Meu deus saúda o seu deus - O caminho sem servidão



Há muito venho tentando escrever sobre a servidão do homem, a forma como nos colocamos em dois patamares distintos, ou como melhores do que os outros, como mestres, iluminados, guias, ou como piores que os outros, como rebanho, como seguidores, como fiéis. Realmente não sei pensar ou discernir sobre o que seria pior. Não existe humildade, não existe brilho, não existe saber em nenhuma das duas posições, bem como não existe beleza em nenhum extremo. Suave são os passos do guerreiro sobre essa Terra, estes que passam sem nada mudar, pairando como uma brisa suave, sendo percebidos só pelos poucos como eles, ignorados pela grande maioria, que nem mesmo percebe a sua presença dentre eles.

Falo isso por hoje ter lido um texto de um jovem, me intrigou muito ele se colocar como um deus entre os homens, e me intrigou mais uma frase colocada por ele, que dizia sobre o tratamento que ele recebia nos tempos do Egito, onde as pessoas não podiam fita-lo completamente e além disso o referenciavam como mestre e senhor. Posso estar enganado, mas acredito firmemente que somo senhores de nós mesmos apenas, e mesmo este título levamos uma vida para merecer, posto que somos mero fruto de uma mente social que nos toca como gado no pasto.

Vejo a crença fiéis de pessoas das mais diversas religiões num outro extremo do que aqui coloco, pessoas que acreditam internamente, dentro de suas mentes subservientes que são menores que outros na interação com o divino, independente do nome que dão a este ser superior. São pessoas que desacreditam em suas próprias capacidade de interagir com o sagrado, e recorrem durante toda a sua vida a intermediários, que nada são além de homens como elas. Acreditando que estas pessoas são mais preparadas que elas, elas entregam toda a sua crença a outros, desacreditando em seus interiores, fazendo definhar o seus deuses interiores. Neste aspecto, pensando nos deuses interiores, vejo as saudações que muitas pessoas utilizam que são em várias línguas a representação de uma frase simples, de igualdade, que nivela o homem em uma máxima de humildade que não baixa a cabeça e nem deixe que baixem para ele, ela se resume em “meu deus interior saúda o seus deus interior”. E outros entendimentos, dentre os quais coloco uma pequena listagem aqui.
  • "Eu honro o Espírito em você que também está em mim."
  • "Eu honro o local em você em que o Universo inteiro reside, eu honro o lugar em você que é de Amor, de Integridade, de Sabedoria e de Paz. Quando você está neste lugar em você, e eu estou neste lugar em mim, nós somos um."
  • "Eu saudo o Deus dentro de você."
  • "Seu espírito e meu espírito são um." -- atribuída à Lilias Folan, ensinamentos compartilhados de sua jornada à Índia.
  • "O divino em mim cumprimenta o divino em você."
  • "A Divinidade dentro de mim compreende e adora a Divinidade dentro de você."
  • "Tudo que é melhor e mais superior em mim cumprimenta/saúda tudo que é melhor e mais alto em você"
  • "O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você."
A intenção que colocamos e a forma que nos colocamos em relação aos nossos iguais reflete em toda a forma que interagimos com o mundo que nos cerca. Se nos colocamos em pé de igualdade, entendemos como olhando em um reflexo no espelho os nossos defeitos, as nossas virtudes e até o valor de nossa caminhada. Por diversas vezes coloquei aqui neste pequeno espaço do universo um pensamento que diz que todos que caminhamos, caminham e caminharão sob este sol, nesta Terra tem a mesma capacidade e podem chegar ao mesmo local, só bastando compreender o universo que existe dentro de si mesmo. Desta forma entendemos que os níveis de compreensão são diferentes, variam de degrau a degrau na caminhada da vida, e da perspectiva pela qual se contempla o mundo, sendo infinitas as formas de entender o universo, de se comunicar com o universo, de explicar o universo, nenhuma estando certa ou errada em sua totalidade, melhor ou pior.

