Além do tempo e do espaço



Hoje estava em um momento comum de minhas meditações, nos intervalos entre os estudos matinais, o almoço e o trabalho vespertino. Havia apenas alguns minutos para que eu fizesse a meditação, mesmo assim não recuei, eram apenas 5 ou 6 minutos de tempo, mas resolvi manter o intento presente, já que quando entramos na segunda atenção não existem mais limitações temporais, e uma meditação de minutos pode se transformar em uma jornada de hora do outro lado. Eis que o poder nos mostra a grata retribuição pela disciplina, por mantermo-nos eretos no caminho que escolhemos seguir.
Não consigo explicar os processos, mas algo grandioso rompeu-se dentro de mim, como uma energia envolvendo uma parte de mim, além de meu corpo físico, um entendimento, um misto de uma ansiedade inicial e uma explosão de entendimento. Fui imediatamente levado a um lugar cheio de pinheiros, eu caminhava por entre eles, estava um dia ensolarado, pleno, mas os pinheiros me protegiam com uma sombra formada pelo grupo de maravilhosas árvores. Inicialmente pensei que os pinheiros falavam comigo, mas era a voz do ver, que me fazia sentir em todo o corpo o entendimento que se consolidava. Eu não queria perder nenhuma parte deste entendimento. A voz me mandava olhar para a copa das árvores, e me disse algo no seguintes termos. Consegui entender e logo quando voltei da visão, que internamente me pareceu um grande tempo, e externamente apenas alguns minutos foram as seguintes palavras:
 - Deixe um pouco da visão de um só plano que está acostumado, olhe além da visão horizontal para a vertical, esse é apenas o começo, é a visão periférica. Essa visão apenas mostra a periferia do que está acontecendo, é ampliar a visão do predador, que é apenas focada em pequenos pontos. Foi uma visão necessária durante um tempo, mas hoje as coisas são diferentes, a visão precisa ser mais ampla. Olhando para a copa das árvores, olhando além do caminho que necessita passar, você pode ver o contexto geral da cena, e assim, compreender um pouco mais da realidade que lhe cerca.
Eu comecei a ver realmente como a cena era muito mais ampla que eu via inicialmente, antes eu via uma massa de pinheiros, e horizontalmente, apenas à minha frente, o caminho que normalmente eu seguiria. Olhando para a copa das árvores, eu via pedaços do céu azul, alguns raios de luz que passavam, via as folhas, a explosão de vida das árvores, as suas variadas alturas. Olhando para baixo, o chão, eu via a vida ali passar, a terra, as raízes que haviam por debaixo dela, as camadas, as formigas e pequenos seres todos, era realmente uma visão mais ampla, mostrava todos os seres ali em um quadro complexo, todos conectados, todos interligados, todos unidos na formação da realidade daquele instante em que eu estava vivendo. Mas enquanto eu admirava a conexão dos seres, algo ainda maior abriu-se, a voz do ver voltou a me falar:
 - Além da complexidade de todas as coisas que agem no momento presente, existe a complexidade do tempo, este forma uma base quase que inexplorada da realidade. A mesma cena que agora está vendo como completa, que mescla uma infinidade de seres, também é composta pelo atributo do tempo. Olhando a mesma cena e conectando-se a todo o tempo presente nela, verá que o que existe agora é  nada mais do que um fragmento da totalidade da existência, que é composta por tudo que aqui se passou, e tudo que aqui se passará. O  tempo tem algo ainda mais intrigante, que é a composição dos quase tempos, que é uma mistura de dimensões que permeiam o mesmo lugar. O ontem de cada ser aqui, tudo que se passou neste lugar, tudo é a composição da linha da realidade que existe agora, o momento presente é apenas o fragmento de composição temporal que geralmente é alinhado pelas pessoas quando visualizam uma cena. Olhe para a copa das árvores e veja.
Olhando para cima vi tudo acontecer. As árvores voltavam no tempo, em pequenas explosões ao reverso, as copas diminuíam, galhos atrofiavam-se e voltavam para dentro do troco, o céu se tornava mais amplo, depois vinham nuvens, fechadas, chuvas, água, a árvore diminuindo até tornar-se uma semente, e da semente um fruto, no bico de um pássaro, que de outra árvore colhia o fruto. Olhando ainda vi os mundos do si, multiversos criados de possibilidades, existências paralelas a que vivemos, vi energias ali, vi realidades em que outras pessoas ali estava, outros tempos, futuro, passado, tempos que nunca existirão, tempos em que só em outros planos existirão, o tempo e espaço se movia ali, eu me sentia fervendo por dentro, algo borbulhava dentro de mim, era uma visão impressionante. A voz do ver continuou a falar:
