Sopram os ventos da liberdade - Aos que içaram as velas da percepção





Meu nome é "O Vento que Sussurra", dizendo meu nome assumo a minha individualidade e crio um elo com quem me lê, me escuta. Assumo assim a minha missão de retomar o que é meu, negociado pelos nossos ancestrais na sua busca pela razão.

Não entendo o porque das surpresas ao ouvir uma voz que sempre nos falou. Não consigo saber o motivo das dificuldades que temos em assumir que é possível restabelecer um elo de ligação com uma fonte de sabedoria universal, presente em todos e tudo que existe, existiu ou existirá no Universo. A consciência, a sabedoria universal é acessível a todos os seres que efetivamente a buscarem, pois ela emana e se consolida como uma somatória do que permeia e permeou toda a existência, todas as realidades, de todos os tempos, todas as eras, todas as formas de energia presentes no incomensurável universo da existência.

Constantemente eu entro em conflito entre o meu racionalismo e as visões que tenho, entre o concreto e o energético, entre o que o mundo considera real e o que considera imaginação, existe em mim, e acredito que em todos uma duplicidade entre a mente analítica e o conhecimento proveniente do silenciar da mente, da quietude energética. Nos momentos de silencio mental  jorra o conhecimento puro, são súbitos momentos de epifania, de uma compreensão do que eu busco no momento, de onde focalizo o meu intento. Essa conexão me faz sentir completo, inteiro, pleno, inundado de uma energia de tal forma tranquila que por vezes me distancia da própria busca que faço, em detrimento da sensação de estar novamente conectado a tudo mais no universo, sensação que dura enquanto a mente racional é suprimida. São momentos em que as visões são arrebatadoras, de uma incompreensão para a mente que se torna deveras extenuante tentar traduzí-las em palavras, perdem-se mundos inteiros quando tento descrever todo o mar do indescritível, pela simples limitação de nossa razão e de nossa sintaxe ao tentar transcrever no tonal a grandiosidade do nagual.

Procuro, sempre que tenho esse tipo de conexão, anotar, descrever o que vi, juntar uma peça de quebra-cabeça desse mapa da segunda atenção. Sei que a tarefa de recapitular esses eventos mágicos levará uma vida inteira, por isso junto as pequenas peças que estão ainda frescas em minha memória em meus relatos, pobres confesso, frente a riqueza infinita dos mundos que podemos explorar. Além disso, quando transcrevemos as nossas visões, existe sempre uma interferência da razão para tornar mais mensurável o indescritível, para tornar tangível o que não pode sequer ser tocado pela nossa mente. 

Contudo, uma das piores consequências da conexão é voltar ao domínio de nossa imperfeita razão. Uma apatia começa a tomar conta do guerreiro que começa a se aventurar pelo universo da segunda atenção, apesar de nesse estagio o guerreiro cultivar fortemente o hábito da impecabilidade, é inevitável o sentimento de distanciamento de tudo mais, o desapego a ilusão forçada do mundo sempre quando retorna de suas jornadas. Uma grande tristeza começa a nos oprimir, dizem, dizia aliás o Novo Nagual que isso e normal par ao guerreiro em seu caminho, essa tristeza que nos oprime por vezes, como o sinal de algo que perdemos por muito tempo, que ansiamos por ter mais uma vez. Penso que essa tristeza é o produto do retorno, o subproduto do esquecimento da profundidade das jornadas que fazemos no infinito e que não conseguimos recuperar. Por vezes me pego pensando, passando pela superfície de lembranças, de lugares  e de pessoas, energias que tive contato, experiências que tive, que vivi, de lugares que quis estar para nunca mais voltar, mas ainda não era tempo, era hora de apenas contemplar. A grande oscilação de um guerreiro no caminho também é motivo de constante tristeza e pesar, o elo, a conexão com o Espírito que se faz e desfaz como um passe de mágica, sempre suprimido pela mente que nem nossa é, pela mente social, pelo estado de sítio que vivemos a nossa sociedade. É um trabalho incessante, são idas e vindas infinitas, que parecem nunca cessar, em que por um momento compreendemos e sabemos de tudo, em outro não conseguimos nem saber por onde andamos e o que contemplamos, em um momento bebemos da fonte da sabedoria, do conhecimento silencioso, e noutro somos bestas presas a um racionalismo conflitante permeados por dúvidas e piedade.

Anseio pelo tempo em que estarei livre do sítio, da dominação da mente social, da herança maldita deixada pelos antigos, pelas gerações mágicas de nossa raça. Acredito pelo que já vi, pelo que já me foi narrado pelo espírito, que o início real da jornada de um guerreiro se dá quando conseguimos, depois de uma vida de luta, perder a nossa mente social, perder a coleira que nos faz mais um no rebanho dessa força predadora, que nos guia incessantemente a pensamentos conflitantes, por desejos e sentimentos que não são realmente nossos. O velho Nagual dava o nome dessa conquista de “perder a forma humana”, um nome que não concordo de todo, mesmo porque o que perdemos é a forma social da civilização atual, o modelo imposto pela mente predadora, reconsiderei então o nome para “recuperar a forma humana”, que considero o feito real de conseguir livrar-se da mente predadora. Quando atingimos esse estágio permanente, nos livramos do estágio de dominação da humanidade, perdemos a forma que nos torna iguais, que forçosamente mantém o nosso mundo coeso, a nossa sociedade circulando em torno de valores que a mantém, recuperamos a forma que tínhamos antes do contrato dos antigos, da venda de nossa energia em troca da razão.