Imagino que as palavras, o estágio em que vivemos é um fator fundamental nesta visão separatista que o homem tem, que nos aparta de tudo mais. Apenas no silêncio, sem o aparato linguístico que nos cerca, conseguimos ter a verdadeira compreensão que está implícita em todas as frases que eu elenquei acima. Mas um bom começo é tentar fazer a mente pensar desta forma, força-la a aceitar um conceito pleno de verdade que um dia assumirá o controle da vida de todos, alguns na consciência da vida, outros nos instantes finais da morte.

Sabendo que todos somos iguais, com a compreensão perfeita de que somos parte de tudo e ligados a tudo, grande parte do apego e do sofrimento existente no universo se desfaz. Ontem vi uma cena cabal e assustadora em minha vida, que me deu a exata dimensão deste pensamento. Meu cachorro fora vítima de envenenamento, não sei se por qual motivo, mas não importa. Acordei as cinco da manhã para minha jornada de exercícios e o vi jogado no chão, com as patas enrijecidas, espumando pela boca em um momento em que a sombra negra da morte pairava ao seu redor. Senti uma angústia me percorrer o corpo, minha esposa o pegou e deu um banho frio, o que fez parar as convulsões e o tirou do estado epilético, deixando-o em um estado catatônico. O vi ali no chão, molhado, em um estado letárgico, não atendia a nada. Então que algo se apoderou de mim, sentei perto dele e senti seu corpo, quase sem sentidos. Seu coração quase parava, desfalecia-se, seu corpo estava frio e ele estava em estado de choque. Então que senti uma grande força me invadindo, toquei as mãos em seu corpo e senti um calor irradiando de minhas mãos. As formigas do chão rodeavam o nosso corpo, não nos tocava. Então senti o espírito, vi a minha ligação energética com ele e com tudo, senti que podia realinhar as energias do pequeno cachorro e ajuda-lo a viver, se assim meu poder pessoal e o dele permitisse. Ofereci em voz alta ao espírito na possibilidade da morte que ele fosse sem deixar rastros, pois ele tinha sido companheiro e tinha cumprido sua jornada. Mas então senti um vento, o vento leste o meu vento e vi que o cachorro sobreviveria, não era tempo de sua partida.

Meu cachorro sobreviveu, voltou a se reanimar e de alguma forma que nem mesmo o veterinário soube explicar ele está bem, nada explica o que lhe aconteceu, mas sou grato ao espírito pela experiência. Ela me mostrou a efemeridade da vida mais uma vez, me mostrou novamente que a morte está nos espreitando, está a nossa volta, e que nosso destino está selado, o nosso encontro. Uma vida se vai, outra vida aparece, a energia se renova, seja em um homem, em um cachorro, em uma planta, esse é o ciclo da vida, é o ciclo energético, que independe de forma, independe de máscaras. Aqui não existem deuses, mestres, existem iguais, aliados na jornada, companheiros de caminho, desde o mais idiota humano até o mais sábio monge, todos somos iguais em nossa essência, somos energia, não há outra forma de expressar o nivelamento do universo.

Apenas o que nós guerreiros podemos fazer é tentar manter a nossa individualidade perante o universo impessoal que nós vivemos, o universo de energia. Acredito que todos somos imortais em nossa essência, nossa energia é imortal, nossa energia é parte da criação do universo, ela permanecerá depois que partir a nossa individualidade, seguirá o seu caminho, sendo moldada em animais, em plantas, em homens, em seres inorgânicos, pela eternidade, seguirá um ciclo sem fim pelo universo infinito, muito além do que qualquer palavra poderia tentar explicar. Dentro de nós existe uma energia que percorreu os confins do universo, uma energia que fez parte da própria fonte universal e que hoje está aqui, expressa da forma como a vemos. Contudo, manter essa coesão energética, que uniu filamentos das mais diversas origens transformando-nos no que hoje somos, é a meta central do guerreiro, manter a consciência e coesão do que somos, desfazendo a descrição que nos faz o que aparentamos ser é a meta do guerreiro. Continuar a jornada neste universo infinito mantendo viva a consciência do que somos, essa é a liberdade, a liberdade de escolher, e neste caminho, toda servidão está apartada, somos sozinhos neste caminho, e apenas quando desvendarmos toda a complexidade da energia que existe dentro de nós, entenderemos e poderemos transcender a ordem universal que virá na forma da morte, nos desfazendo a unidade para compormos a totalidade.

