ALém do domínio da mente - A libertação do desejo



Existe uma camada em nossa superfície que necessita ser acalentada incessantemente pelos desejos. Essa camada superficial é a mente social, a instalação que temos conosco e que nos faz enxergar e viver o mundo como vivemos, viver os excessos, viver a ilusão e o desvio do verdadeiro caminho. Essa camada, essa energia nos mantém presos a nossa forma usual, a forma estabelecida pelo círculo de poder que vivemos. Os desejos são armadilhas para a nossa energia mais profunda, para a expansão de nossa consciência. Os grandes desejos nos deixam presos a essa energia superficial em um fluxo que alimenta o mundo a medida que a ilusão deste mundo nos alimenta. Existem duas opções para nós que aqui vivemos, uma é entregar-se a essa realidade, entrega-se quem aceita incondicionalmente esta realidade e quem não a aceita de forma alguma, pois ambas as formas dependem de acreditar de forma inconteste nessa realidade. A forma extra, a forma que nos liberta é aceitar essa realidade como ela é, e moldá-la a nossa necessidade evolutiva, moldar a realidade, adaptá-la ao caminho do guerreiro sem lutar contra ela, e sem aceitá-la de todo, entendendo a necessidade de nossa permanência aqui e moldando-a de forma a amadurecer a nossa forma energética mais profunda e ancestral.

Já postei aqui acerca da prisão do desejo, mas de alguma forma eu mesmo não entendia a profundidade do tema, agora posso compreender de forma correta a prisão gerada pelo desejo. Comer é uma necessidade energética que temos, isso é óbvio, é necessária a alimentação para a manutenção energética de nossa forma ovóide de energia, como somos lacrados, fechados energeticamente existem poucas vias para manter a energia que temos, quais sejam a alimentação e a respiração as maneiras ordinárias de adquirir energia. Se pararmos de comer é lógico e natural perecermos. O desejo então, aprisionante e escravo da mente, escravo de nossa superficial energia, que nem mesmo nossa é, nos faz transformar a alimentação em objeto social, objeto de dominação e degradação de nossa energia. Nos alimentamos mal, desmedidamente, sem qualidade, não para saciar uma necessidade energética, sem pensar nos alimentamos compulsivamente, nos alimentamos não de nutrientes, mas de sabores, o paladar, o olfato, ligados diretamente a mente nos escravizam, nos fazem comer o que não alimenta, mas o que acalenta a mente, gorduras saturadas, sabores variados, cores, cheiros que nos atraem, mas muito pouco que nos nutre de forma saudável, que nos alimenta impecavelmente. Como ser impecável se somos escravos dos sentidos? Como ser impecável se a nossa alimentação não o é? O que nos nutre, nos mantém, nos energiza, e assim o meio social, o meio dominante nos deixa enfraquecido com a alimentação, nos deixa escravos do desejo pelo excesso, pelos sentidos, sem a impecabilidade na alimentação não existe como caminhar, fracos, dominados, como poderemos seguir em um caminho que depende de cada pequeno pedaço de nossa integridade energética?

Os desejos ainda se assomam pelos diversos sentidos. Todos os sentidos são dominados pela mente social, e dominados por ela estão colocados a disposição da mente. Os olhos vêem o mundo puro, energético, assim eles percebem, ma a mente transforma a visão no mundo de objetos que vemos, sólido, imutável. Só neste mundo, com a visão doutrinada e dominada que podemos ser tão facilmente domados. Silenciando a mente os sentidos voltam-se a alimentar o nosso ser mais profundo com a verdadeira natureza do universo, a natureza insondável e indizível da energia. Apenas assim, liberto da desejosa mente começamos a entender o mundo, o mundo de energia, o mundo interpretado pela mente como mundo de objetos, moldamos assim a realidade a nossa disposição. Entendendo escapamos das amarras sociais que nos enfraquece que nos coloca na linha de tiro da energia que nos emprestou a mente e que nos toma algo muito precioso no caminho de nossa libertação.

Vejo o sexo, magia natural, de forças ilimitadas e cósmicas e como ele é exacerbado e banalizado pela nossa sociedade. Sob a égide da libertação sexual jogamos ao ralo uma preciosa cota energética. Essa energia mágica, que é a mesma fonte que nos alimenta o sonhar, é direcionada toda uma vida para o desperdício, para o inconsciente manejo que nos leva ao esgotamento da energia mágica do sonhar. O ser humano tem energia suficiente para uma vida tranqüila de sexo e de sonhos, ambos equilibrados e se mantendo, mas a grande maioria gasta um mundo de energia diuturnamente com práticas não sadias, que acalentam unicamente os desejos da mente e em nada fortalecem o corpo energético. Vejam como é o sexo em sua prática, uma grande energia é gerada no decorrer da prática, energiza, aquece, eleva, até que cheguemos ao orgasmo, quando nos sentimos cansados, fracos, ofegantes, desatentos, isso para o homem, pois o sexo utiliza-se de uma energia dominantemente feminina, uma energia que permeia a maior parte do universo. Para o homem a prática do coito, de abster-se da ejaculação é uma prática que eleva os níveis energéticos do homem, se manejada dessa forma, como é predicado nas práticas gnósticas de magia sexual, podem fazer com que o homem acumule uma grande quantidade de energia, sem se dar aos excessos da ejaculação constante e do desgaste energético decorrente desse fato. Um ponto a ser colocado aqui é a necessidade da ejaculação. Na verdade a ejaculação não é vinculada diretamente ao orgasmo nos homens, na sociedade atual tem-se essa erronia impressão que nos leva ao desperdício e ao excesso do desejo. A ejaculação é verdadeiramente necessária apenas para a reprodução, e por isso os níveis de energia mais profundos e desgastantes são promovidos com a prática. Desvinculando-se o homem na prática sexual da ejaculação, buscando a prática mágica na relação de um casal é possível ganhos impressionantes de energia sem o domínio da mente.

