e ainda os passos que se seguirão no caminho, que já começam a ser trilhados de certa forma pelo guerreiro que se dispõe a caminhar. Já disse que o primeiro passo, a primeira etapa na caminhada é o Despertar do guerreiro, nesse ponto da vida, o guerreiro é sacudido pelo espírito. Alguma coisa, na grande maioria dos casos, acontece que sacode toda a estrutura, todo o alicerce que parecia sólido na vida do guerreiro. Você bem se lembra o que aconteceu contigo, a sucessão de eventos que aconteceram contigo para que você se questionasse, para que você visse que existe algo além do que vê, do que parece sentir sobre o mundo. É muito importante o guerreiro guardar esse evento, ou a sucessão deles como um artefato de poder em sua memória. Quando essa sacudida acontece com o guerreiro, ele começa a ouvir uma voz mais profunda em seu ser, recorda-se que essa voz sempre existiu, relegada ao esquecimento como um pressentimento idiota, ou como um pensamento absurdo, mas que sempre acertava em que apontava. Esse passo é chamado “Os Sussurros do Espírito”. Aqui o Guerreiro começa a ver que existe sim uma voz que fala em seu interior, descobre que essa voz, apesar de ser a mais baixa que ele escuta, é precisa e econômica, não fala incessantemente como seu pensamento, não é destrutiva, não é contraditória, e o parece conectar com tudo mais que o cerca. Esse é o primeiro passo do guerreiro vidente no caminho do conhecimento.

O segundo passo é chamado “Limpando o Canal”. O guerreiro então descobre que essa voz o guia a um caminho irresistível de conhecimento e poder, um caminho que o pode guiar a liberdade. Ele começa a ter dúvidas sobre o seu sistema de vida, a sua sociedade, a sua realidade. Começa a ver que existe um universo muito maior do que o fizeram acreditar. Descobre que a sua mente luta incessantemente para desacreditar essa voz, porque não pode combater as suas verdades com argumentos da razão, e tão pouco pode legá-la ao descrédito, porque o guerreiro agora sabe de sua existência e de seu poder. Então o caminhante entra em uma luta interna, cada vez mais ele se vê impelido ao ouvir a voz do espírito, e quanto mais a ouve mais sente uma energia sem precedentes crescer dentro de si. Ele inicia um processo de calar o seu diálogo enfadonho e mesquinho da mente e cultivar a conexão com o espírito, inicia-se aqui o longo processo de limpeza do elo de conexão com o espírito.

O terceiro passo nessa primeira fase é “Reassumindo o Controle”, aqui o guerreiro se vê em um dilema. Ele não consegue seguir o mesmo tempo os ditames do espírito e o que é guiado a fazer pela voz de sua mente. Ele vê que existe um abismo intransponível entre as duas vozes. Além disso, ele descobre, através do próprio espírito que ainda não é chegada a hora de livrar-se daquela mente, mas sim de subjugá-la aos seus desígnios, ele descobre que a mente continuará tentando ditar a vida do guerreiro, mas inicialmente ele relegará as ordens ao esquecimento. Aqui o guerreiro é apresentado a um modelo de atitude de um guerreiro que já se livrou da mente predadora, a ele e mostrada a “Artimanha da Impecabilidade”, uma ferramenta que irá acompanhar o guerreiro durante o caminho que o levará a “Voltar a forma humana”, a retornar a usa forma pura, a forma pré estado de sítio, onde o conhecimento puro era o único guia no caminho do guerreiro.

Aqui parou a descrição, ainda me foi mostrado alguns deslumbres da seguinte fase do guerreiro, mas nada me foi explicado em continuidade ao que já foi dito além do nome da próxima fase, que foi dito ser “Destituindo o reinado da mente e do mundo”.

“Para quê enxergar além do horizonte que vê a tua frente? Continue caminhando e na tua caminhada, a cada passo um horizonte novo irá surgir.”

Assim acabou a visão.

Intento aos que caminham sem se cansar.
Intento aos que se propõem a caminhar!

Comentários

As mais lidas (se gostas de multidão)

A mariposa, a morte, e o espírito

O fim da linhagem de Don juan, a prisão de Castaneda e o legado das bruxas

As dúvidas na caminhada: entre ser tudo e não ser nada