Um presente dos que se foram





 
Minha incansável busca pela liberdade será a minha homenagem aos que se foram desta vida sem a luta merecida.



O guerreiro sempre olha para o agora, impecável, brilha em sua armadura preponderante de desapego, fulgura em seus olhos o brilho do infinito espaço da liberdade que brilha a sua frente.

Centenas de pessoas foram mortas pela força incomensurável da natureza, a força das tempestades jorrando sobre nossas cabeças, um cenário de caos um tanto previsível e no entanto chocante para nós. Persignei-me olhando as cenas de morte, a constante morte, pairando sobre as cabeças de nossos iguais na região serrana do Rio de Janeiro, logicamente tudo que cresce fenece, é a verdade imutável da vida, mais uma vez comprovada as centenas neste cenário que vemos. Pessoas ali passaram pela vida como um relâmpago, viveram o mesmo tanto que tantas outras, uma vida, apenas uma vida. Mas agora cabe saber de que forma foi vivida aquela vida e se dela desabrochou algo além da simples lembrança que os mais próximos carregarão de cada um daqueles que agora voltam ao berço eterno, a fonte interminável da energia do universo.

Logicamente me sinto comovido, triste, arquejante frente ao destino que tomamos, que aquelas pessoas tiveram. Não ao destino da morte, todos teremos o mesmo destino um dia, cedo, tarde, hoje, amanhã. Seria imponderado dizer que não intentei do fundo de minha energia que aquelas pessoas tivessem um destino diferente que fosse que não o retorno a fonte, mas sei que não é o que se consolidará como verdade, não é o que se formou como fato. Sei na verdade que daquelas tantas, não houve consciência no momento da morte nem tão pouco em suas vidas, não houve contemplação e um mínimo de chance de superar essa admirável inimiga. Sei que ali muitos sonharam e foram avisados pelo espírito do desastre que aconteceria, muitos sonhos, visões, sensações se passaram para cada uma daquelas pessoas que morreram, mas ninguém ousou acreditar e sem ousar, a maioria foi levada pela força inexorável da natureza.

Mas houveram presentes deixados por aquelas vítimas, grande dádivas e lições que servem a todos nós, e só por estas lições podemos, em recompensa, oferecer um sentimento de paz por essas pessoas, uma oração, um cântico, uma boa intenção. Essas pessoas nos mostraram mais uma vez a nossa fragilidade, o nosso pouco tempo nesta Terra, e o quão impecáveis temos que ser no trato com a nossa energia, no trato com o elo de conexão que temos com o espírito. Se não estivéssemos tão cegos pelos grilhões da dominação da ilusão de nosso mundo, pelos desejos incessantes, pelo ódio crescente, pelo dinheiro e tantos outros apegos talvez, apenas talvez não teríamos que presenciar eventos como esse. Não porque não haveriam catástrofes, mas não haveria a morte sem consciência, sem o preparo, sem o refinamento energético que podemos ter, que inconscientemente desejamos ter mas sobrepujamos com um árduo trabalho do nosso ilusório mundo.

Estamos morrendo, isso é um fato, a cada dia morre o antigo para nascer uma nova pessoa, a cada dia temos uma chance diferente, a cada dia somos diferentes do que éramos ontem. O velho já não é nada que foi o novo, o novo não representa o que será o velho. Não temos tempo para futilidades, para o último gole de bebida embreagante, não temos tempo de ficar embriagados, a palavra de ordem é consciência no que somos, no que fazemos. Não podemos nos consumir como a brasa do cigarro que fumamos, nos desejos que nos entregamos, na televisão que a frente nos prostamos, o tempo é curto, nascemos conhecedores da morte, de sua voz, de seu hálito e nenhum desejo pode nos desviar do verdadeiro caminho, apenas a vigilância constante nos poderá fazer superar a nossa desafiante, a morte. Não existe negatividade em tal afirmação, apenas realidade, talvez a única verdade que ainda exista nessa selva inebriante de mentiras que é a nosso realidade, talvez a única das verdades que a dureza de nossa percepção deste mundo ainda não conseguiu turvar. Ninguém se esquece da morte, podemos até deixá-la de lado, fingir que não existe, mas se olharmos calmamente sempre a veremos nos espreitar, poucos passos a nossa esquerda.

Conversava durante esses dias que se sucederão ao final do ano e ao começo do novo e falava sobre os sonhos de maremotos, de pessoas mortas, fragmentos de sonhos em que muitas pessoas morriam, muitas pessoas eram mortas. Me pergunto hoje, seria esse o sussurro do espírito sobre a calamidade que vemos hoje aqui no Brasil. Como eu, pelo menos três pessoas que conheço e que praticam o caminho do guerreiro vinham tendo sonhos com a mesma temática e me pergunto, quantos ali também tiveram a chance de ter esse vislumbre, mais forte talvez, dessa calamidade que os arrastou deste plano sem a mínima chance.