É uma jornada longa, árdua, e temos que considerar que todos, exatamente todos temos a mesma capacidade de chegar lá, sem a ajuda de deuses, sem o empecílio de demônios, sem a arrogância de mestres, sem a subserviência de fiéis. A consciência, a majestade do guerreiro é a sua humildade, é saber o que é, parte de tudo, igual a tudo. E apenas quando vermos, além dos olhos, além da mente que somos todos iguais conseguiremos ter a dimensão exata do que tento expor aqui, de nossa capacidade infinita e de nossa tarefa magistral.

Intento a todos, saúdo o que existe de igual e o que nos liga a todos!

Comentários

  1. Buenas tardes, Hermanos Guerreiros
    Nas saudações maias elee dizem:
    IN lak^ech ala Kin
    que quer dizer:
    -Eu sou o outro você.
    Sinceramente não acredito na máxima:
    Todos nós somos iguais.
    Acredito sim que,somos todos diferentes e que deveríamos respeitar essas diferenças.
    Dárion 1400 06/08/2011
    Abraços hermanos
    In lak´ech ala Kin
    * * *

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  2. Nossa casca é diferente, mas nossa essência é igual a tudo mais. Temos diferenças, configurações diferentes, mas a energia, a essência dessa energia é comum a todos e em todos, digo tudo que existe.

    Mas é um pensamento meu Dárion, vejo a energia fluindo, caminhando pelo universo, uma hora homem, uma hora planta, uma outra inorgânico.

    Nossas diferenças é a nossa individualidade, o tonal, nossa igualdade é nossa essência, nossa energia, nosso nagual.

    Intento amigo.

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  3. Pensas assim por que já consegue "ver". Somenre quando conseguimos "ver" é que as coisas são realmente como são. Como dizia D.Juan quando olhos as coisas rio, somente quando vejo é que as coisas são todas iguais.
    Abraços Dárion.
    Postei o resto da viagem, recebestes?
    In lak´ech Ala Kin.
    * * *

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  4. Hermanos Guerreros,
    Bueno dias,
    Gostaria que lessem o texto abaixo com ênfase em barreira de energia pois é um assunto muito importante para discutirmos a seguir:
    'Estava muito quente aquela manhã. Caminhamos em um leito fluvial seco. Uma
    coisa que aquele vale e o deserto de Sonora tinham em comum era os milhões de
    insetos. Os mosquitos e moscas ao meu redor estavam como bombardeiros kamikazes
    que miravam minhas narinas, olhos e orelhas. Don Juan me disse que não prestasse
    atenção ao seu zumbido.
    “Não os tente dispersar com sua mão”, ele disse em um tom firme. “Intente-os
    longe. Monte uma barreira de energia ao seu redor. Fique em silêncio, e de seu silêncio
    será construída a barreira. Ninguém sabe como isto é feito. É uma dessas coisas que os
    feiticeiros antigos chamavam fatos energéticos. Desligue seu diálogo interno. Isso é
    tudo que é necessário”."

    Abraços, Dárion
    09:36 08/08/2011
    In lak´ech Ala Kin.
    * * *

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  5. AFASTANDO MOSCAS E MOSQUITOS
    Não se deve prestar atenção aos zumbidos.
    Não tente espantá-los com
    sua mão. Intente que se afastem. Construa uma barreira de energia
    em volta de você. Fique em silêncio, e do seu silêncio a barreira será
    construída. Ninguém sabe como isso é feito. É uma dessas coisas
    que os antigos feiticeiros chamaram de fatos energéticos. Pare seu
    diálogo interno. Isso é tudo de que se precisa.