Durante todo esse processo em que pude ter um vislumbre desse tema complexo amadureci então a idéia que eu tinha acerca da impecabilidade. Entendi de fato a real utilização dessa ferramenta para o guerreiro em seu caminho e quando ele lança mão dessa ferramenta. Na verdade, um guerreiro em seu estágio final, quando conquista a sua liberdade, quando apenas aguarda o momento de partir desse mundo, é um modelo ideal de impecabilidade natural, esse é o estágio que Don Juan se encontrava quando conheceu Castaneda. Vejam bem, a impecabilidade é na verdade uma artimanha utilizada pelo guerreiro, em certa parte de sua caminhada, para copiar as ações ideais que um guerreiro sem forma tem, para imitar a forma de agir de um guerreiro que já não sofre a dominação da mente social. Assim, o guerreiro nesse estágio, sofre oscilações em que a mente predadora assume o controle, e ele precisa de uma extrema força de vontade para poder contrabalancear esse comportamento mesmerizado pela mente social, e a forma encontrada é suprimindo os apelos da razão, agindo com impecabilidade. Dessa forma o guerreiro não sofre assaltos, ou melhor, não sucumbe aos assaltos de desejos, pensamentos e impulsos advindos dessa energia estranha que nos domina. Ele imita então o comportamento de um ser livre, já sem amarras, um homem na plenitude de sua energia, quando não há mais nela sinal algum de contratos do passado, tem, seguindo o manual da impecabilidade, um domínio maior de seus atos, desde o menor deles. Nessa fase, começa a recomposição energética do homem, pois cada ato não será guiado pela mente alienígena, pela energia dos voladores, e sim por uma energia mais profunda, que inicialmente vai ser utilizada de forma forçada, mas que se tornará cada vez mais presente. Chegará o momento que então a realização se completará, e aquela mente deixará o guerreiro, afastada pela sua impecabilidade, o guerreiro então começará a beber integralmente da fonte do silêncio interior, do conhecimento silencioso, do espírito.

Além disso, vi uma energia fina que existe em cada ser, uma energia fina, pura, cristalina de tal sorte que se destaca no campo luminoso, uma energia prateada que na maioria dos homens é muito pequena, quando em outros sequer existe. Pela região que ela se encontra, pesquisando os livros do Novo Nagual, vi que ele chama a energia de “centro para decisões”. No que pude constatar, é a energia primeira que na infância é suprimida do homem, e que a medida que consegue se refazer é suprimida, surrupiada pelos nossos opressores das sombras. Percebi a forma utilizada por eles para a constante absorção dessa energia em crianças, observei as atitudes de minha própria filha, quando é restringida em todas as suas decisões pela mãe, escola, amigos, tios, toda a sorte de adultos duros, idiotas e esgotados de energia, que inclusive eu já participei, deixando as decisões cerceadas a todo momento, fazendo a criança acreditar, inclusive em nível energético, que ela não precisa, não pode tomar nenhuma decisão, que tudo já está pronto para ela. Assim, a nível energético vi que a inutilização desse centro faz com que a energia seja facilmente esgotada e devorada com um requinte cruel pelas sombras, com o total aval de seus cordeirinhos sociais. Vi ainda que a medida que tomamos as rédeas de nossa vida, e seguimos o modelo de impecabilidade, essa energia começa a se reconstituir, e como a impecabilidade em seu exercício constante afasta os voladores, mantemos essa energia de forma a brevemente conseguir um retorno ao seu estágio original. Quero considerar que sem essa energia somos apenas joguete nas mãos da mente social, da mente predadora e do sistema social que estamos incluídos. Não há como o guerreiro empenhar a sua energia e decidir de fato o seu intento pela liberdade se ele não tem a energia fundamental para o exercício do intento. Essa energia fica na área entre o pescoço e o peito, não sei bem a extensão porque a minha ainda está em recuperação, mas acredito que pode transbordar a outras áreas em estágios mais evoluídos do caminho.

Sei que estou caminhando para a liberdade, são vários os fatores que me levam a acreditar nisso, o primeiro é a minha mente racional a contradizer, a tentar desviar-me do caminho da impecabilidade, a seguir os ditames sociais, a duvidar constantemente, a legar para imaginação, para transes auto-hipnóticos todas as jornadas mágicas que consigo fazer e todas as manifestações do espírito, assim é essa mente, assim ela atua, assim ela domina. Por isso insisto que o primeiro passo real, a primeira conquista do homem para se tornar um guerreiro de fato é a dominação da mente predadora, é voltar a “forma humana” tal qual era a nossa forma nos tempos antigos, antes do pacto dos anciões, dos tempos mágicos do homem na Terra.Esse é o reflexo de meu mais puro intento, com esse foco direciono toda a minha pouca energia, que é pouca mais é tudo que tenho de real, esse hoje é meu caminho, ditado diretamente pelo espírito. Espero apenas que a minha energia e a de outros que estejam no mesmo intento que eu, possamos combater de forma eficaz esse estágio de dominação, de sítio, de submissão a um velho contrato. É chegada a hora de assumir as rédeas de nossa energia e assumir o desafio da liberdade perceptiva, o tempo é hoje, não há mais como esperar.


Rumo ao leste vou,
rumo ao nascente,
rompendo as amarras da percepção,
os limites da razão
o véu da ignorância e da profunda escuridão.

Sou como o Sol rompendo a noite
rasgando o céu da imensidão
agora sigo ciente de minha missão.
é tempo de liberdade
de retomar o controle dessa embarcação.

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