Não importa no entanto, caros amigos, de que forma seguimos a vida, o que importa de fato é a consciência que temos no trato diário com a nossa vida. Entender que temos a grande maioria de nossas ações automatizadas bem como os nosso pensamentos, respiração, caminhado, modo de se vestir, alimentação, são todos os mínimos fatores na descoberta de que algo está errado com a nossa forma de existir, de viver neste mundo. Pensei nas diversas formas de dominação, aquelas velhas conhecidas, nos desejos, e vi que era muito fácil pensar na dominação sob este aspecto simples, pois ele está a nossa frente a todo momento. Dificuldade maior existe em controlar as pequenas ações de nosso eu, realmente entender o eu é ver que nada mais é do que um simples conjunto de hábitos, descrições pensamentos que temos como real, como composição imutável. Que belo exercício temos ao começar a nos descobrir, descobrir que não somos nada, que tudo que temos como o eu é perecível e pode ser mudado, a qualquer instante. Perceber que as mudanças, grandes ou pequenas, internas e externas são apenas a constatação de que não somos nada é extremamente prazeroso.

Caminhar então na estrada que nos leva a descoberta que não somos nada se não o vazio controlado pelos hábitos é de extrema importância. Sabendo que somos moldados de acordo com o mundo, com as pessoas, com os lugares que andamos é fundamental para saber a forma com que tudo ao nosso redor nos molda, nos transforma. Silenciar a mente é o primeiro passo para a descoberta do poder do silêncio que habita dentro de cada um de nós, o poder silencioso que tínhamos a nossa disposição nos tempos antigos, nos tempos imemoriáveis do homem na Terra.

Não há como escapar e nos esconder dos sinais que se mostram ao mundo nos últimos anos. Vejo que muitos ainda virão nesse pouco tempo de mudanças. Venho meditando profundamente e vendo mundos de possibilidade se abrindo a minha frente, mundos de possibilidades infinitas, para tempos futuros que poderão aparecer. O tempo está caótico, as nuvens de tempestade assolam e varrem as regiões, as tempestades, sempre elas, testemunhas incansáveis de magníficos atos de poder. O mundo sente o alinhamento de planetas, o alinhamento cósmico que está por acontecer, e o que está para se abrir para nós.

Portais de eras e de mundos sem fim se abrirão para mundos sem fim, ontem mesmo presenciei isso, me vi frente a uma das possibilidades de futuro em um lugar, junto a alguns que compartilham o caminho, senti-me levado pelo silencio interior aquele lugar e quase o toquei, quase consegui de fato acordar lá, eu via tudo com uma clareza incrível, impressionante e quase me foi possível estar lá. Quais seriam as consequências de eu acordar naquele tempo, lugar eu não sei bem, de alguma forma o nagual ajustaria as coisas para eu escapar sem rastro dessa realidade, ou um aspecto de minha energia fazê-lo, isso é minimamente possível para o lado inconcebível da força que rege o nosso universo. O que quero mostrar é que pessoas comuns estão tendo acesso a magníficos conhecimentos, a portais que se abrem, a energias bem intencionadas a nos guiar no caminho evolutivo que nos é possível, e para isso é necessário apenas a disciplina pessoal de cada um, cada qual contando com as próprias pernas. Talvez, e apenas talvez, em um mundo dentre os tantos possíveis, gêmeo de nossa realidade, o homem, ainda conectado com o conhecimento silencioso não sofra mais com fatalidades, com desastres naturais só porque não consegue mais ouvir a Terra, talvez esse dia hoje seja de festa neste mundo, nesta realidade paralela, mas aqui o dia hoje é de tristeza, de pesar, não só pelas pessoas que morreram, mas pela forma que morreram, pela chance mínima que tiveram e não souberam aproveitar, pelos sussurros que ouviram e não souberam escutar. Olhar com exultação para essas vítimas é olhar para dentro de nós mesmos e ver o quão efêmero somos, o quão curto é o caminho nesta Terra e como é pequeno o preço da disciplina que temos que pagar para, quando a nossa desafiante chegar, estarmos preparados para transcender, para se elevar além do destino infinito da liberdade.

Comentários

  1. O mais difícil para um guerreiro concerteza é o apego. Apego esse, que se analizado sem o véu do atual sistema, mostra-se absolutamente sem sentido. Mas teorizar e colocar em palavras é fácil. Difícil é não ser, mesmo contra a vontade, arrastado pelo fluxo dessa realidade. Nascido de uma relação aborrecida, e tendo desperdiçado toda energia em estados fúteis durante a vida e no presente momento se entregando à queixa... aqui escreve um guerreiro que sente-se puxado entre dois mundos, embora saiba que depois que o espírito cruza nosso caminho, não há mais volta, e saiba também qual é o caminho que tem coração.
    Agradeço muito pelo excelente blog onde compartilha seus conhecimentos.
    Namastê

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  2. Só quem tem a agradecer sou eu caro guerreiro anônimo, não haveria sentido em compartilhar nada se não houvesse alguém para quem a mensagem chegar. Somo canais, antenas para outros mundos, captamos muitas coisas a maioria relegada ao esquecimento, se o que fala quando diz sentir-se puxado por dois mundos, essa é a nossa sina, enquanto não nos libertarmos das amarras desta percepção.

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  3. Sonhei com o apocalipse no início do ano, depois te mando o relato direitinho, foi uma experiência assustadora e reveladora.

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  4. Será uma honra ler o teu relato e quem sabe até publicá-lo aqui. As mensagens estão surgindo amigo, a proximidade de eventos reveladores faz com que tenhamos esse tipo de percepção.

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  5. Mundo cíclico este. No momento que leio teu texto e respondo, aqui mesmo no RS está desabando uma chuva torrencial e pessoas estão ficando sem eira ou beira em São LourençO, contando 6 mortes confirmadas até agora. Abraço a todos e Força ao que se mantém!

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