Observar a verdade existente nas nossas ações é ver além do que nos parece óbvio. Observar a nossa respiração é um bom começo, observá-la é estar presente no presente, como já falei aqui. Estar presente aqui faz toda a diferença em nossa caminhada, é um direcionamento energético que apara todos os desperdícios gerados pela nossa mente, sempre pensando, correndo, indo no passado, especulando o futuro. Respirar é o ato mágico da vida, inicia-se no nascimento e finda-se na morte, observar a respiração e observar o funcionamento do corpo, é ser impecável na mais básica necessidade de nossa forma energética e extremamente necessária no ato de expansão de nossa consciência.

Os hábitos que se seguem em nossas vidas podem ser moldados de acordo com a nossa energia, todos no entanto são dependentes do desejo, e escravos da mente. É imperiosa a necessidade de nos observarmos no caminho que rumamos em nossas vidas. Libertar-se do domínio da mente de forma a torná-la serviçal de nossa energia é o salto mortal que o pensamento deve dar. Hoje somos todos, na maior parte de nossa vida regidos pelo domínio da mente, sermos regidos pela nossa consciência energética e subverter esse domínio da mente é transformá-lo em ferramenta na nossa caminhada. O velho Nagual disse isso, falou certa feita que se conseguimos nos tornar um guerreiro de conhecimento, estaremos voltando do reino da razão com um troféu e este troféu é o pensamento puro, o entendimento. Complemento dizendo que o pensamento puro, o entendimento, é a capacidade de estar nesse mundo sem deixar que essa realidade nos domine, tocando de leve e sem modificar o caminho que passamos. Ver a realidade por detrás de nossos hábitos é o produto de uma vida de auto-espreita e impecabilidade, é livrar-se aos poucos dos grilhões da mente social entrando lentamente no reino da energia e do conhecimento silencioso.

Aos poucos, nessa nossa caminhada vemos que beber é acalentar um desejo da mente de entorpecer a consciência, fumar é acalentar o desejo da mente de acalmar-se, comer em excesso é subverter-se ao domínio da sociedade, tomar o sexo como banalidade é entregar o quinhão de sua energia mágica ao ralo socialmente imposto. Olhar ao mundo além dos objetos não é ver além, não é ver mais, é apenas ver a verdade, e ver a verdade é essencial em nosso caminho, em nossa caminhada. Cada pedaço de energia que pudermos guardar, economizar é necessário para a nossa jornada. O difícil, caros amigos, como já foi dito por um sábio do passado, é fazer bem a nós mesmos, fácil é fazer o mal. É difícil se alimentar bem, mas é fácil comer guiado pelos sabores do paladar. É difícil se exercitar, se comprometer com o corpo, mas é fácil se entregar ao torpor, a preguiça, a tardes inteiras prostrados em uma cama em frente a televisão. Não existem facilidades no caminho do conhecimento, o tempo de hoje é tempo de amadurecimento, é tempo de preparar-nos a libertação trazida pela morte, ver além, controlar-se, ser vigilante e fugir do domínio da mente é abraçar o pacto oculto do universo que nos permite ir além da morte.

No reino da mente, caros amigos, tudo se esvai com a morte, pois a mente tem tempo certo de vida, e extingui-se ao ser desafiada pela conselheira. Viver no domínio da energia é seguir a evolução natural do universo, é entrar na corrente da eternidade, e passar como um jato pela morte, deixando para trás a mente, a ilusão, os pactos sociais, rumar ao infinito é ir além do que existe nesse mundo, é inverter o jogo é reconhecer o seu ser profundo, apenas desta forma, abraçando o nosso ser profundo, legando a nossa vida ao domínio deste ser que poderemos ter a chance mínima da libertação eterna.

Comentários

  1. O troféu ao qual o velho nagual referia-se é o "entendimento" e não o pensamento.
    Intento no caminho do conhecimento.
    Namastê

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  2. Sim anônimo, é o pensamento puro, que na verdade é o entendimento, boa lembrança, pois a questão aqui é semântica. Mas é bom sempre ter o cuidado, pois o poder que desperta as palavras é impressionante.

    intento e obrigado

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