 - A realidade ilusória a qual se apegam as pessoas, não é apenas a realidade dos objetos esta é uma parte da ilusória realidade, é a parte dos objetos, do espaço. Contudo, uma parcela é relegada ao esquecimento, a parcela do tempo. As pessoas em geral estão presas à ilusória realidade do tempo presente, isso não existe, é apenas uma convenção para facilitar a visualização do mundo energético e total. Não existe tempo como não existe espaço, ambos são convenções socialmente aceitas, e para que tais convenções mantenham-se, uma enorme quantidade de energia é gasta por cada pessoa, a cada instante de suas vidas. Entender uma coisa é essencial, cada ser é a composição de sua existência, do hoje, do ontem e do amanhã, apenas entendendo isso, não em termos de palavras, é que torna-se possível a liberdade.
Neste momento minha cabeça começou a efetuar giros e mais giros, fiquei circulando em parecia estar subindo a um universo negro e sem sentido algum, até que senti-me quente, orelhas, cabeça, corpo, parecia que eu estava me dissolvendo, os braços pareciam estender-se a minha frente, apesar de saber que estava sentado na posição de lótus, eu sentia-me com os braços a uma infinita distância de meu corpo, sentia a cabeça girando, as pernas pareciam não estar onde deveriam, eu não conseguia abrir os olhos, e nem queria, algo estava na eminência de se revelar, a visão das árvores se havia desvanecido, eu estava em um universo escuro, de energia, sentia algo no meio de minha cabeça e tantas sensações que não consigo explicar, mas era como se eu flutuasse dentro de um entendimento que eu não conseguia expressar. Eu intentava com toda força apenas me lembrar de tudo àquilo, pois nos últimos dias vinha me esquecendo de todas as experiências na segunda atenção. Senti então que eu estava em meio a alguns seres, eu sabia seres homens, mas não como eu ou qualquer pessoa que está nesta forma física. Eram seres de pura luz, sem o casulo, brilhavam como ouro, como o sol, era a coisa mais linda que eu via, seus brilhos contrapunham-se à escuridão que me cercava, então, cercado por àqueles, ouvi essas últimas palavras:
O alinhamento total é atingido pelos guerreiros quando estes entendem que a ilusão aparente do mundo está bem além da ilusão dos objetos físicos, estendendo-se a ilusão temporal em que vivem as pessoas. Ver é propriamente perceber além da ilusão da matéria e do tempo, pode-se ter uma visão de qualquer tempo dos moldes da contagem humana ou não, em universos atemporais, que nunca existiram neste plano, mas foram vidas inteiras em outros planos. Recapitular é entrar no túnel da historia pessoal e ir achatando a percepção que somos sim essa totalidade do tempo desde a criação de nosso ovo ate hoje, é relembrar que somos a soma total de tudo que fizemos, e do que faremos, e comprimir isso no entendimento do que se é no momento presente. Impecabilidade é concentrar-se no presente não como única realidade, mas como momento único para decisões enquanto estivermos na forma ovoide limitada, que nos serve para ajudar na maturação da consciência interior. Olhar o mundo como um guerreiro é ver as coisas além dos objetos que aparentam ser, e além do estático tempo onde parecem estar. Na morte os guerreiros que conseguem essa façanha da consciência, queimam no fogo interior, consolidam seu ser alinhando tudo que já foram em cada momento de sua vida, e entendem a unidade de tudo que há, iluminando em si tudo o que é possível perceber em um só fragmento do tempo e espaço, por um breve instante, quem consegue essa façanha, é tudo que já foi, e tem a consciência de estar conectado com tudo que existe. Como isso gera o alinhamento de todas as fibras no ovo de luz, a energia e tão marcante e forte que o ovo rompe-se e as fibras internas, alimentadas da energia da consciência conseguem-se aglutinar em um ser sem corpo, um inorgânico feito de pura consciência, que brilha como a luz do sol, e que pode estender-se em qualquer direção, de qualquer tempo, e ainda manter em si a consciência de sua unidade.
Neste momento não resisti, senti que meu corpo vibrava por inteiro, pois não era um conhecimento apenas de palavras ditadas pela voz do ver, àqueles seres se mostravam de uma força incrível, eram seres de todos os tempos que haviam atingido o mesmo objetivo da consciência, que estavam além da existência, sendo que são seres de todos os tempos, de todos os mundos, e ainda assim são como nós mesmos podemos ser. Não existem limites para nós, isso tenho por certo, basta para isso seguir firme no caminho do conhecimento.
Intento guerreiros.

Comentários

  1. Hermanos
    As emanações da Aguia são feitas de tempo.
    Somente agora depois de todos esses anos vi que o Intento pode realmente ser chamado como está escrito nos libros,
    gritando a palavra INTENTO. O grande segredo é que para isso temos de estar impecáveis com um certo nivel de energia.
    Temn de ser feito com espontaneidade e um forte intento para que nos alinhemos ela.
    Darshan

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  2. Hermano Vento mais uma vez tivestes a elucidação do caminho, sinto que foi uma especie de continuação daquilo
    que elucidadestes da ultima vez. Com nosso corpo sonhador estamos livres das amarras do tempo.
    Darshan

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