    Dárion 10/08/2011
    * * *

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  6. Hermanos Guerreiro
    En secuencia me gustaria que los Guerreros recuerdassen de um comentário que posté en el Capítulo 7 del Blog - A série de Westowood.
    Es imprescidible para la contnuidad de un assunto futuro que ló iré postar.
    Gratos Hermanos
    Dárion 10/08/2011 09:30
    * * *

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  7. Dárion, lembro-me que comentou sobre os passes para afastar enfermidades ou algo assim não foi mesmo.

    Lembro-me do passe que a pessoa afasta, empurra a energia que quer dispensar como se empurrasse a maçaneta de uma porta. Já fiz esse movimento, se durar muito sentimos sensações estranhas nas mãos, típicas das interações energéticas que temos.

    Aguardo a postagem hermano.

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  8. Buenos dias Hermanos Guerreros
    Vento Guerrero
    Estás sintonizado Hermano,é justamente isso. .
    O Passo de Poder para Ativação do Campo de Forca Energético para Proteção do Guerreiro se inicia justamente con o poderoso Nâo-Fazer de Expulsar Energias Nocivas.
    Interagistes muito bem.
    Brevemente enviarei detalhes.
    Abraços a Todos
    Dárion 07:47 12/08/2011
    IN lakéch Ala KIn.
    * * *

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  9. Os textos entre aspas que coloquei acima são extractos dos livros do Nagual Carlitos (Carlos Castañeda, como D.Genaro gostava de chamá-lo);
    Postarei outros comentários com extractos de outros livros do Nagual para que aos poucos possamos compreender e tratar o assunto que abordaremos em breve.
    Abraços Hermanos Guerreros
    Dárion 08:15 12/08/2011
    PS: Só ler os livros do Nagual não basta. Temos de estudá-los com seriedade e vivenciá-los para que possamos internalizar o Conhecimento.
    * * *

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  10. Buenos dias Guerreros,

    "Dom Juan fez então um gesto estranho. Contorceu o rosto como se estivesse surpreso ou terrificado. E, instantaneamente, a forma assustadora de um estranho homem apareceu na porta do aposento onde estávamos. A presença daquele ser amedrontou-me tanto que, realmente, senti vertigem. E antes que pudesse recuperar-me do susto, o homem saltou sobre mim com uma ferocidade espantosa. Quando agarrou meus antebraços, senti uma pancada quase igual à descarga de uma corrente elétrica.

    Eu estava sem voz, tomado por um terror que Não conseguia dissipar. Dom Juan sorria para mim. Resmunguei e grunhi, tentando dar voz a um pedido de socorro, enquanto sentia outra pancada mais forte.

    O homem agarrou-me com mais força ainda e tentou jogar-me para trás, para o chão. Dom Juan, sem pressa na voz, aconselhou que eu me recompusesse e não lutasse com meu medo, mas me arranjasse com ele.

    — Fique assustado sem ficar aterrorizado — disse ele. Dom Juan veio para o meu lado e, sem intervir em minha luta, sussurrou-me ao ouvido que eu deveria colocar toda a concentração no ponto central de meu corpo.

    *** Ao longo dos anos, ele vinha insistindo em que eu medisse meu corpo até o centésimo de uma polegada e estabelecesse seu ponto central, tanto no comprimento quanto na largura. Sempre afirmara que tal ponto é o verdadeiro centro de energia em todos nós. ***

    Assim que focalizei minha atenção nesse ponto central, o homem soltou-me. Naquele instante, percebi que o que imaginara fosse um ser humano era algo que apenas se parecia com um. No momento em que perdeu sua forma humana para mim, o aliado transformou-se numa bolha amorfa de luz opaca. Afastou-se. Fui atrás, movido por uma grande força que me fazia seguir aquela luz opaca.

    Dom Juan me deteve- Suavemente, levou-me à entrada de sua casa e fez-me sentar sobre um rústico caixote que usava como banco."
    extracto do livro "Fogo Interior" cap 7.

    Guerreros o que nos interessa no momento para o assunto marquei com asteriscos.
    Dárion 12/08/2011 08:55

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